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Metodologias de controlo dos SRART para rega agrícola

No documento Reutilização de Águas Residuais (páginas 97-100)

PARTE I – INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS

3. APLICAÇÕES DA REUTILIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS TRATADAS

3.3 Reutilização de águas residuais tratadas para a rega agrícola

3.3.4 Metodologias de controlo dos SRART para rega agrícola

3.3.4.1 Minimização dos impactes ambientais sobre o solo e as águas subterrâneas

A reutilização de águas residuais para rega pode implicar impactes am- bientais que dependem não só da qualidade da água de rega, mas tam- bém do método de rega. Os impactes ambientais mais relevantes incidem sobre as características do solo regado e sobre as águas subterrâneas. Por sua vez, estes impactes podem ter impacte agronómico, reflectindo- -se na produção agrícola. É o caso da salinização do solo e das águas subterrâneas provocado pela aplicação de águas com elevada concen- tração de sólidos dissolvidos, que podem chegar a atingir as águas sub- terrâneas, se o volume de água de rega for excessivo. O problema da sali- nização do solo torna-se mais grave quando parte dos sólidos dissolvidos na água são sais de sódio (ver 3.3.2.2.2).

O método de rega pode induzir o agravamento dos riscos de toxicidade das plantas, devido à presença de determinadas substâncias na água. O exemplo mais típico é a toxicidade provocada pela presença de sódio e de cloretos na água, quando esta é aplicada por aspersores semoventes a baixa velocidade, o que favorece a evaporação da água entre duas pas- sagens consecutivas do aspersor, concentrando sobre as folhas os sais dissolvidos na água de rega, os quais são depois absorvidos pelas folhas, que apresentam necroses semelhantes a queimaduras.

Este problema é agravado em climas quentes e secos, podendo ser ate- nuado pela rega nocturna.

3.3.4.1.1 Salinização

É do conhecimento geral que o método de rega condiciona o modo como se processa a acumulação de sais, sendo, por conseguinte, um importante fac- tor a considerar nos projectos de utilização de águas residuais em que estas apresentam valores de condutividade eléctrica particularmente elevados. Nos métodos de rega em que a água é distribuída de uma maneira bas- tante uniforme sobre o solo – alagamento, aspersão e, até certo ponto, as caldeiras – os sais acumulam-se na zona inferior da rizosfera, conforme ilustrado na Figura 3-9. A acumulação de sais em solo regados pelo mé- todo gota-a-gota é geralmente mais atenuada, devido à humidade per- manentemente mantida na zona radicular, que provoca uma ligeira, mas contínua lavagem de sais. A acumulação de sais também ocorre, mas na periferia da esfera de influência de cada gotejador e à superfície do solo, entre gotejadores, devido à evaporação. Deste modo, a acumulação de sais é exterior à zona de desenvolvimento das plantas.

3.3.4.1.2 Drenagem do excesso de água de rega

A mitigação do problema da salinização do solo à custa da aplicação de um excesso de água para lavagem da rizosfera pode induzir outros im- pactes negativos sobre as águas subterrâneas e superficiais: a salobriza- ção das águas subterrâneas, a sua poluição e contaminação; e as linhas de águas superficiais em cuja bacia se situa o campo regado com águas residuais podem ser atingidas por escorrências da água de rega.

A drenagem do solo e o estabelecimento de uma faixa de protecção em torno do perímetro de rega constituem as medidas para mitigar o impacte sobre as águas subterrâneas.

3.3.4.2 Minimização dos impactes sanitários

A gestão dos riscos de saúde pública em sistema de reutilização de águas residuais para rega agrícola ou paisagística pode basear-se na eliminação dos patogénicos na água de rega, através de processos de desinfecção. Porém, é possível atingir um adequado controlo de risco, equivalente a este meio extremo de desinfecção, de forma menos dispendiosa, através de: – minimização de contacto das plantas com águas de rega constituídas por águas residuais submetidas a desinfecção parcial, o que se conse- gue através do método de rega;

A selecção do método de rega representa um importante instrumento de controlo dos riscos para a saúde pública decorrentes da rega com águas residuais tratadas. O método de rega deve atender não só às conveniên- cias de ordem agronómica, mas também à contaminação de culturas, solo, agricultores, etc., que pode advir do modo como a água é aplicada. A rega por aspersão é o método que maior risco de disseminação dos mi- crorganismos patogénicos apresenta, pois a água contacta directamente todas as partes da cultura e o solo, dando ainda origem a aerossóis, os quais podem atingir os agricultores e passantes nas proximidades do campo irrigado. Consequentemente, a rega por aspersão deverá ser pra- ticada com efluentes de elevada qualidade microbiológica e, de preferência, durante a noite, para evitar atingir pessoas. As zonas habitadas devem situar-se a uma distância com reduzida probabilidade de serem atingidas pelos aerossóis.

A rega por escorrimento superficial (em sulcos, mais vulgarmente) pode não contaminar a parte consumível das culturas, se estas forem conve- nientemente seleccionadas. Não deve, porém, ser esquecido que o solo irrigado pode ficar contaminado (dependendo essencialmente da qualidade microbiológica do efluente utilizado na rega), e que o regante pode con- taminar-se ou ser agente de transmissão de contaminação, por pisar o solo, transportando os patogénicos na sola dos seus botins e na roupa de trabalho.

A parte comestível de certas culturas hortícolas não contacta com a água de rega, no caso de rega superficial, ou com o solo molhado, como, por exemplo, o tomateiro, o feijoeiro ou o pimento. Porém, há a tendência de aproveitar muitos dos frutos que caem no chão e se apresentam em melhor estado, o que pode ser uma prática perigosa para a saúde dos consumidores. Dada a dificuldade de convencer os agricultores a rejeitar os frutos caídos no solo e a impossibilidade de controlar tais práticas, é preferível exigir que tais culturas só possam ser regadas com efluentes de elevada qualidade microbiológica.

O método de rega que menos risco de contaminação oferece é indiscuti- velmente a rega subsuperficial, a qual, no entanto, é pouco praticada, de- vido ao custo de investimento na tubagem de rega. Em termos práticos, é a rega gota-a-gota que assegura menor risco de contaminação das plantas e do solo, pois a água contacta apenas com a raiz da planta e uma pequena porção do solo, não ocorrendo qualquer contacto com o agricultor ou passantes.

3.4 Reutilização de águas residuais tratadas para

No documento Reutilização de Águas Residuais (páginas 97-100)