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Breve descrição das propostas feitas em cada entrevista

CAPÍTULO 4 : OS DADOS – ASPECTOS METODOLÓGICOS

4.3. Apresentação dos dados

4.3.2 Breve descrição das propostas feitas em cada entrevista

Apresentamos, neste item, o que foi proposto a cada um dos três sujeitos, em cada um dos encontros. Isso nos pareceu importante já que, especialmente nos primeiros encontros, houve momentos em que os textos produzidos serviram como amostra do tipo de escrita de cada um. Também nos pareceu significativo mostrar quem eram as pessoas presentes em cada encontro e qual foi a seqüência de fatos que levou à produção final do texto colocado como objetivo de trabalho (o texto a ser veiculado no

site do CCA).

Salientamos que, a cada encontro, fazíamos uma retomada daquilo que fora feito no encontro anterior e, nestas retomadas, muitas vezes, já se fazia oralmente uma refacção ou reformulação de algum elemento, em geral relacionada à veracidade do fato, uma vez que procedíamos à escrita de suas histórias de vida. NS apresentou sempre mais dificuldade, tanto com a leitura quanto com a escrita, e, por isso, aparecem mais momentos em que era preciso dar promptings orais, escritos ou gestuais, inclusive nessas retomadas. É interessante observar que ela fazia uma leitura de seus textos pela memória dos fatos, processo a que recorria, também, para proceder

a alguma modificação. Isto é significativo, inclusive, em relação à forma como são apresentados os dados: há muito mais fala do que escrita.

MG apresentou pouca fluência na leitura oralizada; no entanto, foi capaz de proceder a uma leitura silenciosa com certa adequação, embora quase sempre lhe escapassem detalhes (necessários para reformulação e refacção sonoro-gráfica ou sintático-semântica). Isso pode ser verificado a partir de conversas sobre textos diversos, lidos em situação de coleta de dados, bem como nos encontros do CCA. Com MG era preciso dar alguns promptings orais ou mesmo apontar, no papel, a palavra ou segmento lido para que ela conseguisse identificar aquilo de que tratávamos e procedesse à alteração necessária, em qualquer das categorias (em que se incluem correções de dados/fatos).

Fato semelhante ocorreu com JM, que dos três sujeitos em questão foi o que apresentou melhor fluência tanto na escrita quanto na leitura. Nesse sentido, o processo de elaboração textual com ele foi mais fluente, deixando entreverem-se outras dificuldades – como a mistura de tipos de letras (cursiva, maiúscula, minúscula, de imprensa) que a ele muito incomodavam – isto ocorreu, especialmente, na fase manuscrita. Tais aspectos foram minimizados na fase digitada, quando o tipo de letra, então, não variava.

Fator importante a ser considerado e observado diz respeito à participação da pesquisadora na coleta dos dados, pois, muito além de ser apenas aquela que registrava as ocorrências e apenas coletava dados, mostrou-se como uma importante interlocutora na construção dos textos. Na segunda fase de coleta dos dados há também, além da interlocução da pesquisadora, a interferência no texto provocada pelo uso do computador (como já foi referido anteriormente neste trabalho).

Todos os textos produzidos nos encontros a serem relatados encontram-se anexados ao final desta tese. A descrição das propostas feitas em cada entrevista estão abaixo elencadas e organizadas por data e sujeito afásico entrevistado.

· 30/08/2001

Atividades desenvolvidas: explicação do propósito das entrevistas; solicitação de escrita sobre dados pessoais e sobre o momento em que ocorreram seus AVCs (quando e onde).

MG falou e escreveu sobre sua idade, onde morava, o que fazia antes do AVC, qual era sua formação (profissão), sobre suas práticas de leitura e escrita e fez duas listas: uma com os nomes dos irmãos (recordou-se de sete, faltou lembrar-se de dois, o que fez no encontro seguinte); e outra com alimentos que costuma ter em casa. NS fez a mesma coisa, mas a escrita apresentou menos legibilidade (de acordo com as características de seu letramento e seu AVC).

· 06/09/2001

Presentes: MG, NS e HM

Atividades: HM solicitou que escrevessem sobre o que tinha acontecido quando tiveram o AVC. Antes de escrever, elas relataram oralmente os fatos. Contaram sobre o momento em que acontecera, onde estavam. HM solicitou que escrevessem o que ocorrera em seguida, após o AVC. Elas contaram e escreveram, com ajuda da pesquisadora.

·13/09/2001

Presentes: MG, NS e HM.

Atividades: retomaram o texto anterior, do dia 06/09, para que dessem continuidade a ele, contando o que acontecera após o AVC, especialmente em relação à leitura e à escrita. Em seguida, foram realizadas atividades de leitura, cópia e cálculo, para servirem como amostras diagnósticas da condição de escreventes destas atividades (cujas análises encontram-se no anexo 1.2)

·20/09/2001 (foram realizados dois encontros nesta mesma data) 1. Presentes: MG e HM.

Atividades: HM solicitou que MG retomasse os textos anteriores, a fim de começar a escrita do texto que deveria ser digitado. Iniciaram pela leitura do texto todo que MG escrevera em 30/08. Para organizar a reescrita, HM solicitou a MG que dissesse seu

nome e, em seguida, qual era sua idade (e nesse momento, ela procedeu a uma reformulação textual, já que preferiu escrever o ano de nascimento, além da idade). Depois, a pesquisadora lhe perguntou quando tivera o AVC, onde estava quando isso aconteceu e o que tinha acontecido depois (retomando o que já havia escrito em encontros anteriores). Dessa maneira, após as perguntas de HM, MG foi respondendo e escrevendo. Contou e escreveu sobre seus estudos e profissão. Fez pequenas correções quando HM solicitou que lesse o que escrevera.

2. Presentes: JM e HM. (Tal encontro não foi vídeo-gravado por questões

técnicas).

Atividades: como primeiro encontro, HM explicou a JM o objetivo do trabalho e o que seria feito. Ela fez algumas questões a respeito de sua identificação, grau de instrução, profissão, família, entre outras, e pediu a ele que escrevesse essas informações.

· 27/09/2001

Presentes: MG, NS e JM e HM. Atividades: continuidade aos textos.

Observações sobre o encontro: pelo fato de estarmos em grupo, a escrita rendeu menos (especialmente em relação à MG), mas foi interessante perceber as intervenções que cada um fazia em relação à escrita do outro. MG e NS, mais do que JM, recorriam aos outros em alguns momentos, tanto para escrever algo, como para compartilhar alguma dificuldade.

MG escreveu sobre onde estava quando teve o AVC e o que lia antes de ficar afásica. NS escreveu sua idade, nomes de seus familiares, seus estudos e moradia. JM escreveu com bastante desenvoltura seus dados de identificação, nomes de familiares, sobre o AVC, as seqüelas que teve, o que fazia antes e o que faz após o AVC (retomando alguns fatos já escritos no encontro anterior).

·04/10/2001

Atividades: HM solicitou-lhes mais algumas amostras de tipos de produção escrita (cópia, ditado, completar sentenças), como complementação da caracterização da linguagem escrita destes sujeitos após o AVC22.

· 22/11/2001 (a partir desta data os encontros foram sempre individuais: sujeito e

pesquisadora)

1. Com MG

Atividades: retomada dos textos dos dias 20 e 27/09 para realização de algumas reformulações. MG acrescentou o que passara a fazer como passatempo, em relação à escrita, após o AVC e escreveu sobre como as pessoas devem tratar os afásicos.

2. Com JM.

Atividades: retomada do texto de 27/09. Ao ler, em voz alta, ele fez reformulações em seu texto, escrevendo sobre o mesmo. Surpreendeu-se e questionou-se sobre o uso de algumas palavras, como se não lhe fossem corriqueiras, ou próprias (“nuances”, por exemplo). Corrigiu-se, inclusive, em relação ao sentido do texto, mostrando estranhamento, mas nem sempre conseguiu proceder à reformulação.

Nesse dia, JM, além das reformulações, escreveu sobre o que continua fazendo, o que mais o incomoda e sobre o que é importante para quem tem afasia – o que os outros devem fazer.

· 29/11/2001 1. Com MG.

Atividades: utilizando-se da mesma folha em que escrevera no último encontro, acrescentou dicas para quem convive com afásicos. Antes, relemos (HM pediu que lesse em voz alta) os textos todos que já escrevera e ela ainda realizou algumas intervenções nos mesmos. Neste dia ela não estava bem, estava triste, chorou, e quis parar logo.

22

2. Com NS.

Atividades: retomada dos textos já escritos. HM leu e fez comentários para que NS conseguisse lembrar-se e entender o que havia escrito. NS escreveu sobre as dificuldades decorrentes do AVC e o que acha importante fazer a esse respeito. Nesse dia, ela também escreveu um cartão para EM (uma das coordenadoras do grupo que estava viajando) com ajuda de HM.

3. Com JM.

Atividades: leitura do texto de 22/11, no qual ele fez novas reformulações. HM sugeriu um título para o texto deste dia (“Dicas para quem convive com afásicos”) e que numerasse cada uma das dicas. Ele assim fez, demonstrando que o conhecimento de variados gêneros textuais estava preservado. Além das dicas, JM escreveu também sobre o que gostaria de voltar a fazer (que parara devido ao AVC e suas conseqüências).

Algumas observações: nesse dia foi preciso que primeiro tratassem oralmente o que seria escrito, para que JM o fizesse depois. Nos encontros anteriores, ele escrevia suas idéias sem mesmo conversar a respeito com HM ou as outras interlocutoras.

· 06/12/2001 1. Com MG.

Atividades: sendo o último encontro do ano, propusemos que finalizasse o texto, escrevendo sobre o que esperava do futuro. Ela disse que preferia falar a escrever, e acabou escrevendo muito pouco, apenas concluindo o texto a ser digitado na segunda etapa da coleta.

2. Com NS.

Atividades: retomada dos textos produzidos até esta data e a organização dos mesmos. HM pediu-lhe que escrevesse o que mais gostaria de fazer, além de voltar a trabalhar.

Algumas observações: NS escreveu, mais uma vez, com ajuda de HM. Dessa vez, HM chegou a escrever uma sentença inteira, que mostrou a ela e depois guardou. NS conseguiu escrever melhor do que sem nenhum modelo, mas ainda com dificuldade.

Escreveu, também, “Dicas para quem convive com afásicos”. Encerramos a primeira etapa.

3. Com JM.

Atividades: releitura dos textos escritos até esta data e organização dos temas que foram tratados: ele os escreveu (apresentação, depois do AVC, dicas para quem convive com afásicos e projetos para o futuro).

Finalizamos a primeira etapa de coleta de dados.

·13/02/2003 (Início da segunda etapa: todos os encontros ocorreram apenas com

a presença de HM (investigadora), além dos próprios sujeitos).

Utilizamos o computador da sala de reuniões do CCA. Retomamos o objetivo do trabalho e o que foi feito em 2001. HM apresentou-lhes os textos que escreveram na primeira etapa e solicitou-lhes que os digitassem. Esse processo, iniciado com a proposta de digitação, corresponde à refacção dos relatos de vida que foram manuscritos na primeira etapa. Isso porque, após um ano e meio, retomaram o que já fora escrito e procederam a um refazer daquele primeiro texto, de tal modo a fazê-lo chegar a uma forma final, pronta a ser divulgada.

Em todos os encontros desta segunda fase, utilizamos os mesmos procedimentos: retomávamos o texto digitado no encontro anterior; HM solicitava que, enquanto lessem, fizessem as reformulações que achassem necessárias; apontava então algumas alterações que ainda podiam ser feitas; e, finalizadas as reformulações, prosseguiam com a digitação do texto.

MG trabalhou em 20 e 27/02 e finalizou o texto – que acreditava estar bom para ser veiculado na Internet e lido por qualquer pessoa – em 20/03/2003. Foram, então, apenas três encontros nessa segunda etapa.

NS trabalhou em 13, 20 e 27/02, 06, 20 e 27/03, 03 e 16/04, 08/05 e finalizou seu texto em 29/05/2003. Totalizamos 10 encontros nesta segunda etapa. Antes de escrever o texto final, levou uma cópia impressa daquilo que escrevera e, em casa, junto com uma das filhas, reescreveu-o. A filha fez correções (bem escolares) na cópia digitada e NS passou o texto a limpo (copiando-o), em outro papel, manuscritamente.

Em 08/05 digitou as reformulações conforme apareciam em sua cópia manuscrita. Em 29/05 fez os acertos finais.

JM trabalhou na segunda etapa de coleta de dados em 13/02/2003, 20/02, 20/03, 03/04, 08/05 e 12/06/2003. Foram seis encontros. Nesta etapa, ele sempre pedia a HM que imprimisse o texto produzido para que o levasse para casa e procedesse às reformulações, as quais, no encontro seguinte, digitava.

Em 26/06/2003, após o encontro no CCA, a pesquisadora solicitou aos três sujeitos que escrevessem um bilhete às pessoas ausentes no grupo naquela data, informando-lhes sobre alguns procedimentos combinados (festa no próximo encontro, pausa para férias e retomada das atividades). Tais bilhetes foram analisados como forma de complementação das escritas-diagnósticas.

CAPÍTULO 5: ANÁLISE DOS DADOS: as reformulações e refacções