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Outro fato que pode nos fazer refletir a respeito da divisão histórica banto sudanesa são as próprias versões históricas que giram em torno do próprio vocábulo candomblé. Apesar de não ser o principal foco do nosso trabalho, é importante ressaltar como se relaciona a religião diante das manifestações folclóricas aqui estudadas.

De acordo com Mello e Souza (2007), apesar de o termo pertencer à língua banta, no Brasil o candomblé se refere a cultos religiosos de origem iorubá e daomeana (historicamente vinculados ao grupo sudanês). Para além de tais discussões, o fato é que hoje algumas danças afro-brasileiras quando trabalhadas na dimensão mística e ritualística fazem referência ao culto dos orixás em seus cortejos, seja em seu imaginário ou na presença de figuras dramáticas presentes nos cortejos de suas manifestações.

As primeiras referências dos candomblés no Brasil datam do século XIX. Em uma breve definição, o candomblé poderia resumir-se na prática de oferendas aos ancestrais (orixás46) e no processo de iniciação dos praticantes em um ritual de possessão.

Os orixás são entidades ancestrais e heróis divinizados fundadores de linhagens, reinos e cidades-estado, sendo não só a origem da organização social e política, como também os responsáveis por orientar toda a ação dos homens em sua vida terrena. Desde aquela época, os devotos que entravam em contato com os orixás por meio da possessão eram conhecidos como pais e mães de santo, fato que para Mello & Souza (2007) já imbuía a forte influência católica, presente no vocábulo santo.

Segundo Mattos (2009), o candomblé baseado no culto aos orixás dos povos iorubás também chamados de nagôs foi formado na Bahia do século XIX, quando o tráfico trouxe do continente africano os escravos originários de várias cidades ditas iorubás como Queto, Ijexá, Efã, entre outras. No Brasil, estas cidades acabaram emprestando o nome aos terreiros de sua influência. Em Pernambuco, ainda segundo esta autora, o candomblé conhecido como xangô, recebeu a influência da nação Egba.

Dessa maneira, para a autora, o candomblé, além de ser uma forma de expressão religiosa, também servia para marcar os espaços das diferentes nações47 africanas.

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Segundo a historiadora Marina de Mello e Souza, a denominação orixá é dada quando a influência iorubá é maior e voduns, quando a influência daomeana se destaca.

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Porém, para além de tais questões possíveis de nos levar a caminho de uma história tão multifacetada, o fato que queremos ressaltar para esta discussão, é o cunho social que representava as nações através dos relatos dos periódicos da época. Pois, eram comuns as reclamações nos jornais sobre as manifestações das danças afro-brasileiras, vistos pela elite da época como perturbadores da paz e do sossego público. Foi então se construindo um caminho de intolerância com os folguedos afro-brasileiros.

Na virada do século XIX para o XX, espelhadas no liberalismo europeu e nas convicções ‗científicas‘ correntes na época, que acreditavam na inferioridade racial dos negros, as práticas culturais afro-descendentes passaram a sofrer intensa perseguição policial. As religiões foram criminalizadas, acusadas de práticas de curandeirismo/charlatanismo, sendo seus adeptos presos e denunciados por exercício ilegal da medicina. Os batuques, fossem eles de Xangô ou de Maracatu, invariavelmente recebiam inspeções da polícia, que prendiam seus praticantes e recolhiam os objetos de culto que encontravam nos terreiros (COUCEIRO, 2010, p. 45).

Os registros de escritores como José Lins do Rêgo, em seu romance, ―O Moleque Ricardo‖, também nos trazem uma impressão importante desse período. Para o escritor, assim como para Mário Sette as manifestações de dança afro-brasileiras refletia algo sombrio, que levava às lembranças do tempo de escravidão dos negros.

De acordo com Lima (2005), além desse sentimento negativo que era imbuído também se concretiza como fator determinante para essa intolerância, o barulho das tocadas nos terreiros de nações, que era malvisto pela população. Além dessa ideia de incômodo que houve também um período em que pouco ou nada se falou a cerca das manifestações. Podemos dizer ter sido um período em que se discutia a identidade que deveria prevalecer no Brasil, tudo que remetesse ao negro ou a matriz africana, era não só rejeitado como também ocultado, principalmente quando o tema era carnaval ou festa.

Para Couceiro (2010), após essa fase, a partir dos anos 30 do século XX, quando ocorre a divulgação das ideias modernistas e o 1º Congresso Afro-Brasileiro, podemos ver uma modificação na visão da sociedade em relação as manifestações afro-brasileiras.

Destacamos intelectuais da época, em busca de símbolos que reafirmassem a pernambucanidade, tiveram como fonte inspiração a cultura popular. Entre eles e autora cita na luta pela legitimação das danças afro está o poeta Ascenso Ferreira, músicos e compositores como Capiba e Nelson Ferreira, pintores e fotógrafos como Lula Cardoso Ayres e Alexandre Berzin e o escultor Abelardo da Hora.

Couceiro ainda nos fala do surgimento da Noite dos Tambores Silenciosos48, que foi criada em 1961 pela iniciativa do jornalista e folclorista Paulo Vianna, juntamente com alguns intelectuais da época e participantes dos maracatus.

Por outro lado, para Lima (2005) a década de 60 é vista como uma fase do auge da decadência da cultura afro-brasileira. Essa decadência, segundo o autor, tem sua origem vinculada às teorias do branqueamento, já referenciada na pesquisa em momento anterior, que se desenharam no país e da forte repressão sobre as religiões afro principalmente na Primeira República e no Estado Novo.

Mas os movimentos negros organizados do país e os movimentos culturais, surgidos nas décadas de 80 e 90, que promovem a ideia de pernambucanidade, redesenham com grande contribuição para que a cultura afro-brasileira passasse por um processo de valorização da sociedade pernambucana como um todo.

Acontecimentos como, o surgimento do grupo de maracatu Nação Pernambuco, no final dos anos 80, e a eclosão do movimento Mangue Beat, eternizado através do ícone da música Chico Science e do Grupo Nação Zumbi, entre outros, propiciaram nova fase para a reflexão das manifestações afro-brasileiras.

É importante também citar que, pelo viés do ensino da dança, o Balé Popular do Recife também se concretizou como um grande aliado para a construção desse momento favorável.

Através do ensino do método brasílica49tanto em sua sede, como em diversas escolas (públicas e particulares) do Recife e Olinda, o Balé Popular do Recife contribuiu para que diversos outros folguedos do Nordeste fossem estudados e vivenciados por diversas camadas sociais do estado. Contribuindo também para a formação de tantos outros grupos folclóricos e para folclóricos, que viabilizaram cada vez maior promoção dança afro-brasileira.

Desta forma, é possível ver que a cultura afro-brasileira passou por longo caminho, um percurso que está intimamente ligado às questões políticas e históricas vivenciadas. Da omissão e rejeição ao estado de identidade, as danças, e do caráter marginal à oficialização e

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A Noite dos Tambores Silenciosos tem como objetivo prestar uma homenagem à memória dos negros que morreram no cativeiro. O espetáculo tem se repetido desde 1961 até os dias de hoje, fazendo parte da programação das segundas-feiras do carnaval do Recife.

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O Método ‗Brasílica de Arte‘, criado por André Madureira, fundador do Balé Popular do Recife, foi desenvolvido a partir dos resultados das pesquisas realizadas sobre a cultura brasileira, inspirando-se nas danças, ritmos, interpretações, vestimentas e artesanato. O objetivo do método é levar a arte popular aos palcos, escolas, e instituições culturais e sociais, através de uma linguagem artística e pedagógica, intitulada Brasílica.

ícone do carnaval, é possível visualizar os imaginários sociais que foram constituindo socialmente as suas manifestações.

Desse modo, dentre inúmeras possibilidades, estamos seguindo os sinais, indícios, para o desenvolvimento do trilhar que nos convidam ao diálogo de nosso percurso metodológico, sobre o qual continuamos nossa conversa.

4 A DANÇA

METODOLOGIA

A ponte é para atravessar para

unir caminhos e se encontrar.

É para ir e para voltar

Caminhar para saber onde vai

Adriana Ribeiro de Barros

(2011)

A vida é complexa e, por ser assim, difícil de ser analisada por um único enfoque. O (A) pesquisador (a), ao desenvolver pesquisas de caráter qualitativo, é condição singular e inegociável incorporar tais princípios. Sobretudo, ao ousar um mergulho, com curiosidade, criticidade e criatividade, na frequência ritmada, ao som de notas graves ou agudas da realidade, com mutações que afetam e determinam os fatores políticos, sociais, ideológicos, educacionais, culturais e econômicos no mundo contemporâneo (FRANÇA, 2003, p.79).

Compreendemos que existem diferentes maneiras de pesquisar, entretanto, é fundamental a busca de elementos para orientar o caminho. Elementos importantes que estabelecem reflexão desde o objeto de estudo aos procedimentos de coleta e análise, para fugir de uma linearidade de pensamento enquanto unificação de padrões de análise na medida em que ―o pensamento linear é um dos instrumentos mais eficazes para criar e manter atitudes preconceituosas‖ (MARIOTTI, 2000, p.66).

Nosso olhar metodológico é guiado através de uma perspectiva de que construir o conhecimento, conforme destaca Morin (2001), significa situar as informações em seu contexto. Integrar o conhecimento ao contexto é torná-lo pertinente, isto é, conferir-lhe significado e sentido, possibilitar sua percepção global visto que o todo tem qualidades que não são encontradas nas partes, e certas propriedades das partes podem ser inibidas pelas restrições provenientes do todo, reconhecer seu caráter multidimensional e enfrentar sua complexidade, que é a integração entre a unidade e a multiplicidade.

Nessa perspectiva, Rosa (2002, p.18) compartilha com o pensamento de França (2003) ao afirmar que ―[...] a pesquisa não é um mero procedimento de resolução de problemas educativos, mas um meio de produzir a autonomia do professor‖, ao que acrescentamos a capacidade de coproduzir e refletir sobre as teorias e as práticas de ensinar. É por meio da autonomia que as possibilidades de sua produção podem se caracterizar como processo em um contexto dinâmico de vir-a-ser, decorrente da reorganização reflexiva que permite a passagem do entendimento frente a um conhecimento para outro mais ampliado.

Essa concepção parte do princípio da mutação permanente do conhecimento, do desvelamento contínuo da realidade que nos resultados de uma pesquisa e suas possíveis contribuições é um processo inacabado, pois a cada encontro, surgirá um novo.

O envolvimento com processo de pesquisa faz emergi ambiente favorável à conscientização de um espírito científico como parte integrante e indispensável ao ritmo próprio da pesquisa apontando elementos que estabeleceram formas e atenderam à inquietação que norteou o estudo. Como diria Bachelard (1996, p.18), ―para o espírito

científico, todo conhecimento é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído‖.

Assim, é no diálogo de construção na realidade social que esteve presente o caminho metodológico, orientado a partir de um processo de pesquisa que supere as lacunas da simples constatação da realidade e mergulhe na concreta investigação de conhecimentos cientificamente elaborados. Compreender as subjetividades e o universo de significados que constituem o objeto social foi o nosso trajeto.

Neste sentido, aos procedimentos adotados que abarcam o que denominados metodologia, e essa ―inclui as concepções teóricas da abordagem, o conjunto de técnicas que possibilita a apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador‖ (MINAYO, 1998, p. 22).

A abordagem qualitativa, nas palavras de Minayo (1994, p.21-22), responde a questões muito particulares - trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações. Preocupa-se com a relação dinâmica entre a realidade e o objeto estudado, tomando a realidade como um todo que, mesmo fazendo parte de uma realidade, apresenta características próprias.

Isto porque nas metodologias qualitativas há uma possibilidade de conhecer melhor os seres humanos e compreender como ocorre a evolução das definições de mundo destes sujeitos, fazendo uso de dados descritivos derivados de registros e anotações pessoais, de falas de pessoas, de comportamentos observados. O sujeito observador pesquisador é parte integrante do processo de conhecimento e para além de interpretar, compreende os fenômenos através do sentido e significado50 que é atribuído pelo sujeito pesquisado.

Sendo preocupação com o processo, concebemos os colaboradores – professores, gestora, alunos e representante da comunidade - não como um dado inerte e neutro, pois possuem significados e relações permeados por uma dialética, que segundo Kosik (1989, p.15) é o pensamento crítico que se propõe a compreender a ―coisa em si‖.

Por base na dialética do problema central do estudo - Quais as possibilidades e os desafios que os espaços escolares oferecem para sistematizar ações educativas para a dança

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Para abordar o sentido e o significado, tomamos como referência o conceito do Coletivo de Autores (1992): o sentido exprime um atributo pessoal, uma subjetividade às significações e o significado é atribuído às representações, às ideias, os conceitos produzidos pela consciência social – as significações objetivas.

afro-brasileira qual têm sido o rebatimento dessas ações para com a abordagem da cultura afro-brasileira considerando o seu sentido e significado?

O caminho que buscamos nos possibilitou conhecer melhor os colaboradores da pesquisa e compreender como ocorre a evolução das definições de mundo deles fazendo uso de dados descritivos derivados de registros de suas falas. ―O material obtido nessas pesquisas é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimentos; inclui transcrições de entrevistas e de depoimentos, fotografias, desenhos e extratos de vários tipos de documentos‖ (Ludke e André, 1986, p.12), ou seja, dados predominantemente descritivos existe preocupação maior com o processo que com o produto.

Aprofundar, portanto uma investigação é (re)interpretar o modo de pensar sobre uma determinada realidade, e pensar essa realidade é compreender seu processo, ou seja, a forma como os pesquisados entendem e se relacionam com as questões que estão sendo focalizadas, portanto o significado e o sentido é o foco de atenção do pesquisador. Isso porque revelar um objeto singular num conglomerado requer uma perícia especial, uma análise cuidadosa disponíveis, no sentido de buscar um significado numa realidade complexa, num espaço profundo de relações (FRANÇA, 2000).

E é nas relações que outros participantes colaboram para o desenvolvimento e realização desta pesquisa e encontra manifestação em outros estudos desenvolvidos por autores que visam contribuir para a possibilidade do produzir novos outros caminhos a transformar determinadas relações, que como nós, optam pela etnometodologia como abordagem metodológica.51

Os princípios críticos dialéticos da etnometodologia os quais vamos apresentar a seguir fundamentam a referida abordagem que surge na Califórnia nos anos 60 como uma corrente sociológica americana. E, enquanto concepção metodológica desvela o mundo vivido dos atores da pesquisa.

Coulon (1995, p. 8) nos relata a estrutura do pensamento que baseia os princípios da etnometodologia. Para o autor,

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Nesta pesquisa, apresentamos trabalhos que têm a etnometodologia como abordagem metodológica: Pires (2002), França (2003), Guimarães (2006), Santos (2007) e Kohl (2007).

Analisando as práticas ordinárias no aqui e agora sempre localizado das interações, ela vem somar-se a outras correntes mantidas à margem da sociologia oficial, em particular a sociologia de intervenção que leva também em conta o fato de todo o grupo social ser capaz de se compreender a si mesmo, comentar-se, analisar-se. [...] existe mesmo um vínculo muito estreito entre a etnometodologia e as sociologias de Durkheim e de Weber. A Etnometodologia não é um ramo separado do conjunto da pesquisa em ciências sociais. Pelo contrário, acha-se em relação, mediante múltiplas ligações, com outras correntes que, como o marxismo, a fenomenologia, o existencialismo e o interacionismo, alimentam a reflexão contemporânea sobre a nossa sociedade.

Ao adotarmos a etnometodologia passamos a entender como meio primordial as abordagens microssociais dos fenômenos, dando maior importância à compreensão do que à explicação. Desta forma, ela valoriza exatamente as interpretações, que passam a ser o objeto essencial da pesquisa. ―Dá-se aí a mudança de paradigma sociológico com a etnometodologia, passa de um paradigma normativo para um paradigma interpretativo‖ (COULON, 1998, p.10).

O referido autor define essa abordagem como a ciência dos etnométodos, isto é, procedimentos que constituem o raciocínio sociológico prático. Em outras palavras, constituí em analisar as maneiras habituais de proceder que são mobilizadas pelos atores sociais comuns nas ações assíduas em sua vida cotidiana.

A etnometodologia é a pesquisa empírica dos métodos que os indivíduos utilizam para dar sentido e, ao mesmo tempo, realizar as suas ações de todos os dias: comunicar-se, tomar decisões, raciocinar (ibid, p. 31).

A obra Stuties in Ethnomethodoly, do sociólogo Haroldo Garfinkel, é o marco dessa forma de fazer pesquisa e encontramos nela sua preposição de que a etnometodologia se interessa pelos mesmos fenômenos que a sociologia trata.

Toma base teórica e epistemológica, e rompe radicalmente com pensamentos da sociologia tradicional, é então vista por ele como uma teoria e uma perspectiva possível e viável, de fato concreta de pesquisa. Nesse sentido, Coulon (1995, p.15) afirma que,

A palavra ‗Etnometodologia‘ não deve ser entendida como uma metodologia específica da etnologia ou uma nova abordagem metodológica da sociologia. Sua originalidade não reside aí, mas em sua concepção teórica dos fenômenos sociais. O projeto científico dessa corrente é analisar os métodos – ou, se quisermos, os procedimentos - que os indivíduos utilizam para levar a termo as diferentes operações que realizam em sua vida cotidiana. Trata-se da análise das maneiras habituais de proceder, mobilizadas pelos atores sociais comuns a fim de realizar suas ações habituais.

Sendo assim, em qualquer que seja o objeto investigado, o que nos media é o sentido e significado que os atores atribuem. A etnometodologia se preocupa com as atividades corriqueiras da vida cotidiana, tentando compreendê-las como fenômenos. É nessa direção que ao tentar compreender a ação cotidiana dos atores-dançantes, as mensagens emitidas nas diversas formas de comunicação, as objetividades e subjetividades presentes nas práticas pedagógicas a etnometodologia aponta possibilidades teóricas para adentrar nesse universo e identificar possíveis transformações e implicações sociais. As contribuições que a abordagem etnometodológica traz para uma pesquisa em educação são referendadas por Macedo (2006, p. 78):

Etnometodologia e educação fundam um encontro tão seminal quanto urgente, em face da parcialidade compreensiva fundada pelas análises ‗duras‘. Pelo veio interpretacionista etnometodólogos interessados no fenômeno da educação buscam o tracking dos etnométodos pedagógicos, isto é, uma pista pela qual tetam compreender uma situação dada, bem como praticam a filature, ou seja, o esforço de penetrar compreensivamente no ponto de vista do autor pedagógico, em suas definições das situações, tendo como orientação forte o fato de que a construção do mundo social pelos

membros é metódica, se apoia em recursos culturais partilhados que

permitem não somente o construir, mas também o reconhecer.

Dessa maneira, este estudo, com a presente metodologia, ―compreende o outro, isto é, uma individualidade, uma personalidade ou grupamento humano, uma formação sociocultural própria e dinâmica‖. (LUZ, 1983, p. 16) considerando a presença dos diversos fatores que interferem e interagem nas relações estabelecidas. ―Define-se a interação como uma ordem negociada, temporária, frágil, que deve ser permanentemente reconstruída a fim de interpretar o mundo‖ (COULON, 1995, p.16).

Como forma de apresentar e visualizar os conceitos-chave52 dessa abordagem metodológica, tomando como referência a linguagem adotada por França (2003, p.89), trazemos a construção realizada pela autora em tese de doutorado o qual tem como base os princípios da etnometodologia. É um vocabulário bastante particular com a intenção de facilitar, compreender e captar, suas particularidades.

No esquema abaixo apresentamos os conceitos-chaves da abordagem etnometodológica: realização, indicialidade, reflexividade e accountability.

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Ao prefaciar sua mais importante obra, Studies in Etnomethodology, Harold Garfinkel destaca a importância da utilização do conceito accountability, conceito a partir do qual Louis Quéré, em Arguments

Esquema 1 – Relacionando os conceitos-chaves

Fonte: FRANÇA, 2003.

A prática/realização – Este conceito compreende a ideia de atividades práticas, circunstâncias práticas e raciocínio sociológico prático. Abarca estudos empíricos. São ideias e aplicações que os atores realizam em situações concretas. Abordar a prática pedagógica na escola, relacionada às ações educativas que envolvem a dança afro-brasileira e qual tem sido o rebatimento dessas ações na prática docente, é compreender a realidade social criada por seus