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5. CONTEXTO DA PESQUISA – O GRUPO NEXCOM

5.3. CARACTERÍSTICAS

A principal característica do grupo Nexcom é a predisposição para as mudanças. O mercado de telecomunicações é altamente dinâmico, especialmente no segmento de telefonia celular (que tem pouco mais de dez anos de operação no Brasil). Novas tecnologias e serviços são lançados com freqüência, o que faz com que as regras do jogo mudem o tempo todo. Novas operadoras ainda estão em implantação, outras já passaram por fusões, aquisições e trocas de comando. Tanta volubilidade exige da empresa uma alta capacidade de adaptação da sua estrutura e dos seus processos de trabalho (o que por sua vez requer agilidade nas decisões e na comunicação).

Em sete anos de existência, o grupo Nexcom já teve cinco composições societárias diferentes, já operou sob o formato de franquia e agente credenciado, já representou duas operadoras diferentes, já abriu e fechou diversos pontos de venda. Pode-se afirmar sem medo de errar que, ao longo da sua vida empresarial, os dirigentes da Nexcom dedicaram mais tempo à condução das mudanças do que às atividades rotineiras. Em meio a tantas mudanças, acompanhadas também por uma alta rotatividade do quadro de colaboradores, torna-se difícil sedimentar uma cultura própria e criar uma identidade dos indivíduos com os propósitos da organização. Alguns princípios, entretanto, são muito fortes na filosofia de trabalho da empresa:

x Seriedade: a empresa não abre mão do cumprimento de suas obrigações éticas, contratuais, trabalhistas, tributárias, financeiras, etc. As incoerências e dificuldades impostas pelo cenário político-econômico, que impõem encargos excessivos nas áreas tributária e trabalhista, por exemplo, não são tomadas como justificativa para deixar de cumprir o que a lei determina.

x Busca da profissionalização: apesar de ter tido uma base familiar, a gestão da Nexcom é tecnicamente qualificada. A empresa investe em sistemas e treinamento, embora a estrutura enxuta e o estado de “transição permanente” muitas vezes dificultem a adoção das ferramentas de gestão apropriadas e a atuação mais consistente no desenvolvimento de pessoal.

x Agilidade na comunicação: a empresa aderiu à cultura do e-mail. A maior parte da comunicação interna da Nexcom ocorre através deste canal, que permite conciliar agilidade a um mínimo de formalidade.

x Estímulo à Competição: como qualquer empresa varejista, o estímulo à competição é natural, pois a remuneração da equipe de vendas é variável e baseada no desempenho

individual. A empresa chegou a adotar no passado uma política de remuneração que mesclava uma parcela variável pelo desempenho individual e outra variável em função do desempenho da equipe, mas por pressão dos próprios colaboradores a remuneração passou a ser resultante apenas do desempenho individual. Com isto, acirrou-se a competição interna, o que requer um acompanhamento permanente das lideranças para evitar situações de deslealdade e conflito.

Alguns traços culturais comuns às empresas baianas são encontrados na Nexcom. A informalidade que permeia as relações pessoais, a intimidade com que até mesmo os dirigentes são tratados pelos funcionários, um certo “descaso” em relação às normas (que vem sendo combatido com orientação e punições ao descumprimento), o paternalismo, a emoção, o companheirismo, a valorização das redes informais, entre outros.

É importante ressaltar ainda que, apesar de todas as unidades do grupo serem localizadas na Bahia, estão distribuídas em cidades diferentes, cada uma delas com características culturais próprias. Por essa razão, cada loja tem “a cara” do seu gerente – na forma como as pessoas se comportam, se relacionam e desempenham os mais diversos papéis. Cada gerente tem autonomia para designar tarefas, delegar responsabilidades, contratar (mediante orientação e suporte do setor de RH), demitir, estabelecer rituais próprios.

Ainda assim, mesmo com constantes mudanças e descentralização geográfica, existe uma filosofia de trabalho que permeia toda a organização, ancorada nos princípios e valores anteriormente descritos, que não está em cartazes, murais ou documentos, mas que se torna clara, muitas vezes de forma não-verbal, nas atitudes e decisões dos seus dirigentes. Como observa Enriquez (1996), o “mito fundador” cumpre duas funções essenciais: uma afetiva e outra intelectual. A função afetiva é também identificatória, manifestando-se através da criação de uma identidade coletiva que favoreça a coesão. A função intelectual é a de criar uma orientação geral do pensamento, para que as pessoas saibam como devem se comportar.

Ambas as funções se manifestam nos quatro dirigentes, em maior ou menor escala, conforme as características pessoais de cada um – curiosamente, dois dos quatro diretores têm estilo mais carismático, cumprindo função predominantemente identificatória, enquanto os outros dois têm perfil mais condizente com a função intelectual.

Para Enriquez (1996), as organizações mais dinâmicas são aquelas que “sabem conciliar eficácia e prazer, trabalho assíduo e convivência, racionalidade e imaginário, ética e estética”. A Nexcom é uma empresa alegre, jovem, comprometida com seus propósitos e com as pessoas e instituições com as quais se relaciona. Isto se reflete na sua relação com colaboradores, parceiros e clientes, e conseqüentemente nos resultados de seus negócios. Mas para potencializar os seus pontos fortes, refletindo esses aspectos no comprometimento da sua equipe, a gestão deve atentar para diversos aspectos problemáticos. Um dos desafios é criar uma atmosfera de estabilidade sem perder a flexibilidade – paradoxo já abordado no primeiro capítulo. Em relação ao ritmo das mudanças, há que se ter cuidado com a permanente instabilidade da sua configuração e de seus processos. Nessas circunstâncias, o trabalho não flui de forma racional e isto acarreta um alto nível de re-trabalho e stress nas pessoas. Também fica mais difícil o enraizamento dos valores e princípios básicos que a organização quer desenvolver.