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Inicialmente é importante destacar que, quando se refere à RSE, muitas definições e significados emergem. Este mosaico de definições é protagonizado por lideranças, formadores de opinião, pesquisadores e depois reverberado por diferentes canais de mídia.

Tomando como referência este conjunto de definições, algumas se destacam e são mais recorridas nos discursos e textos. Percebe-se, por exemplo, a RSE colocada como princípio ou valor pessoal, quer do cidadão comum quer de uma liderança empresarial. É percebida, ainda, como valor ou princípio organizacional, declarada nas cartas de princípios e políticas estampadas em quadros informativos no ambiente da empresa. Observa-se, também, a RSE sendo colocada como um movimento ou causa, quando assistimos a uma mensagem institucional de uma dada empresa ou ouvimos o discurso de lideranças empresariais que buscam mobilizar a comunidade empresarial para a inexorabilidade do tema.

Um projeto de atuação junto a uma comunidade especifica, visando contribuir com questões sociais, também é uma maneira de se perceber a RSE. Cabe ressaltar que esta definição talvez seja, a mais freqüente e, neste caso, tem validade tanto para o tema da comunidade como para a questão do meio ambiente.

Por último, e mais recentemente com o advento da Lei de Quotas para os Portadores de Necessidades Especiais, e estando o respeito à diversidade contido no conceito de RSE, ela passa a ser percebida também como uma medida de cumprimento das leis.

Exceto esta última, a RSE pode ser percebida em seu contexto geral como um conjunto de ações espontâneas, para além da lei, e que seguem em uma direção mais ampliada do que apenas o ambiente externo da empresa.

Cabe reforçar que este trabalho está orientado a partir das ciências da gestão e importa ressaltar, dentre as concepções listadas até aqui, que ele busca evidenciar a RSE como modelo de gestão de empresas, sem, contudo ignorar esta diversidade de concepções. Mas do que estamos falando quando falamos em RSE?

Para iniciar este debate, e sem perder o pano de fundo gerado no item anterior, a RSE aparece como fruto do impulso individual de líderes empresariais, num contexto onde o papel das empresas também sofreu transformações. Em outras palavras, o conceito tem relação, no mínimo com duas variáveis. A primeira relativa à visão de mundo do indivíduo e nasce a partir do seu olhar sobre a realidade e, a segunda, relativo ao contexto externo à empresa e surge como resposta a uma demanda colocada para o ambiente organizacional.

Outra questão diz respeito ao processo. Seja fruto do impulso individual ou de resposta organizacional, a RSE se constrói de forma gradual e cumulativa, iniciando-se pelas doações financeiras e chegando a grandes programas de articulação entre o privado e o público. Mas estes elementos não são levados em consideração quando se define este conceito. O elemento levado em consideração é o stakeholder, ou seja, do conjunto de interesses envolvidos na vida da organização, a qual parte interessada (stakeholder) a RSE

está se referindo naquele momento?

Melo Neto e Fróes (2001), Fischer (2002b) e Lima (2005) ao apresentarem as dimensões interna e externa da responsabilidade social da empresa, trouxeram, ao mesmo tempo, um reforço à constatação desta visão gradual sobre o tema, bem como à visão de que a RSE, em sua plenitude, resulta do esforço organizacional de atuação junto às partes interessadas internas e externas à empresa.

Assim, a dimensão externa da responsabilidade social da empresa se manifesta pelas relações com a comunidade e a sociedade15, governo, meio ambiente, clientes e fornecedores, enquanto a responsabilidade social na dimensão interna se caracteriza basicamente pelos funcionários da empresa. Ressalta-se que em alguns casos os acionistas são percebidos como stakeholders externos e em outros internos.

Uma questão é relevante e que diz respeito à definição. O que define melhor a RSE? O tipo de stakeholder envolvido ou a forma de agir com ele? Advoga-se que mais relevante do que dizer o que faz e para quem faz, é fundamental explicitar como faz.

Definir uma organização como socialmente responsável implica, em primeiro lugar, caracterizar a fundamentação que baliza a sua forma de agir com cada stakeholder e, em segundo, garantir que esta fundamentação seja suficientemente coerente para com qualquer stakeholder. Exemplificando: uma organização, ao desenvolver programas comunitários com um grupo de moradores da região onde a empresa está instalada, planeja e toma decisões de forma coletiva, porque defende a construção coletiva das decisões.

A mesma empresa quando desenvolve suas políticas de recursos humanos deve também usar a mesma fundamentação na construção da política de salários. Se na empresa, esta política for construída apenas pelos especialistas da área, pode-se dizer que os fundamentos das práticas com os stakeholders, comunidade e funcionários, não são coerentes entre si.

Em síntese, há diferentes formas de se definir o conceito de RSE: como princípio ou valor de um indivíduo ou de uma organização, como movimento ou causa, como projeto de Ação Social na comunidade ou como mecanismo de cumprimento de leis.

Na empresa, este conceito pode nascer da vontade individual de seus fundadores, dirigentes ou executivos, ou ser impulsionado por demandas externas podendo ser compreendido considerando dimensões internas e externas ou de forma integrada. Este

15 Os termos “sociedade” e “comunidade” foram utilizados aqui com significados distintos. O primeiro dando

conta da comunidade num sentido mais ampliado em termos geográficos enquanto o segundo caracterizando um grupo, ou diversos grupos, geograficamente próximos aos agentes sociais, no caso a empresa.

trabalho propõe tomar a RSE como modelo de gestão, que integrador seja capaz de gerar coerência nas práticas organizacionais.