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III. Industrias clientes

5.1. Síntese dos principais resultados

A internacionalização das empresas portuguesas apresenta-se como um tema de grande interesse e atualidade, surgindo como uma forma das empresas conseguirem contrariar os efeitos da crise na diminuição da procura interna. O mercado brasileiro emergiu no panorama empresarial português como um mercado muito atrativo devido ao forte potencial económico e à questão do passado comum das duas nações. No entanto, a abordagem a este mercado deve ser realizada à semelhança da que é feita para outros, sem descorar os inúmeros riscos e dificuldades que apresenta.

Como refere Dunning (2001), antes do início da internacionalização, a empresa deve analisar e verificar as suas vantagens de ownership e se estas lhe transmitem factores diferenciadores que determinem vantagens competitivas internacionais. Uma vez que o sucesso da internacionalização de uma empresa está dependente destas vantagens. Nos casos de internacionalização expostos, verificou-se que o fator ownership e a análise aprofundada deste são preponderantes para o sucesso das atividades externas: foi a diferença entre o resultado positivo da ALERT e o insucesso da Águas de Portugal.

Deste modo, identificar os fatores ownership de cada empresa é importante para perceber o resultado das atividades externas. A SORUS, por exemplo, possui uma tecnologia inovadora que lhe proporciona um leque de vantagens competitivas: menores custos de produção, maior qualidade do produto final, ampla gama de produtos finais, aproveitamento de energias renováveis, créditos de carbono, flexibilidade em relação à

112 origem e à apresentação da matéria-prima, modularidade da unidade industrial e solução à certificação ambiental da indústria queijeira. A ALERT apresenta um produto e uma metodologia de produção diferenciados da concorrência, que torna o produto da empresa mais interessante para os seus clientes. Já a Águas de Portugal possui uma ampla experiência na gestão operacional e técnica de sistemas de água, a qual, conjugada com as relações políticas privilegiadas que possui em Portugal, lhe transmite uma excelente vantagem competitiva no país de origem.

Embora todas estas empresas tenham percecionado possuir vantagens ownership, a correta avaliação destas vantagens não foi realizada por todas as empresas. Em relação à ALERT, a diferenciação do seu produto veio aproveitar uma insatisfação dos médicos, enfermeiros e outros responsáveis hospitalares a nível global perante os softwares existentes. A empresa concebeu um produto para o mercado global numa perspectiva médica e das suas atividades, tornando-o mais funcional. Perante a vantagem competitiva que possui e o resultado positivo das atividades internacionais é possível afirmar que existiu uma correta avaliação das suas vantagens ownership.

A Águas de Portugal já não teve o mesmo procedimento na avaliação da vantagem concedida pelos fatores ownership de que dispunha, e principalmente dos que não dispunha. Apesar de ter algumas vantagens ownership, estas não eram as mais relevantes para o que se estava a propor realizar internacionalmente e, no que concerne as relações políticas privilegiadas em Portugal, que são importantes no sector, estas revelaram não ser transferíveis para outros países. Sendo a gestão de contratos de concessões e a influência política dois tópicos fundamentais no sector, a empresa ao descorar estes tópicos, comprometeu as suas atividades no exterior, o que veio causar resultados negativos na sua operação.

Ao análisar das vantagens ownership do projeto da SORUS, é possível um ponto de ligação com o caso da ALERT, em que o produto é concebido para o mercado global desde a criação da empresa. Perante as vantagens competitivas que a tecnologia utilizada proporciona à empresa, é possível mencionar que o projeto apresenta um forte potencial, permitindo assim referir que a avaliação das vantagens ownership foi correta.

Depois de verificar a existência das vantagens ownership, a empresa terá de escolher qual a localização que lhe transmite maiores benefícios por ai operar, as chamadas vantagens de localização (Dunning, 2001). Neste ponto, cada empresa teve razões para a escolha da localização no Brasil. A principal motivação da SORUS foi o acesso à matéria-prima em abundância, uma vez que este era um fator crítico para a

113 viabilidade do projeto, sendo até o motivo para a eliminação de outras possíveis localizações, como, por exemplo, Portugal. No caso da ALERT, o principal determinante para a escolha da localização foi o acesso ao mercado brasileiro, tanto pela sua dimensão como pelo seu forte crescimento, como ainda pela proximidade das suas características às do mercado português. Na Águas de Portugal, o motivo não foi económico, mas puramente político devido à forte influência do Estado português na empresa. No entanto, pode-se verificar que a intenção seria aceder a um mercado com passado comum, língua portuguesa e afinidades culturais.

Em relação aos dois primeiros casos, a SORUS e a ALERT, a localização no Brasil foi a decisão mais desejável ou correta para os seus projetos, uma vez que o mercado correspondeu às expectativas das empresas, para a SORUS assegurar o fornecimento da matéria-prima e para a ALERT conquistar um conjunto de clientes importantes que lhes permite ampliar os lucros da empresa.

No caso da Águas de Portugal, perante o resultado da internacionalização, a localização no Brasil não foi a mais desejável. No entanto, a persistência do mesmo resultado noutras localizações, sugere que o erro reside na forma de atuação da empresa nos mercados internacionais. É importante salientar que parte dos resultados negativos deveram-se aos pesados constrangimentos sofridos devido à desconsideração do elevado risco regulatório existente, que em parte decorre da falta de capacidade interna da empresa para avaliar e minorar estes riscos.

No entanto, as empresas analisadas encontraram outras vantagens da localização Brasil, tais como: a grande dimensão e o forte crescimento do mercado; o acesso aos mercados dos países do MERCOSUL; e a pequena distância psicológica8. A SORUS adiantou mais algumas vantagens, como: a boa infraestrutura de transporte rodoviária da região; a aglomeração de organizações e empresas na área do leite e derivados; e a evolução da regulação ambiental.

No que se refere às dificuldades encontradas ou às desvantagens da localização Brasil, as empresas realçaram as más instituições governamentais, em particular a burocracia e a corrupção, e o elevado custo de financiamento. A burocracia e a corrupção aliadas a um quadro regulatório pouco claro estiveram entre os factores que

8 Razões da pequena distância psicológica: SORUS – devido ao conhecimento, à experiência e ao network que um dos promotores

possui; ALERT – devido à língua e à semelhança das práticas médicas; e a Águas de Portugal – devido ao passado comum, à língua e às finidades culturais.

114 condenaram a Águas de Portugal ao falhanço. As dificuldades institucionais também são uma barreira referida pela ALERT à sua expansão para outros Estados.

No caso da SORUS, os responsáveis da empresa mencionam: a instabilidade social; a economia fechada; os hábitos de consumo da população; e a localização dos clientes noutros blocos económicos. A ALERT refere: a alta tributação empresarial e as dificuldades de expansão entre Estados. E a Águas de Portugal cita ainda: o elevado risco regulatório no sector das águas; e a elevada concorrência local.

Perante a localização escolhida e com base na natureza das vantagens ownership, a empresa deverá decidir qual a forma de abordar o mercado, isto é, se possui benefícios em explorar as vantagens ownership com maior controle, ao internalizar as atividades no exterior, ou em terceirizar, ao entrar no mercado de outra forma (Dunning, 2001).

Todas as empresas em estudo utilizaram o IDE como forma de atuar no mercado brasileiro mas por motivos diferentes. Tanto a SORUS como a ALERT, referem a o elevado risco de difusão da tecnologia existente no Brasil, devido às más instituições governamentais brasileiras que não protegem os direitos de propriedade intelectual e de contrato das empresas, para a escolha do IDE como forma de internacionalização. Sendo a tecnologia o principal factor diferenciador destas empresas, qualquer tipo de fuga de tecnologia seria desastroso para a sua rentabilidade. Neste contexto a escolha de internacionalização por IDE surge como a mais correta para minimizar o risco.

A SORUS também vê na internalização a forma de retirar maiores ganhos por um período mais alargado. No mesmo sentido, a ALERT também vê na internalização a melhor forma de potencializar a dimensão do mercado brasileiro, além da presença neste ser importante para aceder aos mercados latinos envolventes. Já a Águas de Portugal quis com a internalização das atividades garantir a qualidade da água e o bom funcionamento operacional da rede. Esta considerou que isso apenas era possível com o controle de todas as atividades, nomeadamente na construção, no desenvolvimento, na exploração e na gestão da rede e dos clientes.

Em relação aos casos SORUS e ALERT, a internalização das atividades no Brasil foi a decisão mais desejável ou correta para os seus projetos, uma vez que asseguram a remuneração e diminuem o risco de divulgação das suas vantagens ownership. Depois de alguns anos de atuação no Brasil, a ALERT realiza uma joint venture com o intuito de facilitar a sua expansão no mercado. Esta opção significa uma desinternalização de algumas atividades, por exemplo a distribuição, mas que é

115 compensada pela perspectiva de ampliação da área de atuação no Brasil que, por consequência, proporcionará maior rendabilidade.

Já a internalização das atividades por parte da Águas de Portugal não foi a decisão mais correta, uma vez que os resultados negativos registados são fruto da falta de experiência e competência na gestão de contratos de concessão e da falta de influência política no Brasil. Assim, a melhor opção para a empresa teria sido a realização de um acordo de assistência técnica, de forma a internalizar só as atividades onde apresenta realmente vantagens ownership, a vasta experiência na gestão operacional e técnica dos sistemas de água, deixando a gestão dos contratos de concessão para outra empresa. Com esta opção, a empresa deixava de precisar da influência política para assegurar os contratos de concessão e, por consequência, deixava de sofrer do elevado risco regulatório no Brasil. Esta opção teria limitado a exposição da empresa ao risco da localização em comparação à opçã o de internalização de todo o processo. A opção de internalização adotada obrigava a elevados investimentos, cuja rentabilidade estava muito dependente de decisões regulatórias e politicas que a empresa não controlava nem dominava.

5.2. Paradigma Eclético de John Dunning como ferramenta de

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