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Neste capítulo, procurou-se fazer uma revisão bibliográfica identificando as fortificações construídas em Pernambuco, pelo colonizador português e pelos holandeses da Companhia das Índias Ocidentais, nos séculos XVI e XVII, localizando-as no tempo e no espaço, assim como a contextualização histórica da Capitania neste período.

As referências apresentadas, a seguir, pretenderam demonstrar, por um lado, que houve três conjuntos de fortificações, cada um pertencente a uma fase bélica delimitada a partir da presença holandesa na Capitania de Pernambuco:

1º) até 1630, quando os holandeses invadiram Pernambuco; de 1630 até 1654, 2º) quando os holandeses se retiraram de Pernambuco; e,

3º) após 1654, até a assinatura do Tratado de Haia, quando foram resolvidas as disputas territoriais e financeiras entre Portugal e a República Unida dos Países Baixos e cessaram as ameaças de nova invasão.

A partir da divisão em fases foi possível fazer a revisão bibliográfica considerando dados econômicos, políticos e culturais para cada uma das fases. Através desse contexto, pretendeu- se verificar possíveis justificativas para as decisões portuguesas, no que concerne à construção de suas fortificações.

Pretendeu-se evidenciar, ainda, que as diferentes fases bélicas são compostas por um Sistema Defensivo próprio. No intervalo de tempo entre os séculos XVI e XVII, Pernambuco contou com três Sistemas Defensivos, estruturados para atender as necessidades defensivas da Capitania, em cada fase bélica.

Ao termo Sistema Defensivo são atribuídos dois significados, um mais amplo que o outro. O mais utilizado na bibliografia consultada considera que um sistema defensivo é um conjunto de fortificações e estruturas de defesa, cuja função precípua é garantir a proteção de um sítio29. Verifica-se, no entanto, o surgimento de discussões sobre uma ampliação desse conceito. Alguns autores já trabalham na perspectiva de que um Sistema Defensivo pressupõe “... uma

29 Cotta, s/d: p. 3; Matos, 2012: p. 5; Orense, 2012: p.11; Galbeño, 2007: p.29; Almeida, 2003: p.172; Valadares,

ação combinada e concomitante entre fortificações, tropas e, principalmente, embarcações (devendo-se levar em conta ainda a quantidade e qualidade dos armamentos que dispunham cada um dos elementos desta tríade).” (Tonera, 2005: p.2). Diferentemente da anterior, nessa definição a eficácia de um sistema defensivo não depende apenas das fortificações, mesmo consideradas em conjunto, mas da união dessas três forças. O presente trabalho considerará o conceito mais amplo, numa perspectiva investigativa.

3.1 ANTECEDENTES HISTÓRICOS

Antes de tratar, especificamente, das questões relativas às fases bélicas, foi necessário situar Pernambuco no âmbito do projeto de Portugal de Expansão Ultramarina e na formação do Império Colonial Português, de extensão transcontinental, onde a exploração comercial se mesclava com redes de poder e com instituições de governo secular e religioso (Vainfas, 2007: p. 299). Deve-se registrar, no entanto, que a utilização do conceito ‘Império’ teve o objetivo de ampliar a visão da existência de uma relação apenas entre colônia-metrópole e de uma ‘economia colonial’ que buscava a acumulação primitiva de capital para permitir a industrialização europeia (VITORINO. 2008: p.2) sem, no entanto, o intuito de defender posturas historiográficas institucionais ou imperiais.

Essa abordagem foi escolhida na perspectiva de poder compreender as transformações culturais processadas numa sociedade, no caso especifico deste trabalho, as transformações tecnológicas das fortificações, a partir de seus fatores internos (relativos à fortificação em si, como eficácia, por exemplo), mas também através de seus fatores externos, econômicos, políticos, culturais e religiosos (Quintanilla, 2005: p. 61-62).

A mesma dinâmica está sendo considerada na análise da expansão marítima portuguesa no século XV, na qual está inserida a descoberta do Brasil. Do ponto de vista econômico, a Europa vivenciava a escassez de ouro e Portugal investia na busca do ouro africano, da Guiné. Politicamente, a consolidação da Dinastia de Avis no poder, permitiu a Portugal investir nos meios para se buscar o reino mítico de Preste João30. Em toda a Europa, acreditava-se que Preste João poderia ser um aliado numa possível expedição à Índia, contra os mulçumanos. E

30 Preste João foi o governante de um mítico reino cristão poderoso nas Índias, possivelmente na Etiópia, na África

do ponto de vista religioso, Portugal incorporou o espírito de cruzada e assumiu a tarefa de converter os muçulmanos ao cristianismo (Boxer. 1969: p. 41).

As fortificações construídas em Pernambuco estão sendo, portanto, entendidas dentro de um contexto histórico mais amplo, que incorporou um conjunto amplo de fatores, deixando de lado as explicações puramente econômicas; e estão sendo vistas também dentro de um panorama transcontinental, onde se percebem relações entre metrópole, colônias e demais nações europeias, evitando uma visão isolada do ambiente colonial.

Figura 10. Extensão do Império colonial português e espanhol no século XVI. Fonte: site fichasmarra.files.wordpress.com.

A extensão do Império colonial Português, por si só, sugere a amplitude e complexidade das relações entre Portugal, suas colônias e demais nações do ocidente. Conforme se pode observar no mapa apresentado a seguir, a partir do século XV o Império abrangia uma grande quantidade de territórios em várias partes do mundo, como no litoral africano (São Jorge da Mina, Axim, Moçambique, Ceuta, Tanger, Mazagão, Luanda); nas Ilhas do Atlântico (Madeira, Açores, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe); passando pelo Oriente (Índia/Goa, Damão, Diu, Malaca, Chaul, Ternate, Meliapor, Hughli, Baçaim) e pelo Golfo Pérsico (Sofala, Ormuz). Seguia ainda

pela África oriental, Malásia e Japão e outros locais como, Columbo, Molucas, Ceilão e Macau; finalmente, continuando pela costa brasileira (Wehling. 1999: p. 63 e Boxer, 1969: p. 69 e 70).

3.2 PRIMEIRA FASE BÉLICA (DO SÉCULO XVI ATÉ 1630)