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Produtores, reeditores e editores sociais do Lixo Zero

2 RAZÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO

5.3 IDENTIFICAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS MOBILIZADORES ENVOLVIDOS NA

5.3.1 Produtores, reeditores e editores sociais do Lixo Zero

Ao disseminar seus estudos sobre Mobilização Social, no Brasil, tendo como base a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Toro e Werneck (2007) definharam alguns atores centrais, com base nos papeis que representam no

processo mobilizador e comunicativo. Com relação ao primeiro destes atores, o Produtor Social:

Entende-se por Produtor Social a pessoa ou instituição que tem a capacidade de criar condições econômicas, institucionais, técnicas e profissionais para que um processo de mobilização ocorra. Uma Secretaria de Estado, uma instituição pública ou uma entidade privada, uma pessoa ou um grupo podem ser produtores sociais. O Produtor Social é responsável por viabilizar o movimento, por conduzir as negociações que vão lhe dar legitimidade política e social. (TORO; WERNECK, 2007, p.22).

Os atores que se enquadram como produtores são aqueles que estão propondo o processo, que vislumbram e propagam a sua relevância, cabendo a eles definir os objetivos e os meios para alcançá-los. O Lixo Zero tem como atores sociais os grupos que integram a Aliança Internacional de Lixo Zero (Zero Waste International Alliance – ZWIA), conforme se descreve no capítulo 2, tópico 2.1.3 desta dissertação; se constituem ainda como produtores sociais os diversos atores políticos apoiadores do Lixo Zero, transformando o movimento em política pública, ou parte dela, no âmbito de resíduos sólidos urbanos.

Por sua vez, o conceito de Reeditor Social, foi tomado e ampliado por Toro e Werneck (2007), a partir do conceito original de Jaramillo (1991):

Esse termo, cunhado por Juan Camilo Jaramillo (1991) designa uma pessoa que, por seu papel social, ocupação ou trabalho tem a capacidade de readequar mensagens, segundo circunstâncias e propósitos, com credibilidade e legitimidade. Dito de outra forma, é uma “pessoa que tem público próprio”, que é reconhecido socialmente, que tem a capacidade de negar, transformar, introduzir e criar sentidos frente a seu público, contribuindo para modificar suas formas de pensar, sentir e atuar. Os educadores são reeditores ativos. Por sua profissão e pela credibilidade que têm frente a seus alunos podem legitimamente introduzir, modificar ou negar mensagens, segundo circunstâncias e propósitos. Um pároco, um gerente, um líder comunitário também são, pelas mesmas razões, reeditores. (TORO; WERNECK, 2007, p. 24).

Diante deste entendimento, os reeditores englobam pessoas, envolvidas em uma causa, que têm público próprio e assim podem, inclusive, modificar, introduzir ou eliminar mensagens dentro do seu público. De forma contemporânea podemos incluir aí, além de educadores/professores, líderes comunitários, gerentes, vários outros profissionais mas também novos atores, como os influenciadores digitais (digital influencers) que repercutem causas em seus blogs e redes sociais. Os autores lembram que esses papeis representados pelos atores envolvidos em um processo de mobilização não é estático: “Um ator social pode estar, em um determinado

momento, sendo público de um Reeditor e, em outro momento, sendo ele próprio um Reeditor”. (TORO; WERNECK, 2007, p. 25).

A considerar essa característica de um reeditor de deter um público próprio, principalmente no âmbito de um grupo ou comunidade específica, destacam-se como reeditores da causa Lixo Zero empreendedores alinhados à causa; profissionais e especialistas de diversas instituições (no respectivo campo de atuação)/ educadores/professores ligados à educação ambiental; praticantes do conceito Lixo Zero quando divulgam suas ações e práticas, mesmo que para pequenos públicos em círculos mais intimistas, de forma coletiva ou individual e independente, até mesmo usando o conceito como um estilo de vida (aqui também se engloba a figura do net- ativista/influencer digital).

E, finalmente, os “editores sociais” transformam o conteúdo proposto em mensagens adequadas a cada grupo de reeditores, pois identificam e estruturam as redes de reeditores em cada um dos níveis de ação, assegurando o permanente fluxo de informações entre eles (TORO; WERNECK 2007, p. 23-26; BRAGA; COUTO E SILVA; MAFRA, 2017, P. 48-49).

O Editor (pessoa ou instituição) é o profissional desse tipo de comunicação. O êxito da mobilização participada depende da forma como se introduza a mensagem e se chegue ao campo de atuação do reeditor; o qual possui uma cultura própria, conhece profundamente seu campo de atuação e tem uma cosmovisão própria. Como estruturar as mensagens, que códigos são necessários para que a mensagem seja compreendida e absorvida pelo reeditor e para que ele possa convertê-la em uma forma de sentir, de atuar e de decidir em função do imaginário? Essas são as perguntas às quais o Editor deve dar respostas. É evidente que quanto melhor o seu conhecimento sobre o campo de atuação do reeditor, maiores as possibilidades de êxito no seu trabalho. (TORO; WERNECK, 2007, p. 25).

Identifica-se o grupo Coletivo Curitiba Lixo Zero e o Instituto Lixo Zero Brasil – ILZB atuantes como editores sociais, uma vez que eles orientam ações para os reeditores presentes no fluxo do processo mobilizador. Vale ressaltar que tanto a ILZB e a CLB são também são produtores, editores e reeditores, pois direcionam as ações localmente, mas como forma de organização e de papel no processo de projeto mobilizador coloca-se esses atores na função intermediária de “editores”. Já com atuação reeditores, há os membros que são empreendedores socioambientais, profissionais e/ou educadores ambientais no processo.

Ao considerar essas tipologias de atores e públicos sociais de um projeto de mobilização social (TORO; WERNECK, 2007), buscou-se, após a fase de observação

participante, enquadrar os principais atores sociais no processo, visualizando essa lógica, conforme a figura 14:

FIGURA 14 – A POSIÇÃO DOS ATORES SOCIAIS NA COMUNICAÇÃO DE MOBILIZAÇÃO, SEGUNDO TIPOLOGIA DE TORO; WERNECK (2007).

QUADRO 11 - ANÁLISE DA AÇÃO ARTICULADA EM REDE MOBILIZADORA NA CIDADE DE CURITIBA/PR

TIPO GRUPO SELECIONADO PARA ANÁLISE

PRODUTOR

Coletivo Curitiba Lixo Zero -CLZ Atores políticos apoiadores do Lixo Zero como Política Pública

I. Representantes políticos que apoiam o Lixo Zero na cidade de Curitiba/PR.

EDITOR

Instituto Lixo Zero Brasil – ILZB II. Representante do Lixo Zero Brasil.

Coletivo Curitiba Lixo Zero – CLZ

III. Integrantes do Coletivo Curitiba Lixo Zero:

a) Artista e ativista; b) Embaixador Lixo Zero;

REEDITOR

Empreendedores alinhados à causa Lixo Zero

IV. Empreendedores Lixo zero: a) serviço

b) produto Profissionais/Instituições

(praticantes do conceito Lixo Zero.

V. Educador ligado à causa: a) professor universitário Adeptos civis individuais e

independentes praticantes do estilo de vida Lixo Zero.

VI. Praticante independente do estilo de vida lixo zero. PARTICIPANTE-OBSERVADOR Catadores de material reciclável.

VII. Uma instituição ligada a representação de catadores em Curitiba/PR.

Fonte: A autora (2020).

Os geradores “produtores”, no caso do Lixo Zero, são demandados e criam reais condições da mobilização para alcançar resultados práticos, a partir de instrumentos legais. Entre os geradores “produtores”, estão os representantes políticos, que legislam a favor de uma realidade Lixo Zero em âmbito estadual e municipal. Para esta a coleta de informações, por meio de entrevistas, escolheu-se um deputado estadual e uma vereadora de Curitiba/PR, com propostas alinhadas ao Lixo Zero, com atuação recente na proposição da Semana Lixo Zero Paraná (2019), como plataforma de mobilização de educação ambiental, em audiência pública Lixo Zero: compostagem (2019), e em projetos de compostagem em escolas públicas municipais em Curitiba/PR.

Para fins de organização do trabalho, embora o ILZB e o CLB apresentem características de produtores, editores e reeditores, entende-se o seu papel fulcral na

“edição propositiva da causa para a cidade de Curitiba/PR” classificando-se na seara de “editores”. Entre os geradores “editores” foram selecionados um representante do Instituto Lixo Zero Brasil e integrantes do Coletivo Curitiba Lixo Zero. Os três editores sociais possuem competência técnica e de representatividade institucional sobre a causa e detém legitimidade sobre o movimento no Brasil e no município analisado, sendo fontes que subsidiam o processo de mobilização entre diversos públicos, com informações, metodologias e formas de abordagem, homogeneizando uma forma comum de engajamento socioambiental. O representante do ILZB selecionado foi entrevistado pensando na comunicação macro intencional local.

O primeiro editor social entrevistado apresenta um perfil de ator mobilizador, representante do ILZB; o segundo é um ator local que se engaja na intervenção urbana, a partir de artes visuais. O integrante destaca-se como “artivista”32, ao

produzir stencils, grafites, esculturas e performances de engajamento ambiental em Curitiba, desde o início do coletivo, tornando representativos em elementos visuais formas de identificação sobre o movimento. O terceiro editor é outro membro do coletivo Lixo Zero, embaixadora Lixo Zero, que realiza práticas educativas sobre a causa Lixo Zero em Curitiba.

Os geradores intitulados “reeditores” são aqueles que possuem um público próprio, e recebem influência direta ou indiretamente das comunicações dos editores. Nesta etapa, identificam-se diversos atores que, motivados pela causa ambiental do Lixo Zero, tem o conceito Lixo Zero aplicado as suas áreas de atuação. Desta forma, selecionou-se para entrevistas: primeiro, uma empreendedora de lojas de produtos de conceito Lixo Zero, onde se comercializam itens destinados a praticantes de uma vida com menos plástico e descartáveis e pessoas simpáticas ao estilo de vida Lixo Zero; o segundo entrevistado é uma empreendedora, chef de cozinha, que aplica em seu restaurante a vermicompostagem33 in loco e compostagem industrial, sendo

praticante de uma lógica de economia circular em seus serviços de compra de insumos de produtores locais, alinhados com práticas do conceito Lixo Zero; a terceira entrevistada é uma professora universitária, engajada com a causa de forma institucional, em sua universidade, com projetos e implementações de processos _______________

32 Como o ator mobilizador se autodenomina: ‘Artivista’, termo que une as palavra “ativista” e “artista”. 33 O termo vermicompostagem é usado para o processo de transformação biológica de resíduos orgânicos, em que as minhocas atuam, acelerando o processo de decomposição (RICCI; EMBRAPA/RO, 1996, p. 5).

internos de coleta seletiva e compostagem, alinhados ao conceito Lixo Zero; e por último, nesta categoria, há uma entrevistado que é um praticante civil do estilo Lixo Zero, independente.

A denominação criada pela autora, para abrigar os catadores de resíduos no âmbito da tipologia apontada no quadro 11, é a de “participante-observador”, para captar a suas percepções sobre os processos de projeto mobilizador da causa Lixo Zero, em Curitiba. Para este tipo foi selecionada uma instituição ligada a representação de associações catadores (cooperativas e movimento), como forma de se analisar a relação do Lixo Zero com a comunidade de catadores, se ela se mostra uma opção sustentável ao pensar a cidade e uma se surge como nova abordagem no tratamento de resíduos sólidos.

Desta forma, ao todo, são dez atores ligados ao conceito Lixo Zero selecionados como entrevistados, com diferentes perfis, conforme o quadro12 revela:

QUADRO 12 - PERFIL DOS ENTREVISTADOS

GRUPOS ENTREVISTADOS PERFIL

PRODUTOR LZ1 Ator político envolvido na causa Lixo Zero

LZ2 Ator político envolvido na causa Lixo Zero

EDITOR

LZ3 Representante do Instituto Lixo Zero Brasil LZ4 Ativista e artista envolvido na causa Lixo Zero LZ5 Embaixador Lixo Zero e integrante do Curitiba

Coletivo Lixo Zero.

REEDITOR

LZ6 Empreendedor de produtos afim ao conceito Lixo Zero

LZ7 Empreendedor de serviço afim ao conceito Lixo Zero

LZ8 Professor universitário praticante do conceito Lixo Zero

LZ9 Cidadão comum curitibano praticante do Lixo Zero

PARTICIPANTE-

OBSERVADOR LZ10

Entidade representante de Catadores de recicláveis.

FONTE: A autora (2020).