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2 A VELHICE E A CULTURA DOS CUIDADOS EM ENFERMAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR

4 O CAMINHO PARA O ENCONTRO COM AS PARTICIPANTES E A COMPREENSÃO DOS MODOS DE CUIDAR DE IDOSOS HOSPITALIZADOS

4.2 O CAMPO DA PESQUISA

De morros circundada, um sol ardente, Rio das contas, um lençol de prata, Cantando endechas pelo sol poente E às noites de luar em serenata Datas idas, um moço inconfidente Fincou na terra brava, em plena mata Um marco que redoura o teu presente Sob um facho de luz que se desata

Refrão:

Jequié cidade sol, cidade sol é Jequié (Bis) A heráldica do teu fidalgo porte Força em teu povo a sagração viril Que em empolga as caminhadas do teu norte Que o teu futuro envolva em glórias mil Para que invejando a tua sorte me abisme Nas grandezas do Brasil

(Hino de Jequié, Bahia. Letra: Wilson Novais. Música: Maestro Alcyvando Luz)

O campo de pesquisa se refere ao local onde o estudo foi desenvolvido, ou seja, onde o fenômeno foi observado e investigado. Neste caso, uma Enfermaria de cuidados Clínicos de

um Hospital Geral público de referência, localizado em Jequié, município do estado da Bahia, distante 365 km da capital, Salvador, onde o sol é predominante e a temperatura pode alcançar os 48ºC.

O nome da cidade tem origem no “jequi”, objeto afunilado utilizado pelos índios mongóis para pescar. Registros históricos sobre a origem da cidade de Jequié relatam que o município se desenvolveu a partir da Fazenda Borda da Mata de propriedade do mineiro José de Sá Bittencourt. Ainda jovem, foi estudar em Coimbra e retornou para o Brasil como bacharel em ciências naturais. Pela sua capacidade empreendedora foi instituído Inspetor de Minas de salitre em Montes Altos e recebeu a incumbência de realizar estudos em mineralogia (IBGE, 2012).

Durante a sua administração, fundou uma fábrica de salitre e abriu uma estrada para escoar a produção, ligando Monte Alto ao litoral baiano, em Camamu. Nesta ocasião conheceu e se interessou pelo território rico em algodão, matas inexploradas e maniçoba. Em parceria com o irmão, comprou parte dessas terras e recebeu outra parte como sesmaria1. Quando José de Sá Bittencourt faleceu, as terras da fazenda foram divididas entre os herdeiros e aquelas localizadas à margem do Rio das Contas foram denominadas Fazenda Jequié. Algum tempo depois, as terras foram vendidas e loteadas e estradas foram abertas impulsionando o desenvolvimento do povoado (FERREIRA, 1958; IBGE, 2012).

Em 1880 foi criado o distrito de Jequié e em 1897, fundado o município. Desde então sofreu sucessivas reformulações administrativas e atualmente é composto dos seguintes distritos: Jequié (sede), Baixão, Boaçu, Itaibó, Itajuru e Oriente Novo.

O crescimento da cidade se deu a partir do comércio que utilizava o volumoso Rio de Contas como via de transporte. Uma movimentada feira atraía comerciantes (principalmente imigrantes italianos), mascates, tropeiros, canoeiros que transportavam hortifrutigranjeiros. As mercadorias eram revendidas na feira localizada na atual Praça Luís Viana. Uma terrível enchente ocorrida em 1914 destruiu grande parte do comércio da cidade que a partir de então começou a se desenvolver nas áreas mais altas. Esta catástrofe natural rendeu a Jequié o título de “Chicago Baiana”, pois essa cidade norte-americana foi destruída por fogo em1871 e teve também de ser reconstruída (IBGE, 2012).

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A Sesmaria era um sistema de distribuição de terras inicialmente adotado por Portugal e, posteriormente, adaptado para o território brasileiro até julho de 1822, às vésperas da Independência. Caracterizava-se pela transferência do estado para particulares da responsabilidade pela produção agrícola. No entanto, o estatuto jurídico vinculava o direito de posse ao início da produção, conforme prazos pré-estabelecidos, caso contrário este poderia ser perdido.

Jequié possui clima semi-árido, área territorial de 3.227,343km², densidade demográfica de 47,07 hab/km2, população total de 151.895 habitantes, sendo que 91,8% reside na área urbana e apenas 8,2% na rural. Dos jequieenses, 73.612 (48,5%) são homens e 78.283 (51,5%) mulheres (IBGE, 2011). Em 2014, a população estimada foi de 161.150 habitantes (IBGE, 2014). A Tabela a seguir apresenta dados da população residente de acordo com o último Censo realizado em 2010.

Tabela 1 - População residente por grupo etário e sexo, Jequié, Bahia, 2010.

Grupo Etário Homens Mulheres Total

Menor de 1 ano 1.071 1.010 2.081 1 a 9 anos 10.878 10.424 21.302 10 a 19 anos 13.832 13.476 27.308 20 a 29 anos 13.758 14.637 28.395 30 a 39 anos 11.323 12.082 23.405 40 a 49 anos 8.803 9.447 18.250 50 a 59 anos 6.500 7.324 13.824 60 a 69 anos 3.721 4.810 8.531 70 a 79 anos 2.402 3.067 5.469 80 anos e mais 1.324 2.006 3.330 Total 73.612 78.283 151.895

Fonte: IBGE (2011), dados do Censo 2010.

Ao observar a tabela 1, pode constatar-se que a população masculina é predominante até os 19 anos de idade. Somente a partir dos 20 anos, a população do sexo feminino supera a masculina, muito provavelmente pela maior exposição e morte dos homens por fatores externos e de sua migração para outros estados e cidades em busca de emprego.

A população idosa total do município é de 17.330pessoas (11,4%). As mulheres predominam em todo o grupo etário idoso, confirmando a feminização da velhice e exigindo um olhar específico para as suas necessidades biopsicossociais (IBGE, 2011).

Tabela 2 - População idosa residente por grupo etário e sexo, Jequié, Bahia, 2010.

Grupo etário idoso Homens idosos Mulheres idosas Total

60 a 69 anos 3.721 4.810 8.531 (49,2%) 70 a 79 anos 2.402 3.067 5.469 (31,5%) 80 a 89 anos 1.035 1.523 2.558 (14,8%) 90 a 99 anos 262 427 689 (4%) 100 anos e mais 27 56 83 (0,5%) Total 7.447 9.883 17.330 (100%)

Diante desta realidade demográfica, a UESB tem desenvolvido ações destinadas às pessoas idosas. A primeira dessas iniciativas foi a criação do projeto Universidade Aberta à Terceira Idade (UATI) em 1996 em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), gerando um leque abrangente de atividades intra e extramuros.

A partir da organização e mobilização da comunidade, as atividades extrapolaram os muros da Universidade, até , em novembro de 2001, foi criada a Associação de Amigos, Grupos de Convivência e Universidade Aberta com a Terceira Idade – AAGRUTI, contando com 26 Grupos de Convivência, aproximadamente 1.300 participantes. Em 2003, a Associação foi reconhecida como Organização de Utilidade Pública Municipal, Lei 969 de 06/06/2003 e de Utilidade Pública Estadual, pela Lei 8.733 de 07/09/2003(SANTANA, 2010).

Embora os idosos estejam mobilizados, não ocorreu ainda implantação do Conselho Municipal do Idoso em Jequié, mas houve avanços como a realização de Conferências de Saúde voltadas para este estrato social.

A participação da UESB na área do envelhecimento ocorre por meio de ações relacionadas ao ensino, à pós-graduação, pesquisa e extensão. No ensino, além do conteúdo teórico específicos dos cursos de enfermagem, educação física, fisioterapia, odontologia e medicina, os discentes realizam práticas de campo nos diversos contextos de cuidado em domicílio, ILPI, hospital e clínica-escola. A Universidade contribuiu também com a formação de 03 turmas de profissionais de saúde especialistas em Gerontologia, qualificando pessoas para o cuidado de idosos da comunidade jequieense e de municípios circunvizinhos. Outra grande conquista foi a implantação do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem e Saúde no ano de 2009 com produção de conhecimento científico na área.

Registra-se também a existência, nesta instituição, de grupos de pesquisa com participação em estudos locais, interinstitucionais e multicêntricos que contribuem para a produção de conhecimento científico na área gerontogeriátrica e divulgação dos mesmos em artigos e eventos nacionais e internacionais, além de constituir-se em subsídios para o planejamento de Políticas Públicas para a pessoa idosa no município.

As atividades de extensão voltadas para o envelhecimento são tradicionais na cidade. A comunidade, os profissionais de saúde e educação e os idosos encontram apoio para atualização, motivação e mobilização das questões concernentes à cidadania, segurança e saúde.

Aos 117 anos de emancipação, o desenvolvimento econômico da cidade está consolidado na pecuária e agricultura, na exploração de minerais, na distribuição de

derivados do petróleo e nas empresas do setor industrial e de comércio. De acordo com dados do IBGE, em 2010, o Produto Interno Bruto de Jequié era de 1.843.137 mil reais ocupando o 16º lugar dentre as cidades mais ricas do Estado. A renda per capita do município, era de R$ 473,92, ficando inferior à média do Estado de R$ 481,18.

Quanto à educação, Jequié conta com 86 estabelecimentos destinados ao ensino de Pré-escolares, 144 estabelecimentos de ensino Fundamental e 18 de Ensino Médio. Seu índice de Desenvolvimento Humano é de 0,665, inferior à média do Estado da Bahia que é de 0,666 e da média nacional, 0,727. Em relação aos 5.565 municípios do Brasil, o IDH do município de Jequié está na 2.776ª posição e dos 417 municípios baianos ocupa a 33ª posição.

Nos últimos anos, a cidade também tem-se destacado como pólo de formação e aperfeiçoamento profissional por meio de cursos de graduação e pós-graduação oferecidos pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia e demais faculdades particulares (FIEF, FAPEC, FIJ, FAJ, FTC, UNOPAR, entre outras). Na área de saúde são oferecidos os cursos de graduação em Enfermagem, Fisioterapia, Odontologia, Farmácia, Psicologia e Medicina.

No que tange a oferta de serviços de saúde, o município possui no total 117 estabelecimentos de saúde, 52 públicos e 65 privados. Em 2009 existiam 27 equipes de Saúde da Família com cobertura de 57,4% da população. Jequié dispõe também de um Hospital público Geral, um hospital privado e quatro clínicas conveniadas ao SUS. No total estão disponíveis 576 leitos para internação, dos quais 175 em estabelecimento público e 354 em estabelecimentos de saúde privado/SUS (IBGE, 2010).

No tocante a exames diagnósticos, possui RX de 100 a 500mA, RX para densitometria óssea, eletroencefalógrafo, eletrocardiógrafo, mamógrafo, ultrassom com doppler colorido, tomógrafo e ressonância magnética. Muitos desses equipamentos foram adquiridos em decorrência do aumento de casos de alta complexidade para tratamento na região, e a aquisição contribuiu também para a redução do custo e desgaste com o deslocamento de pacientes para a capital. Além disso, a implantação da UTI no maior Hospital Geral Público da cidade de Jequié acelerou este processo de aquisição de equipamentos devido a necessidade de melhorar a precisão e rapidez dos diagnósticos.

A tabela 03 resume a morbidade hospitalar por sexo, no ano 2012, semelhante ao encontrado no cenário brasileiro amplo: o predomínio de adoecimento e morte por problemas circulatórios, digestórios, respiratórios e endócrinos.

Tabela 3 - Morbidade hospitalar por sexo no município de Jequié, Bahia, 2012

Causas Masculino Feminino Total de Óbitos

Doenças infecciosas e parasitárias 11 11 22

Neoplasias 18 19 37

Distúrbios hematológicos e imunológicos

08 08 16

Distúrbios endócrinos, nutritivos e metabólicos

22 23 45

Transtornos mentais e comportamentais

02 Não informado 02

Doenças do sistema nervoso 04 08 12

Doenças dos olhos e anexos Não informado Não informado Não informado Doenças do ouvido e da apófise

mastóide

Não informado Não informado Não informado

Doenças do aparelho circulatório 82 90 172

Doenças do aparelho respiratório 79 42 81

Doenças do aparelho digestório 45 40 85

Doenças da pele e tecido subcutâneo

03 01 04

Doenças osteomusculares e do tecido conjuntivo

Não informado Não informado Não informado

Doenças do aparelho geniturinário 08 10 18

Doenças do período perinatal 10 05 15

Lesões, envenenamento, causas externas

25 09 34

Gravidez, parto, puerpério 00 04 04

Malformações congênitas, deformidades e anomalias

cromossômicas 01 Não informado 01

Sintomas, sinais e achados anormais em exames clínicos e

laboratoriais 04 03 07

Total 282 273 555

Fonte: IBGE, 2012.