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A primeira funcionalidade disponibilizada pelo programa anaRch foi a possibilidade de localizar e contabilizar todas as ocorrências de qualquer intervalo ou par de notas nos

Estudos Melódicos. Este levantamento seria praticamente inviável se efetuado manualmente,

devido à grande quantidade de dados envolvidos. O primeiro volume dos Estudos Melódicos possui um total de dezoito mil trezentos e sessenta e quatro notas. Os três menores estudos são: o primeiro contendo cento e quatorze notas, o oitavo com cento e trinta e cinco notas e o terceiro com cento e oitenta. Os três maiores são: o septuagésimo com seiscentos e trinta e seis notas, o quinquagésimo primeiro com quinhentas notas e o trigésimo sétimo com quatrocentos e setenta.

Essa funcionalidade inicial é acessada pelo comando 'o' (Ocorrências) seguido de uma opção de formato de entrada ('p' ou 'i') e do código da informação desejada. Por exemplo, a consulta 'o p don3-mib3', produz a saída ilustrada na Figura 5.2. Pode-se notar claramente que o Estudo No. 29 é o que contém a maior incidência desse par, uma 3a menor ascendente formada com as notas DÓ3 (60) e MIB3 (63).

Aqui transparece uma primeira possibilidade de aplicação prática para o programa. Um trombonista interessado, por exemplo, em melhorar as ligaduras em intervalos de terças menores ascendentes, poderia identificar esses estudos e priorizar sua prática em função dessa informação, sem ter que vasculhar as partituras manualmente em busca de terças menores. A opção 'p', entretanto, mostra apenas as ocorrências de um par específico. O mesmo comando pode ser usado para consultar todas as instâncias do intervalo através da opção 'i'. Com esta opção, o programa mostra uma listagem semelhante, para cada um dos pares de notas que se encaixam na classificação especificada, incluindo totais por estudo e totais globais. Dependendo do tamanho do intervalo, porém, a saída do programa para esse tipo de consulta de ocorrências pode se tornar demasiadamente volumosa e dificultar a verificação visual, como mostra a Figura 5.3. Nesta figura, o lado esquerdo (A) mostra a tela do terminal com as primeiras informações, e o lado direito (B) mostra o fim da listagem. Os pares são mostrados das notas mais graves para as mais agudas. Embora não fique claro pela figura, essa listagem completa contém na verdade trezentas e cinquenta e sete linhas de texto. A listagem termina mostrando o total de ocorrências do intervalo em toda a obra (neste caso, 755 ocorrências somente o primeiro volume).

Para melhorar a visualização desses dados, o programa oferece uma outra forma de acesso a essa informação. Utilizando o comando 't' (totais) com a opção 'i' (intervalo), é possível resumir essas informações, suprimindo a localização e mostrando as quantidades em cada um dos estudos. A Tabela 5.1 é um resumo dos dados relatados pelo programa para esse comando. A listagem mostra a ocorrência de cada tipo de intervalo no material estudado. Os intervalos encontram-se dispostos de acordo com suas classificações como maiores, menores, diminutos, justos e aumentados. O campo "Estudo com Maior Incidência" lista o estudo que possui a maior quantidade do intervalo solicitado. O campo "Ocorrências" mostra a quantidade exata de ocorrências do intervalo naquele estudo, já "Total" mostra a contagem do intervalo em todo o primeiro volume dos Estudos Melódicos.

Totais de Intervalos

Intervalo Estudo com

Maior Incidência

Ocorrências Total

Segunda maior simples ascendente 37 96 2448 Segunda maior simples descendente 60 136 3682 Segunda menor simples ascendente 60 68 2121 Segunda menor simples descendente 39 70 2431 Terça maior simples ascendente 60 48 469 Terça maior simples descendente 51 25 578 Terça menor simples ascendente 60 47 755 Terça menor simples descendente 51 44 944 Quarta justa simples ascendente 51 31 735 Quarta justa simples descendente 51 16 392 Quarta aumentada simples ascendente 51 6 56 Quarta aumentada simples descendente 60 9 56 Quinta justa simples ascendente 44 11 227 Quinta justa simples descendente 33 21 387 Sexta maior simples ascendente 17 12 204 Sexta maior simples descendente 56 7 69 Sexta menor simples ascendente 38 08 108 Sexta menor simples descendente 37 15 161 Sétima maior simples ascendente 57 1 3 Sétima maior simples descendente 30, 51, 59 1 3 Sétima menor simples ascendente 20 4 64 Sétima menor simples descendente 14 3 36 Oitava justa simples ascendente 18 8 101 Oitava justa simples descendente 25 8 82 Segunda maior composta ascendente 13 2 6 Segunda maior composta descendente 55 1 1

Segunda menor composta ascendente 21,42 1 2 Segunda menor composta descendente 6 1 1 Terceira maior composta ascendente 18,35 1 2 Terceira maior composta descendente 25 3 5 Terça menor composta ascendente - 0 0 Terça menor composta descendente 3 2 2

Tabela 5.1 - Ocorrência de Intervalos nos Estudos Melódicos

A Tabela acima revela uma série de informações interessantes a respeito do conteúdo intervalar dos Estudos Melódicos. Em primeiro lugar destaca-se, como era de se esperar em um repertório originalmente vocal, uma maioria esmagadora de graus conjuntos. Os intervalos de segundas maiores, menores, ascendentes e descendentes perfazem juntos mais de 60% de todos os intervalos ligados da obra. Em seguida, chama atenção a gradativa redução na incidência à medida em que os intervalos aumentam de tamanho. Após a sexta maior, com exceção das oitavas e sétimas menores, ocorrem muito poucos intervalos. Em se tratando de intervalos compostos, pode-se dizer que sua incidência é mínima, se comparada à dos intervalos simples. O maior intervalo encontrado é o de décima maior ascendente, com apenas duas ocorrências em todo o primeiro volume. Esta ênfase em intervalos menores pode provavelmente ser atribuída à natureza vocal da obra e explica em parte a popularidade desses estudos dentro do repertório do trombone. A relativa restrição aos limites da oitava reduz o virtuosismo da obra e permite que esse material seja praticado com sucesso por trombonistas de diversos níveis de experiência. Alguns intervalos específicos ocorrem muito raramente, como é o caso das sétimas maiores, com apenas três ocorrências em cada direção. As sétimas ascendentes se concentram todas em um único estudo e as descendentes ocorrem uma única vez em três deles. Outro grupo de intervalos que pode ser considerado raro nessa obra é o das nonas descendentes que ocorrem apenas uma vez para cada tipo, maior ou menor. Nesse sentido, pode-se dizer então que os Estudos Melódicos de Rochut/Bordogni não são particularmente recomendados para o estudo de intervalos muito grandes, mas funcionam muito bem como exercícios de ligaduras para distâncias de até uma oitava. Então, dentro dos limites mencionados acima, o trombonista pode explorar uma ferramenta como o programa

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