• Nenhum resultado encontrado

Verificação de geração de vínculos

2 RAZÃO AMBIENTAL E COMUNICAÇÃO

4.1 O PASSO A PASSO DOS PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

4.1.4 Verificação de geração de vínculos

A etapa final da análise constitui a verificação de geração de vínculos que permitam estabelecer se é possível “interpretar” a existência de um processo efetivo de mobilização social no coletivo aqui estudado. “Interpretar” o projeto de mobilização social,, no entanto, depende das referências simbólicas e culturais utilizados para estabelecer a comunicação para os públicos direcionados. Para se gerar vínculos, o projeto de mobilização deve atribuir um caráter educativo como forma de gerar referências aos públicos-alvo. As ações educativas, por sua vez, devem partir de uma experiência direta, de ritmos e circunstâncias e estar ligada aos dos modos de inserção das pessoas na vida social para se adotar a comunicação necessária de forma a ser efetiva.

Assim, a comunicação para mobilização deve orientar os indivíduos em seus espaços de interação, “ou mesmo criar ambientes, onde as relações e as interações ocorrerão através do diálogo livre entre os sujeitos e o conhecimento será apreendido e reelaborado através dos próprios contextos da comunidade” (HENRIQUES et. al., 2017, p. 16). A aprendizagem não ocorre com ações comunicativas episódicas, difusas ou pontuais, “mas sim estimulada por uma comunicação que estabeleça “lugares” próprios de interação, superando espontaneidade, através da geração de

uma referência que direcione a vivência, troca e a apreensão de novos significados” (HENRIQUES et. al., 2017, p. 16).

Portanto a comunicação para vínculos deve: comunicar a fim que se estabeleçam lugares; comunicar a fim de criar referências e direção de vivência; comunicar para troca e apreensão de novos significados (HENRIQUES et. al., 2017, p. 17). A partir desses entendimentos, Henriques et al (2017) estabelecem oito níveis de vinculação a serem verificados, pois ao permiti-los e fortalece-los é possível interpretar positivamente um processo de mobilização social. São eles: espacial; informação; julgamento; ação; continuidade; coesão; corresponsabilidade; participação instituição, explicitados no Quadro 9.

QUADRO 9 – NÍVEIS DE VINCULAÇÃO, SEGUNDO HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017

Localização

espacial

Espaço real (geográfico) ou virtual, onde se localiza os públicos dentro do universo de atuação e de influência do projeto (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 26).

Informação

Existem informações diferentes entre si: as vinculadas em meio de comunicação oficiais ou não oficiais; boatos; informações; pelo contato com a marca, vinheta ou slogan; informações sustentadas por dado e pesquisa, etc. (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 26).

Julgamento

Nesta instância, há o juízo, onde se tem a produção coletiva de sentido “se produz e, como tal, aparecem como possibilidades dentro de uma rede possível de sentidos (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 28).

Ação

Geração pontual ou permanente de ideias, produtos, serviços, estudos e contribuições diversas dos públicos para o projeto de mobilização geral, que contribuem direta ou indiretamente para seus objetivos. (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 28).

Coesão

Existe quando as ações destes públicos são interdependentes, possuem ligações ou contribuem para um mesmo fim, que podem ser os objetivos gerais ou específicos de um projeto. Trata-se neste nível, de superar ações que sejam meramente fragmentadas e isolada, que se encerrem em si mesmas e possuam pouca ou nenhuma ligação entre si, dentro de uma certa unidade. (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 28).

Continuidade

As ações dos públicos são permanentes, gerado um processo contínuo de participação. Neste caso, trata-se de superar a pontualidade e a instantaneidade, de maneira que as ações tenham uma determinada permanência e projetem num recorte temporal mais amplo. (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 28-29).

Corresponsabilida de

Quando o público se sente também responsável, pelo sucesso do projeto, entendendo a sua participação como parte essencial no todo. Interdependência e permanência. (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 29).

Participação institucional

Quando os públicos têm um vínculo materialmente mais forte que se concretiza num nível contratual (por exemplo), a participação institucional de coordenadores, parceiros ou financiadores, através de convênios e contratos e contratos). Entretanto, um projeto de mobilização não deve buscar a participação institucional de todos os seus públicos, em todos os momentos, pois assim se descaracterizaria de um sistema fechado e pouco flexível, sob o risco do engessamento burocrático que acabe reproduzindo as relações sociais autoritárias que pretende evitar. Isso

reforça a ideia de que busca participação institucional deve ser uma decisão estratégica. (HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 30). FONTE: Extraído de HENRIQUES; BRAGA; MAFRA, 2017, p. 30

Este trabalho também adota a tipologia de Toro e Werneck (2007) para enquadrar os atores entrevistados em públicos geradores de ações, conteúdos e práticas geradoras de comunicação e mobilização. Eles podem ser: Produtores; Reeditores e Editores.

Os produtores são aqueles atores que estão propondo o processo, que vislumbram e propagam a sua relevância, cabendo a eles articular os objetivos e os meios para alcançá-los. Já os reeditores englobam pessoas que têm público próprio e assim podem, inclusive, modificar, introduzir ou eliminar mensagens dentro do seu público. E os “editores” transformam o conteúdo proposto em mensagens adequadas a cada grupo de reeditores, pois identificam e estruturam as redes de reeditores em cada um dos níveis de ação, assegurando o permanente fluxo de informações entre eles (BRAGA; COUTO E SILVA; MAFRA, 2017). Esta tipologia será melhor explicitada na análise dos atores entrevistados no capítulo a seguir.

A Figura 10, a seguir, permite relembrar o trajeto metodológico de suas fases de coleta de dados e informações até os procedimentos analíticos realizados com base nos resultados obtidos.

FIGURA 10 – DESENHO METODOLÓGICO

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS PELA OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE E ENTREVISTAS EM PROFUNDIDADE

Este processo de análise se inicia apresentando os resultados obtidos, por meio de pesquisa exploratória, que permitiu delimitar o objeto de pesquisa: ou seja, a causa ambiental Lixo Zero em Curitiba/PR. Em seguida, realiza-se a análise das falas obtidas nas entrevistas aplicadas a atores selecionados, todos envolvidos com o conceito Lixo Zero e suas práticas. Esta análise do conteúdo das entrevistas se realiza por meio da categorização já colocada na metodologia. Ao final, na síntese analítica, aplica-se a análise dos vínculos proposta por Henriques, também já descrita na metodologia, de modo a verificar como se realizam alguns aspectos do processo de mobilização social sobre o conceito em estudo, em Curitiba.

5.1 RESULTADOS DA PESQUISA EXPLORATÓRIA

Como procedimento de coleta inicial, realizou-se, de forma exploratória, um levantamento de ações e práticas comunicativas Lixo Zero na cidade de Curitiba/PR. Identificou-se um grupo, especificamente, que tem maior ação e prática comunicativa de Lixo Zero na cidade: o Coletivo Curitiba Lixo Zero. Assim levantou-se as ações feitas pelo grupo, publicadas em postagens na página do Facebook do Coletivo Curitiba Lixo Zero, no período de 2014 a 2019. Foi possível encontrar em torno de 40 ações e demonstrações de práticas relativas à temática “Lixo Zero”, por meio desta rede social digital. Estes itens estão listados no Quadro 10, mais adiante.

Nesta etapa exploratória, também foi possível atribuir à causa Lixo Zero a característica de mobilização híbrida, ou seja, aquela que apresenta ações de mobilização em rede, mas também ações diretas na realidade, na dimensão presencial, ou seja, sua realidade é alimentada pelo virtual, como indicado por autores como Di Felice; Torres; Yanaze (2012) e Lévy (1996). Constatou-se que, a partir de página no Facebook e postagens via Instagram, a rede mobilizadora permite interação, compartilhamento de conteúdo via rede social online. Assim, pode-se considerar o movimento Lixo Zero no Brasil e no mundo, articulados em diversas plataformas e redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter, blogs pessoais, canais no YouTube, sites personalizados em diversos idiomas, sendo o conceito alimentado, difundido e coletivizado por vários atores mobilizadores.