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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.3 Infraestrutura básica local de saúde e sua tipologia

4.3.1 Cálculo da tipologia para as UBS

A tipologia das UBS é formada por um conjunto de variáveis que expressam vários aspectos da estrutura, como disponibilidade de pessoal, por especialidade e setor, turnos de funcionamento disponíveis, tipos de serviços disponibilizados, material utilizado em termos de suprimentos e material penso, equipamentos, infraestrutura de comunicação e informática, bem como instalações físicas. Cada parte dessa estrutura influi na estrutura de gastos, de forma direta ou indireta.

Quanto a esse aspecto, procedeu-se aos cálculos da tipologia da UBS para o ciclo 1 e para o ciclo 2.

No que se refere ao cálculo dos escores da tipologia para o ciclo 1, após a aplicação da metodologia constante no item 3.4.1, foram utilizados os cinco escores obtidos para cada uma das dimensões da tipologia. Depois de aplicada a análise fatorial, obteve-se uma solução com apenas um fator, com os coeficientes de cada dimensão apresentados na Tabela 10, a seguir, com a variabilidade total explicada de 54,05%.

Tabela 10 - Coeficientes dos escores fatoriais (ciclo 1 e ciclo 2)

Ciclo Ciclo 1 Ciclo 2

Dimensão Coeficientes Coeficientes

Original Padronizado1 (%) Original Padronizado1 (%)

Tipos de equipes 0, 4528 20,60 0,4767 21,58 Elenco de profissionais 0, 5306 24,10 0,5096 23,07 Turnos de funcionamento 0, 2925 13,30 0,3598 16,29 Serviços disponíveis 0, 4863 22,10 0,5065 22,93 Infraestrutura geral16 0, 4372 19,90 0,3566 16,14 Total 2,1996 100,00 2,2091 100,00

Fonte: Elaborada pelo autor, com dados do PMAQ-AB, 2014 e 2016. (1) A soma dos pesos padronizados totaliza 100%.

No cálculo dos escores do ciclo 1, após a determinação dos pesos de cada dimensão com base nos resultados da análise fatorial, calculou-se o escore final de cada unidade de saúde a partir de:

𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒 = 0,206 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒1𝑝𝑎𝑑 + 0,241 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒2𝑝𝑎𝑑 + 0,133 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒3𝑝𝑎𝑑 + 0,221 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒4𝑝𝑎𝑑 + 0,199 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒5𝑝𝑎𝑑 (Equação 1)

Com base no valor do escore final (EF), as UBS foram agrupadas em cinco tipos: - tipo 1, com EF < 0,250;

- tipo 2, com EF de 0,250 a 0,499; - tipo 3, com EF de 0,500 a 0,749; - tipo 4, com EF de 0,750 a 0,999; e

- tipo 5, padrão de referência com escore final igual a 1.

O tipo 5 corresponde ao grupo de referência, que obteve os valores máximos em todas as dimensões analisadas (GIOVANELLA et al., 2015).

Com relação ao cálculo dos escores da tipologia para o ciclo 2, após o cálculo de valores para cada dimensão e a aplicação da análise fatorial, a variabilidade total explicada pelo modelo foi de 59,13%, conforme os coeficientes anteriormente apresentados na Tabela 10.

16 Ressalte-se que houve discrepância entre os resultados apresentados para a dimensão Infraestrutura geral – subdimensão Estrutura física e equipamentos para as variáveis Aparelho de nebulização, Geladeira exclusiva para vacinas e Glicosímetro. Os valores calculados para percentual de existência nas unidades de saúde foram: Aparelho de nebulização = 76,04%; Geladeira exclusiva para vacinas = 66,05% e Glicosímetro = 83,63%. Enquanto o trabalho de Giovanella et al. (2015) apresentou, na Tabela 10 (Do trabalho original citado) - Proporção de UBS por tipo, segundo a dimensão Infraestrutura Geral – Brasil, 2012, os seguintes valores: Aparelho de nebulização = 29,1%; Geladeira exclusiva para vacinas = 64,7% e Glicosímetro = 33,8%. Foi realizada consulta à equipe (Ligia Giovanella e Edgar Fusaro), tendo sido informado que poderia haver diferença entre os dados disponibilizados pela Fiocruz e os dados disponibilizados pelo PMAQ-AB. Saliente-se, ainda, que, nas demais tabelas, não foram encontradas discrepâncias.

Para o cálculo dos escores do ciclo 2, depois que foi feita a determinação dos pesos de cada dimensão com base nos resultados da análise fatorial, calculou-se o escore final de cada unidade de saúde a partir de:

𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒 = 0,2158 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒1𝑝𝑎𝑑+ 0,2307 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒2𝑝𝑎𝑑 + 0,1629 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒3𝑝𝑎𝑑 +

0,2293 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒4𝑝𝑎𝑑 + 0,1614 ∗ 𝐸𝑠𝑐𝑜𝑟𝑒5𝑝𝑎𝑑 (Equação 2)

Na Tabela 11, é apresentada a evolução da tipologia das UBS para os ciclos 1 e 2, relacionando-se os cinco tipos definidos.

Tabela 11 - Evolução da tipologia

Tipologia Ciclo 1 Ciclo 2 ∆%

Número de UBS % Número de UBS %

Tipo 1 escore < 0,250 1.690 4,35 445 1,80 - 2,55 Tipo 2 escore >= 0,250 e < 0,5 3.639 9,38 138 0,60 - 8,78 Tipo 3 escore >= 0,5 e < 0,75 10.364 26,70 4.200 17,10 - 9,6 Tipo 4 escore >= 0,75 e < 1,0 20.102 51,79 18.816 76,80 25,01 Tipo 5 escore = 1,0 3.017 7,77 900 3,70 - 4,07 Total 38.812 100,00 24.499 100,00

Fonte: Dados da pesquisa, 2019.

A seguir, mostram-se os escores com base na dimensão, tanto no ciclo 1 como no ciclo 2, conforme a Tabela 12. Verifica-se que os principais itens de gasto avaliados por meio das dimensões são a infraestrutura física disponível, acompanhada dos itens que dependem de disponibilidade de pessoal, como tipo de equipe, elenco de profissionais e turnos de funcionamento, o que já demonstra que as despesas com pessoal são as mais relevantes na AB.

Tabela 12 - Escores por dimensão (ciclo 1 e ciclo 2)

Ciclo 1 Tipos de UBS Tipos de equipes Elenco de profissionais Turnos de funcionamento Serviços disponíveis Infraestrutura geral Escore final Total 0,730 0,782 0,865 0,790 0,605 0,749 UBS tipo 1 0,103 0,077 0,333 0,155 0,072 0,133 UBS tipo 2 0,337 0,383 0,618 0,454 0,224 0,389 UBS tipo 3 0,540 0,681 0,843 0,705 0,506 0,644 UBS tipo 4 0,910 0,933 0,946 0,916 0,711 0,882 UBS tipo 5 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 Ciclo 2 Tipos de UBS Tipos de equipes Elenco de profissionais Turnos de funcionamento Serviços disponíveis Infraestrutura geral Escore final Total 0,872 0,867 0,948 0,877 0,670 0,852 UBS tipo 1 0,002 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 UBS tipo 2 0,560 0,564 0,364 0,495 0,173 0,452 UBS tipo 3 0,566 0,672 0,915 0,716 0,507 0,672 UBS tipo 4 0,958 0,927 0,980 0,931 0,710 0,908 UBS tipo 5 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000 1,000

É interessante a constatação, feita por Starfield (2005), de que, além de sua relação com melhores resultados de saúde, a maior utilização de médicos de cuidados básicos foi associada com menores custos totais de serviços de saúde. A autora observou que localidades com índices mais altos de médicos de atenção básica acarretaram custos de cuidados médicos muito mais baixos do que em outras localidades, o que possivelmente se deve, em parte, a melhores cuidados preventivos e menores taxas de hospitalização. De maneira específica, poderia se esperar maior ênfase na atenção básica no sentido de reduzir os custos de cuidados, melhorar a saúde por meio do acesso a serviços mais adequados e reduzir as desigualdades na saúde da população.

Verifica-se, ainda, que, a despeito das deficiências relacionadas à falta de profissionais (LIMA et al., 2016), uma das grandes deficiências é a infraestrutura geral. Contrastando os dados da Tabela 12, verifica-se que, nas UBS tipo 2, esse item avaliado recebe pontuação bem menor do que as demais dimensões: no ciclo 1, o valor apresentado é 0,224, com média de 0,389 para o escore final, ao passo que, no ciclo 2, o valor é 0,173, com média de 0,452 para o escore final das UBS.