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Breve descrição da situação a nível mundial

No documento Reutilização de Águas Residuais (páginas 111-115)

PARTE I – INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS

3. APLICAÇÕES DA REUTILIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS TRATADAS

3.5 Reutilização de águas residuais tratadas para a indústria

3.5.1 Breve descrição da situação a nível mundial

A disponibilidade de água para abastecimento às instalações industriais constitui um factor determinante para a sua implantação numa dada re- gião, sobretudo para as indústrias que necessitam intensivamente de ele- vados volumes de água, como: centrais de produção de energia ter- moeléctrica e de energia nuclear, fábricas de pasta de papel e de papel, fábricas de têxteis, indústria química, refinarias de petróleo, indústrias alimentares e extracção de minérios. Compreende-se, assim, facilmente, que o desenvolvimento sócio-económico de uma região dependa da pos- sibilidade de abastecimento de água à indústria.

As necessidades de água para a indústria variam largamente, tanto em quantidade como em requisitos de qualidade, consoante o tipo de indús- tria. A partir da década de 90, a indústria começou a evidenciar um inte-

resse generalizado na alteração das suas práticas, procurando conjugar a adopção de processos de produção de custos mais baixos com a con- servação dos recursos hídricos e a consequente protecção do ambiente. Com esse duplo objectivo, a indústria tem procurado implementar tecno- logias menos poluentes e menos consumidoras de água, bem como a introdução de hábitos para a utilização eficiente da água a nível interno. O estabelecimento de normas de descarga e de objectivos de qualidade mais exigentes para os meios receptores, e a perspectiva de se caminhar para o objectivo de descarga zero de águas residuais industriais, tem obrigado as indústrias a reduzirem os custos do tratamento de águas residuais, nomeadamente através da sua reutilização, em especial em práticas que exigem água de menor qualidade, e que, portanto, neces- sitam de um grau de tratamento mais acessível.

É neste contexto que ganha interesse a reutilização da água na indústria, induzida pela necessidade de redução de custos relacionados com o con- sumo de água tratada nos sectores de transformação e com a captação de água para sistemas de arrefecimento em indústrias produtoras de energia e de transformação de crude. Efectivamente, a reutilização da água diminui a dependência das indústrias em relação às origens de abastecimento tradicionais, que podem limitar as suas actividades, em especial em alturas de escassez ou quando é necessário dar prioridade a outras utilizações. Nalguns casos, a água pode ser reutilizada directamente dentro do pró- prio processo industrial, noutros requer tratamento de adequação, nou- tros ainda pode ser usada água de menor qualidade proveniente de outros processos. Segundo a US EPA (2004), as indústrias com sistemas de arrefecimento, usuais consumidoras de elevados volumes de água, são as que mais beneficiam da reutilização deste recurso, por poderem utilizar uma origem de qualidade inferior para aquela finalidade. A utili- zação de sistemas fechados (com recirculação) pode reduzir ainda mais os volumes a captar, uma vez que apenas é necessário repor as perdas por evaporação, apresentando, contudo, a necessidade de incluírem torres de arrefecimento. Figura 3-13 ilustra um conjunto de esquemas possíveis para a reutilização da água na indústria, que vão desde o não aproveitamento de águas residuais, até à reciclagem8e à reutilização, pre-

cedidas ou não de tratamento de compatibilização da qualidade das águas residuais industriais à utilização subsequente.

8 A reciclagem da água consiste na reutilização de uma água para a mesma finalidade da

Em Portugal, estima-se que cerca de 380 milhões de metros cúbicos de água são consumidos anualmente pela indústria, volume correspondente a um valor económico estimado em 485 milhões de euros anuais [INAG, 2001] e cuja origem principal é a captação própria (84%), em poço, furo ou águas superficiais, sendo a restante (16%) proveniente da rede de abastecimento público. Os maiores consumos de água registam-se ao nível dos sectores de transformação [INAG, 2001], nomeadamente no fabrico de pasta de papel, papel e cartão (39%), produtos alimentares e

Figura 3-13 – Alternativas de reutilização da água na indústria: a) sem reutilização e sem reciclagem; b) com reutilização; c) com tratamento prévio à reutilização;

bebidas (20%), metalúrgicas de base (11%), produtos químicos (10%) e têxteis (4%).

A reutilização de águas residuais é uma prática vantajosa para a genera- lidade dos sectores industriais, uma vez que, além das vantagens econó- micas e ambientais já referidas, se enquadrada nas estratégias de gestão eco-eficiente que a generalidade das indústrias utiliza no âmbito da imple- mentação de sistemas de gestão ambiental. As unidades que podem tirar maior benéfico desta prática são as que produzem maiores volumes de efluentes, destacando-se as seguintes: cerâmica, curtumes, extracção, tratamento e transformação de pedra natural, petroquímica; produção de tintas, vernizes e cola; produção de material eléctrico e electrónico; quí- mica; tratamento e transformação de madeiras; tratamento de superfície. Entre as utilizações mais comuns destacam-se as lavagens de espaços e equipamentos, a preparação de matérias-primas, os sistemas de aqueci- mento e refrigeração e em vários níveis de produção. As práticas de reuti- lização utilizam normalmente efluentes gerados nos próprios processos de produção, embora possa ser aproveitada água reutilizável de outra origem (ETAR municipais), desde que sejam garantidas as exigências de qualidade mínimas e que haja viabilidade técnica e económica para a sua aplicação. Na secção 3.5.2 apresentam-se as características de qualidade relevan- tes nas aplicações industriais em que a reutilização pode ter mais interesse em Portugal: água de arrefecimento, indústria têxtil e do papel.

A reutilização industrial de águas residuais é uma opção técnico-econó- mica em que o benefício de dispor de uma origem de água alternativa pode não compensar o custo da sua disponibilização. Na avaliação dos custos incluem-se as seguintes parcelas:

a) construção ou beneficiação de infra-estruturas: instalações de trata- mento eventualmente necessário para possibilitar a reutilização; sistemas de distribuição; reservatórios de armazenamento;

b) aquisição e reabilitação de equipamentos electromecânicos;

c) custos de O&M, incluindo consumíveis e gestão de resíduos (lamas, concentrados de sais, por exemplo);

d) custos de pessoal (técnico especializado e administrativo); e) controlo de qualidade do efluente.

O tratamento necessário para reutilizar a água na indústria é muito variá- vel, mas condiciona em larga medida todos os factores atrás indicados.

3.5.2 Critérios de qualidade de águas residuais tratadas reutilizadas

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