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Breve referência ao modelo institucional

Parte II A arbitrabilidade dos litígios em Direito Público: em especial em Direito

1. Arbitrabilidade

1.1. Conceito: enquadramento geral

2.1.7. A novidade: a modalidade de Arbitragem institucionalizada

2.1.7.2. O Centro de Arbitragem Administrativa

2.1.7.2.1. Breve referência ao modelo institucional

Do ponto de vista jurídico-institucional(466), o CAAD, de acordo com os seus Estatutos(467) é

uma associação, ou densificando, uma pessoa colectiva de direito privado sem fins lucrativos(468),

cujos associados(469) são entidades representativas das potenciais partes em litígios susceptíveis

(465) A preocupação em fazer do CAAD um modelo a seguir na criação de novos centros de arbitragem é manifesta nas palavras de

NUNO VILLA-LOBOS. Com efeito refere o Autor que ―Por seguir na frente, o CAAD assume especiais responsabilidades, desde logo, perante os seus utentes, mas também perante a sociedade portuguesa em geral. Responsabilidades que só podem ser cumpridas se o CAAD apostar no desenvolvimento de ferramentas adequadas de auto monitorização, que lhe permitam prestar regularmente contas do seu desempenho perante um leque muito amplo de pessoas e de agentes económicos para quem o bom funcionamento da Justiça é uma questão vital‖, acrescentando mais à frente que ―o CAAD funciona como uma espécie de cobaia ou laboratório experimental, em que, com natural expectativa e abertura são explorados novos conceitos, ensaiadas novas soluções, legais e institucionais, e cultivadas novas funcionalidades, todas elas a ser objecto de um rigoroso escrutínio crítico, por parte daqueles que no CAAD trabalham, e por parte também de quem observa de fora, através de uma ―janela‖ que se quer tão transparente quanto possível‖ (Vide, Villa-Lobos, Nuno, ―Nota Introdutória. CAAD, um primeiro balanço‖, in Mais Justiça Administrativa e Fiscal, org. Nuno de Villa-Lobos e Mónica Brito Vieira, Coimbra Editora, 1.ª Edição, 2010, págs. 11 a 17, em especial, cit. págs. 12 e 13).

(466) Para uma breve análise do modelo institucional da CAAD veja-se Farinho, Domingos Soares, ―Algumas Notas Sobre o Modelo

Institucional do Centro de Arbitragem‖, in Mais Justiça Administrativa e Fiscal, org. Nuno de Villa-Lobos e Mónica Brito Vieira, Coimbra Editora, 1.ª Edição, 2010, págs. 11 a 17, em especial, págs. 12 e 13.

(467) O modelo institucional do CAAD pode apreender-se a partir dos Estatutos, que podem consultar-se no sítio da instituição em

www.caad.org.pt.

(468) Vide, artigo 2.º dos Estatutos.

(469) De acordo com o artigo 4.º dos Estatutos, a associação tem como associados fundadores a Associação Sindical dos Trabalhadores

dos Serviços Prisionais e a Confederação de Comércio e Serviços de Portugal. Poderão ainda associar-se outras pessoas colectivas de direito público ou privado. Actualmente são associados do CAAD: Associação dos Oficiais de Justiça; Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da Polícia Judiciária; Associação Sindical dos Funcionários Técnicos Administrativos Auxiliares e Operários da Polícia Judiciária; Associação Sindical dos Oficiais dos Registos e do Notariado; Associação Sindical dos Seguranças e da Polícia Judiciária; Associação Sindical dos Trabalhadores dos Serviços Prisionais; Confederação do Comércio e Serviços de Portugal; Sindicato dos Funcionários Judiciais;

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de ser objecto do Tribunal arbitral. Deste modo, por um lado, assegura-se o requisito de representatividade que a lei exige para a autorização e manutenção da arbitragem e, por outro lado, envolvem-se os potenciais intervenientes do centro na sua gestão institucional. Enquanto

associação o CAAD compreende os seguintes órgãos(470):

a) A Direcção que é composta de um Presidente e dois vogais; b) Um Conselho Fiscal;

c) Uma Assembleia-geral;

d) Um Conselho de Representantes;

e) Um órgão independente: o Conselho Deontológico.

De todos os órgãos referidos o Conselho Deontológico é aquele que da nossa parte vai

merecer mais atenção. Este órgão é composto por um Presidente e dois vogais(471). Dado o

objecto da arbitragem, nos domínios em que nos movemos, este é um órgão particularmente importante que legitima e assegura a imprescindível neutralidade, transparência e imparcialidade do Tribunal arbitral. A este órgão compete, entre outras tarefas, pronunciar-se sobre a lista de árbitros que compõe o Centro, bem como, aprovar o Código Deontológico

aplicável aos árbitros(472).

Neste contexto, entendemos ser merecedor de particular atenção o Protocolo firmado entre o Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais e o Centro de Arbitragem

Administrativa(473). Ao Conselho Superior dos Tribunais Administrativos e Fiscais cabe a nomeação

do Presidente do Conselho Deontológico(474), sendo que a este, por sua vez, cabem as

importantes tarefas de velar pelo cumprimento das disposições do Código Deontológico e designar, a pedido da Direcção do CAAD, os Presidentes dos Tribunais arbitrais colectivos e os

árbitros quando o procedimento de escolha não decorra da iniciativa das partes no litígio(475).

Sindicato dos Trabalhadores dos Registos e do Notariado do Norte; Sindicato dos Trabalhadores dos Registos e do Notariado do Sul e Ilhas; Sindicato Nacional do Ensino Superior.

(470) Vide, artigos 5.º a 10º-A dos Estatutos.

(471) Vide, artigo 10º-A n.º 1 dos Estatutos.

(472) Vide, artigo 10º-A n.º 4 dos Estatutos.

(473) A este respeito, destaca-se a seguinte passagem do Protocolo, ―Para garantir o cumprimento escrupuloso pelos vários agentes

envolvidos na resolução dos litígios (…) de normas e princípios deontológicos, de molde a garantir-se a independência e a imparcialidade do Centro, foi criado o Conselho Deontológico, órgão independente com competência para aprovar um código deontológico aplicável aos árbitros (…) bem como pronunciar-se sobre a lista de árbitros (...) do Centro‖.

(474) Vide, artigo 10.º-A, n.º 2 dos Estatutos.

Pela Deliberação (Extracto) n.º 51/2010 em 16 de Dezembro de 2009, foi nomeado para Presidente do Conselho Deontológico do Centro de Arbitragem Administrativa, Manuel Fernando dos Santos Serra, Juiz Conselheiro jubilado.

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Ao Conselho Deontológico cabe, assim, no geral, garantir o cumprimento pelos árbitros do conjunto de regras e princípios deontológicos estabelecidos no Código Deontológico. Através desta compilação de normas deontológicas, o Conselho Deontológico densificou, consideravelmente, os impedimentos aplicáveis aos árbitros, o qual, ―se for acompanhado de uma interpretação teleológica rigorosa, como decerto, será, poderá assegura satisfatoriamente a imparcialidade, pelo menos nos casos em que a nomeação de árbitros é feita dentre pessoas que constam das listas, «pessoas de comprovada capacidade técnica, idoneidade mora e

sentido de interesse público»‖(476). Esta interpretação teleológica que se propõe no seguimento da

proposta de JORGE LOPES DE SOUSA deverá ser feita em sintonia com o artigo 216.º, n.º 3 da CRP, ―com o intuito de potenciar as garantias de imparcialidade‖, e passa pela designação dos árbitros, a cargo do Presidente do Conselho Deontológico, ―preferencialmente dentre os que constem das listas que não desempenhem concomitantemente outras actividades profissionais,

para além da docência e investigação científica de natureza jurídica‖(477).

É claro que nenhuma destas medidas substitui a consciência moral dos árbitros, que a faltar na prática, em nada valerá um conjunto de regras e princípios teóricos. Contudo, a sua existência oferece maiores garantias da sua aplicação na prática quando aquela consciência moral faltar. Além disso, como o diz e, em nosso entendimento bem, MÓNICA BRITO VIEIRA, citando um dos pais da sociologia DURKHEIM, é bom para a sociedade que a ―actividade

moral‖478 de um determinado grupo profissional seja ―socializada‖(479), isto é, ―regulada‖(480), pois

se deixada inteiramente ao arbítrio dos indivíduos, por muito boas que sejam as suas intenções,

tende a tornar-se ―caótica e dissipa-se em conflitos‖(481).