• Nenhum resultado encontrado

Camada reticular (derme reticular)

Mais profunda, a camada reticular contribui com 80% da espessura da derme e está constituída por tecido conjuntivo denso não modelado. Sua matriz extracelular contém feixes espessos de fibras colágenas e elásticas entrelaçadas, que seguem muitos planos diferentes. No entanto, a maioria dispõe-se em paralelo à superfície da pele. A camada reticular tem esse nome por causa das redes de fibras de colágeno (retículo = rede); o nome não implica qualquer abundância de fibras reticulares. Separações ou regiões menos densas entre os feixes de colágeno formam as linhas de clivagem ou linhas de ten- são da pele (Figura 5.5b). Essas linhas invisíveis ocor- rem no corpo inteiro e seguem longitudinalmente na pele dos membros e da cabeça e em padrões circulares em volta do pescoço e do tronco. O conhecimento das linhas de clivagem é importante para os cirurgiões. As incisões feitas em paralelo com essas linhas tendem a abrir me- nos e a cicatrizar mais rapidamente do que as incisões feitas perpendicularmente a elas.

As fibras de colágeno da derme conferem resistência e resiliência à pele. Desse modo, a maioria das punções e arranhões tem dificuldade em penetrar essa camada relativamente rígida. Além disso, as fibras elásticas na

derme conferem à pele propriedades de estiramento- -recuo. O estiramento exagerado da pele, como ocor- re na obesidade e na gravidez, pode lacerar o colágeno na derme. Essa laceração dérmica resulta em cicatri- zes branco -prateadas chamadas estrias (“listras”), que conhecemos como “marcas de estiramento”. A derme também é o local receptor dos pigmentos utilizados nas tatuagens (ver ANÁLISE APROFUNDADA, p. 114).

APLICAÇÃO CLÍNICA

Úlcera de decúbito As escaras, ou úlceras de decúbito, são uma preocupação constante dos pacien-

tes com mobilidade prejudicada. Os idosos acamados são especialmente suscetíveis, assim como os cadei- rantes com lesões na medula espinal. Uma úlcera de decúbito ocorre normalmente sobre uma proeminên- cia óssea, como o quadril, o sacro ou o calcanhar. A pressão constante exercida pelo peso corporal provoca uma ruptura localizada da pele por causa da redução no suprimento sanguíneo. A morte do tecido pode ocorrer em 2 -3 horas. Com o passar do tempo, a epiderme e a camada papilar da derme são perdidas e a área dani- ficada exibe um aumento das fibras de colágeno. Sem a cobertura protetora da epiderme, os agentes infec- ciosos podem entrar facilmente no corpo e provocar complicações graves e fatais.

A partir da porção mais profunda da derme, surgem as marcas da superfície da pele chamadas linhas de fle- xão. Observe, por exemplo, as rugas profundas na pele da palma de sua mão (Figura 5.5c). Elas resultam de um dobramento contínuo da pele, frequentemente sobre as articulações, onde a derme a prende bem às estruturas subjacentes. As linhas de flexão são visíveis nos pulsos, palmas e dedos das mãos, plantas e dedos dos pés.

A derme é ricamente abastecida por fibras nervo- sas (descritas no Capítulo 14) e vasos sanguíneos. Os vasos sanguíneos dérmicos consistem de dois plexos vasculares (um plexo é uma rede de vasos convergen- tes e divergentes) (ver Figura 5.1). O plexo dérmico profundo está situado entre a hipoderme e a derme. Ele nutre a hipoderme e as estruturas localizadas nas porções profundas da derme. O plexo papilar mais su- perficial, localizado logo abaixo das papilas dérmicas, abastece as estruturas dérmicas mais superficiais, a pa- pila dérmica e a epiderme.

Os vasos sanguíneos dérmicos fazem mais do que apenas nutrir a derme e a epiderme sobrejacente; eles também desempenham um papel importante na regu- lação da temperatura corporal. Esses vasos são tão extensos que podem abrigar 5% de todo o sangue do corpo. Quando os órgãos internos precisam de mais sangue ou calor, os nervos estimulam os vasos dér- micos a constringirem, desviando mais sangue para a Cristas

de atrito

(a) Cristas de atrito da ponta do dedo (MEV 12×)

(b) Linhas de clivagem na camada reticular

(c) Linhas de flexura da mão

Aberturas de ductos de glândulas sudoríferas Linhas de flexão no dedo Linhas de flexão na palma

Figura 5.5 Modificações dérmicas. (a) Cristas de atrito. (b) As linhas de clivagem representam as separações

entre os feixes de fibras de colágeno na camada reticular da derme. (c) As linhas de flexura formam- -se onde a derme é bem presa à fáscia subjacente.

AN Á L IS E AP RO F UNDA DA

Tatuagens

A tatuagem — utilização de uma agulha para depositar pigmento na derme da pele — foi praticada pela primeira vez no ano 8000 a.C., apro- ximadamente. Hoje, as tatuagens são feitas como arte corporal, para ex- pressar individualidade e/ou afirma- ções pessoais. As tatuagens podem sinalizar a participação em um gru- po, como os militares, em uma gan- gue de rua ou uma equipe esportiva. Elas também estão sendo utilizadas cada vez mais com finalidades estéti- cas, como a aplicação de um delinea- dor permanente nos olhos, sobrance- lhas e linhas dos lábios.

E se a tatuagem sair de moda ou se o pigmento migrar? Até há pouco tempo, depois de fazer uma tatua- gem, a pessoa ficava essencialmente presa a ela, já que as tentativas de remoção — lixamento da pele, crio- cirurgia (congelamento do tecido) ou aplicação de substâncias quími- cas cáusticas — deixavam cicatri- zes, algumas piores do que a própria tatuagem. Os lasers atuais em geral conseguem remover as tatuagens “mais antigas”, ou seja, os desenhos em azul e preto, há muito tempo aplicados. As tatuagens mais novas

e coloridas são outra história. Elas exigem o uso de lasers diferentes que emitem luz em diversas frequências para remover cada tipo de pigmen- to. A remoção de tatuagem requer de sete a nove tratamentos, com um mês de intervalo entre eles, e pode machucar tanto quanto a confecção da própria tatuagem. Mesmo assim, as tatuagens nem sempre podem ser erradicadas completamente. Os pig-

mentos verde e amarelo são os mais difíceis de vaporizar.

As tatuagens apresentam alguns outros riscos. A FDA (U.S. Food and Drug Administration), órgão governa- mental dos Estados Unidos que con- trola os alimentos, suplementos ali- mentares, medicamentos etc., exerce certo controle sobre a composição dos pigmentos utilizados, mas eles são aprovados para aplicação apenas na superfície da pele — a segurança de injetá -los sob a pele não está bem estabelecida. Além disso, as leis es- taduais nos Estados Unidos variam bastante. Enquanto alguns proibiram a prática inteiramente, outros não possuem qualquer norma a respeito. A tatuagem envolve agulhas e sangra- mento, os requisitos de treinamento dos profissionais são mínimos e há um risco de reações alérgicas e do- enças infecciosas transmitidas pelo sangue, como a hepatite (mesmo que o profissional utilize agulhas estéreis, elas podem ser mergulhadas em pig- mentos contaminados com o sangue dos clientes anteriores). Mesmo com a disponibilidade de técnicas de remo- ção a laser, é importante considerar os riscos de fazer uma tatuagem.

circulação geral e disponibilizando -o para os órgãos internos. Por outro lado, nos dias de calor, os vasos dérmicos absorvem o sangue quente, resfriando o cor- po ao irradiar o calor para fora.

Existem glândulas e folículos pilosos incorporados na derme. Esses apêndices da pele derivam da camada epidérmica e estendem-se para dentro da derme e da hipoderme.

Hipoderme

Logo abaixo da pele situa -se a hipoderme, palavra grega que significa “abaixo da pele” (ver Figuras 5.1 e 5.2). Essa camada também é chamada fáscia superfi- cial3 e camada subcutânea. A hipoderme consiste nos

1

3 Nota do revisor técnico: para muitos anatomistas, a fáscia superficial é uma das camadas da tela subcutânea.

APLICAÇÃO CLÍNICA

Sistema de emplastro para liberação de medica- mento O emplastro transdérmico é concebido para que

as moléculas do medicamento sejam difundidas através da epiderme para os vasos sanguíneos da camada dér- mica. Um emplastro comum funciona bem para molé- culas lipossolúveis pequenas (por exemplo, estrogênio, nitroglicerina e nicotina) que podem trilhar seu caminho entre as células epidérmicas. Emplastros estão sendo de- senvolvidos para liberar moléculas maiores ou que sejam hidrossolúveis, como a insulina e as vacinas. Em um novo projeto de emplastro, agulhas finas e ocas se projetam do reservatório de medicamento, passando pela epiderme e penetrando na derme com profundidade suficiente para liberar medicamentos no plexo subpapilar, mas não tão fundo a ponto de atingir as terminações nervosas.

tecidos conjuntivos frouxos e adiposo4, mas normal- mente o tecido adiposo predomina. Além de armaze- nar gordura, a hipoderme prende a pele nas estruturas subjacentes (principalmente nos músculos), porém com liberdade suficiente para que a pele possa deslizar rela- tivamente bem sobre essas estruturas. Essa capacidade de deslizar assegura que muitos golpes apenas resva- lem em nossos corpos. A hipoderme também é um iso- lante: como a gordura é um mau condutor de calor, ela ajuda a evitar a perda térmica do corpo. A hipoderme espessa-se acentuadamente com o ganho de peso, mas nos dois sexos esse espessamento ocorre em diferen- tes áreas do corpo. Nas mulheres, a gordura subcutânea acumula inicialmente nas coxas e mamas, enquanto nos homens ela se acumula inicialmente na parte anterior do abdome, como uma “barriga de cerveja”.

Verifique seu conhecimento

◻ 6. De que maneira os vasos sanguíneos dérmicos regulam a temperatura do corpo?

◻ 7. Que tipo de tecido compõe (a) a camada papilar da derme, (b) a camada reticular da derme e (c) a hipoderme?

◻ 8. Que tipos de células são encontrados na derme e de que maneira cada uma delas contribui para as funções da pele?

(Veja as respostas no Apêndice B.)

Cor da pele

Três pigmentos contribuem para a cor da pele: me- lanina, caroteno e hemoglobina. A melanina, o mais importante, é produzida a partir de um aminoácido chamado tirosina. Presente em diversos tipos, a me- lanina varia de amarela a avermelhada e de marrom a

1

4 Nota do revisor técnico: definições questionáveis, já que a maioria dos anatomistas subdivide a tela subcutânea em três estratos: o areolar, a fáscia superficial e o estrato lamelar.

preta. Conforme foi observado anteriormente, a mela- nina passa dos melanócitos para os queratinócitos no estrato basal da epiderme. As variações na cor da pele do homem resultam de diferenças na quantidade e no tipo de melanina produzida.

O caroteno é um pigmento amarelo -laranja que o corpo obtém a partir de fontes vegetais, como as ce- nouras e tomates. Ele tende a acumular no estrato cór- neo da epiderme e na gordura da hipoderme.

A tonalidade rosa da pele caucasiana reflete a cor carmim da hemoglobina oxigenada nos capilares da derme. Como a pele caucasiana contém pouca melani- na, a epiderme é quase transparente e permite a visua- lização da cor do sangue. As marcas em preto -e -azul representam o sangue descolorido, que é visível através da pele. As contusões, provocadas normalmente por pancadas, revelam locais onde o sangue escapou da cir- culação e coagulou abaixo da pele. O termo geral para uma massa coagulada de sangue vazado, em qualquer parte do corpo, é o hematoma (“inchaço de sangue”).

APLICAÇÃO CLÍNICA

Cianose Quando a hemoglobina é mal oxi-

genada, tanto o sangue quanto a pele dos caucasia- nos parecem azuis, uma condição chamada cianose (“condição azul escura”). Muitas vezes a pele torna -se cianótica nas pessoas com insuficiência cardíaca ou transtornos respiratórios graves. Nas pessoas de pele escura, a pele pode ser escura demais para revelar a cor dos vasos subjacentes, mas a cianose pode ser de- tectada nas membranas mucosas e leitos ungueais (a parte debaixo das unhas das mãos e dos pés).

As razões para as variações nas cores da pele das diferentes populações humanas não são plenamente compreendidas. As teorias que explicam essa variação refletem o fato de que os raios UV do solo são tanto perigosos quanto essenciais. Uma hipótese propõe que a coloração escura da pele evoluiu para eliminar o pe- rigo de câncer de pele provocado pela radiação UV. Uma hipótese alternativa argumenta que os efeitos da luz solar sobre os níveis de ácido fólico no sangue fo- ram a pressão seletiva para a evolução da pele escura nas áreas tropicais. Nas pessoas de pele clara, os altos níveis de luz solar diminuem os níveis de ácido fólico no sangue. Os níveis mais baixos de ácido fólico nas mulheres grávidas aumentam o risco de defeitos do tubo neural no feto em desenvolvimento. A evolução da pele escura nos trópicos protege os níveis sanguí- neos de ácido fólico e promove uma prole saudável.

APLICAÇÃO CLÍNICA

Sardas e nevos As sardas e os nevos pigmen-

tados são acúmulos localizados de melanina na pele. Nas sardas, o aumento da melanina restringe -se à camada basal da epiderme. As sardas formam -se em consequência da exposição repetida à luz solar. Os in- divíduos com compleição clara são mais propensos à formação de sardas. Os nevos pigmentados formam- -se quando agrupamentos de melanócitos são trans- formados em células contendo melanina (nevócitos). Esses agrupamentos estão situados na camada basal da epiderme e nas camadas superiores da derme. Os nevos pigmentados formam -se logo após o nas- cimento e podem aparecer a qualquer momento du- rante o início da idade adulta. Eles não se formam em consequência da exposição ao ultravioleta.

O outro fator que influencia a cor da pele é a produ- ção de vitamina D. Os raios UV estimulam a epiderme profunda a produzir vitamina D, um hormônio vital necessário para a captação do cálcio na alimentação e essencial para ter ossos saudáveis. O cálcio e, portanto, a quantidade adequada de vitamina D também são fun- damentais para o feto em desenvolvimento.

A produção de vitamina D não é um problema nos trópicos ensolarados, mas os caucasianos no norte da Europa recebem pouca luz solar durante o longo e es- curo inverno. Portanto, sua epiderme incolor assegura que uma quantidade suficiente de raios UV vai penetrar a pele, visando à produção de vitamina D. A exposi- ção natural aos raios UV nessas regiões temperadas não é suficiente para reduzir os níveis de ácido fólico. A maioria dos tipos de cor da pele humana evoluiu nas latitudes intermediárias (China, Oriente Médio etc.) e é caracterizada por tons de pele moderadamente mar- rons, ou seja, nem “brancos” nem “negros”. Essa pele é suficientemente escura para conferir alguma proteção contra os efeitos negativos da luz solar no verão, espe- cialmente quando bronzeia, porém suficientemente cla- ra para permitir a produção de vitamina D nos invernos moderados das latitudes intermediárias. O conflito de escolha entre a proteção contra os efeitos nocivos da radiação UV e a proteção da vitamina D pode ter sido a pressão seletiva por trás da evolução da coloração da pele à medida que os primeiros seres humanos se afas- taram dos trópicos.

Verifique seu conhecimento

◻ 9. Qual pigmento provoca grande variação de cor na pele humana?

◻ 10. Uma pessoa de pele escura que vive nas latitu- des mais ao norte deveria se preocupar com a produção de vitamina D? Explique.

(Veja as respostas no Apêndice B.)

APÊNDICES DA PELE