• Nenhum resultado encontrado

O Mito da Democracia Racial: Os Mitos existem para esconder a realidade

No Brasil, as categorias raça e preconceito de cor foram marcadas por hierarquias e posições. Com a ideia de reconstruir e consolidar a nação13, a condição do negro, libertados do sistema escravocrata, tornou-se tema central para elite intelectual ao final do século XIX.

A presença do negro entre as raças14 que fazia parte a população do Brasil era definida enquanto impedimento para que o país se afirmasse diante de outras nações (Skidmore, 1976; Schwarcz, 2001, 2001). A questão da raça era vista então como um dos pilares para pensar o progresso da nação. E o negro passava então a ser um problema para os Estados-Nação. Isso porque se estabeleceu a crença de que o atraso do continente africano seria herdado, consequentemente, para a ―raça negra‖ e para as elites isso era inato. Coloca desta forma, o negro na escala inferior das raças.

Podemos dizer então que raça foi um dos primeiros conceitos que se criou para estabelecer a desigualdade biológica entre os diferentes grupos (Elias, 1990). Como forma de agregá-los, unificou-se a pluralidade africana a favor de uma identificação, ainda que na África seja composta de diferentes grupos com distintas localizações geográficas, históricas e culturais (MUNANGA, 1988; RIBEIRO, 1995).

13

Nos encontros de Estudo Individualiza realizado com Profº. Drº Moises Santana tive a oportunidade de conhecer e debater em torno do livro: A invenção do ser negro: Um percurso das ideias que naturalizam a inferioridade dos negros de Gislene Santos (2002). Nele, segundo a autora observamos que a necessidade de se construir uma nação ―civilizada‖, aos moldes das nações eleitas como ideais de desenvolvimento, é uma marca na construção histórica brasileira. Para nós essa marca é repensada e construída diariamente, inclusive na atualidade (estado capitalista) através de seus ‗modos‘ de hierarquizar e hegemonizar. Estudo Individualizado é uma disciplina do programa de pós-graduação em educação na qual se organiza em encontros de orientações, debates e discussões para ampliação de temas frente a temática trabalhada em dissertação de mestrado e/ou doutorado.

14

A grande influência que a hegemonia da raça branca orientava (e ainda orienta) a hierarquia das raças foi organizando ao longo da história um grupo ―rácio-cultural‖ dominante, através de teorias e crenças, bem como, de intencionalidades políticas que se apropriava da negação da realidade, principalmente na rejeição do negro. Sem ―instrução nem senso de responsabilidade, pois está só existe quando é possível escolha e ação‖, os negros, mesmo na condição de libertos, estavam subjugados a outras restrições (Abolição).

[...] o negro torna-se então, sinônimo de ser primitivo, inferior, dotado de mentalidade pré-lógica [...] No máximo foram reconhecidos nele os dons artísticos ligados à sua sensibilidade de animal superior (MUNANGA, 1988, p.9).

Os sentidos e significados criados dos valores raciais mediante as concepções construídas baseadas nas características físicas foram utilizados para ampliar as diferenças sociais e culturais. Essas, porém camufladas através do que se tornou um ―mores‖, como dizem alguns sociólogos, algo intocável, a pedra de toque da "contribuição brasileira" ao processo civilizatório da humanidade: o mito democrático racial.

A expressão ―democracia racial‖, segundo Guimarães (1990), estudioso do assunto, teria surgido em discursos intelectuais da década de 30. O termo foi oficialmente empregado pela primeira vez por Arthur Ramos, em 1941, durante um seminário de discussão sobre a democracia no mundo pós-fascista, mas é apenas nos anos 50 que a crença na democracia racial tornou-se consenso.

Na década seguinte, esta crença atingiu seu ápice, designando um ideal de igualdade e respeito que foi incorporado à fala de intelectuais e universitários por todo o Brasil, como uma cura para o trauma da escravidão negra.

Mas esta crença não passa apenas por mito construído ao longo de nossa história que possibilitou e ainda possibilita uma das formas mais perversas de racismo para que se propagasse no Brasil, aquela mascarada pelo status democrático, cuja aceitação e compreensão das diferenças não passam de pura dissimulação. Alguns estudiosos apontam que este mito teria sido um dos mecanismos de dominação ideológica mais poderosa produzido no país, tanto que, apesar de toda a crítica que a ele foi feita, o mito permanece bem atual.

Desde o primeiro encontro entre o colonizador português, o escravo africano e o nativo indígena, a fábula das três raças é contada de geração a geração, propagando o fato de que o povo brasileiro é resultante da mistura entre brancos, negros e índios. A fábula das três raças pode ser ilustrada por um triângulo que coloca o branco, o negro e o índio como formadores de um novo padrão racial. Nele, os brancos situam-se no vértice superior, enquanto os últimos nos vértices inferiores. Na nossa sociedade em que cada coisa tem o seu lugar demarcada, cada lugar tem sua coisa (DaMatta, 1981), os negros passam a ter posição demarcada. Embora, nem houvesse necessidade disso, porque num sistema como o nosso, as hierarquias asseguram a superioridade do branco como grupo dominante.

Podemos afirmar isto, através da ―identidade negra‖ que se criou pelo discurso do branco, a suposta superioridade revela pelos negros para as artes corporais, que na visão de Souza (1983) esses qualificados corporais privilegiam na ―identidade negra‖, um contraponto à ideia da racionalidade da ―raça branca‖. Essa reflexão vai indicando os lugares que os afrodescendentes devem ocupar na sociedade brasileira.

Freyre, em Casa Grande e Senzala (1933), consolidam o mito baseado na dupla mestiçagem biológica e cultural entre as três raças. Essa ideia traz em sua essência a crença de que o Brasil, fruto desta mistura, é um lugar onde as relações ocorrem de forma harmônica e pacífica, em um verdadeiro lugar de respeito racial e humano. Permitindo,

[...] às elites dominantes dissimular as desigualdades e impedindo os membros das comunidades não-brancas de terem consciência dos sutis mecanismos de exclusão da qual são vítimas na sociedade. Ou seja, encobre os conflitos raciais, possibilitando a todos se reconhecerem como brasileiros e afastando das comunidades subalternas a tomada da consciência de suas características culturais que teriam contribuído na construção e na expressão de uma identidade própria (MUNANGA, 1984, p.184).

Para Florestan Fernandes, os mitos nascem para tentar mascarar uma realidade e acabam por revelar a realidade íntima de uma dada sociedade. Outros autores também apontam para a tese do ―branqueamento‖ da população brasileira como catalisador da ideia do mito. Segundo essa tese, a partir da mistura da raça branca (superior) e da raça negra (inferior), haveria um melhoramento da genética dos brasileiros, ou seja, uma tentativa de ‗melhorar‘ a raça.

Esse ideal de branqueamento15foi incutido na sociedade brasileira ao longo de toda sua história, de tal maneira, que levou o próprio negro à sua autonegação, levando a uma fragmentação das identidades raciais no país. E tornou-se possível com a chegada de imigrantes europeus para suprir a necessidade de mão de obra qualificada, pois só existiam aqui, negros libertos, posto que não possuísse qualificação desejada para assumir os cargos que eram oferecidos, pondo desta forma o ideal de ―branqueamento‖ como uma solução para

15

Quando procuramos compreender o processo que naturalizou a condição do negro, ou seja, as ideias que foram condição para tornar invisível a população negra vão entender como foi se consolidando o racismo estrutural, revelado ora pela invisibilidade (quase) da raça, ora pelo mito da democracia, que ao longo dos tempos organizou, a luta pelo rompimento desses mecanismos. Os esforços das autoridades no sentido do branqueamento como a condição bom positiva da raça relacionada a isto a uma visão de modernizá-la, nos faz perceber esta visão como sendo um dos pilares das desigualdades raciais no Brasil. As presentes reflexões geraram a possibilidade de compreender outros sentidos e significações da questão racial no Brasil, para além da polaridade racismo x antirracismo. O fato é que construímos uma cultura do racismo. A ponto de rejeitarmos mudanças justificando como única forma de sobrevivência aquela existente. Ao lado da política do branqueamento, do modelo europeu a ser seguido, segue também uma ideologia, uma forma de pensar racista, ou seja, o ‗ser negro‘ na perspectiva do branco é ser algo negativo.

o problema racial brasileiro onde a miscigenação era um processo de extinção das características negadas nos indivíduos. Sendo incorporado pela população à ideia de desvalorização da estética negra e em contrapartida a valorização da estética branca, apresentando uma tentativa de ‗melhorar‘ a raça através dos casamentos inter-raciais. Então, notamos que a miscigenação no Brasil era descrita como a esperança para a diminuição do atraso do país, pois o negro era algo desagradável que causava mal-estar e muito prejuízo.

Em lugar da raça, admitia-se no país apenas uma classificação baseada na cor, que pretendia ser encarada como uma mera descrição objetiva da realidade sem implicações político econômico-sociais, tais como preconceito e discriminação, a cor passa a designar uma hierarquia classificatória onde aqueles nomeados de branco são considerados melhores e os considerados negros como piores, inferiores.

O mito da democracia racial juntamente com o intuito do ―branqueamento‖ social gera nessa sociedade várias consequências práticas: desenvolveu-se a crença de que não existe raça no Brasil, isso porque se entende por raça, agrupamento de indivíduos que compartilham características hereditárias sendo restrito a apenas este grupo de indivíduos. Consequentemente como não existiam raças, não cabia falar da população negra. Assim permaneceram negros, índios e outras minorias, as margens da sociedade brasileira.

Positivo ou não, o fato é que essa situação possibilitou às elites brasileiras, que comandavam o país, difundir a ideia de que o Brasil era livre de preconceitos e discriminação racial e as circunstâncias histórico-sociais apontadas fizeram com que esse mito manipulasse os mecanismos sociais através da defesa dissimulada de atitudes, comportamentos e ideais aristocráticos da raça ―dominante‖.

Compreendemos que o mito da democracia racial serve de reflexão para o ideal de transformações profundas em nossa sociedade, visando diminuir a distância entre os discursos igualitários e a sua prática possibilitando a equidade como condição obrigatória para promover e qualificar o processo de educação de crianças, adolescentes, adultos e idosos/as no Brasil, que reflete não apenas na melhora da qualidade do ensino público, mas também numa maior permanência e no sucesso na trajetória escolar de todos e todas.

Reconhecemos que a escola não é a única no processo enquanto espaço que sistematiza conhecimentos afro-brasileiros, mas tem em sua responsabilidade o favorecimento do reconhecimento e da celebração da diversidade, embora quase que sempre o que vemos é a escola silenciar as ‗coisas‘.

Essa celebração enquanto princípio norteia o princípio formativo, e dialogando com a escola que nós herdamos no Ocidente ela é acaba sendo desse princípio. Nossa civilização ocidental não é de um princípio norteador, mas como não se pode eliminar a diversidade, pois ontologicamente a mesma é um elemento constituinte do ser humano, princípios norteadores sociais acabam por administrar as relações e desta forma, dentre outras, as relações culturais administram os processos de produção e de circulação de diferentes modos de ser no planeta, refletimos então: como a escola tem lidado com isso?

Como a cultura escolar ela foi formatada (seleciona coisas, elimina outras, nem quer ver algumas coisas) compreendemos que são desses processos de administração da formatação da diversidade que compõe nossa dita nação e que acabou por influenciar, também, a formação afro cultural brasileira.

Por isso que entendemos ser interessante trazer para o debate as questões do mito da democracia racial brasileira porque apreendemo-lo enquanto parte de um processo de formação da sociedade brasileira que cristalizou processos diante de uma sociedade extremamente apartada do ponto de vista sócio racial que criou uma engenharia extremamente sofisticada para se viver, para criar o modo de ler a sociedade que diz inclusive que não há apartação social no Brasil, há quem nos diga que isso é coisa da relação social dos Estados Unidos (EUA), por exemplo, ou de outros países, mas reconhecemos existir sim uma apartação profunda em nossa sociedade.

E isso se torna claro na própria produção de [...] espaços antidialogais (Santana, 2011) construídos socialmente nos vários âmbitos, ou seja, espaços que não dialogam e são incorporados de maneiras formatadas de ser, viver e educar para quando da incorporação dos mesmos reinar as formas subordinadas construídas e aí o mito da democracia racial ele consegue fazer isso muito bem.

Quando a escola não possibilita esse conhecimento ela reproduz a formatação social construída, quando não ela mesma produz, caracterizando-se em uma escola produtora de silêncios. Assim ela vai reforçando esses aspectos quando mesmo com a presença significativa da discussão da matriz afro-brasileira em todos os espaços de formação da sociedade brasileira permite uma ausência desses elementos em seu âmbito, quando não certo controle excessivo.

Porém, diante de toda a cultura possível de ser socializada na escola, podemos entendê-la, também, como um grupo social interativo e entrelaçado por diferenças simbólicas.

A cultura juntamente com a educação escolar são aspectos que atravessam diferentes dimensões da vida das pessoas.

Neste contexto, o trabalho na escola, constitui uma rede de interações entre valores, crenças, conhecimentos e saberes, o seu coletivo ―[...] como membros de uma instituição social, participam do jogo de relações que aí acontece, sofrendo e exercendo influência‖ (Falsarella, 2004, p.68). Neste contexto, desenvolvem complexas relações interculturais.

As relações interculturais constituídas nos processos de produções dos modos culturais são alguns dos elementos que pretendemos refletir a seguir a partir de algumas definições e compreensões em torno da cultura e educação afro-brasileira. Nossa segunda categoria teórica da pesquisa.

2 CULTURA

AFRO-BRASILEIRA

Círculo, a roda, a

circularidade é fundamento

para saberes afro-

brasileiros.

Adriana Ribeiro de Barros

(2011)

A possibilidade de enraizar no passado a experiência atual de um grupo se perfaz pelas mediações simbólicas. É gesto, o canto, a dança, a oração, a fala que invoca. No mundo arcaio tudo isto é religião, vínculo do presente com o outrora-tornando-agora, laço da comunidade com as forças que criaram em outro tempo e que sustém a sua identidade (BOSI, 1993, p.15).

A cultura é, pois, essa dinâmica de relacionamento que o indivíduo tem com o real dele, com a sua realidade, com o outro. A citação acima pode nos ajudar a compreender melhor o diálogo entre os pares realizados a partir de símbolos construídos socialmente. Há que dialogar então com aspectos de identidades que surgem de nosso ―pertencimento‖ a culturas étnicas, raciais, religiosas e acima de tudo, do sujeito que é formado na relação com ―outras pessoas importantes para ele‖, que mediam para o mesmo os valores, sentidos e símbolos - cultura.

Isso significa que tratar do conceito como o de cultura é o mesmo que querer, como se diz numa linguagem popular, ―abraçar o mundo com as mãos‖. ―Mundo‖ porque estamos tratando com tudo que o homem produziu, produz e produzirá em sua existência. Essa afirmação, no entanto, já consiste na apresentação de um conceito de cultura, o que não estamos nos propondo. Optamos por discutir partindo da etimologia do referido termo.

Segundo Bosi a palavra cultura deriva do ―(...) verbo latino colo, cujo particípio passado é cultus e o particípio futuro é culturus (...) ‖, significando, em latim, morar, ocupar e, consequentemente, cultivar, trabalhar. Ainda no presente, este verbo denota um ―quê‖ de infinitude e transitividade, indicando a incompletude do processo de produção da vida, através da transformação (cultivo, trabalho) da natureza.

Cultura, como forma nominal, que é também verbo, refere-se, na língua latina, àquilo que foi plantado e cultivado. A ―plantação‖ não é só o objeto transformado pela ação humana, como também armazena o processo de trabalho necessário para tal. Nesse sentido, cultus traz em si um entendimento de passado como presente, porque o passado se encontra representado no objeto que recebe a ação. Como afirma Bosi,

Cultus é sinal de que a sociedade que produziu seu alimento já tem memória. A luta que se travou entre o sujeito e o objeto do suor coletivo contém-se dentro do particípio, e o torna apto a designar a inerência de tudo quanto foi no que se passa agora. Processo e produto convêm no mesmo signo (1992, p.15).

A memória representa a herança do que não se perdeu no tempo e no espaço, porque se tornou presente no produto.

Já cultus, enquanto substantivo significava, para os romanos, não só o cultivo sobre a terra, mas também ―... o que se trabalha sob terra‖ (BOSI, 1992, p.13), ou seja, o cuidado com os mortos. Cultuar os mortos era relacionar o passado com o presente, numa redenção do que somos ao que éramos num campo simbólico e, para os antigos, essencialmente religioso.

A esfera do culto, com a sua constante reatualização das origens e dos ancestrais, afirma-se como um outro universal das sociedades humanas juntamente com a luta pelos meios materiais de vida (BOSI, 1992, p.15).

As mediações simbólicas vividas no culto aos mortos então se uniam à transformação da matéria (a natureza) na criação da vida. Voltando-nos para o futuro, teremos culturas, que significa o que se vai trabalhar, o que se quer cultivar. Nesse sentido, refere-se tanto a terra (agricultura) quanto à criança (puericultura). Segundo Bosi ―(...) essa terminação em culturus informa a ideia de porvir ou de movimento em sua direção‖ (1992, p.16).

Cultura em sua concepção latina é uma ação do passado no presente que remete os homens ao futuro, sempre como produtores da vida, através da transformação das condições materiais e não materiais de nossa existência.

Após essas observações acerca de alguns dos sentidos encontrados para a palavra cultura desenvolvidas por Bosi a partir de sua origem latina, examinaremos as representações da cultura que prevaleceram em alguns momentos da história, e serão analisadas de acordo com a valorização de um ou de outro significado, a depender do momento vivido.

Bosi, Schelling e Chauí (1990), ao se remeteram ao século das Luzes nos falam no mito da sociedade moderna e civilizada, uma noção de cultura baseada na existência de valores universais e perseguido por todos os homens de ―bem‖16. Esses valores se tornavam acessíveis a todos os homens na mediada em que só do indivíduo dependia à vontade para o ―esclarecimento‖, uma vez que a sociedade industrial prometia ―benesses‖ em série. Ainda segundo os autores, cultura, neste sentido, estava relacionada com a produção material e imaterial dessa sociedade, distanciando-se de todas as formas de atraso, representadas pela vida agrária e pobre voltada para o passado. Essa época se observa a vivência da supremacia do trabalho contido no colo e do culturus, em detrimento do culto presente em cultus, porque viu na técnica a possibilidade de produção da vida humana e negou ou, pelo menos, pouco valorizou o culto, enquanto um processo, também, de criação da vida. (Bosi, Schelling, Chaui, 1990, p. 12).

16

Segundo Schelling17 e Chauí, o século XVIII viu nascer outra representação de cultura. A sociedade estava desumanizando os homens e para superá-la, eles (os homens) deviam se voltar para a natureza, valorizando a produção humana desinteressada voltada para o engrandecimento do espírito, qual, seja: a arte. Naquele momento, a noção de cultura se confundiu com a produção artística da humanidade, separando-se completamente de sua produção material e do pensamento social (CHAUÍ, 1989, p.12-13). O cultivo da criança (culturus) separou-se da noção de trabalho, contido em colo, ao mesmo tempo em que se separou do processo social.

O ideal de educação defendido pela cultura era concebido mais em termos de crescimento livre e criativo do ser integral, como um fim em si mesmo, do que como uma formação instrumentalizante onde ele serviu a um fim exterior a si próprio. O conceito de cultura era utilizado para designar tanto uma denúncia quanto uma alternativa à sociedade. Essa ideia de cultura como arte, literatura, esfera superior e destacada da sociedade, tornou-se uma espécie de defesa compensatória da subjetividade e das noções correlatadas de criatividade, imaginação e espontaneidade (SCHELLING, 1990, p.23).

Os homens modernos e contemporâneos, como vimos, denotaram e denotam significados contrários para a cultura, na medida em que enalteciam e enaltecem seu papel na construção e produção da sociedade moderna. Com isso a primeira questão que se coloca no mundo contemporâneo é a importância de se entender a relação cultura e educação. De um lado está a educação, e do outro, a ideia de cultura como o lugar, a fonte de que se nutre o processo educacional para formar pessoas, para formar consciências. Mas a cultura como já