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5.1 Sobre as noções de pobreza

5.1.3 As iniciativas contra a pobreza

5.1.3.1 Bloco 1 – Gestores

A respeito de como fazer para diminuir ou acabar com a pobreza, o gestor E1 refere- se à coletividade e às políticas sociais, realçando a importância da iniciativa da comunidade por meio de projetos coletivos e de comprometimento do governo em políticas sociais:

Eu acho que as políticas sociais são um ponto fundamental. As pessoas terem acesso à educação [...] aqui na nossa comunidade por exemplo, a escolaridade é muito baixa. Eu acho que dificulta também essa pouca noção que as pessoas tem de que têm direito, de participação [...] pra sair da pobreza a gente tem que ter projetos mais coletivos, não individual. A gente tem que ter governos mais comprometidos com as políticas sociais, mas também tem que ter uma comunidade que perceba isso, que vá fazer aí um movimento mais coletivo. (E1)

O gestor seguinte, na mesma perspectiva, enfatiza mudanças na estrutura, como se pode observar:

Eu acho que tem que ser um projeto de nação. No Brasil, não temos um projeto de nação [...] porque isso passa por distribuir melhor a riqueza que esse país produz. E nem existe também uma política de Estado porque não existe gente forte pra bancar um projeto de nação de combate de pobreza. [...] E isso é mudança estrutural, é mudança de legislação. (E6)

Destacam-se no depoimento do gestor E6 o papel do sistema legislativo nos processos de mudança na estrutura organizacional da sociedade e como alternativa para a saída da pobreza um projeto de nação que inclua política de Estado e participação social na perspectiva da correlação de forças de interesses de classes.

O gestor E8 identifica como alternativa para diminuir ou acabar com a pobreza o maior investimento público na educação, com garantia nos orçamentos dos municípios:

Investir maciçamente na educação. Mas muito! Hoje, todo mundo fala que os municípios investem muito, e tem que investir muito, é

praticamente um quarto do orçamento dedicado pra educação. E isso, depois da Constituição de 1988 melhorou o quadro, mas ainda nós não estamos num nível satisfatório. Então, eu acho que a base de tudo é a educação. (E8)

Na mesma perspectiva, outro gestor realça a importância de projetos coletivos para diminuir ou acabar com a pobreza com referência na estrutura:

Eu acho que se os homens juntarem forças, lideranças, se unissem ao invés de dividir-se, nós teríamos mais escolas, nós teríamos mais empregos, nós teríamos mais criatividade, nós teríamos mais alternativas, nós poderíamos cuidar melhor de nós, da nossa família, entendeu? (E9)

A fala do gestor E9 demonstra uma crença de que a humanidade unida e com fortes lideranças pode proporcionar a saída da pobreza. Reconhece a responsabilidade coletiva quanto ao problema, entretanto, percebe-se, também uma sinalização de possível identificação das relações públicas com as relações particulares, quando se diz cuidar de nós e de nossa família.

As falas dos gestores E1, E6, E8 e E9 apontam para a identificação do problema da pobreza com a estrutura da sociedade, aproximando suas percepções da categoria relações de desigualdades.

Em outra perspectiva, referenciando-se no indivíduo e apontando para a categoria naturalização do social, segue a fala do gestor (E7) sobre como fazer para diminuir ou acabar com a pobreza:

Acabar e começar de novo (risos). Acabar tudo e começar de novo

(risos). Acabar com a humanidade. Vamos começar tudo de novo,

do zero. Não é brincadeira não. Mas eu acho, não é que eu esteja sendo pessimista, eu acho que eu estou sendo é realista, porque a desigualdade é tamanha, que nós vamos ter que trabalhar muito, e muito e muito tempo, conscientizando, promovendo inclusão, educando, promovendo a educação formal mesmo, pra gente conseguir acabar... eu acho que não acabar, mas amenizar... amenizar a pobreza. (E7)

O gestor E3 destaca a importância da comunicação e da informação na perspectiva da cidadania, entretanto, responsabiliza a pessoa, e não as relações, como se pode observar:

Eu acho que a gente peca muito em não se comunicar e a gente ouve muito pouco. Quando eu falo comunicação é daqui pra lá e de lá pra cá. Como gestor, eu acho que nós pecamos muito pela falta de comunicação e de boa comunicação. Eu tenho que ajudar a pessoa a formar opinião, a obter informação capaz de dar a ela condições de raciocinar, de enxergar possibilidades na vida dela, de acreditar que as pessoas podem mudar se ela começar dela, não esperar ficar só esperando vir da parte do outro, né? (E3)

O gestor E4 responde à pergunta sobre como fazer para diminuir ou acabar com a pobreza, ora fazendo referência a si mesmo e ao segmento social e profissional ao qual pertence, e ora, aos usuários da assistência social. Começa o depoimento realçando a iniciativa individual por meio do voto, cita a importância da autonomia para refutar a tutela do Estado e termina recomendando a busca do diferencial – a mudança do cenário político:

Cada um tem que dar o seu passo. O que eu percebo é que as pessoas dizem: minha vida está uma porcaria, mas não faz nada pra sair dessa porcaria [...]. Olha, por exemplo: vai ter uma eleição, aí eu chego lá, ou eu voto nulo ou eu voto em branco. Por que eu não vou procurar um nome ou outro nome de pessoas que vão fazer a diferença? Que vão trabalhar em função da questão da pobreza? É pensar que a gente possa se emancipar, ter autonomia, possa caminhar com as próprias pernas pra não ser sempre tutelado pelo Estado. Então, acho que nós temos que sair da qualidade de sermos meros expectadores e irmos buscar o diferencial, porque, quem faz a diferença somos nós mesmos, buscando, lutando, correndo atrás e tentando fazer com que o quadro, o cenário político, mude. (E4)

O gestor E5 demonstrou não ter dúvida sobre o que deve ser feito para diminuir ou acabar com a pobreza – garantir o acesso ao trabalho e a geração de renda:

Eu acho que é o trabalho. Eu acho. Com o trabalho, com esse acesso ao trabalho, a gerar uma renda, a você conseguir buscar o seu pão de cada dia, o que eu sinto muita falta é do trabalho. Acho que as pessoas conseguem através do trabalho, reverter, melhorar a situação, né? (E5)

Na citação anterior, o gestor enfatiza o fator trabalho como condição de saída da pobreza por meio de geração de renda, o que tende a uma percepção da pobreza associada à falta de acesso ao consumo. A ênfase no trabalho como alternativa para diminuir ou acabar com a pobreza parece estar vinculada à referência do indivíduo, quando o gestor cita: você conseguir buscar o seu pão de cada dia. Entretanto, ao reconhecer a importância do acesso ao trabalho, sugere a percepção do problema na estrutura da sociedade, não deixando de aproximar da categoria relações de desigualdades.

Na citação seguinte, observa-se que o gestor atribui a responsabilidade da pobreza à própria pessoa. Enfatiza o problema no indivíduo, entretanto realça a alternativa da educação, tendendo ao reconhecimento do problema também na estrutura da sociedade. À pergunta sobre como fazer para diminuir ou acabar com a pobreza, responde:

Eu acho que primeiro deveria ter um trabalho dentro da educação mesmo, desde pequenininho [...] dentro da escola poderia estar fazendo um trabalho de conscientização, de percepção do futuro

[...] por que tem maneira, tem recurso. Depende de cada um, né? (E2)

A fala do gestor seguinte aponta para o reconhecimento da alternativa para diminuir ou acabar com a pobreza o conhecimento e a participação como busca individual, ao mesmo tempo em que reconhece a alternativa na estrutura, quando se refere ao entendimento dos direitos como cidadão, as políticas públicas e as conferências, como se pode observar:

Quando a pessoa busca o conhecimento ou a participação ativa através dos Conselhos Municipais, eles começam a entender mais os seus direitos como cidadão, e começam a reivindicar e começam a disputar espaço. É um espaço no aspecto também de politização da população local. As conferências que discutem direitos, a tomada de decisões, as políticas públicas, a implementação de políticas que respaldam um determinado território, isso vem trazendo uma certa politização para grupos específicos que vão ser multiplicadores em suas comunidades. (E10)

A fala do gestor E10 parece aproximar-se das categorias naturalização do social, quando se refere ao indivíduo como o responsável pela busca do conhecimento, e relações de desigualdades, quando se refere à importância dos espaços públicos de participação e às políticas públicas.