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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.6 Dois usos para o biogás

2.6.2 Biometano para abastecimento ou comercialização

Biometano é o biogás purificado, do qual são removidos vapor de água, CO2, H2S e siloxanos (compostos de sílica). Esse tratamento confere ao biometano alto poder calorífico e comportamento semelhante ao gás natural veicular (GNV), o que possibilita sua utilização como combustível em substituição ao próprio GNV (CHERNICHARO et al., 2015; MIKI, 2018), desde que respeitadas algumas características regulatórias (ANP, 2017).

Assim como na hipótese de geração de energia, a produção de biometano pode servir tanto ao abastecimento de grupos geradores como ao abastecimento de veículos (leves ou pesados) da própria companhia de tratamento, que possuam motor adaptado para funcionar com GNV. E, de igual forma, pode haver a possibilidade de comercialização de excedentes de biometano, o que já ocorre, há várias décadas, em alguns países.

De fato, resultado de estudo realizado pelo PROBIOGÁS detalha que o biometano, como combustível, pode ser utilizado sob duas formas, como biometano comprimido (compressed biomethane – BMC) ou biometano liquefeito (liquefied biomethane, BML), e registra diversos cases de sua distribuição sob três diferentes formas: a alimentação de biometano à rede de gás natural (GN), a comercialização em postos de abastecimento e o engarrafamento em cilindros e transporte em caminhões (BRASIL; GIZ; BECHER, 2016). Dentre os cases analisados, a obra cita, como exemplo de comercialização em postos de abastecimento instalados em usinas de biogás, a cidade sueca de Eskilstuna, que desde 2002 possui um posto, utilizando lodo de esgoto, resíduos orgânicos e de alimentos para produção do biometano; quando a produção excede o consumo, o combustível é vendido a uma

concessionária de gás (BRASIL; GIZ; BECHER, 2016). Já relativamente ao fornecimento de biometano ao grid de GN, ou ao armazenamento em cavernas, cita- se como exemplo a cidade de Pucking, na Áustria, que desde 2005 injeta biometano, proveniente da criação de animais, na rede de GN (BRASIL; GIZ; BECHER, 2016).

O estudo resultante do PROBIOGÁS também menciona a necessidade de incentivo à utilização do combustível renovável, e cita uma série de iniciativas de países europeus nesse sentido, como o fomento à utilização de biometano no transporte público, ou a regulamentação alemã, que divide a responsabilidade pelos investimentos de injeção de biometano na rede de GN pública entre operador (que arca com 75% das despesas) e a empresa que produz o biometano (25%). Subsídios, isenções fiscais e vários projetos nesse sentido são identificados em países como Alemanha, Áustria, Suíça, Holanda e Suécia.

No Brasil, o primeiro – porém relevante – passo está sendo dado nesse sentido. Por aqui, destaca-se a Política Nacional de Biocombustíveis (RENOVABIO), que prevê ações de atendimento aos compromissos assumidos pelo país no Acordo de Paris, quando da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. O RENOVABIO não conceitua o termo biocombustível, o que reclama a interpretação de outras normas, como da Lei de Política Energética Nacional (Lei nº 9.478/97), que prevê:

Art. 6° Para os fins desta Lei e de sua regulamentação, ficam estabelecidas as seguintes definições:

[...]

XXIV - Biocombustível: substância derivada de biomassa renovável, tal como biodiesel, etanol e outras substâncias estabelecidas em regulamento da ANP, que pode ser empregada diretamente ou mediante alterações em motores a combustão interna ou para outro tipo de geração de energia, podendo substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil; (BRASIL, 1997)

A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), por sua vez, considera um tipo de biocombustível o biometano, “oriundo de aterros sanitários e estações de tratamento de esgoto” (ANP, 2017).

No dia 15 de março de 2018 foi regulamentado o RENOVABIO, por meio de decreto presidencial que, dentre outras providências, estabeleceu que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deveria definir as metas compulsórias de redução de emissão de GEE, e instituiu o Comitê RENOVABIO, responsável por monitorar o mercado de biocombustíveis e de créditos de descarbonização (BRASIL,

2018). Tais metas foram definidas para um período de dez anos por meio de Resolução editada em 2018 (CNPE, 2018).

Destaque como iniciativa de descarbonização do setor de transporte, citado em relatório da International Energy Agency (IEA, 2018), o RENOVABIO também viabiliza a captação de investimento externo: quando da realização da Conferência da ONU sobre Mudança do Clima (COP23), ocorrida na Alemanha em 2017, Alemanha, Espanha, Comunidade Europeia e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), da ONU, anunciaram investimentos de mais de € 37 milhões aos planos nacionais dos países para redução das emissões de GEE (PNUD, 2017). Recentemente, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) anunciou a captação de € 50 milhões da Agência Francesa de Desenvolvimento para o financiamento de projetos sustentáveis na região sul do Brasil, como os de energias limpas e renováveis (AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DO PARANÁ, 2018).

3 METODOLOGIA

A presente pesquisa possui natureza tanto quantitativa quanto qualitativa (COOPER; SCHINDLER, 2014), esta caracterizada por Corbin e Strauss (2008) como uma espécie de pesquisa que produza resultados não alcançados através de procedimentos estatísticos ou de outros meios quantificáveis. Isso porque há coleta estatística de dados de companhias que fazem o aproveitamento energético do esgoto, realizada em amostra de grande representatividade da população total, bem como há coleta e análise de informações não quantificáveis, acerca dos detalhes de diferentes formas de produção e utilização de energia.

Ademais, esta pesquisa tem natureza aplicada, pois propõe-se a estudar soluções para problemas reais de sustentabilidade, provendo subsídios para fins práticos (CERVO; BERVIAN, 2002). Ela foi conduzida de forma a revelar respostas a questões específicas relacionadas à viabilidade da adoção de sistemas produtores de energia em ETEs, segundo preceitos de Cooper e Schindler (2014).

Um dos principais métodos utilizados na presente pesquisa é o estudo de caso que, como afirmam Cooper e Schindler (2014), é uma poderosa ferramenta de pesquisa, vez que combina entrevistas com observações e análises documentais, estas realizadas em diferentes fontes, com vistas a se obterem diferentes perspectivas de uma organização, de um evento ou de um processo num determinado ponto do tempo ou durante um determinado período.

A faceta qualitativa do presente estudo reclama o distanciamento de fontes únicas de pesquisa. Com efeito, destaca Yin (2009), o fortalecimento do estudo de caso exige a utilização de diferentes fontes de evidências, de múltiplas fontes e inclusive de diferentes métodos.

É o que se entende por triangulação, como lembra Flick (2009), que ocorre quando o pesquisador adota diferentes perspectivas – consubstanciadas em vários métodos ou abordagens teóricas – acerca de um problema em estudo, a fim de responder às questões que movem a pesquisa. A triangulação deve produzir conhecimento em diferentes níveis: é crucial que tal recurso não traga mais do mesmo, mas que trabalhe em mais de uma abordagem, que combine diferentes técnicas e diferentes fontes, o que faz com que os dados colhidos estejam em diferentes níveis (FLICK, 2009).

Colher dados de múltiplas fontes e analisá-los separadamente, sem confrontá- los, não é triangular: a correta triangulação faz com que os eventos ou fatos, objetos do estudo de caso, recebam suporte de mais de uma fonte de evidência, o que dá robustez às conclusões do trabalho (YIN, 2009).

É exatamente do que se trata o presente estudo, cujas etapas estão pormenorizadas a seguir.