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Reutilização de águas residuais para usos ambientais e recreativos

No documento Reutilização de Águas Residuais (páginas 131-135)

PARTE I – INTRODUÇÃO E CONCEITOS BÁSICOS

3. APLICAÇÕES DA REUTILIZAÇÃO DE ÁGUAS RESIDUAIS TRATADAS

3.7 Reutilização de águas residuais para usos ambientais e recreativos

A reutilização da água para uso recreativo e ambiental consiste na reutili- zação de águas residuais em massas de águas naturais e artificiais, com vista à prática de actividades recreativas e/ou à preservação ou desenvol- vimento de habitats. Entre estas aplicações contam-se os seguintes usos: – Alimentação de lagos e lagoas naturais ou artificiais, destinados à pesca

e desportos náuticos;

– Conservação ou reabilitação de zonas húmidas naturais ou artificiais; – Reforço do caudal de cursos de água;

– Produção artificial de neve.

A qualidade das águas a reutilizar para usos recreativos e ambientais de- pende essencialmente da massa de água onde são lançadas e do tipo de contacto humano com essas águas. A turvação, o teor de SST e coliformes fecais são parâmetros de qualidade relevantes neste tipo de reutilização.

3.7.1 Breve descrição da situação a nível mundial

A descarga de efluentes de ETAR no meio receptor é autorizada segundo licenças de descarga mais exigentes, que exigem cada vez mais que o tratamento das águas residuais seja mais eficiente e fiável. Tem sido ob- servado que, uma consequência da descarga nos meios receptores aquá- ticos de efluentes de melhor qualidade consiste na recuperação dos ecossistemas aquáticos nas proximidades da descarga.

A sociedade actual valoriza a localização de espaços naturais nas proxi- midades dos aglomerados, como factor de qualidade de vida. Tal valora-

ção estimula os projectos de reutilização de águas residuais tratadas para usos ambientais.

Entre as aplicações ambientais da reutilização de águas residuais trata- das, citam-se: o embelezamento paisagístico de empreendimentos urba- nísticos, a conservação ou reabilitação de zonas húmidas (naturais ou ar- tificiais), o reforço do caudal de cursos de água; e a preservação ou de- senvolvimento de habitats naturais.

Assim se compreende que a reutilização da água para usos ambientais e recreativos seja o 5.º domínio de aplicação de reutilização de água nos países desenvolvidos, como os EUA, o Japão e a região autónoma da Catalunha, em Espanha. Um bom exemplo ilustrativo deste interesse é o estado da Califórnia, onde 10% das águas residuais reutilizadas são para usos recreativos [US EPA, 2004].

A reutilização de águas residuais tratadas para alimentar zonas húmidas é bastante interessante, não só porque permite o desenvolvimento de habitats para a vida selvagem e a implementação de actividades de lazer e turísticas (e.g. passeios de barco), como possibilita a depuração adicio- nal das águas residuais antes do lançamento no meio receptor, podendo servir ainda como bacia de retenção em tempo de chuva.

Em certa medida, a reutilização da água para fins ambientais também en- cerra em si uma componente de uso recreativo, embora restrito, que con- siste na observação da vida selvagem ou no uso da água para a pesca. A reutilização da água para uso recreativo consiste na reutilização de águas residuais em massas de águas naturais e artificias, com vista à prática de actividades recreativas. Entre estas aplicações podem contar-se os seguin-

tes usos: a alimentação de lagos e lagoas (naturais ou artificiais) destinados à pesca e desportos náuticos (canoagem, banho e outros); a produção artificial de neve.

A reutilização da água para usos recreativos pode ser classificada como podendo ser de uso restrito e uso sem restrições.

– Uso recreativo sem restrições: relativo à reutilização de águas residuais em domínios em que é provável e não controlado o seu contacto com o público, ainda que sejam observadas boas práticas de aplicação. Dado o elevado risco para a saúde pública, o nível de qualidade a exigir ao efluente deve ser máximo.

As aplicações de reutilização de águas residuais tratadas em usos recrea- tivos não restritos podem incluir: a alimentação de lagos e lagoas artifi- ciais, embelezamento paisagístico de empreendimentos urbanísticos, e alimentação de áreas para a prática de desportos náuticos e banhos. – Uso recreativo restrito: pressupõe a reutilização de águas residuais em

domínios em que, apesar de ser possível o seu contacto com o público, este é passível de ser controlado, desde que sejam observadas boas práticas de aplicação.

Entre as aplicações de uso recreativo restrito destacam-se as actividades piscícolas e aquícolas.

A qualidade das águas residuais tratadas a reutilizar para usos ambientais e recreativos depende essencialmente da massa de água onde são lan- çadas e do tipo de contacto humano com essas águas.

As utilizações ambientais associadas à conservação e recuperação de habitats e ecossistemas aquáticos podem traduzir-se de formas diversas, como por exemplo:

– Reforço de caudal de linhas de água praticamente secas no Verão, de modo a criar pegos ou mesmo escoamento suficiente para conservar espécies aquáticas em vias de extinção;

– Criação de zonas húmidas artificiais ou reforço de zonas húmidas natu- rais para refúgio de aves aquáticas selvagens.

Nestas utilizações é importante que as águas residuais tratadas não transportem substâncias tóxicas para a vida aquática, como cloro resi- dual ou azoto amoniacal. É importante o apoio técnico de biólogos espe- cializados em espécies a proteger. Quando estas linhas de água e zonas húmidas são também utilizadas para fins de recreio e lazer, haverá ainda

que considerar, prioritariamente, a possibilidade de contaminação dessas águas com microrganismos patogénicos.

Nas aplicações de reutilização da água para usos recreativos, mesmo res- trito, o factor mais importante é a salvaguarda da saúde pública. Assim, os parâmetros de qualidade microbiológica são de fundamental importân- cia. A qualidade da água deve ser monitorizada durante um período longo, da ordem de 3 anos, antes de se concluir que essa qualidade é compatível com as normas de qualidade estabelecidas para tais usos (banho, desporto náuticos, actividades piscícolas, etc.).

3.7.2 Critérios de qualidade de águas residuais tratadas reutilizadas para usos ambientais e recreativos

A turvação, o teor de SST e de coliformes fecais são os parâmetros de qualidade mais relevantes no âmbito da reutilização de águas residuais tratadas para usos recreativos e ambientais. Para esta última utilização pode ainda ser interessante monitorizar a concentração de metais pesa- dos, de compostos orgânicos residuais, pois tendem a acumular-se em níveis elevados nos tecidos de alguns membros da cadeia alimentar, como os peixes e as aves. O pH, o OD e os nutrientes também podem ser parâmetros de interesse relevante.

A maior parte das aplicações focadas não tem grandes exigências em termos de sistemas de transporte, elevação e armazenamento, desde que estejam localizadas em locais próximos da estação de tratamento e que seja possível o transporte gravítico. Contudo, como as características de qualidade são diferentes, para algumas aplicações pode ser necessário um tratamento complementar. Nos Quadros 4.13 a 4.15 apresentam-se as características máximas a admitir para as três tipologias consideradas.

3.7.3 Metodologias de controlo em SRART para usos ambientais e recreativos

Comparativamente a outros tipos de reutilização, o uso de águas residuais tratadas para fins ambientais centra-se mais nas implicações associadas à protecção dos ecossistemas, enquanto a sua utilização para fins recrea- tivos levanta maiores preocupações em termos de saúde pública. O su- cesso destas práticas depende da operação dos sistemas envolvidos, nomeadamente em termos de gestão da água em tempo seco e húmido, controlo de vectores de doenças (e.g. mosquitos e ratos), de odores e de vegetação infestante, bem como dos aspectos de segurança.

O controlo de volumes em lagos, lagoas ou zonas húmidas pode ser rea- lizado através da inclusão de sistemas de controlo de nível e de descarga (e.g. descarregadores ou válvulas de seccionamento), a fim de não serem inundadas áreas necessárias para outras actividades (em tempo húmido) ou de ser condicionada a saída de efluente (em tempo seco). Esta gestão passa pelo estudo hidrológico do local, nomeadamente no que refere à precipitação e à evapotranspiração média anual.

A remoção de vegetação infestante pode ser conseguida por inundação temporária de lagos, lagoas ou zonas húmidas, normalmente em tempo seco. Outras medidas passam pelo tratamento periódico dos taludes e faixa envolvente daquelas estruturas. Como último recurso, podem ser utilizados herbicidas.

O controlo de vectores de doenças (e.g. mosquitos e ratos) pode exigir a aplicação de agentes químicos (insecticidas e raticidas). No entanto, uma boa manutenção dos taludes e o controlo sobre a vegetação infestante permitem minimizar a sua presença.

A minimização de odores pode ser conseguida através da redução do teor de matéria orgânica na massa líquida e do aumento das condições de mistura (e.g. através de alimentação e saída em vários pontos) e de oxigenação do meio (e.g. criando zonas de queda com descarregadores).

3.8 Reutilização de águas residuais para usos urbanos

No documento Reutilização de Águas Residuais (páginas 131-135)