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CALÇAR-SE “COM AMBAS AS MÃOS”

No documento O texto teatral (en)cena (páginas 74-100)

TERCEIRO ATO

CALÇAR-SE “COM AMBAS AS MÃOS”

Caminhar... E ver que vale a pena. O trecho extraído da obra “Esperando Godot”19,

permite que configuremos durante nossa narrativa que discorrerá por esse capítulo, quantas idas e vindas foram necessárias. Cabe aqui então refletir sobre uma analogia possível que a citação nos permite, sendo que o fragmento se trata de um texto escrito por um dos grandes nomes do Teatro do Absurdo. Vladimir e Estragon representam o homem em uma eterna espera: espera do que está por vir... E virá?

Ao observar o comportamento humano e o colocar em cena, o Teatro do Absurdo esmiúça a relação das pessoas e seus atos em tais relações. Existencialista ao extremo, essa forma de teatro critica a falta de criatividade do homem, que condiciona sua vida àquilo que julga ser o mais fácil e menos perigoso, se negando a ousar e a outras formas de pensar (BRECHT, 2005). Diante desse paralelo, passa-se a pensar no movimento, no qual tenta-se (sem descalçarmo-nos com ambas as mãos) buscar um significante para a prática de leitura nas escolas por intermédio do texto teatral; algo diferente, que de diferentes formas acarretou a criação de caminhos.

18 Trecho do texto teatral “Esperando Godot”. (BECKETT, S. 2005: 17, 18)

88 O(s) caminho(s)

Caminhar sempre é bom. Ainda mais quando se quer pisar com vontade. “Dorothizar” e seguir caminhos de pedras amarelas é sempre uma boa pedida, mostra viva temos em “O Mágico de Oz”20: ao tempo que Dorothy caminha, abre novos e tantos horizontes que

convidam e nos convidam a querer mais, ainda mais quando se ouve de caminhos há tantos bons anos.

Para tratar do caminho, então, caminhemos!

O caminho inicial não tinha placas. Vir para a Faculdade de Educação da UNICAMP era um caminho desconhecido, um rumo novo de novo a ser dado. Bem, nos caminhos encontramos caminhantes já com longas jornadas, comigo não foi diferente: encontrei (ou ele me encontrou, ou, nos encontramos... Encontros) e esbarramos, e espalhamos de nossas mochilas novos olhares. Lembro-me da entrevista para entrar no mestrado quando meu futuro orientador caminhante me perguntou “A arte é meio ou finalidade para a educação?” sorri com os olhos, e, ao recolhermos os espalhados de nossas mochilas, trocamos sem querer alguns pertences e estamos ainda e ainda bem a nos destrocar.

Caminhos têm pedras, Drummond já nos tropeçou em versos sobre elas e não são elas mais surpresas, são esperas. O caminho continuou, pois começar talvez ele nunca comece e nunca termine, ele se faz caminhando, ando, ando, e salve o gerúndio para nessa hora expressar tão bem o caminho.

A pergunta para tanta perna sempre foi: “Como pode o texto teatral estar em cena nas salas de aula?”, porém, os caminhantes que queríamos encontrar no caminho é que foram mudando. De início, a ideia era levar textos de teatro para uma sala de 4º ano da rede pública de ensino e, por jogos e vivências teatrais, viver esses textos com leituras diferenciadas (também não sabia ainda como seria, afinal, estava caminhando), para depois evidenciar se a produção textual dos alunos envolvidos com tais atividades teria alguma mudança com produções anteriores.

Mudamos o caminho!

Então, apareceu durante um trabalho realizado em uma disciplina da Pós-Graduação de Seminários com o grupo ALLE (vem à minha boca o gosto do bolo de laranja dessas aulas

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deliciosas), durante um levantamento bibliográfico, o conhecimento de que existe um programa na Secretaria do Estado de Educação, intitulado “Programa de Apoio ao Saber”21 que oferta a alunos (do 5º Ano ao 3º Ano do Ensino Médio) da Rede Estadual de Ensino, logo no início do ano, um kit com três livros de literatura e, para nossa surpresa, esses kits eram compostos por textos de gêneros dramáticos. Bom, isso nos deu um ar maior; afinal, que maravilha era saber que textos de teatro estavam circulando nas escolas, e principalmente nas mãos de cada aluno que levava para sua casa esses livros. Mas, ao mesmo tempo que o ar tornou-se leve, também faltou. Afinal, como estariam sendo trabalhados, se estavam, os textos teatrais com os alunos na escola? Na verdade, essa é uma questão que ultrapassa o gênero dramático, pois como está a leitura sendo trabalhada nas escolas é um caminho com pedras e mais pedras a percorrer, mas, como nos atentávamos ao texto teatral, nossa indagação firmou- se aí. O caminho passou então a ser na ideia de encontrar caminhantes que trabalhassem com esses textos nas escolas. Nas salas de aula os alunos estavam sendo presenteados com livros de autores consagrados, atenho-me a elencar alguns títulos de gênero dramático que circularam nas escolas no ano de 2010:

· 7ª ANO - PROMETEU / ALCÉSTE – ÉSQUILO, EURÍPEDES; · 8º ANO: O TARTUFO OU O IMPOSTOR – MOLIÈRE; · 9º ANO: O PAGADOR DE PROMESSAS – DIAS GOMES;

· 1ª SÉRIE ENSINO MÉDIO: MORTE E VIDA SEVERINA – JOÃO CABRAL DE MELLO NETO;

· 2ª SÉRIE ENSINO MÉDIO: ELES NÃO USAM BLACK-TIE – GIANFRANCESCO GUARNIERI;

· 3ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO: CASA DE BONECAS – HENRIK IBSEN.

É bom, em meio a pedras, tropeçar em flores pelo caminho, e ao me deparar com títulos assim e sabê-los no cenário educacional, certamente minhas pernas ganharam mais força para caminhar. Queríamos saber ao certo quais títulos além desses estariam (pois a partir do momento que tivessem estado não deixariam o ambiente mais, em essência) nas escolas, afinal, o programa “Kit Apoio ao Saber” está em funcionamento desde o segundo semestre de

21 Programa do Governo do Estado de São Paulo que distribui livros para alunos do Ensino Fundamental (Ciclo

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2008. Ligações para Secretaria de Educação do Estado de São Paulo foram feitas, junto com trocas de emails em primeira instância para pedir exemplares dos livros que compõem o “Kit ao Saber”. Fora dado um direcionamento para que essa petição fosse feita para a Secretaria mais próxima de minha cidade, no caso a Secretaria de Educação de Araraquara (cidade vizinha à Matão). Estive pessoalmente na Secretaria. Algumas pilhas de livros do Programa existiam, isso até mesmo de anos passados, mas não podiam ser cedidos; alegou-se que tal material era de destinação das escolas e seus alunos. Com o sopro de poeira que voara dos livros empilhados e silenciados nas estantes, voltei o caminho em marcha ré com os olhos embaçados. Então, o contato retornou à Secretaria de São Paulo. Por três emails solitários, monólogos diria eu, enviei pedindo apenas o título dos livros que incorporaram até então o “Kit”. Silêncio! Mais silêncio! E ecoou um vazio de respostas. Caminhos têm dessas coisas. Depende do lugar que você grita, você só ouve a si mesmo, resquícios de um Eco Tagarela mitológico por aí.

Caminho dado é pra ser caminhado! Continuamos... O rumo não mudara, mesmo diante dos rumores... Porém, dentro daqueles pertences trocados entre as mochilas minhas e de companheiro, o caminhante de longa jornada, parei pra tomar sombra embaixo de uma árvore dessas aí, e não seria senão em um livro, a abertura de um novo caminho. Roger Chartier nos deu nova passagem. Alías, honra nossa sermos caminhantes ao lado de um edificador de caminhos. Em seu livro “Do palco à página” passei meus olhos saborosamente em momentos de se ver a transposição do teatro descolado das linhas para a vida, e trombei com Molière que me disse assim:

Il n’est pas nécessaire de vous avertir qu’il y a beaucoup de choses qui dépendent de l’action: on sait bien que les comédies ne sont faites que pour être jouées; et je ne conseille de lire celle-ci qu’aux personnes qui ont des yeux pour découvrir dans La lecture tout le jeu du théâtre. (2002: p. 53, 54)

Sou caminhante de poucas línguas, mas Chartier o traduziu para mim.22

Tomado minha sombra! Levantei, mas não consegui sair do lugar. Minhas pernas não me diziam de ir nem vir. Fincaram-se! Ali! Talvez minhas pernas já sabiam o caminho de seguir, mas eu ainda não. Abri o livro, olhei firme nos olhos de Molière e Chartier soprou nos meus ouvidos: “É por ali!”. Desloquei-me e fui à rumo, com olhos fechados sabia o lugar.

22 É desnecessário adverti-los que existem neste texto muitas passagens que dependem da atuação. É sabido que

as peças só são feitas para serem representadas, e eu só aconselho a leitura desta às pessoas que têm olhos para descobrir, pela leitura, todo o jogo teatral.

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Trombei com meu companheiro caminhante e disse: “Foi de você que peguei esse caminho, vamos por ali?” Como o tinha feito no primeiro encontro, dessa vez fora ela quem sorriu com os olhos. Novo de novo caminho!

Se queríamos falar de como trabalhar textos de teatro nas escolas, Molière nos fez pensar, através de Chartier, de que ninguém melhor para tratar sobre como se lê o teatro do que quem trabalha em contato direto com ele: grupos de teatro.

E é então que me refiro sobre “quando se ouve de caminhos há tantos bons anos” nas primeiras linhas desse relato. Eu vivo teatro desde meus 11 anos de idade, de lá pra cá, sempre busquei conhecer e me banhar de tantos grupos e palcos por todo esse Brasil. A oportunidade de caminhar rumo aos trilhos de grupos de teatro e conhecer seus processos de produção teatral, desde o primeiro contato com um texto até a finalização da montagem de um espetáculo, realmente me deixava em êxtase. Pensamos, então, em três grupos de teatro muito significativos e com trabalhos ricos e interessantes que, certamente, alimentariam a nossa estrada. O Grupo XIX de Teatro (SP), O grupo Ventoforte (SP) e o Grupo Galpão (BH). A primeira ideia era atentarmos para uma produção específica de cada grupo. Entraríamos, então, sobre estudos dos seguintes processos de montagem: “Arrufos” (Grupos XIX de Teatro), “História do Barquinho ou Um Rio que vem de Longe” (Grupo Ventoforte) e “Romeu e Julieta” (Grupo Galpão), porém, e deliciosamente porém, os caminhos mudam.

Ao entrar em contato com os grupos para agendar as possíveis entrevistas com os diretores de cada espetáculo de imediato, senti-me abraçado. Os vários e vários emails trocados com Janaina, Juan e João23 dariam por si um grande espetáculo e fomos então ilustrando meu calendário com as datas coloridas que foram ao lado de pessoas que respiram criação.

No início de abril de 2011 caminhei para São Paulo. Instalei-me na casa de uma amiga que já havia caminhado comigo há muito tempo atrás, quando fazíamos cursinho para ingressar na universidade. Com ela já havia compartilhado tantos sonhos e ser recebido nas escadas do metrô Consolação com seu sorriso já foi um grande combustível para os dias que viriam. Ivi (minha amiga caminhante de tempos atrás) me cedeu um cômodo do seu apartamento que se tornou meu “lar doce lar” por duas semanas. Junto a tudo que estava agendado para coleta de dados com os grupos XIX de Teatro e Ventoforte, São Paulo me

23 Janaína é atriz e produtora do Grupo XIX, Juan é ator e produtor do Grupo Ventoforte e João é produtor do

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ofereceu vários espetáculos que assisti, e a produção na busca pelas ruas do Brás e Três Rios atrás de brechós e lojas de tecidos que comporiam os figurinos dos personagens do espetáculo “Bodas de Sangue” que dirigia e que estrearia dali a dois meses com a Cia Labirinto Teatro, na cidade de Matão.

Em uma tímida sexta-feira com a garoa cartão postal, trilhei rumo ao Belém, Belenzinho. Aos poucos, a São Paulo que nos engole foi desaparecendo e em cada rua que eu virava não havia mais prédios, poucos carros, uma charrete passando, pássaros pudiam ser ouvidos... Estava eu na Vila Maria Zélia, ou estava eu no século XIX? Estava eu às portas da sede do Grupo XIX, um vilarejo onde haviam morado operários e no Galpão Armazém n. 09 o cheiro de café com rosquinhas de confeito açucarado me diziam bom dia, junto ao Lubi, Janaína e Juliana.24

Fachada da sede do Grupo XIX de Teatro

Na cozinha com as meninas conversamos muito sobre o XIX, sobre teatro, educação, enfim, sobre linhas que enviesavam as linhas do que queria saber, se bem que, a essa altura, querer saber era um tanto quanto pretensão, queria ouvir e ouvi vozes de verdade que falam e pensam um teatro de verdade.

Me despedi com uma sessão de fotos e um convite para retornar no domingo para, além da entrevista com Lubi, assistir ao espetáculo “Aquilo que meu olhar guardou para

24 Lubi (Luiz Fernando Marques) é diretor e cocriador dos espetáculos do grupo XIX e Janaína Leite e Juliana

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você” de um grupo de Recife que estava sendo dirigido pelo Lubi. Convite mais que aceito. No domingo, agora com sol, retornei com um amigo (Daniel, também de tantos caminhos atrás) que me acompanhou nas empreitadas culturais por São Paulo. Então o convidei para ir ao teatro no XIX comigo. Sol baixando e a Vila Maria Zélia aparecendo sem arranha-céus... Uma São Paulo do XIX se pintava mais uma vez.

Lubi, na correria de se apresentar às 19:00 horas, ainda conversou comigo por quase duas horas anteriores à apresentação. Um diálogo de descobertas que me abriram tantos outros olhos além dos que eu já havia chegado e que renderam em análises do próximo capítulo que, além de estarem estreitadas teoricamente, esvaem sentires meus, de além pesquisador, mas educador, artista e, acima de tudo, ser humano.

Uma noite de lua branca, que fechou com uma apresentação teatral que falava São Paulo e que nos tirou o ar em uma cena memorável onde todo o ar do mundo estava em um sapo inflável... Teatro tem dessas coisas... Dessas mágicas!

Em meio aos encontros com o XIX, lá no SESC Ipiranga, do outro lado do mapa o vento soprava. Fazia tempo que não era embalado pelos tambores do Ventoforte, a última vez que os tinha visto foi em 1999 em Matão. “As quatro chaves” abria caminhos e convidava, embaixo de alguns pés de árvores, crianças e adultos a se sentarem no cair da tarde e procurarem por tantas chaves que os trancam dentro de si mesmos. O Ilo25 estava lá, o grande caminhante, agora já com três pernas, mas em cena, ele levava as crianças para um lugar que nós adultos não conhecemos: só elas e o Ilo sabem chegar lá. Fim do espetáculo, na verdade não, existem espetáculos que não têm fim, eles vão embora com a gente pra casa, e esse foi assim, pois bem, fui conhecer o Juan e abraçar o Ilo. Marcamos nossos dias na semana lá na Casa Ventoforte.

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Fachada da sede do Grupo Ventoforte

Dias marcados, chuva e chuva e chuva... Acompanhei a ensaios da “História do Barquinho ou Um rio que vem de longe” e também, processos de criação de “Alameda da Saudade”. No final de todos ia falar com Ilo, queria marcar nossa entrevista. Ele dizia que queria tempo, que queria e tinha tanto pra falar... Tanto tempo escapou e eu voltei de São Paulo, marcando retorno apenas para fazer a entrevista com ele, um dia certo, exato.

Retornei. Chuva e chuva e chuva... Cheguei ao Ventoforte e não havia ninguém... Muito vento sopra longe... Talvez Ilo já tenha me dito muito só com olhos e eu infelizmente, fiquei sem tê-lo no meu quadro de análises, pois a academia nos concede relógios. E Ilo não tem um caso terreno com ponteiros. Os deles são diferentes. Ficou à vontade, o desejo pela palavra, mas a satisfação de ter vivido momentos ao lado.

De São Paulo para Belo Horizonte. Cheguei com passos tímidos na casa de amiga (ainda bem que eles existem, os amigos), Ester, que, em todo almoço, me oferecia uma especiaria mineira pelas mãos mágicas de Ivete. Ester é das artes, então nossa língua se afinava. Saímos, fomos a teatros, museus, danças... E um dia, no marcado, subi a ladeira da Rua Pitangui em um dia de agitação... Estamos agora tratando de estrelas de 30 anos, e eu cheguei no Galpão na semana das festividades.

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Fachada da sede do Grupo Galpão

Entrei na sede do grupo e o João, meu amigo de longos emails, me recebeu com todo carinho, apresentando-me a toda equipe. Era o dia da cobertura da imprensa sobre os 30 anos do Galpão. Todos os atores estavam lá e dos táxis não paravam de descer jornalistas do rádio, de jornais e televisão. Eduardo26 abre as palavras e eu em meio a câmeras, flashs e luzes,

sentei-me e senti-me um privilegiado de antemão. Uma hora e meia de cobertura finalizadas com pães de queijo, sorrisos e abraços.

No dia seguinte não tinha mídia. Era eu, os atores e os ensaios de Romeu e Julieta. Pelos cantos da sede do Galpão sempre estava em pequenas conversas com os atores. Era eu o “gatinho” de Teuda Bara, que contava aos quatro ventos histórias de suas andanças, delícias para os ouvidos. Inês Peixoto queria saber do trabalho que estava desenvolvendo e por aí fomos. De canto em canto descobrindo encantos.

Ao vê-los humanos, aquecendo-se para o ensaio, corpo, voz e alma, quando ouvi “Flor minha flor, flor vem cá, flor minha flor, laialaialaia” percebi naquele meu cantinho destinado aos quatro dias que os acompanhei nos ensaios de Romeu de Julieta, senti que todas as flores eram pra mim, as fiz tornarem-se especialmente para mim.

Além dos presentes até então, deram-me mais um: convidaram-me para viajar com eles para uma cidade vizinha (Bom Despacho) onde iriam apresentar o espetáculo “Till: a

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saga de um herói torto”. Não pensei duas vezes e fui. Fiz minha reserva no mesmo hotel que o deles e fui de ônibus com todo o elenco. Eduardo estava sem tempo para a entrevista, também, fui eu chegar na semana de comemorações, então, nossa conversa se deu no ônibus, indo pra Bom Despacho. Bom, despachamo-nos pela estrada, liguei o gravador e conversamos. Eduardo tem um brilho nos olhos, mesmo cansados, quando fala de teatro e do Galpão. É fascinante vê-lo em entrega diária para a arte, e com ombros cansados, hasteia a bandeira e a trepida com força. Me contou sobre os caminhos do Galpão, sobre os novos caminhos nascentes durante toda a trajetória, sobre idas e vindas, ganhos e perdas, dores e alegrias... Sobre a vida em funcionamento como somente a arte e seus artistas conseguem vê- la. Fez-me olhar como pesquisador e também como artista... Assumir e aceitar as pedras do caminho na tentativa de sempre removê-las ou ainda de viver com elas. Trouxe um olhar sobre a educação basilar no viés artístico e fez com que eu respirasse mais ainda a crença da arte e educação caminhantes aos pares.

Chegamos a Bom Despacho. Almoçamos. Teuda me deixava com água na boca, lembrando-se do cozido que havia feito e deixado em casa. Simone Ornellas fora uma grande prosa. Trocamos várias vivências e ela me fez acreditar na arte viva no interior dos estados. Devo quem sabe a ela um novo olhar sobre o teatro nascente no interior. Chegamos à praça, testaram o som, os instrumentos, microfones e foram para o camarim, e eu junto, sempre junto, insistentemente junto. Maquiaram-se, trocaram-se, aqueceram-se e na hora da rodinha antes de irem pra cena, me chamaram para a troca de energia. Sorri e corri. Ao lado de Teuda e Inês sentia a energia de todos, de um grupo, de um Galpão que se consolida em uma força coletiva. Sorte mesmo era a minha de estar com eles por uma semana.

Apresentados. Jantamos. Simone e eu tomamos uma caipirinha que nos faria dormir por três dias seguidos. Teuda contava do tempo que dava aulas, uma revolucionária que burlava até mesmo o café e o levava de casa para a sala dos professores. Fomos dormir... Eu não! Fui sonhar!

Amanhecemos com um digno café da manhã com três tipos de pães de queijo, coisas de Minas. Partimos. Na volta conversei com Teuda, que trouxe um depoimento sobre uma

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