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2 RAZÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO

3.3 DA SEPARAÇÃO DO LIXO AO CONCEITO LIXO ZERO: AS CONDIÇÕES

3.3.1 Brasil

A Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010, instituiu, no Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos:

A fim de dispor os objetivos, princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes relativas à gestão integrada e o gerenciamento de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades dos geradores e do poder públicos e aos instrumentos econômicos aplicáveis (BRASIL, 2010).

O Conceito Lixo Zero é consoante aos incisos I, IV, V, VI, VII e VIII da PNRS Assim, destaca-se o artigo 7º da PNRS, que ao demonstrar os objetivos do plano, inclui:

Art. 7o São objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos: I - proteção da saúde pública e da qualidade ambiental;

II - não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos; III - estímulo à adoção de padrões sustentáveis de produção e consumo de bens e serviços;

IV - adoção, desenvolvimento e aprimoramento de tecnologias limpas como forma de minimizar impactos ambientais;

V - redução do volume e da periculosidade dos resíduos perigosos;

VI - incentivo à indústria da reciclagem, tendo em vista fomentar o uso de matérias-primas e insumos derivados de materiais recicláveis e reciclados; VII - gestão integrada de resíduos sólidos;

VIII - articulação entre as diferentes esferas do poder público, e destas com o setor empresarial, com vistas à cooperação técnica e financeira para a gestão integrada de resíduos sólidos;

IX - capacitação técnica continuada na área de resíduos sólidos.

X - regularidade, continuidade, funcionalidade e universalização da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, com adoção de mecanismos gerenciais e econômicos que assegurem a recuperação dos custos dos serviços prestados, como forma de garantir sua sustentabilidade operacional e financeira, observada a Lei nº 11.445, de 2007;

XI - prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para: a) produtos reciclados e recicláveis;

b) bens, serviços e obras que considerem critérios compatíveis com padrões de consumo social e ambientalmente sustentáveis;

XII - integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XIII - estímulo à implementação da avaliação do ciclo de vida do produto; XIV - incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos, incluídos a recuperação e o aproveitamento energético;

XV - estímulo à rotulagem ambiental e ao consumo sustentável. (BRASIL, 2010).

A leitura atenta deste artigo da legislação brasileira ao ser justaposta aos princípios do Lixo Zero permite perceber que o conceito em estudo é plenamente coerente, em especial, aos incisos II, III e VI.

Quanto as diretrizes do Plano de Resíduos sólidos, descrita no artigo 9º, que diz: “Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos”, observa- se também sua total afinidade com a proposta Lixo Zero.

Na Seção II, do PNRS, se prevê no horizonte de vinte anos, com atualização de quatro em quatro anos, em conteúdo mínimo expresso no Art. 15, disposição III, o atingimento de “metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de resíduos e rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada” (BRASIL, 2010). Assim, o principal objetivo passa a ser a redução do volume de resíduos já no início do processo produtivo, continuando nas demais etapas da cadeia produtiva. Esse modelo exige uma série de mudanças no comportamento dos diversos atores envolvidos em todas as etapas do processo, muitas ainda bastante difíceis de serem alcançadas. (DEMAJOROVIC; LIMA. 2013, p. 36).

Ademais, no Art. 15, se estabelecem metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis” (BRASIL, 2010). E no Art. 19, que se refere a alçada municipal, tem-se no inciso X e XIV, a ênfase na educação ambiental e na necessidade de se traçar metas:

X - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos;

XIV - metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

Conforme as Leis sobre Meio Ambiente e Resíduos Sólidos no Brasil (Anexo A), Um dos pontos principais de planejamento da PNRS, e que envolve os âmbitos federal, estadual e municipal, era o do encerramento de lixões e aterros irregulares em todo o território nacional até 2014 (BRASIL, 2010). Vendo-se aos dados apresentados no último Panorama Anual de Resíduos Sólidos Urbanos, pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

(Abrelpe), edição de 2017, nota-se que a região norte teve uma geração de 15.634 toneladas/dia; a região nordeste, com 55,492 toneladas/dia; o centro-oeste, com 15.519 toneladas/dia; e sudeste, 105.794 toneladas/dia.

Estimava-se que se coleta em torno de 21.327 toneladas/dia de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) no Sul do Brasil, o que representa uma participação de cerca de 10,9% do total nacional. Dos 2.218 aterros sanitários existentes no Brasil, 703 se localizavam na região Sul e dos 1.772 aterros controlados, 357 estavam também nesta região do país. E, em menor número, dos 1.559 de lixões existentes no Brasil, apenas 131 estavam na Região Sul. Estimava-se a geração de 0,944 kg/hab/dia de coleta de RSU per capita no Sul do Brasil. (Abrelpe, 2017).

É válido salientar que o encerramento dos lixões, em todo país, está previsto no PNRS, na Seção II, Art. 15, inciso V: “metas para a eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e à emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis” (BRASIL, 2010). Mas, em 2019, 45% dos municípios no Estado do Paraná ainda possuem lixões a céu aberto, conforme notícias do Agência de Notícias do Paraná (PARANÁ, 2019).

O crescimento do número de aterros em todo território nacional (CONRESOL, 2019), devido ao processo de encerramentos dos lixões ao céu aberto, prevista na Lei nº12.305/2010 (PNRS, 2010), e a constatação, de que grande parcela do lixo doméstico gerado é material orgânico (Vide tópico 4.3.3), leva à necessidade de se pensar sobre alternativas sobre práticas de consumo e descarte de resíduos sólidos urbanos, e formas de desvio, principalmente, dos compostos orgânicos, os mais volumosos, dos aterros sanitários, sendo estas “bandeiras” da causa Lixo Zero.