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CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS E EPISTEMOLÓGICAS DA COINFO

No documento ANNA CRISTINA C. DE A. S. BRISOLA (páginas 118-128)

3 DESINFORMAÇÃO: CONCEITOS, MECANISMOS E IMPORTÂNCIA

4.2 CARACTERÍSTICAS CONCEITUAIS E EPISTEMOLÓGICAS DA COINFO

Este subcapítulo tem como objetivo compreender os elementos e conceitos essenciais que constroem a Competência em Informação, com ênfase na perspectiva brasileira, reconhecendo a influência da internacional. Para isso lança mão do mapa conceitual elaborado por Brisola, Braga e Ramos Junior (em fase de pré-publicação) (Figura 5), que esboça e condensa os conceitos utilizados por diversos autores referência.

Apresentaremos os conceitos utilizados no mapa (numerados no mapa e no texto) alicerçados no arcabouço teórico da área, propondo assim, uma compreensão didática da Coinfo que facilitará posteriormente a compreensão da Competência Crítica em Informação, recorrendo adiante às congruências e complementaridades, fomentando a ideia de que ao unirmos ambas em didáticas entrelaçadas e/ou complementares aumentamos a capacidade de resistência do cidadão à Sociedade da Desinformação.

O mapa parte da centralidade da Coinfo buscando articular suas características primordiais. Desta maneira temos, na esquerda superior, Coinfo como um conjunto de habilidades em informação, que são promovidas por ações, questionando a informação com eficácia e eficiência, para solução de problemas e tomada de decisão. Na esquerda inferior e abaixo, estão seus elementos fundacionais, concepções e disciplinas basais. Destaca suas principais ondas e seus componentes de sustentação em rosa, articuladas com suas influências, propósitos e críticas.

São características da Coinfo certas técnicas e habilidades(b0) delineadas ao longo dos estudos e dos anos. Habilidades técnicas para o uso das ferramentas de informação, de busca(b1) de fontes primárias que subsidiarão tomada de decisão(b2) e solução de problemas(b3) (DUDZIAK, 2006, DE LUCCA; PINTO; VITORINO, 2019, GASQUE, 2013). Como já apresentado, a gênesis da Coinfo está intimamente ligada às interações dos indivíduos no âmbito corporativo, industrial e institucional. Como apontam Elizete Vitorino e Daniela Piantola,

a competência é o conjunto de conhecimentos, qualidades, capacidades e aptidões que habilitam para a discussão, a consulta, a decisão de tudo o que concerne o trabalho, a qual supõe conhecimentos fundamentados, acompanhados das qualidades e da capacidade que permitem executar as decisões (VITORINO; PIANTOLA, 2009, p. 132)

Para a ALA, referência mundial sobre o assunto, competência em informação trata de um conjunto de aptidões requeridas para o reconhecimento das necessidades(b4) de informação e habilidades para localização, avaliação e uso eficientes destas informações necessárias (ALA, 2000).

Djuli Machado De Lucca e Elizete Vieira Vitorino (2020) afirmam que a gênesis da Coinfo está ancorada no paradigma cognitivo da CI, contudo reconhecem abordagens e influências distintas como a perspectiva estatística, quantitativa, que denotam aspectos do positivismo e funcionalismo, e a presença e influência dos conceitos de eficácia, necessidade e tomada de decisão. As autoras atribuem a estas influências a escolha do termo competência em detrimento de letramento, Influenciada também pela ideia de aprendizado ao longo da vida e da competência voltada ao mercado de trabalho. Os dois aspectos estariam inter-relacionados e ancorados na lógica capitalista. Da nossa perspectiva essa escolha também é influenciada pela própria gênesis da Coinfo e sentido aderido ao termo literacy , distanciado do sentido freiriano que defendemos.

De Lucca e Vitorino (2020) ainda incluem as influências de Belkin (1980), focada na “recuperação da informação para a ‘redução de incerteza’, a qual se origina numa ‘situação problemática’, reconhecida pelo indivíduo quando este percebe que lhe falta informação para resolver um problema”, e a influência do paradigma social, que “possibilitou a emergência de novas abordagens para o campo, voltadas para os aspectos humanistas e sociais dos problemas relacionados à informação” (DE LUCCA; VITORINO, 2020, p. 36) e a abordagem fenomenológica. Desta maneira é perceptível uma aproximação entre a Coinfo e a CCI que se complementam a partir da abordagem e das perspectivas de cada uma.

1) A Sociedade da Informação(b4), já discutida anteriormente, que exige de seus contemporâneos uma visão acurada das práticas informacionais, usando a informação(b5) como insumo;

2) Os profissionais da informação(b6) que tem na informação a matéria-prima de suas práticas. Na perspectiva da Coinfo o desenvolvimento destas habilidades só são possíveis “a partir das ações mediacionais de profissionais da informação, sendo estes os sujeitos habilitados a capacitar as demais pessoas, independentemente do nível e profundidade de suas pesquisas(b7)”.

3) As Tecnologias da Informação e Comunicação(b8) (TIC) como elemento propulsor da ideia de Coinfo. “A ascensão e a difusão da tecnologia da informação alteraram as bases de produção(b9), controle, guarda, disseminação e acesso à informação, colocando o computador em foco e alterando definitivamente os sistemas de informação” (DUDZIAK, 2003, p. 25). Afetando também incisivamente o volume e frequência de compartilhamento(b10). Essa associação com as TIC acabou por influenciar a Coinfo, reduzindo, por anos, seu papel à ações de otimização do uso destas tecnologias, estimulando o tecnocentrismo(b11), associado ao positivismo(b12). Entendemos que este mesmo movimento vai desencadear as questões da Competência Informática(b13) (MACHADO; SANTOS; ARAÚJO, 2014) e Competência Digital(b14) (BORGES; OLINTO, 2017), aderentes também às TIC.

4) A Teoria Construtivista(b15) de Piaget, Vygotsky, Dewey, Bruner e Kelly que, segundo Corrêa e Castro Júnior (2018), foram agregadas aos estudos de Kuhlthau, em parceria com Maniotes e Caspari, ao desenvolverem um modelo de busca de informação chamado de information search process (ISP). Mais tarde esse método foi aplicado em ambientes digitais passando a ser chamado de Guided Inquiry. Basicamente, este modelo “utiliza sete passos que vão da incerteza, ou seja, do estado anômalo de conhecimento (ASK) e reconhecimento da necessidade de informação ao estágio de avaliação”.

A visão mais humanista e emancipatória (CAVALCANTE, 2006) ou sociopolítica(b16) dos autores de Coinfo, influenciada pela interdisciplinaridade da Ciência da Informação(b17) com a Educação(b18), a Sociologia(b19) e as Ciências Sociais(b19), influencia a própria Coinfo. Essa interação propiciou um olhar para informação além do sistêmico, ou seja, uma ecologia da informação(b20), mas que passa a contemplar também a ideia de que o comportamento social é intrinsecamente ligado às ações informacionais mediadas por suportes comunicacionais e atores sociais info-interdependentes. A percepção de que são estas interações que possibilitam a relação da informação com o conhecimento(b21) levam a Coinfo às questões mais filosóficas (VITORINO; PIANTOLA, 2019).

Essa influência de outras áreas e as mudanças de perspectiva se deram de maneira gradual. Bruce (2016) destaca isso elencando três fases das pesquisas em Coinfo (Information

Literacy Research):

1) Fase dos precursores. Situada nos anos 1980, tem como expoente Carol Kuhlthau, com primeiro trabalho fortemente ligado à aprendizagem e uso das tecnologias;

2) Fase experimental, de 1995 a 1999 – quando os pesquisadores propunham aplicações e diretrizes para o desenvolvimento da Coinfo.

3) Fase de desenvolvimento, ou expansão – prevista por Bruce (2016)20, e que começaria nos anos 2000 em diante. Esta fase não envolveria somente as ações vinculadas ao uso das tecnologias e aquisição de conhecimentos para a tomada de decisão, mas também ações que dizem respeito à “atenção a uma variação mais ampla de contextos culturais” (BRUCE, 2016, p. 223). Apesar desse espaço para uma perspectiva mais crítica, a visão da autora a respeito destes contextos e culturas ainda está intimamente ligada à lógica produtivista voltada para o desenvolvimento das Organizações(b22) e das pesquisas científicas e de setores economicamente estratégicos. Dudziak corrobora essa perspectiva ao atrelar o surgimento da Coinfo e das políticas norte-americanas ao contexto e “trajetória social, econômica e política que conduziu ao estabelecimento de um novo regime de informação nos Estados Unidos” (DUDZIAK, 2016, p. 20).

Estas fases acompanham em certa medida as fases e modelos da CI propostas por Carlos Alberto Ávila Araújo em seu livro “O que é Ciência da Informação”. O autor sistematiza a história e as fases da CI e sugere a existência dos modelos físico, semântico e pragmático. Os três modelos são fundamentais para os estudos de CI e Coinfo, uma vez que são complementares.

O primeiro modelo (positivista, fisicista/mecanicista) é consolidado a partir da influência da Teoria Matemática da Comunicação (linear) e da Teoria Sistêmica (ciclo/circularidade). Este momento está preocupado “não com a custódia e posse de documentos, mas com a sua circulação, sua disseminação, a promoção de seu uso de maneira mais produtiva possível” e, também, com o conteúdo objetivo do documento, ou a informação contida nele (ARAÚJO, 2018, p. 25). Esse modelo guarda elementos comuns ao positivismo e mecanicismo da Coinfo, o lado tecnicista.

O segundo modelo, semântico (ou cognitivo), considera que só existe informação no contato do dado com o conhecimento. É neste modelo que se enquadram, segundo Araújo, os

estudos de fluxos, sistemas orientados para usuários, comportamento informacional, políticas de informação e inclusão, temas comuns na Coinfo (ARAÚJO, 2018, p. 86).

Por fim, o modelo pragmático que situa a CI como uma ciência humana e social, que vai focar na crítica “ao positivismo, a aplicação dos princípios das ciências naturais ao estudo dos fenômenos humanos, como único método explicativo” (ARAÚJO, 2018, p. 39) e relaciona-se com

a própria natureza dos fenômenos estudados, que não possuem uma existência “em si”, independente dos sujeitos que os experienciam, nem se adéquam a modelos de explicação causais – pois possuem uma causalidade distinta dos mecanismos de causa e efeito, na medida em que se relaciona, com objetos que são também sujeitos, bem como são condicionados por processos históricos, econômicos, sociais, políticos, entre outros. (ARAÚJO, 2018, p. 40)

Este modelo influencia os estudos de Coinfo e isso é perceptível ao analisar os assuntos que perpassam as pesquisas da área. Nela se enquadram os estudos ligados à Filosofia(b23) e Filosofia da Educação(b24), as maiores aproximações com a Comunicação(b25) e os estudos relacionados ao comportamento social humano(b26). Relacionando este modelo a Coinfo, percebe-se que é esta perspectiva, influenciada pela Teoria Crítica(b27), Pedagogia Crítica e pelos estudos críticos em geral, provoca os questionamentos que levam a CCI(b28). É na intersecção entre o modelo pragmático e os estudos sobre os sujeitos que Araújo localiza os estudos de CCI.

A definição de Coinfo, na ALA, em 1989 (p. 1) guardava muita aproximação com os dois primeiros modelos:

uma pessoa [coinfo] deve ser capaz de reconhecer quando uma informação é necessária e deve ter a habilidade de localizar, avaliar e usar efetivamente a informação [...] Resumindo, [...] são aquelas que aprenderam a aprender. Elas sabem como aprender, pois sabem como o conhecimento é organizado, como encontrar a informação e como usá-la de modo que outras pessoas aprendam a partir dela. (ALA, 1989, p. 1)

Esta definição, apesar da ideia de continuidade, está muito mais atrelada às necessidades do mercado e na importância da capacitação para a produtividade.

Voltando ao Brasil, os primeiros estudos de Coinfo são de Hatschbach (2002), que aborda os aspectos conceituais e históricos da information literacy (sem tradução) e suas aplicações no ambiente acadêmico, e Caregnato (2000) que foca na perspectiva da expansão da educação de usuários, especialmente no âmbito das bibliotecas universitárias, visando o desenvolvimento de “habilidades informacionais necessárias para interagir no ambiente digital” e EAD (educação a distância), usando a tradução alfabetização informacional.

Percebemos que estas influências e interesses ainda se mantém, inclusive esta tese guarda certa afinidade primária com Hatschbach.

Em 2006 Cavalcante entende a Coinfo como importante instrumento para a promoção da autonomia(b29) e fomento ao pensamento crítico(b30) do aprendiz, ainda no âmbito do ensino universitário. Cavalcante propõe um olhar crítico para a Coinfo apontando – no Colóquio em Nível Superior sobre Competência Informacional e Aprendizado ao longo da vida, realizado de 6 a 9 de novembro de 2005 – que na Biblioteca de Alexandria já se possuía indícios de preocupação social na promoção da Coinfo, ainda que mantendo a perspectiva profissional e acadêmica, explicitadas no segundo parágrafo.

A competência informacional está no cerne do aprendizado ao longo da vida. Ele capacita as pessoas em todos os caminhos da vida para buscar, avaliar, usar e criar a informação de forma efetiva para atingir suas metas pessoais, sociais, ocupacionais e educacionais. É um direito humano básico em um mundo digital e promove a inclusão social em todas as nações.

O aprendizado de toda a vida prepara os indivíduos, as comunidades e as nações a atingir suas metas e a aproveitar as oportunidades que surgem no ambiente global em evolução para um benefício compartilhado. Auxilia-os e suas instituições a enfrentar os desafios tecnológicos, econômicos e sociais, para reverter a desvantagem e incrementar o bem estar de todos (UNESCO)

Mais recentemente alguns autores propõem temas mais críticos, demonstrando um avanço para além da educação formal e treinamento de usuários. Santos; Lima; Freire (2019) e Faria; Varela; Freire (2019) propõe a Coinfo como possibilidade de empoderamento de comunidades sub-representadas; Ottonicar, Furtado e Yafushi (2019) abordam a Coinfo e o estereótipo de gênero; Righetto e Vitorino (2019) estudam a Coinfo das pessoas transexuais.

Para Dudziak (2003, p. 28) Coinfo é “o processo contínuo de internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessário à compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica, de modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida(b31)”. Sob essa ótica a Coinfo pretende promover uma interação eficiente(b32) e eficaz(b33) entre atores e informação, sendo esta, um insumo para o desenvolvimento intelectual e, consequentemente, socioeconômico.

Stephen Ball (2013) alerta para a cooptação do aprendizado ao longo da vida pelo capital e como o termo é utilizado politicamente e saturado de ficções políticas. Para o autor, formou-se uma indústria da política da aprendizagem ao longo da vida que atrelam o aprendizado ao longo da vida à prosperidade, competitividade, empreendedorismo, inovação e ao sucesso da economia global. Transformando em um imperativo opressor de constante adaptação e aprimoramento do indivíduo. Ball atenta para uma sociedade em que a individualização e a solidão solapam a ideia de comunidade e compromisso coletivo. “Os

laços sociais no trabalho da área de educação tornam-se efêmeros, descartáveis, em série, fugidios” (BALL, 2013, p. 151).

Esta realidade lança os indivíduos e a sociedade em uma situação de corrosão da confiança, uma diminuição da responsabilidade moral e uma falta de compromisso com o outro. Também transforma o aprendizado e o aprendiz em mercadorias, transformando as relações sociais em coisas. Além de tudo isso o conceito atrelado à educação ao longo da vida nesta perspectiva é classista, favorecendo e valorizando aqueles que já são privilegiados socialmente e reforçando o mito da meritocracia.

Obviamente não é nesta perspectiva que tratamos do aprendizado ao longo da vida, mas sim compreendendo de maneira freiriana a inconclusão do humano e a impossibilidade de encerrar o aprendizado sobre o todo informacional ou, como em algumas perspectivas, a possibilidade de tornar-se competente, completo, informacionalmente. Por isso se faz necessário um olhar crítico e atento para os conceitos e aplicações.

Percebemos que, mesmo ampliando os horizontes, boa parte da Coinfo manteve-se atrelada, em algum nível, à perspectiva mercadológica, ao considerar a sociedade e as organizações que a compõem. Deste modo, enquanto conjunto de habilidades para acesso(b34), uso(b35) e produção de informações, na análise clássica a Coinfo, oferece uma visão estratégica que fomenta a Economia e a Ciência, enquanto na perspectiva mais contemporânea estimula a promoção social.

No Framework da ALA (2016), Competência em Informação é “o conjunto de habilidades integradas que abrangem a descoberta reflexiva da informação, a compreensão de como a informação é produzida e valorizada e o uso da informação na criação de novos conhecimentos e participação ética nas comunidades de aprendizagem”, atendendo, em certa medida, às demandas históricas e críticas, sem aprofundá-las, e minimizando a aderência aos termos eficiência e eficácia.

De maneira geral, em conformidade com o mapa conceitual apresentado (Figura 5), a Coinfo trata do conjunto de habilidades em informação, na perspectiva de solucionar problemas de forma eficiente e eficaz, a partir das ações de busca, acesso, uso e compartilhamento (ALA, 1998; LAU, 2008). Ações estas que estão intimamente ligadas ao modelo cíclico da comunicação científica de Garvey (1979) e abrangem a consulta de fontes(b36) de informação cujo critério se traduz no atendimento a necessidade de informação, ciente de que a resolução deste problema informacional pode ser parcial e poderá repercutir em outras demandas de informação.

No Brasil, em decorrência do uso da tradução “competência”, nos estudos de Coinfo também aparece o CHA (conhecimento, habilidades e atitudes), tripé de competências utilizado para avaliação profissional, advindo do contexto empresarial e administrativo. Neste aspecto a Coinfo se distingue bastante da CCI, inclusive reforçando, por vezes, o bancarismo, criticado por Freire e pela CCI, na intenção de preencher lacunas do usuário, sob uma concepção cumulativa, substituída na CCI pela perspectiva freiriana dialógica e de co-construção do conhecimento.

No que diz respeito às fontes e a própria informação, determinados aspectos ganham atenção da Coinfo (ALA, 1998; 2000, 2016), considerando aqui o acréscimo de parâmetros e aprofundamento dos significados ao longo nos anos nos documentos da ALA de padrões (Standards) para, o mais recente, de estrutura (Framework), sobre avaliação de informações e recursos informacionais, como: a origem(b37) – além de indagar de onde a informação vem, também se preocupa com informações e respeito de quem a produz, as credenciais do produtor da informação, o nível de especialização na temática; a relevância(b38) – qual a importância daquela informação para atender a uma determinada necessidade ou para a solução de um problema específico; o contexto(b39) – percepção e sensibilidade do sujeito para reconhecer a pluralidade dos atores sociais, que produzem e interpretam a informação, a partir de suas realidades, estimulando a busca por pluralidade de fontes; a abrangência(b40) – o quanto aquela informação abarca do assunto, a validade(b41) – se a informação é válida e fidedigna.

Também interferem na avaliação da informação e recursos informacionais fatores como: credibilidade ou “confiabilidade, [...] autoridade, pontualidade, ponto de vista ou preconceito; reconhecimento de informações manipuladas, prejudiciais ou fraudes; reconhecimento de contexto/impacto do contexto na interpretação da informação” (SAMPAIO, 2016, p. 58); e a precisão(b42), que, nos padrões da ALA (1998), compreende a organização das informações para aplicação, associação e aplicação da informação no pensamento crítico e na solução de problemas e produção/comunicação adequada de novas informações, produto da aquisição de novos conhecimentos.

Aspectos retomados a partir da criticidade nas Dimensões da CCI, discutidas adiante. Dudziak (2003) propõe três concepções de Coinfo:

1. A concepção na informação(b43) – é a abordagem mais instrumental da Coinfo, com foco no acesso através das tecnologias. Aquela que confere características tecnocêntricas à Coinfo.

2. A concepção no conhecimento(b44) – lança o foco na cognição, diferenciando-se da anterior por, apesar de manter as tecnologias no centro, está buscando entender o que se busca e os processos cognitivos na construção do saber.

3. A concepção da inteligência(b45) – foco no que se deseja buscar, como, por que e as habilidades, conhecimentos e atitudes envolvidos nesta busca. Nesta concepção a Coinfo é “[...] considerada a partir da dimensão social e ecológica do aprendiz, percebendo-o não mais como usuários [...]” (DUDZIAK, 2003, p. 31), mas ator social que deve aprender a aprender(b46).

Contemporaneamente essa visão transformadora do sujeito em autônomo e protagonista de seu processo de aprendizagem (o aprender a aprender) é associada a outros fundamentos da Coinfo como aprendizado ao longo da vida; aprendizado independente(b47); aprendizado ativo(b48); investigação(b49); pensamento crítico; pensamento reflexivo(b50), como apontam Vitorino e Piantola (2019). Também concernem a Coinfo as Dimensões propostas por Elizete Vitorino e Daniela Piantola (2011) que são: Técnica(b51), Estética(b52), Ética(b53) e Política(b54). Esse diálogo com a Pedagogia Crítica(b55), especialmente com os estudos freirianos provocou uma Coinfo mais voltada às questões sociopolíticas, impulsionando os estudos críticos para a CCI ou se aproximando da CCI, no caso do Brasil.

As tensões entre essas concepções podem ser notadas nos usos de traduções distintas no Brasil para information literacy, que indicam uma disputa pela tradução mais aproximada da concepção na informação, mais tecnicista e mercadológica, optando pela escolha do termo Competência e não Alfabetização, Letramento ou Literacia, que chegam a aparecer como possibilidades de tradução. Essa escolha aponta para a importação da tendência estadunidense tecnicista e mercadológica.

Este foi “o termo proposto na primeira mesa-redonda sobre Competência em Informação (no XIII SNBU, Natal/RN, 2004), reconhecido e utilizado, desde então, por muitos pesquisadores da área” (HATSCHBACH; OLINTO, 2008, p. 24). A Declaração de Maceió (2011) e o Tesauro Brasileiro de Ciência da Informação (2014), de Lena Vania Ribeiro Pinheiro e Helena Dodd Ferrez, recomendam a utilização de Competência em Informação. Assim, convencionou-se o uso de Competência em Informação. Nesta tese e em nossos trabalhos utilizamos o termo competência, apenas por convenção, e não letramento ou literacia que nos parecem mais próximos e concordantes com os estudos mais recentes e com a epistemologia da CCI.

5 COMPETÊNCIA CRÍTICA EM INFORMAÇÃO: MAIS QUE UMA

No documento ANNA CRISTINA C. DE A. S. BRISOLA (páginas 118-128)