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2.1 UNIDADES DE ANÁLISE DAS EMPRESAS

2.1.2 Cadeia de Suprimentos (Supply Chain)

A bibliografia apresenta conceituações e amplitudes diferentes para definir uma cadeia de suprimentos (supply chain). Para alguns autores, ela envolve as atividades logísticas de várias empresas (ARAVECHIA; PIRES, 2000; CHRISTOPHER, 1997, p. 15), como uma extensão da logística empresarial. Lambert, Cooper e Pagh (1998) e Lambert, Stock e Vantine (1999, p. 830-831), porém, analisam o escopo da logística e afirmam que, por mais amplo que seja o enfoque dado a ela, a cadeia de suprimentos tem uma abrangência maior, não envolvendo apenas o processo logístico, mas todos os processos de negócio, que se tornam processos de negócios da cadeia de suprimentos.

Alguns autores que num primeiro momento viam a cadeia de suprimentos com um foco mais restrito, com o tempo foram mudando sua percepção. Isso pode ser constatado nos trabalhos de Vollmann, Cordon e Raabe (1996) e de Vollmann e Cordon (1998). Em trabalho de 1996, desenvolvido a partir das pesquisas do IMD (International Institute for Management

Development), na Suíça, os autores, falando sobre os benefícios da gestão da cadeia de

suprimentos, não discutiam o envolvimento dos parceiros de uma cadeia em pesquisa e desenvolvimento. Em trabalho de 1998 afirmavam que, se houver parceria na pesquisa e desenvolvimento, as empresas podem valer-se do conhecimento adquirido, podendo utilizá-lo unicamente para os parceiros com os quais ele foi desenvolvido conjuntamente, ou podem empregá-lo por todas as empresas envolvidas.

Lambert e Pohlen (2001) e Lambert (2001) afirmam que o Council of Logistics

Management (CLM) revisou sua definição de logistica em 1998 e definiu que logística é

aquela parte da cadeia de suprimentos que planeja, implementa e controla o fluxo eficiente e efetivo e a estocagem de mercadorias, serviços e informações correlatas, do ponto de origem ao ponto de consumo, para atender os requisitos do cliente. Com base nesse conceito, Lambert e Pohlen (2001) concluem que a cadeia de suprimentos abrange outras funções, além da logística, e envolve várias empresas. Assim, a cadeia de suprimentos é uma rede de vários negócios e relações (LAMBERT, 2001).

Considerando sua extensão, uma cadeia de suprimentos envolve o fluxo desde a extração de matéria-prima ou minerais da terra, passando pelos fabricantes, atacadistas, varejistas e os usuários finais (NEW; PINE, 1995). Tan (2001) referindo-se a esse modelo, lembra que, onde for apropriado, ele também poderá envolver a reciclagem ou reutilização dos produtos. A figura 4 ilustra uma cadeia de suprimentos, na visão de New e Payne (1995) e com a contribuição de Tan (2001).

Mineradores / Extratores de matéria-prima Distribuidor ou estoquista Fabricantes de componentes ou produtos intermediários Atacadista ou distribuidor Fabricantes do produto final Varejistas / distribuidor para o público Consumi- dores finais Reciclagem A terra Distribuição física e armazenagem Distribuidor de componentes ou produtos intermediários

Figura 4: Atividades e empresas em uma cadeia de suprimentos. Fonte: Traduzido dos trabalhos de

New e Payne (1995) e Tan (2001) - adaptado

A descrição da cadeia de suprimentos de New e Payne (1995) e de Tan (2001), aproxima-se do foi discutido neste trabalho em relação ao conceito de cadeia produtiva. Porém, identificou-se na literatura o trabalho de Lambert, Cooper e Pagh (1998), que permite uma definição mais adequada do que compreende efetivamente uma cadeia de suprimentos.

Lambert, Cooper e Pagh (1998) descrevem a cadeia de suprimentos de uma perspectiva diferente daquela de New e Payne (1995) e Tan (2001). Eles afirmam que a descrição de uma cadeia de suprimentos deve ser feita a partir de uma empresa, denominada “empresa focal” ou “empresa foco”. Os membros da cadeia de suprimentos compreendem, nessa visão, todas as organizações com as quais a empresa focal interage direta ou indiretamente através de seus fornecedores ou clientes, desde o ponto de origem até o ponto de consumo (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998). A figura 5 ilustra uma cadeia de suprimentos, na perspectiva de Lambert, Cooper e Pagh (1998).

Empresa focal Membros da cadeia de suprimentos da empresa focal Nível 1 Fornecedores Nível 2 Fornecedores Nível 3 a fornecedores iniciais Nível 1 Clientes Nível 2 Clientes Nível 3 a clientes finais 1 2 . . . . . 3 n . . . 1 2 n . . 1 n .. . . 2 3 n 1 . . 1 n 1 . . . . . 2 n . . .. . . 1 2 n . . 1 2 n 1 n Nível 3 a n - Clientes Clientes Finais Nível 3 a n - For necedor es Fornecedores iniciais

Figura 5: Estrutura da cadeia de suprimentos. Fonte: Traduzido do trabalho de Lambert, Cooper e

Pagh (1998)

Lambert, Cooper e Pagh (1998) e Lambert (2001) também discutem a estrutura de uma cadeia de suprimentos, a partir da ilustração mostrada na figura 5. Há três dimensões estruturais de uma cadeia de suprimentos, de acordo com os autores:

• Estrutura horizontal: número de níveis da cadeia de suprimentos; • Estrutura vertical: número de empresas em cada nível;

• Posição horizontal da empresa foco dentro da cadeia de suprimentos: a empresa focal pode estar próxima das fontes iniciais de suprimentos, próxima dos clientes finais, ou em alguma posição entre os pontos finais da cadeia.

Considerando-se a estrutura horizontal, os níveis (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998; LAMBERT, 2001) ou camadas (SLACK et al., 1997, p. 179, 412) da cadeia de suprimentos da empresa focal podem ser representados no sentido dos fornecedores ou prestadores de serviços, a montante (upstream), ou no sentido dos clientes, a jusante (downstream). A figura 5 mostra os níveis ou camadas de uma cadeia. A montante, os grupos que se relacionam diretamente com a empresa são chamados de fornecedores de primeira camada (ou nível), os quais são supridos pelos fornecedores de segunda camada (ou nível), e assim por diante. No lado da demanda (a jusante), os clientes diretos são chamados de clientes de primeira camada (ou nível), os clientes destes são clientes de segunda camada (ou nível), e assim por diante (SLACK et al., 1997, p. 179, 412).

É raro uma empresa participar de apenas uma cadeia de suprimentos. Assim, as cadeias de suprimentos das empresas normalmente não têm a forma de um canal, mas de árvores arrancadas, com as raízes e galhos representando a extensa rede de clientes e fornecedores e as relações existentes entre eles (LAMBERT, 2001).

Os membros de uma cadeia de suprimentos podem ser classificados em primários e de apoio. São membros primários aquelas organizações ou unidades estratégicas de negócios (SBUs) que executam atividades com valor agregado - operacionais ou gerenciais - em processos empresariais projetados para produzir uma saída específica para um cliente particular ou para o mercado (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998; LAMBERT, 2001). Os membros de apoio são empresas ou SBUs que fornecem recursos, conhecimento, utilidades ou ativos para os membros primários da cadeia de suprimentos, mas que não participam diretamente na execução de atividades nos processos de valor agregado, nos quais há transformação de entradas em saídas para os clientes finais (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998), como empresas que alugam caminhões para o fabricante, bancos que emprestam dinheiro para o varejista, empresas que fornecem espaço em armazéns, empresas que fornecem equipamentos para a produção, panfletos para o marketing e outras (LAMBERT, 2001). Uma empresa pode executar atividades primárias em um processo e de apoio noutro. Da mesma forma, pode ser um membro primário em um momento e um membro de apoio noutro (LAMBERT, 2001).

O ponto de origem de uma cadeia de suprimentos é onde não existem fornecedores primários, mas apenas de apoio. Da mesma forma, o ponto de consumo é onde não será criado valor adicional, e o produto ou serviço é consumido (LAMBERT; COOPER; PAGH, 1998, LAMBERT, 2001).

Alguns trabalhos identificados na literatura discutem aspectos relativos à cadeia de suprimentos utilizando termos diversos para descrevê-la. Kotler (2001), por exemplo, utiliza o termo “cadeia de demanda”, a partir da percepção de que essa cadeia é projetada da demanda para trás, com a identificação de um segmento de clientes e busca da melhor maneira para gerar uma cadeia que proporcione valor a esse segmento. Com o mesmo significado o autor também utiliza o termo “rede de valor”, afirmando que na disputa pelos clientes a empresa vencedora será a que tiver construído a melhor rede de valor (KOTLER, 2001). A conceituação de Kotler reflete a visão do marketing em relação ao fluxo mostrado na figura 5. Vollmann e Cordon (1998) também utilizam o termo “cadeia de demanda”. Porém, os mesmos autores e Raabe (VOLLMANN; CORDON; RAABE, 1996), em trabalho de 1996, utilizavam o conceito “cadeia de suprimentos”, aparentemente com o mesmo significado.

Fine (1999) utiliza os termos “cadeia de suprimentos” e “empresa ampliada”, a qual envolve “[...] a empresa em si, acrescida da sua rede de fornecimento, da sua rede de distribuição, e da sua rede de alianças” (FINE, 1999, p. 83).

Bovet e Martha (2000, p. 1-2) afirmam que um novo design de negócio está emergindo, a “rede de valor” (value net), que não corresponde, de acordo com os autores, ao que o termo “cadeia de suprimentos” invoca, já que ela usa os conceitos de cadeia de suprimentos digital. Avaliando o trabalho dos autores (BOVET; MARTHA, 2000, p. 5-7), percebe-se que a rede de valor é uma forma de gestão da cadeia de suprimentos, já que são apresentadas cinco características da rede de valor, que são aspectos necessários para bem gerenciar uma cadeia de suprimentos: alinhada com o cliente; colaborativa e sistêmica; ágil e equilibrada; fluxo rápido; digital.

Os termos “cadeia de suprimentos (ou fornecimento)” e “cadeia de distribuição (ou de demanda)” referem-se a conceituações que surgiram a partir do interesse dos pesquisadores que as utilizavam. A primeira para as etapas anteriores à empresa, envolvendo os fornecedores, e a segunda para as etapas posteriores à empresa, envolvendo os clientes. O termo “cadeia de suprimentos” tem sido utilizado de forma generalizada na literatura para representar tanto as etapas a montante quanto as etapas a jusante de uma empresa. Credita-se isso a movimentos como o just-in-time e os programas de qualidade, que definiam critérios e regras para os fornecedores, fazendo com que as empresas passassem de um relacionamento adversário para um relacionamento mais próximo, inicialmente com os membros a montante do seu processo produtivo. A partir daí, passaram a empregar o termo “cadeia de suprimentos”, referindo-se aos seus fornecedores de bens e serviços. Só mais tarde passaram a

envolver nesses relacionamentos os clientes, distribuidores e outras empresas do canal de distribuição.

Apesar dos diferentes conceitos encontrados na literatura, neste trabalho será utilizado apenas o termo “cadeia de suprimentos”, para designar o nível de análise que está sendo discutido nesta seção, e quanto à definição para o termo, será utilizada aquela de Lambert, Cooper e Pagh (1998), em que a cadeia de suprimentos é descrita como uma rede de empresas, a partir da empresa focal, envolvendo fornecedores e clientes em vários níveis, desde os fornecedores originais até os clientes finais, conforme ilustrado na figura 5.

O termo “cadeia produtiva”, que será discutido na seqüência, também tem sido utilizado, em alguns trabalhos, com o mesmo sentido de cadeia de suprimentos (fornecimento + distribuição), como em Fleury e Fleury (2001, p. 40). Nesta tese, porém, se assume que a cadeia produtiva se refere a outra unidade de análise de empresas.