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QUANDO AS APARÊNCIAS ENGANAM

No documento Turismo e lazer para a terceira idade (páginas 92-95)

3 A TERCEIRA IDADE OU A MELHOR IDADE EM AÇÃO

3.3 QUANDO AS APARÊNCIAS ENGANAM

Envelhecer não é doença, é um processo natural, que envolve um prolongamento de um processo, ou uma transformação. A velhice é marcada pela sabedoria, pela resignação de valores, pela consciência, pela esperança, mas também, pelas perdas (biológicas, sociais e psicológicas), podendo gerar sentimentos de solidão, de desvalorização pessoal e profissional ou levar à dependência e à falta de autonomia.

Considera-se a velhice como um período de vida em que predomina a doença.

Envelhecer é entrar em declínio físico e mental. Existe uma preocupação e temor de todos referente a essa etapa de vida, em virtude de associar a idéia de que nada resta ao indivíduo,

senão o sofrimento. Os dias da juventude são lembrados como um precioso tesouro perdido.

Enquanto a vida do velho resume-se à tristeza e à infelicidade.

Não se deve esquecer que nessa fase da vida o vigor se abala e as resistências enfraquecem ao enfrentar os embates cotidianos, levando o organismo do idoso a experimentar o desgaste do tempo, isto porque estando o corpo frágil, haverá um ganho sobre isto, fazendo com que a soma das experiências compense plenamente tal falha.

As mudanças normais associadas à idade não se constituem apenas em doenças, uma vez que o organismo humano, com o desgaste próprio do passar do tempo, tornam-se vulneráveis e obsoletos às doenças que na juventude poderiam ser combatidas com mais facilidade; de modo que o sistema imunológico torna-se menos eficiente para a defesa; logo as doenças associadas à velhice não são parte do processo normal de envelhecimento. Desta maneira, como a passagem à idade adulta é universal, não pode ser encarado como doença, pois nenhuma doença é universal.

Como descrito por Beauviour: “a medida moderna não pretende mais atribuir uma causa ao envelhecimento biológico: ela o considera inerente ao processo da vida, do mesmo modo que o nascimento, o crescimento, a reprodução, a morte”. (Apud BARCELAR, 2002, p. 36).

No processo de envelhecimento ocorrem diversas modificações, tais como: massas dos tecidos, na aparência total do indivíduo, nos cabelos que embranquecem, na pele que enruga, nos dentes que caem, na atrofia muscular, no sistema circulatório, no desequilíbrio hormonal, na circulação cerebral, na força muscular. Acrescente-se a estas modificações, também, a visão, audição, o olfato, paladar e o tato. Quando se trata da saúde do idoso, depende de uma ação preventiva, observada durante os primeiros períodos de vida.

Para Hayflinck:

Nos últimos anos ocorreram várias mudanças sociais que, se fossem mantidas, ofereceriam a possibilidade de adiar a morte e eliminar as doenças.

(...) exemplo: a redução da ingestão de alimentos gordurosos; a intervenção médica, como o desenvolvimento e o uso de drogas que reduzem a pressão arterial e os níveis de colesterol. (HAYFLINCK, 1994, p. 84)

Embora o “velho”, o “idoso” e “a terceira idade” estejam relacionados aos processos biológicos, fazem parte efetivamente das construções culturais, uma vez que todos os indivíduos percorrem um ciclo de vida que se inicia pela infância e termina com a velhice, havendo, portanto, significados diferentes em distintos grupos sociais.

Mas, se tratando de velhice, é cabível colocar o ponto de vista de Woortmann:

Esses significados estão relacionados a dois fatos (...) só existem “velhos”

com relação a jovens e outro mais que “velhos”, (...) significa que as pessoas envelhecem de maneiras diferenciadas, relacionadas à sua posição no sistema social e ao caráter da sociedade em que vivem. (WOORTMANN, 2004, p. 55).

Para fins demográficos são considerados idosos os 13,5 milhões de brasileiros – 8% da população – com idade acima de sessenta anos. É notório se observar em alguns locais (guichês de bancos, filas de hospitais, assentos de ônibus, etc.), avisos informando sobre os espaços destinados somente para as pessoas acima de 65 anos, deficientes físicos e gestantes.

De forma que esta idade “marca a velhice”, não havendo, portanto, outro regulamento que seja contrário ao aprovado no Estatuto do Idoso.

No entanto, este cenário é totalmente contraditório, pois é comum observar que muitos idosos possuem e cultivam atividades diversas, tais como as culturais, práticas esportivas, trabalhos voluntariados e outras mais.

Em seu relato Woortmann comenta duas experiências que ocorreram nas quais estava presente e foi observado por ele:

Há alguns meses, um de nós estava em um aeroporto aguardando o embarque quando foi anunciado, como de hábito, que pessoas idosas, senhoras gestantes e pessoas com dificuldade de locomoção terias precedência sobre as demais. A pessoa em questão continuou lendo seu jornal. Para sua surpresa, a gentil funcionária insistiu para que embarcasse antes dos demais. Descobriu, então que era idoso (a). No entanto havia viajado para fazer uma conferência e participar de uma banca de concurso, atividades que supõem capacidade de trabalho. Talvez, se tivesse juízo, devesse permanecer em casa cuidando dos netos. (WOORTMANN, 2004, p.

56).

O referido autor relata outra experiência referente a uma viagem à Europa:

Quando um de nós acompanhava uma senhora de 89 anos. Fomos buscados no aeroporto por uma amiga de 81 anos que, dirigindo seu carro do ano, conduziu-nos à casa do irmão daquela senhora. Ele, com 87 anos, era um artista gráfico que acabara de ilustrar um livro de contos infantis e sozinho tomava conta de sua casa e só andava de bicicleta.

Em função dessas experiências, cabe a seguinte reflexão: existem velhos de 20 anos como há jovens de 80 anos, tornando claro que o grande motor da vida é a cabeça. Não obstante, percebe-se no dia-a-dia que ocorre o contrário do que é colocado pela sociedade no que diz respeito ao idoso aposentado (inativo) – o mau desempenho em muitos ambientes de

trabalho. Ou seja, alguns idosos continuam trabalhando com muito vigor nas mais variadas profissões, como os professores e pesquisadores nas instituições universitárias, funcionários em órgãos públicos e privados, etc.

Entretanto, existem outros segmentos que identificam e segregam tais profissionais, como, por exemplo, os atletas profissionais (ginastas olímpicas tornam-se velhas aos 25 anos;

e os jogadores de futebol que se tornam velhos aos 35 anos). Do ponto de vista de Woortmann (2004, p. 57) “o fato de alguns deles passarem a jogar em times de masters não lhes confere privilégios em bancos ou aeroportos”.

Igualmente acontece com pessoas com idade acima dos 45 anos que vão em busca de um emprego no mercado de trabalho e encontram sérias dificuldades. São regras prejudicais ou até mesmo abusivas, impostas por um sistema desigual e injusto. Pessoas consideradas

“velhas” que são prejudicadas pela incompreensão de alguns empregadores, e por sua vez, não atingiram a idade mínima para usufruir de suas aposentadorias. Outras são obrigadas a cumprirem as regras – aposentadoria compulsória aos setenta anos –, independentemente de sua capacidade de trabalho.

De fato a velhice é algo bastante relativo, dependendo de como ela é vista e compreendida pelos indivíduos que estão envolvidos. É imprescindível registrar, que por mais distantes lugares que se conheça, certamente encontrará velhos em todos eles, mas a maneira pela qual são tratados é muito variável e depende de contextos específicos.

A percepção de Woortmann esclarece sobre a incompatibilidade dos anos de vida que o indivíduo possui com a condição de ser “velho”:

A condição de velho, portanto, não é dada simplesmente pela idade, e a categoria ‘velho’ não existe em si mesma. A velhice é dada pelo contexto social, cultural e histórico de uma sociedade. Nem todos com a mesma idade são igualmente velhos. Tudo depende da história de vida de cada um.

(WOORTMANN, 2004, p. 68).

No documento Turismo e lazer para a terceira idade (páginas 92-95)