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A SPECTO BÉLICO

3.3 S EGUNDA FASE BÉLICA (1630-1654)

3.3.2 F ORTIFICAÇÕES DO S ISTEMA D EFENSIVO HOLANDÊS

O segundo Sistema Defensivo português, por sua vez, começou a ser construído a partir de 1630, durante a invasão da Companhia das Índias Ocidentais que ocupou Pernambuco durante

vinte e quatro anos, marcando decisivamente a história da Capitania. A presença holandesa em Pernambuco, principalmente durante o governo de João Maurício de Nassau (1637-1644), foi responsável pela construção de uma nova cidade, pontes, palácios e jardim botânico, pela instalação de observatórios astronômicos e pela divulgação da paisagem brasileira e publicação de livros (Dantas, 2012: p.125-139). Na realidade, a permanência batava se configurou um enclave no território brasileiro: a Capitania era comandada pela Companhia das Índias Ocidentais, enquanto as demais capitanias brasileiras continuavam sob o domínio português. O período em que Pernambuco foi governado pelos invasores deixou marcas não apenas no âmbito militar, como serão apresentadas abaixo, mas também no urbanismo, cultura e religião. Do ponto de vista urbanístico, em função da falta de habitações e da má qualidade das existentes, no que diz respeito à saúde pública foi projetada e construída a Cidade Maurícia (Mauritsstaden). O projeto de urbanização, do arquiteto Pieter Post, contemplou ruas, praças, mercados, canais, jardins, saneamento e pontes. O projeto foi considerado uma revolução na paisagem urbana (Dantas, 2012: p.125-139).

Do ponto de vista cultural, sabe-se que junto com a missão militar do Governador-Geral João Maurício de Nassau (1637-1644), veio a primeira missão científica às Américas: dentre os integrantes estavam o latinista e poeta Franciscus Plante, o médico e naturalista Willem Piso, o astrônomo e naturalista Georg Marcgrave, o médico Willem van Milaenen, os paisagistas flamengos Frans Post e Albert Eckhout (Dantas, 2012: p.125-139). Frans Post e Albert Eckhout permaneceram em Pernambuco de 1637 a 1644, durante todo o governo de Nassau. Post foi o primeiro artista estrangeiro a descobrir a paisagem brasileira (LAGO, 2012: p. 67-73), pintou paisagens, fortificações holandesas e batalhas entre holandeses e portugueses. Albert Eckhout pintou paisagens, naturezas-mortas, retratos de vários povos e estudos da flora e fauna brasileiras (Brienen, 2012: p. 75-90).

Do ponto de vista religioso, apesar da igreja Luterana ser a igreja oficial e vinculada ao Estado Holandês, o Governador-geral João Maurício de Nassau manteve diálogo e tolerância com as demais religiões, inclusive judeus e católicos (Dantas, 2012: p.125-139).

Como se pode verificar, a presença holandesa em Pernambuco significou um aporte cultural, urbanístico e religioso para o território pernambucano, assim como, uma contribuição para as questões militares. Os holandeses construíram fortificações com uma tecnologia diferente daquele usada pelos portugueses em Pernambuco. As fortificações construídas pelos holandeses

na Capitania de Pernambuco, a partir de 1630, foram do tipo Fortificação Moderna, abaluartada, construídas em terra. O Forte do Brum foi a primeira fortificação abaluartada, em terra, construída em Pernambuco.

Essas fortificações compuseram um Sistema Defensivo Holandês. A estratégia de defesa da Companhia baseou-se na construção de fortificações posicionadas em formato de semicírculo para proteger a povoação do ataque dos portugueses localizados no interior e que ainda faziam resistência à dominação holandesa. O porto figurava como ponto fulcral da povoação e tinha sido escolhido como centro do cinturão de defesa. A estratégia holandesa ainda previa a defesa da costa (Medeiros, 2005: p.24). Foi um Sistema Defensivo próprio baseado nos conhecimentos práticos e teóricos da escola holandesa de fortificação (Coelho, 1981).

Desde o início da invasão, o general holandês Theodoro Waerdenburch começou a fortificar o território invadido. Ao tomar a vila de Olinda fez quatro baterias para armar artilharia: uma no colégio dos Padres, outras nas Igrejas Matriz, da Misericórdia e da Conceição. Fez, ainda, trincheiras e estacadas no alto da vila e colocou Corpos de Guarda nas principais estradas (Coelho, 1981: p.59 e 60).

No povoado dos Arrecifes, depois de conquistar o Forte de São Jorge e ocupar a povoação esvaziada, os invasores fizeram duas trincheiras de areia: uma na frente do Forte de São Jorge, outra na margem do rio. Também foram colocados seis cestões na frente da barra distante 250 metros do forte, com três peças de 25 libras, e outros três sobre o rio com artilharia de campanha. Pela parte do mar, ainda havia trinta e duas lanchas com artilharia, marinheiros e artilheiros. No dia em que os portugueses se renderam os holandeses ainda tinham levantado outra bateria com duas peças de 16 libras (Coelho, 1981: p.61 e 62).

No local onde estavam as estruturas do forte português Diogo de Paes, foi construído, em terra e faxina, o Forte do Brum38, para garantir a segurança do povoado e do caminho para a Vila de Olinda (Coelho, 1981: p.71). Os responsáveis pela obra foram os engenheiros holandeses Commersteyn, Adréas Drewich e Van Bueren. O forte tinha formato de polígono de quatro lados com dois baluartes e dois meio-baluartes (Menezes. 1986: p.100-102). Para melhorar ainda mais a segurança do istmo e permitir o trânsito entre a Vila e a povoação, foi construído

38 Segundo Menezes, o nome Brum, foi uma corruptela do nome Bruyne, uma homenagem a Johan Bruyne,

o Forte Madame Brum39, uma fortificação com formato de um polígono quadrangular regular, com quatro meio-baluartes (Coelho, 1981: p.88).

Figura 16. Ilustração denominada “CAERTE VANDE HAVEN VAN PHARNAMBOCQUE”, de 1639. Fonte: REIS, 2000. p. 86.

Na ilha de Antônio Vaz, do lado oeste da povoação do Recife, foi edificado o Forte Ernesto para guardar o rio, as planícies e a vila de Antônio Vaz que estava sendo construída pelos holandeses. A fortificação contava com três faces, fosso, paliçada e baluartes (Barléu 1940: p.153). No lado oposto, teve início a construção do Forte Frederich Heinrich, de formato pentagonal com cinco baluartes. O forte foi construído junto à cacimba na ilha de Santo Antônio com projeto do engenheiro holandês Tobias Commersteyn e construção do engenheiro Pieter van Bueren (Coelho, 1981: p.71). O seu armamento constava de dezesseis peças de artilharia (Menezes. 1986: p.100-102). Durante sua construção, em função da guerra de emboscada empreendida pelos portugueses da resistência, foi construído um reduto auxiliar, o Forte Emília. Os holandeses ainda edificaram quatro redutos para guardar a margem do rio, dentre eles o Reduto da Boa Vista (Coelho, 1981: p.81). Com essa estratégia, contendo a Cidade Maurícia

39 Ainda segundo Menezes, o nome Forte Madame Brum foi em homenagem à esposa de Johan Bruyne (Menezes.

entre os dois fortes e seus redutos auxiliares, os holandeses pretendiam diminuir os assaltos dos portugueses (Barléu, 1940: p.153).

No encontro dos rios Capibaribe e Beberibe, no local onde os portugueses haviam construído o Fortim Alternar (1624) foi construído um forte com três baluartes40. O Forte Waerdenburch foi feito com estacas e pranchões e sobre os baluartes havia guaritas (Coelho, 1981: p. 139; Barléu, 1940: p. 153).

A construção do Forte do Príncipe Guilherme, localizado na várzea do Capibaribe, teve o objetivo de desestabilizar a resistência luso-brasileira. A estratégia incluiu a tomada de um dos pontos de controle portugueses mais significativos: rio dos Afogados, que guardava a passagem para a campina onde havia dezesseis engenhos de açúcar, e a construção da fortificação. O Forte tinha quatro ângulos, fosso e paliçada e estava armado com seis canhões de bronze (Coelho, 1981: p. 139; Barléu, 1940: p. 153).

Visando ampliar a dominação da Capitania, os holandeses se dirigiram tanto para o lado Sul como para o lado Norte. Na Ilha de Itamaracá, no lado Norte da Capitania, construíram o Forte Orange na entrada da barra. O Forte contava com quatro baluartes, fosso e era cercado por uma estacada. Estava armado com doze canhões, sendo seis de bronze e seis de ferro. Foi construída ainda a fortaleza da vila de Schkoppe, na entrada do canal, que protegia o porto e a porta da vila e uma torre quadrada (Coelho, 1981: p. 85 e 86; Barléu, 1940: p. 153 e 154).

Do lado Sul da Capitania, adentrando no porto do Cabo de Santo Agostinho, os holandeses construíram o Forte de Van der Dussen, sobre as estruturas incompletas do Forte do Pontal, que estava em construção pelos portugueses. Estava armado com seis bocas de fogo. Para complementar a estratégia de defesa foi feito, diante do anterior, o Forte Ghijselin, abandonado após as lutas com os portugueses e destruído pelo mar (Coelho, 1981: p. 89; Barléu, 1940: p. 154; Albuquerque, 1999: p.128-130).

Todas essas fortificações estão espacializadas na figura abaixo.

40 O Forte Waerdenburch foi construído com quatro baluartes, mas a força da maré não permitiu manter o quarto

baluarte, resultando numa fortificação com formato de polígono retangular, mas com três baluartes. Barléu, 1940: p. 153.

Figura 17. Localização das fortificações construídas pelo invasor holandês durante a invasão holandesa. (Modificado do site Google Earth).