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O EFEITO DO AUMENTO DO TEMPO LIVRE – LAZER E TURISMO NA

No documento Turismo e lazer para a terceira idade (páginas 61-65)

2 LAZER

2.1 O EFEITO DO AUMENTO DO TEMPO LIVRE – LAZER E TURISMO NA

O tempo livre, o lazer e o turismo apresentaram diferentes concepções ao longo da história, de maneira que eram utilizados e aproveitados das formas mais diversas, conforme as necessidades das culturas de cada época. Diante disso, é válido expor algumas dessas concepções e mudanças no comportamento cultural de algumas importantes civilizações.

Na Grécia, o tempo livre era igual ao ócio e sua valorização maior do que o trabalho.

Era um “estado da alma”, permitindo que os homens contemplassem os deuses na busca pela sabedoria. Em Roma, o descanso e a diversão eram necessários para que houvesse a preservação das condições de trabalho que os indivíduos estavam envolvidos. Na Idade Média, observou-se o aparecimento da classe ociosa (nobreza), que não se interessava pelo trabalho e, conseqüentemente, se entregavam sem o menor constrangimento ao ócio.

A valorização atribuída ao ócio sofreu modificações a partir da Reforma, ocorrida na Igreja. Houve uma excessiva valorização do trabalho, onde alguns indivíduos sustentavam suas idéias, dentre os quais Lutero, que proclamava que era Deus quem determinava que o homem trabalhasse. Calvino pregava que o melhor procedimento a ser adotado pelo indivíduo seria trabalhar constantemente, acumular riquezas e poupar. Preservando estas ideologias, no século XVIII, o trabalho tomou quase todo o tempo livre dos indivíduos, de forma que eles tinham uma jornada de trabalho correspondente a 16 horas.

Em função de algumas alterações que surgiram e devido aos progressos tecnológicos e organizacionais, as horas trabalhadas foram diminuindo gradativamente ao longo dos anos.

Todavia, a sociedade pós-industrial, em média, foi beneficiada com uma jornada de trabalho ao dia e, também, contemplada com novas vantagens e benefícios como férias remuneradas, descanso remunerado no final de semana e outros mais. Assim, essas mudanças resultaram em um tempo livre e, deste modo, geraram uma crescente procura por outras atividades de lazer.

Da época primitiva, restam sinais de que os homens ocupavam seus tempos livres com atividades criativas e prazerosas. Nos vestígios arqueológicos da Idade da Pedra, observa-se

que o homem não tinha o intuito somente de criar objetos úteis para sua sobrevivência, mas sim, buscavam prazer na criação do belo.

Em outras civilizações também não era diferente. Os egípcios apreciavam a música e a escultura, enquanto os cretenses preferiam as danças, jogos e corridas de touro. Os chineses por sua vez, também gostavam de jogos, lutas corporais, equitação e pintura. Os gregos valorizavam o atletismo, a música, a poesia e o teatro. E, finalmente, os romanos que preferiam festins e diversões em hipódromos e arenas.

Algumas dessas atividades lúdicas eram usadas como recursos de apaziguamento da inquietação social (MENESCAL, 1998).

Com o surgimento do Cristianismo essa situação foi modificada e as atividades prazerosas foram substituídas por eventos religiosos. Na Idade Média somente os senhores feudais tinham oportunidade de se divertirem, enquanto que as atividades de caráter popular diminuíam.

Em outras épocas também surgiram algumas mudanças. Na Renascença as artes (pintura, escultura e arquitetura) e as letras voltaram a prosperar. Dessa feita, o teatro foi renovado e interpretado com diversos idiomas europeus. Por outro lado, a Reforma Protestante fez recuar o espírito religioso e os prazeres da diversão foram banidos.

Somente na Idade Moderna foi resgatado e valorizado o divertimento. Os efeitos que o progresso proporcionou fez com que as novas formas de trabalho surgissem, e os costumes fossem alterados. Assim, o lazer deixou de ser privilégio da Aristocracia.

Houve então, um passo importante para que o progresso e seus efeitos fossem implementados. O crescimento urbano, a necessidade de criação de espaço, bem como outros fatores impulsionaram para um planejamento de outras formas de lazer diferentes das existentes, até então. Portanto, o turismo despontou com grande importância neste contexto.

Os habitantes de algumas civilizações antigas (gregos, astecas, romanos, etc.) deslocavam-se de suas terras por diversos motivos, e sem priorizar seus interesses, buscavam comida, terra, abrigo e mulheres.

Nos séculos XVII e XIX, na sociedade inglesa, os estudantes eram submetidos ao Grand Tour educacional após concluírem seus estudos, que consistia em visitas históricas e observação de modos e costumes de diversos países e cidades da Europa, para aperfeiçoarem seus conhecimentos em relação aos centros históricos, áreas urbanas e às diversas culturas.

Por sua vez, neste período, os planos de viagens começaram a ter importância. Thomas Cook foi o responsável por uma das mais importantes transformações nas viagens, tornando-se o pioneiro na sistematização e comercialização do turismo. A grande arrancada de Cook ocorreu durante um encontro em Leicester, num verão de 1841, quando teve a idéia de criar um trem fretado para o evento seguinte. De modo que 1851, foi estendido para os demais países. (BARBOSA, 2002, p. 52).

Na sociedade pós-industrial é notório que com as mais diversas facilidades existentes, pode-se ir a qualquer lugar do planeta com conforto e segurança. A atividade turística é favorecida e sustentada por alguns fatores como, por exemplo, os avanços tecnológicos.

Assim, na medida em que forem desenvolvidas novas ações eficientes e surgirem inovações tecnológicas, isto contribuirá para que a atividade turística alcance um crescimento cada vez mais significativo. No entanto, falar em atividades turísticas e no desenvolvimento da área, hoje, é tratar obrigatoriamente do lazer e do tempo livre.

Segundo Dumazedier (1974) os indivíduos dispõem de um tempo total para realizar suas atividades e suprir suas necessidades básicas. Desse “tempo total”, a parcela utilizada para o trabalho e/ou estudo é chamado “tempo necessário”. O tempo restante utilizado para as obrigações familiares, sócio-políticas, religiosas e para o lazer é o “tempo livre”.

No transcorrer dos anos, essa libertação ocorreu por uma série de fatores: pela redução da jornada de trabalho (trabalha-se em média 6 horas a menos que na época da Revolução Industrial), frutos dos progressos tecnológicos e do desenvolvimento das organizações, havendo, porém, um aumento do tempo livre para os indivíduos. Na sociedade pós-industrial, os homens trabalham utilizando uma pequena parcela de sua força física e uma grande parcela de sua força intelectual. Aliados a estes fatores, hoje existem transformações conjunturais na esfera mundial, como as férias remuneradas, além de diversas facilidades e direitos assegurados pela legislação trabalhista. Os indivíduos realmente estão dispondo de mais tempo livre.

Na sociedade pós-industrial, trabalha-se menos e se produz mais que há 100 anos e, certamente, daqui a 50 anos trabalhar-se-á menos ainda e produzir-se-á muito mais (DE MASI, 1999).

Em virtude dessas transformações, cabe a seguinte questão: o homem possuirá mais tempo livre, mas o que irá fazer com ele? A tendência é que o homem, depois de liberado de

suas obrigações, busque preencher seu tempo livre com atividades não obrigatórias que lhe proporcionem prazer, ou seja, atividades de lazer.

Para Dumazedier lazer é definido como:

Único conteúdo do tempo orientado para a realização da pessoa com o fim último. Este tempo é outorgado ao indivíduo pela sociedade quando este se desempenhou, segundo as normas sociais do momento, de suas obrigações profissionais, famílias, socioespirituais e sócio-políticas. É um tempo que a redução da duração do trabalho e a das obrigações famílias, a regressão das obrigações socioespirituais e a liberação das obrigações sócio-políticas tornam disponível. (DUMAZEDIER, 1979, p. 91).

O lazer atingiu um grau de importância no contexto do mundo moderno. A fadiga, o excesso de trabalho, o crescimento desordenado das cidades, a falta de áreas verdes (parques, bosques, praças, jardins, etc.), e outros fatores propiciam que o homem necessite buscar atividades que o livrem desse estresse diário.

O resultado certifica que o lazer surgiu como solução dessas questões que envolviam os indivíduos. A partir disso, aparecem outras alternativas, como a diversificação de atividades de lazer, a criação de novos ambientes, espaços alternativos para que fossem desempenhadas as mais diversas tarefas e atividades de lazer tão necessárias ao indivíduo.

Porém, dentro do grande número de atividades existentes surgidas através do lazer, e que estão disponíveis atualmente, o turismo é certamente um ícone de substancial importância nesse contexto social. Sendo uma atividade de lazer, o turismo começou a se destacar no último século, incrementando um crescimento do número de viagens e maior fluxo de pessoas, tanto no âmbito nacional como internacional.

O segmento turístico despontou de forma acelerada nas últimas décadas do século XX, impulsionando o desenvolvimento de outros setores (hotelaria, transporte e toda infra-estrutura). Mas, é preciso saber controlar a demanda excessiva e a falta de planejamento, pois podem causar grandes transtornos para todo o segmento. Nesse sentido, surgem necessidades de espaço para que os profissionais capacitados atuem na área de uma forma mais segura e eficiente. É importante também, que se faça planejamentos sérios e bem-desenvolvidos conduzidos por bons profissionais para sanar e prever os possíveis problemas. Se este processo for implementado de forma mais adequada, possivelmente as áreas com potencial turístico poderão se desenvolver sustentavelmente.

Na medida em que houver uma maior disponibilidade de tempo para o lazer, as perspectivas de expansão e desenvolvimento da área serão beneficiadas, uma vez que o

turismo é uma atividade que se beneficia diretamente do tempo livre. Contudo, esta atividade turística favorece e surte efeitos positivos tanto para o indivíduo, mental e fisicamente, quanto à sociedade em geral, econômica e culturalmente.

No documento Turismo e lazer para a terceira idade (páginas 61-65)