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CAPÍTULO 2 – RADIODIFUSÃO E O MERCADO AUDIOVISUAL

2.4 Vídeo Doméstico

2.4.2 Cadeia de Valor do Vídeo Doméstico

A organização do mercado do vídeo doméstico pode ser definida por três setores dependentes: produtores, distribuidores e exibidores. Esta cadeia produtiva, como qualquer outro setor industrial ou comercial, requer estruturas para distribuição e pontos de comercialização para que os produtos cheguem aos consumidores finais. Os serviços digitais estão transformando as formas de consumo de crianças, jovens e adultos com uma grande velocidade de tempo. E, nos últimos anos, vêm ganhando espaço na discussão do audiovisual brasileiro.

Figura 11 – Cadeia de Valor do vídeo doméstico

De acordo com a ANCINE (2010), neste segmento os distribuidores são os agentes econômicos responsáveis por disponibilizar as obras aos estabelecimentos que atuam na ponta da cadeia produtiva. Os estabelecimentos comercializam o produto audiovisual diretamente para o consumidor final e se caracterizam de acordo com a modalidade de serviço que prestam; uns vendem diretamente para o varejo (lojas de departamentos ou lojas especializadas), outros para os serviços de locação (videolocadoras). Os distribuidores adotam estratégias comerciais no intuito de maximizar suas rentabilidades dentro da cadeia produtiva.

Atualmente, modelo de negócio é baseado nas janelas de exibição, sendo o vídeo doméstico tradicionalmente a segunda etapa da janela construída. Em geral, elas se aproveitam do desempenho das obras de longa-metragem no circuito comercial das salas de exibição (cinema). Em seguida, determinam a estratégia de lançamento na segunda janela. O intervalo de lançamento entre janelas é o número de dias compreendido entre a estreia de uma obra no cinema e o seu lançamento comercial em vídeo. Conforme a ANCINE (2010) aponta, em 2009, 320 filmes de longa-metragem estrearam nas salas de exibição do país. Desses, foram identificadas 224 obras com datas de lançamento em vídeo na modalidade serviços de locação. O intervalo médio dessas 224 obras foi de 120 dias. Este resultado confirmou uma trajetória descendente no intervalo médio que vem ocorrendo desde 200428.

Por conta da alta competividade para agendar filmes nas salas de cinema e a crescente segmentação de produto, inúmeras produções cinematográficas, obras de catálogo, séries e programas de TV, desenhos animados e outros não seguem esta linearidade. Das 1.012 obras lançadas em 2010, 767 obras - cerca de 76% - são lançadas no vídeo sem passarem pelas salas de exibição29. Neste sentido, percebe-se o crescimento do volume dos nichos pornográficos, especiais musicais e religiosos que são comercializados. Todos estes exemplos compõem parcelas cada vez mais significativas do rendimento do negócio e também rompem com a lógica tradicional e linear de exibição entre as janelas, ou seja, da sala de exibição para as demais. Muitas dessas obras são exibidas

28 Fonte: Intervalo entre janelas de salas de exibição e vídeo doméstico – 2009: Coordenação de

Cinema e Vídeo (CCV) Superintendência de Acompanhamento de Mercado, ANCINE, Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: <www.ancine.gov.br/oca/rel_janelasexibicao.htm>. Acesso em 07/2013.

29 Fonte: Mapeamento Vídeo Doméstico, ANCINE, 2010.

primeiramente na TV aberta e/ou na TV por assinatura, ou são lançadas diretamente no vídeo doméstico.

A ANCINE (2010) destaca a influência de outros fatores que afetam diretamente esses negócios e a rentabilidade especificamente desse segmento de mercado. O principal fator é a reprodução e comercialização não autorizada, seja na venda de suporte físico, copiada sem licença, no comércio de rua ou então nos estabelecimentos comerciais, seja na internet, onde os websites disponibilizam lançamentos que são utilizados para downloads ilegais, assim como também o compartilhamento e a troca de arquivos privados. Todos esses fatores geram impactos negativos para o setor, ocasionando redução nos pontos de venda e aluguel ao consumidor final.

Outro dado relevante é o constante desenvolvimento tecnológico dos suportes de mídias. Neste sentido destaca-se o Blu-ray que representa novas oportunidades de negócios e a continuidade deste modelo. No entanto, o Blu-ray enfrenta o baixo nível de venda e de títulos lançados, além dos altos preços tanto do hardware (toca-discos ou player) quanto do software (conteúdo dos discos). O cenário pode ser representado por um complexo fluxo de relações entre agentes econômicos, públicos e privados, além de organizações da sociedade civil, como serão observados nas descrições apresentadas na sequência.

A) Distribuidoras

As distribuidoras são empresas detentoras de direitos de comercialização de obras audiovisuais para o segmento de vídeo doméstico. No Brasil há cerca de 90 empresas distribuidorasatuando. Dessas, seis são ligadas aos grandes estúdios de filmes norte americanos, as chamadas majors (Sony, Disney, Warner, Universal, Fox e Paramount). As demais concorrentes são pequenas e médias empresas nacionais independentes.

B) Replicadoras

As replicadoras são empresas especializadas em resinas plásticas e realizam os processos de produção e copia de mídias, encartes e autoração

(elaboração dos menus interativos de acesso ao conteúdo). Atuam também na logística de distribuição dos produtos para os pontos de venda, não interferindo no trabalho de marketing e promoção das distribuidoras. As principais empresas que atuam no mercado são: Videolar, Microservice, Novodisc, Sony, Cooperdisc e

Sonopress que, juntas, detêm a maior parte do mercado brasileiro da replicação dos

suportes físicos (DVD e Bluray), assim como fazem a distribuição, envolvendo aspectos de transporte e logística. Desta forma, necessariamente, uma ponta do processo está ligado ao comércio (venda ou aluguel).

C) Locadoras

São as lojas e os pontos de atendimento que oferecem serviços de locação. No início de 2010, existiam cerca de cinco mil pontos de locação de vídeos legalizados. A ANCINE (2010) aponta que o negócio das videolocadoras vem sentindo os impactos da pirataria e das novas possibilidades de consumo. De acordo com a União Brasileira de Vídeo (UBV), entre 2006 e 2010, o volume total de locações passou de 8,5 milhões de unidades para 4,6 milhões, representando 46% de queda, fechando mais de sete mil estabelecimentos.30

Como parte deste processo de sobrevivência no mercado, além da tradicional videolocadora, esse segmento vem apresentando diferentes estratégias, tais como: franquias ou grandes redes como, por exemplo, Lojas Americanas; videolocadoras de conveniência que reúnem mais de um tipo de atividade como papelaria; loja de conveniência, Lan Houses e videolocadoras virtuais funcionando por telefone, internet ou máquinas de auto-atendimento.

D) Vendedoras

São os estabelecimentos que oferecem os serviços de venda direta ao consumidor final. São, em geral, grandes lojas de departamento. No Brasil, representam mais de 2 mil pontos físicos de venda, como as redes Carrefour, Lojas Americanas e WalMart. No mercado atuam também lojas virtuais que vendem

mídias físicas: Submarino, Livraria Saraiva, Shop Time. Vale destacar que esses três estabelecimentos anteriormente citados são coligados a um mesmo grupo, Lojas Americanas. Em 2010, de janeiro a agosto, segundo dados da UBV, o varejo adquiriu 82% das unidades de cópias vendidas pelas distribuidoras. Neste período, o serviço de locação ficou responsável pela compra de 2,4 milhões de unidades, já o varejo ficou responsável por 11 milhões. A atuação dessas empresas influencia a determinação dos preços e condições de exploração das obras audiovisuais nesse segmento. A redução dos valores de comercialização no varejo, por exemplo, vem acirrando a competição com o mercado que oferece o serviço de locação.

Como o poder do consumo hoje em dia está nas mão do consumidor, ele está personalizando os seus consumos. Por conta do crescimento da internet, as gerações atuais estão em fase de mudanças consideráveis em relação aos seus costumes e hábitos. A sociedade como um todo tem realizado tarefas simultaneamente em seu cotidiano e, por conta disso, um novo espectador vem sendo criado. Um espectador que não espera mais as informações ou conteúdos virem apenas pelo fluxo tradicional, a geração das múltiplas tecnologias busca as suas vontades através de simples gestos.

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