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OS CANTADORES E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA: SOBRE EMBATES, PERDAS E CONQUISTAS

IMPROVISO E PÉ-DE-PAREDE

3 NO DELINEAR DOS VERSOS

3.1 OS CANTADORES E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA: SOBRE EMBATES, PERDAS E CONQUISTAS

Há quem diga que o bom poeta é aquele que consegue separar obra e vida, tendo em vista que a poesia não é a liberação da emoção, mas a fuga dela, do mesmo modo que não é a expressão da personalidade, mas a fuga desta (ELLIOT, 1989, p. 47). Entretanto, entendemos que, em se tratando da cantoria de improviso, ainda que seja um fingidor, como lembra Pessoa, é preciso recorrer a seu manancial de experiências e emoções a fim de transformar seus versos em uma extensão dos sentimentos que emanam da plateia naquele momento. Exímios oradores, constroem sua retórica avaliando o auditório que têm à disposição, inserindo-os como co-enunciadores na lida do fazer poético.

A memória, espaço manipulado pelos sujeitos para armazenar o traçado de sua vida, não se apresenta de modo linear e uno. Nesse sentido, Bosi ([1973] 1994), afirma que “A mem ria é um cabedal infinito do qual s registramos um fragmento” (p. 39). Lembranças fragmentadas, lampejos de recordações, filtros da(s) realidade(s), sentimentos dos testemunhos, distanciamento espaço-temporal, busca por corresponder aos anseios de quem escuta, desejo de poder voltar no tempo, todos esses aspectos compõem o caleidoscópio no qual a memória é forjada. Esta surge imersa no líquido espesso da linguagem, cujo sentido se constrói, de fato, apenas quando o texto encontra quem o receba, em performance.

O trato com a fluidez dos textos orais e seus meandros permite vislumbrar outras direções, outros encaminhamentos. Quando esses textos se apresentam em forma de poesia, não há alternativa senão “emprenhar pelos ouvidos” como tão bem sentencia a sabedoria popular.

Tendo em vista que o desenvolvimento dos repentes se dá a partir de motes, são eles que anunciam o direcionamento a ser tomado. As relações entre estes e os gêneros norteiam as escolhas dos repentistas, lhes obrigam a recortes mnemônicos que são ativados no momento em que se concretiza a alquimia entre o que se sabe e o que é demandado pelo contexto. Conforme os versos vão tomando forma, surgem esfinges de homens e mulheres que escolheram não a terceira margem, mas rotas que se constroem tendo como bússola o alcance do chilrear dos ‘passarinhos de bigode’. É sobre suas trajet rias, suas escolhas, suas conquistas, suas perdas, suas glorias, que vai se tratar aqui. Quisera saber transformar a vida em melodia, como eles. Na ausência disso, é pela palavra escrita que se tenta emoldurar a poesia oral, ciente das suas limitações, da sua incapacidade de descrever o que só o ouvido consegue captar, sem possibilidade de alcançar a mão.

Apontados, por observadores pouco sensíveis, como simples e pouco complexos, os versos improvisados no repente revelam histórias de vida de sujeitos cujas trajetórias são marcadas por idas e vindas, por uma rota que os aponta como nômades, em busca do sonho dourado de poder viver da arte da cantoria.

Os laços que unem memória e tempo são esgarçados pouco a pouco por fatos que vão permeando os traçados da vida dos poetas. Entretanto, um dado mantém-se como quase unânime: é na infância que se dão os primeiros encantos. Fosse trazido pelo vento que levantava poeira no terreiro ou pelas ondas gigantes que se criavam nos rádios, os ecos de cantoria chegavam nas casas e arrebatavam seus moradores pelos ouvidos. Os espaços reais e simbólicos ocupados pela cultura popular são repletos de veredas e é, nos recônditos da memoria, que fios mantêm o mundo em frequente movimento.

A dificuldade em lidar com histórias de vida como instrumento científico resvala para as imposições prescritas por uma concepção iluminista de conceber ciência, cujo valor de verdade reside em provas que possam auferir legitimidade ao que se pretende observar. É Thompson (1992) quem chama atenção para o fato de que houve um período em que os historiadores orais gozavam de prestígio, tendo em vista que a história oral foi o primeiro tipo de história a ser praticada, fazendo de Jules Michelet, ainda em meados do século XIX, um de seus praticantes mais conhecidos, que afirmava:

Quando eu digo tradição oral, estou falando de tradição nacional, aquela que permaneceu espalhada de modo geral na boca do povo, que todos diziam e repetiam, camponeses e gente da cidade, velhos, mulheres, até mesmo crianças; aquela que podemos ouvir ao entrar à noite numa taverna de aldeia; aquela que podemos colher se, ao encontrar à beira da estrada um transeunte descansando, começamos a fala com ele da chuva, da estação, e do alto preço dos mantimentos, e da época do imperador, e da época da Revolução. (MICHELET apud THOMPSON, 1992, p. 45/46)

Do mesmo modo, também Jan Vasina e Alex Haley mostraram a grande contribuição dos relatos orais para uma compreensão mais ampla sobre a história. Assim sendo, não deveria haver, necessariamente, estranhamento, haja vista que a escolha metodológica pela poesia oral já se apresenta como uma outra possibilidade de fazer científico. Entretanto, em um espaço de tempo relativamente pequeno, a historia oral foi, aos poucos, tornando-se menos requisitada, ofuscando detalhes e particularidades que apenas as narrativas orais podem registrar, já que a alteração de enfoque se deu em torno da memoria, pois

A memória foi rebaixada do status de autoridade pública para o de um recurso auxiliar privado. As pessoas ainda se lembram de rituais, nomes, canções, histórias, habilidades; mas agora é o documento que se mantém como autoridade final e como garantia de transmissão para o futuro. Em consequência, exatamente aquelas tradições orais públicas e de longo prazo,

outrora as de maior prestigio, é que se têm mostrado mais vulneráveis. (THOMPSON, 1992, p. 50)

Rompendo os cercos que envolvem os registros escritos como única possibilidade, a história oral ganha espaço como área do saber que se propõe a considerar outras perspectivas de análise, outros modos de compor narrativas. Através desses, no caso, surgem versões de um outro Brasil, uma outra possibilidade de capturar o andar do mundo.

Os sujeitos aqui envolvidos são poetas orais. Todos, independente do tempo de profissão e do destaque alcançado, escolheram a poesia como modo de se pôr no mundo. De mãos dadas com ela, o que se vê é um rosário de sentimentos, tal palimpsesto, que irradia luz para revelar o que os olhos carregados de dor e de labor refletem. Mas a pergunta que se impõe é: a pessoa é para o que nasce?39 Ou seja, os repentistas nascem dotados de uma capacidade poética que os conduz, invariavelmente, para tornarem-se improvisadores?

Quando se pergunta a alguém que gosta de cantoria quais são seus ídolos, logo vêm à tona os nomes dos irmãos Batista (Lourival, Otacílio e Dimas), do Cego Aderaldo, de Pinto do Monteiro, nomes históricos e representativos da história da cantoria, mas eis que contemporaneamente são nomes como Pedro Bandeira, Oliveira de Panelas, Sebastiao da Silva, Ivanildo Vila Nova e Geraldo Amâncio que alcançam grande destaque. Ao largo desses, outros tantos nomes despontam, trazendo ares renovados para o universo da cantoria, embora isso não se dê de modo linear e apresente diferentes nuances em cada Estado. Os discursos que insistem em apontá-la eternamente como uma moribunda que se arrasta não encontram respaldo entre aqueles que acompanham seu movimento e veem surgir novos talentos, que compreendem o alargamento da cantoria, suas inovadoras possibilidades.

O que se pode questionar é: como se forja um cantador? Para Sautchuk (2009) O improviso não é uma invenção completa, mas uma criação a partir de referências, tais quais o ritmo das formas poéticas, as melodias sobre as quais se improvisa os versos e as temáticas usuais. Quer dizer, improvisar é colocar-se em relação tanto com os conhecimentos e modelos da arte incorporados e apreendidos quanto com outros sujeitos e fatores na situação em que se improvisa. (p. 19)

Também Elliot (1989) lembra: “Nenhum poeta, nenhum artista tem sua significação completa sozinho” (p. 39). É no rastro do eco de tantas outras gerações que, nas trocas simbólicas que estabelece não apenas com seus pares, mas também com outros, que o poeta se forma, dia a dia, à medida que amadurece.

Conversar com repentistas sobre suas histórias descortina um mundo de informações. O olhar que, inicialmente, enxergava artistas fundidos com suas violas passa a vê-los como sujeitos, moldados além e aquém da cantoria. O questionamento sobre a iniciação de cada um no mundo do repente vai revelando o que têm em comum: uma sede poética que se revela ainda na infância. Modestas ou orgulhosas, suas falas ajudam a

39Expressão cunhada por uma das irmãs cegas emboladeiras que apareceram para o mundo em Viramundo,

reconstruir os cenários que forjaram homens e mulheres que se aventuram pelo mundo com uma viola às costas, uma certeza em mente e um mundo no coração. A fala do Trovador, composto pela dramaturga Lourdes Ramalho, sintetiza o que lhes vai na alma:

Padre Nosso, caldo grosso, Dai-nos hoje, no jantar, Nas horas de Deus-amém Da casa não falte a telha, Nem cobertor de orelha Pra nos esquentar do frio, Nem uma boa goela Pra cantar um desafio, E, comido e agasalhado, Se cometer um pecado, A Deus eu peço perdão, Palavra de Deus eu juro, Se cometer esconjuro, Como pedra em vez de pão! ([1999] 2011, p. 142)

Os cantadores mais velhos, em geral, são de origem rural e foi nesse espaço que cresceram, como atestam seus testemunhos: “Eu nasci no Sítio Malhada de Areia, no município de Cedro, no Ceará. Isso é saindo da região Centro Sul do Estado e entrando na região do Cariri.” (AMÂNCIO, 2012, p. 01). O poeta Pedro Bandeira (2010) acrescenta:

Eu sou paraibano, do Alto Sertão da Paraíba, da última cidade do Estado da Paraíba, emendando com o Ceará. Nasci em sítio, em fazenda. Nasci no Sítio Riacho da Boa Vista, município de São José de Piranhas, Alto Sertão paraibano. Daqui na minha cidade dá 50 ou 60 km; dá mais: dá uns 150km. É ali perto de Cajazeiras, por ali assim, naqueles pés de serra. (p. 01)

Do mesmo modo, o repentista Pedro Ribeiro (2010) afirma: “Porque eu nasci na Fazenda Baixão dos Ribeiro, às 18 horas, quando meu pai estava acendendo a fogueira e os violeiros afinando as violas”. (p. 01) Imersos no cenário agrícola, foi atuando nessa área que muitos cantadores começaram sua relação com o trabalho, como diz o repentista Zé Viola: “Até os dezenove anos eu trabalhei na agricultura com meu pai e meus irmãos” (2010, p. 01). O trabalho agrícola era um ofício ensinado pelos pais, que o tinham como fonte de renda e subsistência, conforme destaca o cantador Geraldo Amâncio (2012):

Em fevereiro, eu saí de casa com a viola, sem meu pai querer que eu saísse porque meu pai, apesar de bom, mas era um homem rude, um homem sem

cultura, um homem da agricultura, quer dizer, só me ensinava o que sabia fazer, que era trabalhar na roça. E eu saindo da roça era um braço a menos. Meu pai era um homem pobre, achava que eu ia fazer muita falta, mas eu fiz um contrato com ele. Eu digo: “Eu saio e pago um trabalhador pra ficar no meu lugar”. (p. 03/04)

Esse mesmo pai, de origem simples, preocupado com a sobrevivência da família, é o grande responsável por introduzir os poetas no universo da cantoria, ainda crianças, quando, apaixonados por improviso, recebem os cantadores em suas casas, formando o que se denomina ‘apologistas’. Nessa ambiência, crescia a familiaridade com a prática da cantoria:

Meu pai gostava imensamente de Repente. Naquela época mandava buscar cantador em Pernambuco em costa de burro, nem carro não tinha, para fazer cantoria no Baixão dos Ribeiro. E foi num desses eventos fundamentais que, na verdade, eu devo ter nascido pela grande inspiração. Isso foi fundamental porque existiam cantadores também lá na região. Me lembro bem de um chamado Leocárdio e eu sempre assistia às cantorias. E me impressionava a maneira como eles narravam esses assuntos e, sobretudo, o aspecto da criatividade. (RIBEIRO, 2010, p. 01)

Do mesmo modo, o cantador Sílvio Grangeiro (2010) acrescenta:

A minha relação com a cantoria eu comecei a partir dos meus cinco anos de idade. Meu pai já botava os cantadores pra cantar na sua residência e eu já me empolgava naquela época, sentado na perna dele. Ele pagando os cantadores e eu, de uma maneira especial, quando os cantadores formavam o repente eu já sabia mais ou menos onde ele terminava. Se pegasse uma rima de chão eu sabia, mais ou menos, que ele terminaria em sertão e foi me despertando. (p. 01)

O poeta Paraíba da Viola (2007) complementa:

Além de eu ser filho de um cantador de coco e de embolada, eu sempre promovi a cantoria na minha casa. Eu vi que meu pai promovia a cantoria na casa dele, desde menino eu me criei assistindo os cantadores do passado, da velha guarda, e quando eu me casei eu comecei a promover a cantoria na minha residência, despertando ainda mais a minha ideia poética, o que, em geral, acontece com todos os cantadores. (p. 01)

Expondo o ponto de vista feminino, a cantadora Maria Soledade (2011) acrescenta:

Toda vida eu fui louca por som de viola. Desde criancinha nas cantorias que eu ia, participava. Se fosse na casa dos meus pais, dos meus avós, dos meus tios, eu ficava lá a noite toda. Toda criança dormia, mas eu não. Ficava ali atenta. E parecia que aquilo foi se infiltrando no meu sangue e no meu íntimo e, pra mim, não atacando nenhuma das outras artes da nossa cultura, que a nossa cultura é, ao todo, maravilhosa, para mim a viola, a poesia em primeiro lugar. (p. 01)

O poeta Edmilson Ferreira (2010) conclui:

[…] meu pai sempre gostou muito, né? Eu, apesar de não ter nenhum ascendente que tenha sido repentista, o meu pai sempre gostou muito. Talvez se fosse meu contemporâneo também tivesse sido repentista, mas como no seu tempo havia uma dificuldade maior, eu sinto que ele se realizou no meu irmão e em mim. (p. 01)

Quando o estímulo não é familiar, os poetas apontam cantadores da região como seus incentivadores:

[…] eu preciso dizer: eu não tenho nenhum parentesco com cantoria. Nenhum parentesco com cantoria. Comecei a cantar na cidade do Barro, tive o incentivo do poeta Cícero Mariano, que aqui está também no Festival de Abaiara. Depois, também de Chico Barros, um grande cantador, um grande cancioneiro. E não tive essa ajuda da família de Acrízio em termos de ser poeta. Mas minha mãe, meu pai já é falecido, mas minha mãe me deu incentivo total, cobertura. (JUSTINO, 2010, p. 02)

O poeta Sebastião Dias (2010) apresenta um histórico parecido, embora acrescente a contribuição dada pela leitura de folhetos:

O meu início foi muito difícil, haja vista que eu não sou hereditário de nada de cantador de viola, né? Muitos cantadores têm o privilegio de ter um tio cantador, o pai cantador ou um vizinho muito próximo cantador e nesse sentido. E eu despertei pela vontade própria, foi questão do eco. Eu comecei a ouvir grandes cantadores da região do Seridó, onde eu nasci, e para mim foi a coisa mais bela, mais sublime que se identificou comigo foi aquela coisa do improviso no pé-de-parede, então, eu acho que de início foi até um fanatismo porque se eu não cantasse eu teria morrido. Aí, no início, eu tive muita dificuldade a começar pela própria família. Meu pai não queria que eu cantasse. Depois eu dei muita razão a ele porque assim: ele tinha medo que eu não fosse um cantador de aceitação. Foi a desculpa dele depois, mas eu creio que sim, foi isso. Nós somos de origem simples, eu sou filho de camponês e camponesa também, então, na minha família não tem hereditariedade nenhuma. Despertei ouvindo os grandes cantadores, como eu disse, e que me incentivaram muito. Outra coisa que me despertou pra

cantar também, e eu tenho uma certa facilidade em leitura, foi o cordel, certo? O folheto, como a gente chamava lá no Seridó, e o cordel foi, e ainda é, uma grande fonte de comunicação. Eu, menino, fiquei, de repente, com o cordel e a cantoria de viola, entendeu? São duas coisas que toda vida eu gostei de apreciar e botar em uso. (p. 01)

Além dos estímulos dados pelo ambiente em que cresceram, os poetas indicam duas justificativas para explicar a relação que desenvolveram com a poesia improvisada: o dom e a hereditariedade. A primeira tem origem na ideia de que a musa da poesia é acessível apenas para alguns escolhidos, que nascem predestinados a seguir esse caminho, destacando- os como seres com estreitas relações com o divino: “Falar de cantoria é uma maravilha, né? Porque é um dom, foi a arte que Deus me deu, foi o dom que Deus me deu, foi o que eu sempre almejei, o que eu mais desejei na minha vida”. (SOLEDADE, 2011, p. 01). A segunda geralmente surge no discurso como um elemento importante, mas não determinante, haja vista que sem o dom não é possível ser cantador. Nesse sentido, expor sua filiação a grandes cantadores funciona como um modo de construir seu ethos a partir das imagens que são veiculadas sobre seus antecessores, criando um clima de aceitação cujo aval se dá, inicialmente, pelos feitos alheios, confirmando o que Elliot (1989) disse sobre os poetas, ou seja, que os poetas do presente estão muito mais conscientes do peso e do valor do passado do que seus próprios antecessores:

A minha relação é uma coisa já hereditária porque meu pai era cantador, meu pai era escritor popular, meu pai era glosador, meu avô era escritor popular, meus tios pela parte materna também eram, quer dizer, eu já nasci com a genética da cantoria. E depois tinha, é claro, a influência paterna, né? E um meio de sobrevivência porque hoje os cantadores dão outros meios de sobrevivência aos filhos, boas escolas, estudo, progresso, condição de vida muito boa e naquela época os cantadores só podiam dar os filhos esse dom, se eles tivessem, e a profissão. A profissão, os conhecimentos que eles tinham, né? As amizades, os colegas. […] o nome do meu pai era muito grande, ele era muito bem relacionado, era tido entre os tops de linha, era muito viajado, quer dizer, ele praticamente deixou os caminhos todos abertos para mim, ele fez a diferença. Quer dizer, o nome dele pesava. Onde se falava “O filho de José Faustino Vila Nova” era bem aceito. E, além disso, entre os colegas também tinha um peso, quer dizer, isso depois também tornou-se um fardo porque aí eu tinha que passar a ter a minha própria identidade, minha própria individualidade, fazer o meu próprio caminho, mas foi muito facilitado por isso, né? (VILA NOVA, 2012, p. 01)

O poeta Acrízio de França (2010), de uma geração mais jovem, também se apresenta destacando, simbólica e geograficamente, o lugar de onde vem,:

Venho da família de cantadores, porque sou da cidade de Paulista, na Paraíba, onde é conhecido como A terra da poesia. A terra de um dos maiores cantadores do Nordeste, chamado Belarmino de França e depois Moacir Laurentino, que a mãe do Laurentino é prima legítima da minha. Tenho oito anos de profissão. Comecei a cantar com o incentivo de alguns primos porque todos são poetas, todo menino da minha família sabe fazer verso, mas nenhum teve coragem de dar continuidade à nossa geração, à nossa tradição de cantadores. E eu me sentindo audacioso e com um pouco de incentivo da família, comecei a cantar em 2001. (p. 01)

O violeiro Pedro Bandeira (2010) destaca a importância de ser herdeiro da linhagem poética do seu avô:

O meu lado poético é materno. Meu avô se chamava Manuel Galdino Bandeira, cantou mais de meio século. O maior cantador para os apologistas e os cantadores do tempo dele e os novos que ainda ouviram ele cantar. Ele foi tido, ainda tá sendo até hoje, como o maior cantador repentista, balaieiro, bom em tudo que passou na face da terra. Eu sou suspeito ao dizer isso, porque sou neto, mas aqui não está falando Pedro Bandeira homem: tá falando o Pedro Bandeira poeta. (p. 01)

O dom e a hereditariedade, embora indicados como elementos imprescindíveis na formação de um cantador, não podem ser apontados como determinantes, tendo em vista que