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XVI E XVII QUE SERVEM DE REFERÊNCIA PARA P ERNAMBUCO

2.1 A F ORTIFICAÇÃO DE T RANSIÇÃO

2.1.1 C ONFIGURAÇÃO GEOMÉTRICA

A Fortificação de Transição da primeira fase era formada pelas muralhas16 medievais construídas com a mesma espessura, porém com menor altura e base reforçada, em talude. As torres e muralhas medievais ganharam troneiras17 e canhoneiras18 permitindo o tiro flanqueado

16 Muralha é uma parede possante construída em pedra, taipa ou ladrilho no período medieval (Guia de inventário,

2015: p.91).

17 Troneiras são aberturas arredondadas e longas rasgadas na muralha para permitir o tiro (Guia de inventário,

2015: p.106).

18 Canhoneiras são troneiras retangulares onde se colocam as armas de fogo, da artilharia pirobalistica (Guia de

com armas de fogo, além de barbacãs19 e couraça20 que são estruturas externas para aumentar a defesa da fortificação. Verificou-se ainda a tendência de criar fortificações com o formato geometrizado (Guia de inventário, 2015: p.16-18).

A seguir, observa-se no Castelo de Algoso, em Bragança, norte de Portugal, a incorporação de uma muralha mais baixa, compondo com a primitiva Torre de Menagem, de origem medieval, uma fortificação mais adaptada às armas de fogo. Na parte nova da fortificação, observam-se as canhoneiras no terraço, indicando a existência de uma plataforma onde estaria posicionada a artilharia. Essa mesma preparação foi feita na torre de Menagem, incluindo a abertura de troneiras em níveis mais baixos para possibilitar o tiro rasante, ou seja, mais próximo do nível do solo, onde está o inimigo.

Foto 3. Castelo de Algoso (Conselho de Vimioso, Bragança) que materializa as adaptações sofridas pelas Fortificações Medievais na primeira fase da Fortificação de Transição. A antiga Torre de Menagem foi incorporada num dos ângulos da nova fortificação. Fonte: site welcomenordeste.net.

Observa-se ainda o reforço da base da Torre de Menagem para melhorar a estabilidade da estrutura diante das armas de fogo, além da construção ter sido feita sobre um terreno montanhoso, a estrutura com muralha estreita e alta, com abertura em vários níveis. Conforme

19 Barbacã são muralhas baixas localizadas no exterior da fortificação, formando uma segunda muralha (Guia de

inventário, 2015: p.68).

20 Couraça são muralhas avançadas, com ou sem torre integrada, para evitar a tomada de pontos significativos

se verá mais adiante, este tipo de estrutura não é encontrado em nenhuma fortificação existente em Pernambuco, nem mesmo na iconografia.

Na segunda fase, a Fortificação de Transição era marcada pelo surgimento do tambor, ou seja, uma ampla torre circular, oca, posicionada nos ângulos da muralha e enterrada no fosso. As troneiras da fase anterior desapareceram e as canhoneiras aumentaram de tamanho, para o tiro flanqueado (Guia de inventário, 2015: p.18). Essas transformações podem ser visualizadas no Castelo Portel Alentejo, em Portugal, onde há vários tambores, cujos terraços, preparados com canhoneiras, apresentam dimensão suficiente para o posicionamento de armas de fogo. As canhoneiras também foram abertas nas paredes dos tambores, para permitir tanto o tiro rasante quanto o flanqueamento da cortina.

Foto 4. Castelo Portel Alentejo, modificado pelo Engenheiro Francisco de Arruda em 1510. Seis dos oito tambores foram rasgados por canhoneiras em dois níveis de tiro. Fonte: site c2.staticflickr.com.

Em Pernambuco, há duas diferentes representações do Forte de São Jorge (Vista do Recife de Peeter Gillis, 1637, e estampa e folheto holandês, de 1630, “de Stadt Olinda de Pharnambuco...”), que foi construído em 1590, no istmo entre a Vila de Olinda e seu porto, onde o forte aparece com quatro tambores posicionados nos ângulos da fortificação, que tem formato quadrangular, e canhoneiras abertas em dois níveis na muralha. As imagens foram objeto de análise, mais adiante, para permitir identificar a que tipo de fortificação o Forte poderia pertencer.

Na continuação do processo de desenvolvimento da segunda fase do tipo de Fortificação de Transição, surgiram baluartes atípicos, ou seja, embrionários dos baluartes modernos. Eram estruturas pouco salientes, com defesa frontal paralela à muralha e com grandes orelhões onde eram colocadas as armas de fogo. Esses baluartes, no entanto, deixavam zonas mortas junto aos orelhões, onde o inimigo não poderia ser atingido pela artilharia (Guia de inventário, 2015: p.18). No Castelo de Cerca Nova de Lagos, no Algarve, em Portugal, a adaptação da estrutura às novas necessidades abrangeu a construção de baluartes atípicos, onde foram abertas canhoneiras no terraço e em um nível mais baixo. Esses baluartes apresentam faces paralelas às cortinas e orelhões, protegendo os flancos, mas acabaram criando zonas mortas.

Foto 5. Castelo de Cerca Nova de Lagos, localizado em Lagos, distrito de Faro no Algarve, foi modificado de 1520 a 1544. Apresenta muralha ainda no estilo medieval, sem canhoneiras. Mas tem baluarte atípico onde a estrutura é pouco saliente e paralela à muralha com grandes orelhões onde estão posicionadas as armas de fogo. Fonte: site museudigitalafroportugues.files.wordpress.com.

Paralelamente às adaptações em estruturas existentes, surgiram novas fortificações do modelo de Transição, com formatos inovadores. A Torre de Belém, torre marítima construída de 1514 a 1519, com projeto de Francisco de Arruda, se configurou como uma torre medieval quadrangular conjugada a um baluarte moderno, baixo, de planta poligonal. O castelo de Évora Monte, por sua vez, construído de 1531 a 1535 com projeto de Francisco de Arruda, também é um exemplo de uma nova fortificação. Apresentou planta quadrangular com quatro tambores rasgados por canhoneiras em vários níveis (Guia de inventário, 2015: p.19-20).

Foto 6. Castelo de Évoramonte,, localizado no município de Evoramonte, concelho de Estremoz, distrito de Évora, no Alentejo, apresenta planta quadrangular com quatro tambores. Fonte: site pt.wikipedia.org.

A Fortificação de Transição não tinha formato pré-definido. Caracterizou-se por muralhas que circundavam a cidade, com tendência para geometrização. Na segunda fase, podiam ser identificadas fortificações com algum formato regular, mas não havia padrão a ser seguido, cada autor definia o formato segundo condicionantes específicos.

No que diz respeito a dimensões e proporções, assim como no estabelecimento do formato, cada fortificação apresentava uma dimensão própria. De uma maneira geral, estavam sujeitas às necessidades de defesa, ao sítio, à decisão do profissional responsável ou proprietário e aos recursos financeiros, materiais e de pessoal disponíveis.

Quanto a tipos, verifica-se que as Fortificações de Transição eram resultado de reformas em Fortificações Medievais, por isso não contava com tipos pré-definidos. Em alguns Tratados, como, por exemplo, o Tratado “Instructions sur la fortification des villes, bourgs et chateaux” de Albrecht Dürer, havia tipos de tambores, mas não de fortificações. Finalmente, quanto à inclinação da muralha, verificou-se que a parte inferior da muralha medieval, passou a ser inclinada para propiciar o reforço da base.