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O IDE em busca de recursos trata-se de um IDE vertical, uma vez que as empresas que realizam este tipo de investimento são motivadas pela maior quantidade ou qualidade de recursos particulares e específicos a um menor custo real, em comparação com o que conseguiriam no seu país de origem, o que as torna mais rentáveis e competitivas nos mercados onde atuam. Deste modo, este tipo de IDE destina-se a servir principalmente, mas não exclusivamente, o mercado do país de origem e países terceiros através da exportação (Dunning e Lundan, 2008, pp.67-68; Kinoshita e Campos, 2002, p.4).

Dunning e Lundan (2008) relatam três padrões de IDE em busca de recursos, o primeiro é aquele que procura recursos físicos, tais como recursos naturais, matérias- primas, componentes e outros inputs, tendo como objetivos a minimização de custos e a segurança das fontes de abastecimento. O segundo é aquele que procura o factor trabalho, no qual importa o baixo custo da mão-de-obra não qualificada, além da disponibilidade e do custo da mão-de-obra qualificada. O terceiro padrão é aquele motivado pela necessidade da empresa em adquirir capacidade tecnológica, habilidades organizacionais e experiência em gestão ou em marketing.

Dunning e Lundan (2008, p.325) salientam quatro determinantes do país de acolhimento possíveis de serem analisados quando se realiza um IDE em busca de recursos: o custo da terra e das construções (rendas e taxas); a qualidade, custo e/ou segurança das fontes de abastecimento de recursos naturais, matérias-primas, componentes ou outros inputs; o custo da mão-de-obra não qualificada; e a disponibilidade e custo da mão-de-obra qualificada.

A literatura empírica apenas abordou três dos quatro determinantes acima citados, com algumas diferenças. São eles: dotação de recursos naturais, custo da mão- de-obra não qualificada e disponibilidade da mão-de-obra qualificada. A dotação de

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recursos naturais é citada, conjuntamente com a dimensão do mercado, como o

determinante mais importante para explicação dos fluxos de ingresso de IDE num país. Este facto é explicado, em parte, pela grande importância do petróleo e dos seus derivados na economia mundial e, principalmente, pelo crescimento das economias emergentes, cujo exemplo é a China (Cheung e Qian, 2009). Deste modo, regiões, que apresentem uma abundância natural em petróleo, atrairão mais IDE (Ledyaeva, 2009). Isto explica porquê países como Angola, ricos em petróleo, usufruem de elevados fluxos de IDE, apesar das suas frequentes instabilidades internas, se comparados a outros países da região (Mohamed e Sidiropoulos, 2010).

Deste determinante espera-se um efeito positivo em relação ao fluxo de entrada de IDE num país (Asiedu, 2006; Cheung e Qian, 2009; Kinoshita e Campos, 2002; Ledyaeva, 2009; Mhlanga, Blalock e Christy, 2010; Mohamed e Sidiropoulos, 2010; Sawkut et al., 2009). Os resultados dos trabalhos empíricos foram unânimes ao identificar o efeito positivo da dotação de recursos naturais sobre os fluxos de entrada de IDE, como era de se esperar.

Em relação à mão-de-obra, o IDE está tradicionalmente ligado à procura de mão-de-obra barata, que muitas das vezes significa mão-de-obra não qualificada. Os investidores estrangeiros com cadeias produtivas de trabalho intensivas, ou pouco qualificadas, tendem a procurar países que ofereçam salários mais baixos do que os do país de origem, para assim diminuírem os seus altos custos relativos ao trabalho (Botrić e Škuflić, 2005, p.2; Dunning e Lundan, 2008, p. 68).

Diante dos fatos mencionados, o custo da mão-de-obra não qualificada tornou-se um determinante importante e amplamente utilizados pela literatura empírica para explicar os fluxos de entrada de IDE (Bellak e Leibrecht, 2009; Bevan e Estrin, 2000; Biswas, 2002; Botrić e Škuflić, 2005; Loree e Guisinger, 1995; Cheung e Qian, 2009; Vijayakumar, Sridharan e Rao, 2010; Kinoshita e Campos, 2002; Sawkut et al., 2009). O efeito esperado deste determinante sobre o IDE é negativo, visto que quanto maiores forem os salários, menor será a entrada de IDE.

A maioria dos estudos obteve resultados dentro do esperado, constatando o efeito negativo do determinante custo da mão-de-obra não qualificada sobre o IDE. No entanto, Botrić e Škuflić (2005) concluíram um efeito contrário ao esperado, estes autores justificaram o resultado positivo com a possibilidade dos investidores estrangeiros não se importarem em ter que pagar salários mais altos, se isso representar trabalhadores mais qualificados e produtivos. Já Cheung e Qian (2009) concluíram que

32 verificando-se a oferta das vantagens de custo em países em desenvolvimento, o efeito é negativo. Mas, os mesmos autores notaram que o resultado foi o inverso nos países desenvolvidos. A explicação dada advém do facto de que o IDE para países desenvolvidos é motivado pela possibilidade de acesso a tecnologias avançadas e ao know-how de gestão, os quais estão geralmente associados com trabalhadores qualificados e com salários mais elevados.

Outro determinante associado à mão-de-obra é a disponibilidade de mão-de-

obra qualificada. Uma força de trabalho mais qualificada tem maior capacidade para

aprender e adotar rapidamente novas tecnologias, além de ser geralmente mais produtiva (Sawkut et al., 2009, p.8). Este determinante também poderá significar para o investidor estrangeiro uma importante poupança nos custos de treinamento dos trabalhadores locais (Kinoshita e Campos, 2002, p.6). O efeito esperado deste determinante sobre IDE é positivo, quanto maior for o nível de qualificação do capital humano, maior será a entrada de IDE. O efeito positivo foi confirmado, pois todos os autores chegaram ao mesmo resultado sobre o efeito do determinante disponibilidade de mão-de-obra qualificada.

Dunning e Lundan (2008, p.325) referiram mais dois determinantes que não foram abordados pela literatura empírica, o custo da terra e das construções (rendas e

taxas) e a qualidade, custo e/ou segurança das fontes de abastecimento de matérias- primas, componentes ou outros inputs. Este último, especificamente, não é abordado

por se tratar de um determinante em que a análise é exclusiva de cada empresa ou sector.

A Tabela 2.2–6 apresenta uma lista resumo dos efeitos dos determinantes económicos sobre os IDE em busca de recursos, encontrados nos trabalhos empíricos, bem como dos indicadores utilizados.

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Tabela 2.2-6 – IDE em busca de recursos - Indicadores e efeitos observados em trabalhos empíricos.

Determinantes Descrição Efeito no

IDE Autor (es) (Ano) Indicadores

Dotação de recursos naturais Os recursos naturais são um sector de atividade muito atraente pelas suas grandes margens de

rentabilidade.

+

Cheung e Qian (2009) (Minerais + Metais + Petróleo) / Exportações totais

Asiedu (2006) (Minerais + Petróleo) / Exportações totais

Sawkut et al. (2009) (Minerais + Petróleo) / Exportações totais

Mohamed e Sidiropoulos (2010) (Petróleo) / Exportações totais

Ledyaeva (2009) Produção industrial de petróleo + gás

0

Mhlanga, Blalock e Christy (2010) Investimento na indústria extrativa

Kinoshita e Campos (2002) Variável dummy em recursos naturais (0 = pobre; moderada = 1;

2 = ricos) Custo da mão- de-obra não qualificada Os baixos salários diminuem os custos relativos ao trabalho, tornando a empresa mais competitiva. -

Bellak e Leibrecht (2009) Custo unitário do trabalho

Bevan e Estrin (2000) Custo unitário do trabalho no setor de manufatura

Vijayakumar, Sridharan e Rao (2010) Salários e remessas dos trabalhadores

Sawkut et al. (2009)

Taxa de salário nominal

0

Kinoshita e Campos (2002) Biswas (2002)

Salário médio (Salário / trabalhador)

Loree e Guisinger (1995)

+ Botrić e Škuflić (2005)

.-/+ Cheung e Qian (2009) Salário médio no setor de manufatura

Disponibilidade da mão-de-obra

qualificada

Uma força de trabalho qualificada aprende e

adota novas tecnologias rapidamente, além de

ser mais produtiva.

+

Asiedu (2006) % Alfabetização de adultos

Cleeve (2008) % Analfabetismo de adultos

Taxa de escolarização do ensino secundário Kinoshita e Campos (2002) Sawkut et al. (2009) Custo da terra e das construções (rendas e taxas)

O custo da terra e das construções para as instalações da empresa

refletem um valor importante do investimento inicial, sendo elevado torna-se

mais demoroso de recuperar.

.- (Esperado) (Dunning e Lundan, 2008) Sem indicadores testados

Matérias- primas, componentes ou outros inputs Estes fatores produtivos são essenciais para a manutenção da atividade comercial, estes refletem-se no custo e na qualidade do produto final. .- (Esperado) (Dunning e Lundan, 2008) Custos + (Esperado) Qualidade

Segurança das fontes de abastecimento

Fonte: Elaborada pelo autor.

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