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O caminho da vara é entendido aqui como a sequência de posições que a vara do trombone percorre durante a execução de um trecho ou frase musical. Parece razoável dizer que quanto maior for o conhecimento e o domínio do músico sobre esses caminhos, mais cômoda e eficiente será a prática no trombone, pois seus esforços tenderão a ser minimizados, possibilitando mais agilidade ao tocar o instrumento.

Figura 5.11 - Caminhos da vara para o Estudo Melódico No. 12

Visando o melhor desempenho do trombonista nos Estudos Melódicos, o programa

anaRch calcula e disponibiliza o caminho mais eficiente para a movimentação da vara, de

forma a auxiliar no estudo/execução de cada um deles. Para isso basta inserir no terminal do programa o comando 'm e' seguido do número do estudo a ser avaliado. O comando 'm e 12', por exemplo, analisa o Estudo No. 12 como mostra a Figura 5.11. Cada nota do estudo

nesta tela é apresentada entre parênteses juntamente com a posição escolhida pelo programa para sua execução. Conforme especificado no Capítulo 3, este caminho é calculado com base na dificuldade da ligadura em cada transição encontrada na música e na possibilidade de combinação das posições da vara no contexto de cada frase.

A transcrição da notação mostrada na Figura 5.11 para a partitura pode ser feita diretamente, simplesmente acompanhando a sequência de notas apresentada e copiando para a partitura os números correspondentes a cada nome de nota na sequência. A Figura 5.12 mostra um trecho dessa transcrição. Partindo do exemplo ilustrado na figura, é possível observar as vantagens de se usar o programa para analisar todas as possibilidades de posições no trombone ao se tocar a peça.

Figura 5.12 - Estudo No 12 - Frase 1

No início da peça, muitos músicos procurariam tocar a nota FÁ na primeira posição, mas como o programa analisa a distância entre todas as notas e suas posições, a indicação é que esta nota seja tocada na sexta posição, o que diminui consideravelmente o esforço do músico, uma vez que o deslocamento para as próximas notas fica bem menor. Esta escolha de posições pode ser comum para alguns trombonistas, mas quando partimos para a segunda frase é possível notar melhor os benefícios do programa. A segunda frase, que compreende o terceiro e quarto compassos, também começa na nota FÁ mas aqui o programa decide mudar a posição. Este FÁ vai para a primeira posição, sendo que as próximas notas são Lá bemol e SOL bemol na terceira e quinta posições, as quais, em princípio, estão mais próximas da sexta. O segundo FÁ (quinta nota) retorna também para a primeira posição, sendo que a próxima nota é um RÉ bemol que tem que ser necessariamente tocado na quinta. A solução mais corriqueira seria provavelmente escolher as posições 6, 3, 5, 3, 6 e 5. Esse caminho porém, desencadeia uma movimentação um pouco desconfortável para o músico, por causa das frequentes mudanças de direção da vara. Esse tipo de movimentação pode gerar alguns problemas para a performance, tais como: atrasos no movimento da vara e desencontros entre esta e a articulação das notas; deficiências na afinação; acentuações desnecessárias nas notas e possíveis glissandos indesejados. Voltando então às posições selecionadas pelo programa,

com o FÁ na primeira posição, nota-se que a movimentação da vara fica bem mais contínua, o que dá mais fluidez ao se tocar o frase. O programa aproveita ao máximo todas as possibilidades de notas no mesmo sentido de movimentação da vara. Partindo da primeira posição, com apenas um movimento o trombonista tocará três notas da frase em questão, o FÁ, o LÁ bemol na terceira e o SOL bemol na quinta. Na sequência, com a primeira mudança de direção, a vara cobre mais duas notas da frase voltando para o FÁ na primeira. Finalmente, o caminho culmina no RÉ bemol na quinta posição. É possível notar que o esforço do músico foi reduzido consideravelmente. Nesta opção de caminho, o trombonista mudará a direção de movimentação da vara apenas duas vezes enquanto que da outra forma, ele iria efetuar o dobro de movimentos. Outro benefício evidente dessa escolha de posições é a homogeneidade nas ligaduras. A tendência de aproveitar movimentos na mesma direção e evitar solavancos na vara torna as conexões entre as notas mais suaves.

Outro trecho do mesmo estudo ajuda a demonstrar como as escolhas do programa podem facilitar bastante a movimentação e a ligadura, como ilustra a Figura 5.13.

Figura 5.13 - Estudo No 12 - Frase 2

Essa passagem extraída dos compassos 41 a 43, pode gerar dúvida em muitos trombonistas sobre como deve ser feita a movimentação da vara para que a frase possa ser tocada de forma ágil e bem conectada. À primeira vista, a quantidade de notas e a extensão da frase intimidam principalmente os trombonistas iniciantes, que tendem a utilizar sempre posições próximas da primeira. Essa estratégia produz, nesta frase, uma movimentação desnecessária da vara, com mudanças constantes de direção.

Uma análise detalhada pode reduzir consideravelmente esse impacto inicial. De modo semelhante à solução proposta para a frase anterior, nesta frase o programa também parece buscar um caminho da vara que evite a execução de movimentos bruscos. Ele mantem a vara

movimentando na mesma direção sempre que possível, e dá preferência a posições próximas. Alguns caminhos propostos pelo programa podem parecer um pouco estranhos se comparados às escolhas mais óbvias. O sistema, porém, trabalha com um mecanismo de compensação, de modo que um pequeno incomodo com determinada posição geralmente é compensado nas próximas notas. Para chegar a uma resposta para o problema do caminho da vara, o programa

anaRch leva em consideração todas as possibilidades de conexão entre as notas, avalia cada

uma delas e escolhe a de menor dificuldade total para cada frase. Então o grau de dificuldade uma ligadura específica tende a ser diluído entre as demais notas da frase.

Considerando a região em que o trecho musical está escrito, a qual compreende o registro médio/agudo do trombone, e a tonalidade do estudo, a nota FÁ é uma das que gera mais dúvidas na movimentação da vara. Quando o programa se depara com esta situação, ele compara a nota em questão com a nota anterior e com a próxima, para poder definir em que posição o FÁ 3 deve ser tocado. A primeira nota FÁ, quarta nota da frase, está entre um LÁ bemol 2 e um SOL bemol 3, ambas produzidas na terceira posição. Por conta do algoritmo usado para avaliar as frases, o programa basicamente tende a escolher o caminho de menor esforço, e a encontrar a posição que mais facilmente conecte as outras duas notas. Isso significa, neste caso, tocar o Fá na quarta posição.

Na sequência, observa-se mais uma ocorrência da nota FÁ 3, porém agora em uma posição diferente: a primeira. Essa nova escolha reflete o fato de que a nota seguinte é um RÉ bemol 3 seguido de um MI bemol 3. A sequência resultante de posições (primeira, segunda e terceira) produz numa movimentação consideravelmente suave da vara. A partir desse ponto, o programa parece continuar a explorar a fluidez no movimento. Cada figuração semelhante da melodia, é resolvida por movimentos análogos, mantendo as segundas ascendentes e descendentes no mesmo harmônico com movimentos curtos da vara, e traçando com a frase um grande arco descendente da segunda para a sétima posições. Independente da forma de produzir a nota ligada, esta possibilidade de mover por harmônicos e posições próximos, provavelmente contribui para uma frase bem mais conectada.

É comum observarmos trombonistas evitando as posições mais afastadas da primeira ao tocarem notas mais agudas, seja por dificuldade de afinação, alteração no timbre ou mesmo por falta de conhecimento de seu instrumento. Os caminhos propostos neste trabalho para a movimentação da vara sugerem que, uma nova atitude, que valorize a exploração das alternativas disponíveis no trombone, pode ser importante para expandir o repertório de opções e desenvolver o domínio técnico e musical do instrumento.