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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.6 Experiências nacionais na utilização de biometano veicular

Vislumbrando o potencial de produção de biometano como forma de abastecimento veicular, algumas montadoras têm realizado testes com o combustível proveniente do esgoto no país, e a presente pesquisa identificou exemplos de testes de veículo de passeio, de veículo pesado de transporte público e de máquina agrícola.

4.6.1 Veículo leve (Audi)

A Audi importou da Alemanha seu modelo A5 g-tron, um sedã de luxo com motor 2.0 TFSI de 170cv, câmbio automático de dupla embreagem, sete marchas e tração dianteira (OLIVEIRA, 2018), e o colocou em testes no Brasil32.

O engenheiro responsável pelos testes do veículo da montadora no país informou que o veículo tem dois tanques, um para 25 litros de gasolina e outro composto por 4 cilindros que armazenam 22m3 de GNV comprimido, projetados sob o eixo traseiro, o que não retira espaço do porta-malas como um cilindro de kit de adaptação comum. Para funcionar corretamente com GNV, informa a montadora, houve poucas mudanças pontuais: o motor teve um leve aumento em sua taxa de compressão, foram instalados dois sistemas de injeção (um dedicado ao gás e, o outro, à gasolina) e o sistema de distribuição do combustível (“flauta”) do sistema de gás é de metal (e não de plástico).

Este mesmo modelo já é comercializado na Europa, onde já realizou testes de performance e autonomia com diferentes fontes de GNV e biometano. No Brasil, o veículo permaneceu de março de 2018 a janeiro de 2019, oportunidade na qual foi submetido a vários testes e foi abastecido tanto com GNV como com biometano proveniente de diversas fontes. Em meados de setembro de 2018 o sedã rodou com biometano proveniente do projeto Itaipu CIBiogás, de DA de esgoto (AUTOMOTIVE BUSINESS, 2018), e em dezembro esteve em Franca para testar o combustível fornecido pela ETE da SABESP (CARRO.BLOG.BR, 2018).

Por aqui o A5 rodou cerca de 16.000 km e apresentou performance, autonomia e demais características muito semelhantes às obtidas na Europa. Em teste realizado pela revista Auto Esporte, foram apuradas as médias de consumo de 15,4 km/L com gasolina e 17 km/m3 de GNV, que resultam em autonomia de cerca de 742km com

32 Os dados do item 4.6.1 que não estão acompanhados de referências foram fornecidos

ambos os tanques cheios, com uma significativa diferença para o preço entre os abastecimentos: R$ 50 para encher o tanque de gás e R$ 105 para completar de gasolina (OLIVEIRA, 2018).

A Audi informa que continuará comercializando para os países europeus os modelos A3 Sportback, A4 Avant e A5 Sportback, todos com este tipo de motorização, mas que, para o Brasil, ainda não há definição sobre a comercialização desta tecnologia. Aqui, estima-se, o A5 teria preço de venda inicial de R$ 216.000,00 (OLIVEIRA, 2018).

4.6.2 Veículo pesado (Scania)

Desde os anos 1990 a montadora sueca Scania tem veículos rodando a GNV e biometano em diversas cidades, como Brisbane (Brisbane) Austrália, Tartu (Estônia), Estocolmo (Suécia), Copenhague (Dinamarca), Jakarta (Indonésia) e Bogotá (Colômbia)33.

Engenheiros da marca explicaram que o motor a gás Scania é um motor Ciclo Otto que possui controle eletrônico de ignição e de suprimento de gás, com duas unidades de comando do motor que trabalham em interação. O veículo emite 70% menos poluentes que um similar à diesel e atende à normativa Euro 6 de redução de emissão de gases poluentes e de redução de ruídos que, embora obrigatória na Europa desde 2013, passará a viger no Brasil apenas a partir de 2023, consolidada pela oitava fase do Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve) (ESTRADÃO, 2018).

De 2014 a 2015 foram realizados testes com essa tecnologia em diversas cidades no Brasil, utilizando-se de um veículo (ônibus) de demonstração sueco, o primeiro ônibus movido a biometano da história da indústria no país (que podia ser abastecido com GNV, biometano ou com uma combinação entre os dois combustíveis). Esta unidade de ônibus urbano modelo Citywide possuía 15 metros de comprimento, dois eixos direcionais e capacidade para até 120 passageiros, rodou 5.000km e o custo por quilômetro via biometano foi 28% menor que a de um veículo similar a diesel. Antes de chegar ao Brasil, esse veículo rodou no México e na Colômbia.

33 A Scania Brasil forneceu diretamente ao pesquisador os dados do item 4.6.2 que não possuem

Em 2016 foi construído um novo ônibus, desta vez com chassi e carroceria brasileiros, que foi testado em diversas cidades nacionais, incluindo São Paulo, Sorocaba, Campinas, Franca, Brasília, Recife e que, atualmente, encontra-se rodando em Curitiba (RAMOS, 2019). Mais um ônibus está sendo preparado e, a partir de julho de 2019, ele se unirá ao anterior para rodar a biometano em Curitiba, PR. Em Franca o ônibus rodou com biometano proveniente da ETE da SABESP (REDE ABERJE, 2018).

Embora ainda não tenha sido feita nenhuma venda no país, a montadora informa que continuará desenvolvendo seu plano de disseminação da tecnologia GNV/biometano no Brasil por acreditar no sucesso desta opção sustentável de transporte, no benefício ambiental proporcionado, de redução da poluição, e na melhoria dos indicadores de saúde da população das grandes cidades. Seu projeto envolve demonstrações a clientes e órgãos gestores, fomentos a associações, universidades, sindicatos e demais interessados. Paralelamente a isso, a empresa também desenvolve parcerias com produtores de biometano, como a Granja Haack (PR), a Naturovos (RS) e a SABESP, em Franca (SP), distribuidoras de GNV, como a Comgás, e associações, como a Abegas e a Abiogás.

No mundo, a frota circulante de veículos Scania equipados com esta tecnologia é composta por 1.868 caminhões e 1.549 ônibus, 313 desses últimos rodando na Espanha.

4.6.3 Máquina agrícola (New Holland)

Há mais de uma década a New Holland Agriculture trabalha para desenvolver soluções de energia limpa, o que faz por meio da iniciativa Clean Energy Leader, que já resultou no lançamento da primeira máquina 100% compatível com biodiesel (2006), do primeiro trator movido a hidrogênio (2009), do primeiro protótipo movido a propano (2012) e da primeira linha de tratores movidos a CH4, a família T6 (2013)34.

O modelo T6.140 é um expoente dessa iniciativa e tem sido testado com biometano. Trata-se de um trator padrão equipado com um motor de quatro cilindros e três litros, produzido pela FPT Industrial, com potência máxima de 135CV e torque de 620Nm. Ele conta com nove tanques com capacidade para armazenar 50kg de

34 Os dados expostos no item 4.6.3, que não possuem menção específica à fonte, foram

fornecidos diretamente ao pesquisador por Rede Comunicação de Resultado e New Holland Agriculture.

biometano, mais um tanque de combustível adicional de 15 litros, como backup. O catalisador de três vias instalado no escape do veículo garante a conformidade com a legislação atual para motores eletrônicos.

O projeto do trator teve início na Itália, em 2013 e, atualmente, há unidades em funcionamento nos Estados Unidos, França, Espanha, Reino Unido e Brasil. Na Itália, o modelo T6.180 movido a biometano foi usado pela empresa Maccarese, próximo a Roma, para a rolagem de terra antes e depois da semeadura. Na Espanha, o trator trabalhou nas vinhas e olivais da empresa Bodegas Torres. No Reino Unido, o protótipo foi testado com sucesso pela empresa Wyke Farms, de Somerset, um dos maiores produtores de queijo cheddar do país, acumulando mais de 100 horas de operação em atividades como cultivo, transporte rodoviário e trabalho com o carregador frontal.

Os testes com o novo modelo mostraram o mesmo desempenho que um trator equipado com um motor a diesel convencional, embora com redução de 10% na emissão de CO2 e de 80% no total de emissões, além de redução de custos entre 25% e 40%.

Na América Latina, o primeiro país a receber o novo trator-conceito foi o Brasil. O modelo chegou em 2017 e desde então está em avaliações práticas no campo, como na Chácara Marujo, em Castro, PR, e em outras propriedades que utilizam a tecnologia de biodigestão de seus resíduos agrícolas (SILVA, 2018). Os testes no país apresentaram resultados muito semelhantes aos realizados no exterior.

Em 2020 está prevista a chegada de um novo protótipo ao país, para testes em lavouras produtivas, e estima-se que num prazo de 3 a 5 anos a versão comercial do trator chegue ao mercado.

Além do aspecto ambiental, a iniciativa da New Holland de desenvolver uma máquina agrícola movida a biometano visa diminuir os custos produtivos das lavouras, já que é cada vez mais comum existirem sistemas de biodigestão de resíduos agrícolas para a produção de biogás nas lavouras, fato que torna os agricultores mais independentes na geração da energia necessária ao seu processo produtivo. Como combustível sustentável, o biometano é particularmente adequado a propriedades rurais porque elas dispõem das matérias-primas e do espaço necessários para a instalação de biodigestores.