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2 A VELHICE E A CULTURA DOS CUIDADOS EM ENFERMAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR

4 O CAMINHO PARA O ENCONTRO COM AS PARTICIPANTES E A COMPREENSÃO DOS MODOS DE CUIDAR DE IDOSOS HOSPITALIZADOS

4.3 HOSPITAL GERAL PÚBLICO: O CENÁRIO DA PESQUISA

A escolha do Hospital Geral como cenário etnográfico se deve ao fato de constituir-se no município como o único de exclusivo atendimento público e de servir como referência para os 26 municípios da microrregião de Jequié. São eles: Aiquara, Amargosa, Apuarema, Brejões, Cravolândia, Irajuba, Iramaia, Itagi, Itaquara, Itiruçu, Jaguaquara, Jequié, Jitaúna, Jiquiriçá, Lafaiete Coutinho, Laje, Lajedo do Tabocal, Maracás, Marcionílio Souza, Milagres,

Mutuípe, Nova Itarana, Planaltino, Santa Inês, São Miguel das Matas e Ubaíra. As precárias condições de saúde dos idosos demandam internamento e os cuidados destes, por vezes, tornam-se complexos em razão do grau de dependência que apresentam e do desenvolvimento de complicações advindas da cronicidade e do internamento prolongado.

O site oficial do hospital informa que o nome recebido pela instituição é uma homenagem a um ilustre médico baiano, nascido em Salvador e graduado em Medicina na UFBA em 1941. Fez curso de pós-graduação em Patologia na Harvard University e de Biologia no Massachusetts Institute of Technology, ambos em Boston, Massachusetts, EUA.

Retornou ao Brasil em 1956, tornou-se docente, por concurso, de Anatomia Patológica na UFBA. Em 1962 foi indicado para o ensino de História da Arte, manifestava vocação para estudos de natureza social e para análise das manifestações artísticas. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1983. O nobre médico é considerado um grande crítico de arte no Brasil. Dentre as suas inúmeras obras, destacam-se: Arte e Sociedade nos Cemitérios Brasileiros; Nordeste Histórico e Monumental; Aspectos da Arte Religiosa no Brasil - Bahia, Pernambuco e Paraíba; Rio Barroco; Rio Neoclássico; Artesanato Brasileiro; Riscadores de Milagres e The Impact of African Culture on Brazil.

Em terreno doado por ricos imigrantes italianos residentes na cidade, no ano de 1947, o Hospital Público, cenário desse estudo, foi inaugurado. Na atualidade se constitui em um dos principais serviços de referência regional do interior do Estado da Bahia, internando nas especialidades de Neurologia, Clínica Médica, Clínica Cirúrgica, Pediatria, Psiquiatria e Terapia Intensiva, além do Programa de Internação Domiciliar e Ambulatório de Urologia (Tabela 4). Desenvolve ações na área de assistência, pesquisa e ensino servindo de campo de estágio e pesquisa científica para estudantes de cursos de saúde de instituições de nível superior, pública e privada e de Escola Técnica de Enfermagem. Constantemente oferece atualizações de temas relevantes para a prática dos profissionais de saúde por cursos e eventos.

Tabela 4 – Leitos disponíveis por especialidade, no Hospital Público investigado, município de Jequié, Bahia, 2013.

Especialidades Número de leitos/SUS Cirúrgica

Cirurgia Geral 24

Ortopedia traumatologia 16

Neurocirurgia 03

Total de leitos cirúrgicos 43

Clínica

Clínica Geral 69

Neurologia 13

Neonatologia 03

Total de leitos clínicos 85

Complementar

UTI Adulto – Tipo II 10

Unidade de Cuidados Intermediários Adulto 03

Total de leitos complementares 13

Pediátrico

Pediatria Clínica 18

Total de leitos pediátricos 18

Outras especialidades

Psiquiatria 17

Total de leitos de outras especialidades 17

Total Geral de leitos incluindo complementares 176

Fonte: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNESNet)/Secretaria de Atenção à Saúde,

DATASUS, 2013.

A instituição hospitalar pesquisada foi construída no centro e no alto da cidade, de onde é possível ter uma vista privilegiada. As ruas que dão acesso ao hospital são asfaltadas e em suas proximidades existem vários consultórios médicos e clínicas de exame diagnóstico. A corrente de ar e o sol são intensos sobre o prédio verde e branco que se estende pelo térreo e primeiro andar. A entrada de veículos é controlada na guarita, restringindo o estacionamento para funcionários e demais pessoas credenciadas, como, por exemplo, professores que acompanham práticas de campo e estágio. Da guarita até o hospital propriamente dito, um jardim com flores e árvores da região alegra e traz frescor ao ambiente. No módulo anexo, à direita do jardim, funciona a Unidade de Coleta e Transfusão e estão em obras já avançadas a construção de uma moderna unidade de emergência com mais de 3.000m² e capacidade para 63 leitos. No módulo anexo, à esquerda, encontra-se o Núcleo de Ensino, Pesquisa e Práticas na Saúde (NEPP-Saúde), construído em parceria com a UESB cujas ações incluem a formação de alunos e a educação permanente de profissionais do hospital.

Ambulâncias chegam pela rampa e as pessoas também têm a opção de subir pela escadaria. Algumas, já ofegantes pelo esforço da subida se acomodam nos bancos

disponibilizados ou sentam na mureta de uma extensa varanda onde se abrem as portas do ambulatório, do Serviço de Arquivo Médico (SAME) e de Internação Domiciliar (ID). O acesso interno é organizado pela recepcionista. No hall de entrada encontram-se dois caixas eletrônicos que servem à comunidade e aos funcionários e um balcão para informações e controle do fluxo de entrada de pessoas. Funcionários e estudantes têm acesso livre com o uso de crachá e vestuário apropriado. No entanto, as visitas são restritas, duas por paciente, e acontecem diariamente das 14:30h às 16:30h.

No espaço térreo anterior funcionam a UTI, a unidade de cuidados intermediários, a Clínica Neurológica, a cozinha, o refeitório, o setor administrativo, e a unidade de emergência em espaço improvisado onde atuava a antiga maternidade que foi desativada e transferida para a Santa Casa Hospital São Judas Tadeu. Na parte térrea posterior, em módulos anexos, funcionam a farmácia, a lavanderia, o auditório, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, o setor de faturamento, a pediatria, a psiquiatria, uma capela e o necrotério. O primeiro andar abriga as unidades de Clínica Médica e Clínica Cirúrgica e o Centro Cirúrgico. Atuam no hospital um pouco mais de quinhentos profissionais da área de saúde: médicos das diversas especialidades, enfermeiros, técnicos (de enfermagem, de laboratório, patologia e radiologia), fisioterapeutas, nutricionistas, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, psicólogos, farmacêuticos, fonoaudiólogos e pessoal de apoio (lavanderia, auxiliar de escritório, telefonista, motorista, assistente administrativo, higienização, auxiliar de nutrição, recepcionista, entre outros). Desde 2007, a direção geral da instituição encontra-se sob a responsabilidade de enfermeiros.

Ao longo dos anos, o Hospital Público, cenário da pesquisa, foi expandindo a sua área e os serviços ofertados, em virtude do crescimento e desenvolvimento da cidade e região. Alguns serviços são reconhecidos por sua excelência, como, por exemplo, a pediatria que em 2012 recebeu o Prêmio Boas Práticas do Governo da Bahia pelo Programa Humanizar da Admissão à Alta Hospitalar. No entanto, a demanda, que ainda é maior que a oferta de serviços, e a precariedade da atenção primária superlotam a emergência com problemas que poderiam ser resolvidos em outra instância. Supõe-se, diante desta constatação, que o atendimento resolutivo e de qualidade só será viável quando houver estruturação da Rede de Saúde em seus vários níveis de Atenção.

A equipe de Enfermagem preza por um atendimento de qualidade ao paciente, respeitando os princípios do SUS de universalidade, equidade e integralidade e tem por missão desenvolver líderes capazes de servir de elo entre as pessoas e a instituição, objetivando prepará-los para conduzir o serviço com maestria, mesmo em situações adversas.

A Enfermaria de cuidados clínicos ou Clínica Médica (CM), local escolhido para a realização do trabalho etnográfico, está localizada no segundo piso e subdivide-se em Clínica Médica Masculina (CMM) com 16 leitos e Clínica Médica Feminina (CMF) com 14 leitos. Destina-se ao tratamento de pessoas com idade superior a 12 anos que se encontram em estado crítico e semicrítico, nas diversas circunstâncias de adoecimento, exceto cirúrgicos, obstétricos, ginecológicos ou hemodinamicamente instáveis.

No período de coleta de dados, 32 pessoas da equipe de enfermagem, distribuídas nos três turnos, eram responsáveis pelas atividades de cuidados na clínica.

4.4 AS PARTICIPANTES

Foram participantes do estudo as profissionais da equipe de enfermagem (enfermeiras e técnicas de enfermagem) do Hospital Público Geral, que atuavam na Clínica Médica por um período mínimo de seis meses, no cuidado direto a pessoas idosas.

Como relatado anteriormente, a equipe de enfermagem da Unidade de Cuidados Clínicos é formada por 32 mulheres: uma enfermeira coordenadora, nove enfermeiras assistenciais, vinte e duas técnicas de enfermagem, destas últimas, quatorze alocadas para o serviço diurno e oito para o noturno. Após convite pessoal e carta-convite (Apêndice A), deste grupo, aceitaram participar do estudo 21 profissionais: seis enfermeiras e quinze técnicas de enfermagem. Estas foram acompanhadas durante 12 meses em suas práticas de cuidado e concederam entrevistas formais e informais.

O Quadro I apresenta as principais características das profissionais de enfermagem participantes do estudo identificadas a partir de informações sociodemográficas e relativas à sua formação e prática profissional (Apêndice E).

O grupo de participantes foi predominantemente formado por profissionais em Idade Adulta Jovem (86%). A participante mais jovem tinha 25 anos e a mais velha, 42 anos. De acordo com Mosquera (1987) a fase adulta do desenvolvimento humano está subdividida em três etapas: a idade adulta jovem inicial, com idade aproximada entre 20 e 25 anos, a idade adulta jovem plena, que abarcando dos 25 a 35 anos, e, a idade adulta jovem final, compreendendo dos 35 aos 40 anos de idade. De acordo com o referido autor, as pessoas em Idade Adulta Jovem, em geral, possuem características como: vitalidade, impulsividade, desejo de demonstrar competência e disponibilidade. Nesta fase, espera-se alcançar os

objetivos pessoais referentes à definição profissional, inserção no mercado de trabalho, independência financeira e constituição da família.

Quadro 1 - Características das profissionais de enfermagem, participantes da pesquisa, atuantes na clínica médica de um hospital público do município de Jequié, Bahia, 2013.

CARACTERÍSTICAS ENFERMEIRAS (n=6) TÉCNICAS DE ENFERMAGEM (n=15) TOTAL (n=21) GRUPO ETÁRIO 25-29 anos 3 4 7 30-34 anos 1 4 5 35-39 anos 1 5 6 40-44 anos 1 2 3 RAÇA/COR Branca 1 1 2 Preta 0 4 4 Parda 5 10 15 FILHOS Sim 2 6 8 Não 4 9 13 RELIGIÃO Católica 5 8 13 Evangélica 1 6 7 Sem religião 0 1 1 RENDA De 1 a 3 salários mínimos 1 15 16 De 4 a 7 salários mínimos 5 0 5 TEMPO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL 1 a 3 anos 1 4 5 4 a 6 anos 1 4 5 7 a 9 anos 2 3 5 10 anos e mais 2 4 6

TEMPO QUE TRABALHA