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CAPÍTULO 4 ANÁLIS E DAS ENTREVIS TAS

4.2.1 Características do APL

Como já foi comentado com, o crescimento do setor de moda íntima em Novas Friburgo ocorreu uma inserção de confecções em alguns municípios em seu entorno. Os demais

municípios, que fizeram parte da pesquisa, são municípios pequenos em número de habitantes e tem Nova Friburgo como cidade pólo, sendo dependentes de serviços como saúde e educação e também de empregos. São municípios que a agricultura e ou a pecuária têm presenças fortes em suas economias.

Em relação ao setor de moda íntima pode-se citar o município de Cordeiro com um setor um pouco mais estruturado e de maior importância para economia local. Já em Cantagalo existe também certo número de confecções, mas a indústria cimenteira é a principal vocação econômica do município. Em Bom Jardim e Duas Barras o que foi verificado é que ainda é muito incipiente a presença do setor de moda íntima em seus municípios, contudo, em Duas Barras essa característica é mais acentuada, pois em Bom Jardim observam-se algumas confecções estruturadas de um porte maior, mas que cresceram por iniciativa própria antes da estruturação do arranjo.

“É por iniciativa própria, por isso que começa uma coisa muito pequena não é nenhuma empresa que a pessoa senta e diz ah! Vou formatar uma empresa, isso nasce uma coisa muito devagar como acredito que nasceu a minha também, eu mesma na época não sabia desse vulto que tinha esse setor em Friburgo de lá para cá também se cresceu muito” (Empresária).

Grande parte da distribuição da produção passa por Nova Friburgo, somente algumas empresas têm um canal próprio e conseguem vender seus produtos para outras regiões sem passar pela cidade pólo, sendo que algumas dessas empresas exportam um percentual de suas produções.

“A distribuição tem como foco Friburgo, porque eu tenho quatro lojas então é muito em função das minhas lojas e a gente como eu tenho investindo muito em catálogos também, a gente tem crescido muito nas vendas, através dos catálogos. Fora as participações de feiras (...)” (Empresária).

Apesar dos municípios fazerem parte do CDM percebe-se a pouca integração do poder público no PM I. Um pouco diferente neste caso é o município de Cordeiro, pelo fato de existir um representante do município para as questões do APL no setor da moda íntima. No entanto, é preciso salientar, que para a descrição do desenvolvimento da região tem que considerar suas dimensões quando comparado com Nova Friburgo, pois o que será visto, por exemplo, é o município de Cordeiro com cerca de 20 empresas de confecção de moda

íntima, ser o setor que mais emprega na cidade diferente de Nova Friburgo que tem em torno de 600 empresas.

De qualquer forma a promoção do PM I é visto como um dos mais importantes projetos para o desenvolvimento sócio-econômico da região, na medida em que possa ocorrer uma maior integração dos municípios participantes do APL junto com Nova Friburgo, pois há uma interdependência desses municípios junto com o município pólo como já foi revelado. Desta forma, o crescimento do APL torna-se uma possibilidade da região ter um desenvolvimento sustentável, pois os municípios são altamente dependentes dos recursos estaduais e federais como o Fundo de Participação M unicipal (FPM), configurando assim as prefeituras como as principais empregadoras da região.

“Esse pólo da moda íntima, ele foi para mim, e isso é uma opinião pessoal, nos últimos 20 anos é o projeto mais sério que ocorreu de entrosamento sócio- econômico desses municípios, porque nós não podemos ver Friburgo isolado, nem Friburgo pode viver sem nós, porque não existe verba de planejamento em Friburgo que atenda as necessidades em função desses municípios todos em função dele (...)” (Representante do CDM de Cordeiro).

A estruturação institucional do APL vem sendo importante para o desenvolvimento dos municípios da região no setor de moda íntima, pois com essa governança percebe-se uma maior organização no setor e um aumento na troca de informações, as quais são importantes para a inserção das empresas nas novidades do mercado. Outra questão relevante é a divulgação do PM I tanto nacionalmente quanto no exterior, ampliando-se assim as possibilidades de novos mercados.

“Eu acho que foi importante que ele ajuda a organizar, com a burocratização que está vindo, as empresas ficam em desvantagem se não estão acompanhando a globalização. Então o pólo vem trazer informação, vem trazer novidades para divulgar o pólo no Brasil e no exterior, faz com que as venham oferecer produtos, serviços, interessados a comprar os nossos produtos” (Empresário).

“Olha, com certeza com o pólo houve uma melhoria para a gente das empresas, inclusive para quem está começando agora nas empresas mais novas, (...) com certeza a organização está sendo excelente para a gente”. (Empresário)

Nesse sentido, com o crescimento do setor de moda íntima e tornando-o mais visível para o resto do país, algumas empresas de outras regiões como fornecedores de matérias-primas

começam a se instalar em Nova Friburgo, favorecendo as empresas locais do próprio município, mas também as outras integrantes do APL. M ostrando assim, uma tendência das etapas da cadeia produtiva estar presentes na própria região. No entanto, grande parte dos fornecedores de matéria-prima ainda é de São Paulo.

“Eu acho que se torna favorável que é sempre bom você ter um pólo, às vezes a gente fala dessa concorrência que se criou, ao mesmo tempo, mas imprime benefícios também, você consegue ter todos os fornecedores de matéria-prima aqui, porque aqui vale a pena colocar um vendedor exclusivo para a região, então você tem várias exclusividades que empresa nem nas cidades daqui do estado mesmo não teriam, porque não tem um pólo, que é voltado só para moda íntima, inclusive têm empresas que já vieram de Friburgo uma forma de matéria prima também, a de bordado já era de lá, mas a de renda veio agora com a moda íntima, então está vindo para cá para a região, fortalece a região e acaba favorecendo a região também, com mais emprego até na indústria têxtil. (...) São Paulo a grande maioria, muito grande acho que mais de 90% vem de São Paulo” (Empresário).

Com a criação do CDM , destacam os demais municípios e não só Nova Friburgo como uma potência para o desenvolvimento do setor de moda íntima, pois antes as ações aconteciam de forma isolada, não existindo uma inter-relação. Deste modo, ocorreu uma aproximação das empresas dos próprios municípios com os demais empresários dos outros municípios integrantes do APL, tendo ajuda das instituições coordenadoras do arranjo como o Sebrae, o Senai e o SINDVEST.

“Percebeu que, por exemplo, a cidade que as cidades que não estava ligada à Friburgo passaram a se interessar, a chamar os empresários a participar. Antes aqui, as prefeituras das regiões que fora de Friburgo nem estavam ligados a esse foco” (Empresário).

“Isso através do trabalho do Senai e do Sindicato, isso melhorou muito, eu tenho um grande relacionamento com algumas empresas de Friburgo muito bom, até porque o Sebrae proporciona encontros, café da manhã, é essas viagens que a gente faz para estudar outros mercados, isso faz com que há uma aproximação e uma troca de informação muito boa” (Empresária).

A feira de moda íntima de Nova Friburgo, a FEVEST, como já tinha sido observado no item anterior, cresceu na quantidade e no valor das vendas e na qualidade profissional do evento. Ela é vista como uma vitrine para o APL não só para empresas de Nova Friburgo, mas para as demais confecções dos municípios participantes do PM I. Empresas que não participaram do evento em 2004 ficaram otimistas para o ano de 2005.

“A FEVEST já passou por diversas situações, eu que acompanhei desde a primeira, vi nascer e ver que é hoje, esse ano, assim acho que foi imbatível realmente em termos até do cliente que estiveram nos visitando com um grande potencial. Não tinha tanto público passeando, então eles eram voltados para a venda que era o que a gente queria. Foi muito bem organizado também” (Empresária).

4.2.2 Entraves no desenvolvimento do APL

Entretanto, apesar da boa relação dos municípios, verifica-se um problema de maior integração por causa da distância, mesmo sendo relativamente pequena, pois existe a dificuldade das empresas de participarem mais ativamente das reuniões realizadas pelo CDM .

“A relação até que é boa, a desvantagem é que Friburgo começou na frente, então não é Cordeiro que aqui está 40 min. de lá, então não dá para você está participando de tudo que a empresa que tem em Friburgo pode participar, mas toda a obrigação eu tenho minha empresa ali, então participa quem interessa, se quiser participar pode participar normalmente” (Empresário).

Desta forma, mesmo identificando uma sensível melhora no setor de moda íntima com a presença das instituições coordenando as ações da promoção do APL, observa-se ainda uma considerável desarticulação e falta de organização nas coordenações do PM I, encontrando uma dificuldade de modificar o perfil concorrêncial entre as empresas dos municípios da região.

“Olha, sinceramente eu acho que a coisa está mal organizada, eu vejo que outros setores, outras indústrias, os pólos são muito mais fluentes, eles interferem mesmo, dita coisas que são super interessantes, e na moda íntima me parece que há aquela visão antiquada da concorrência, não há aquela união entendeu” (Empresário). M uitas empresas já tomam conhecimento da importância da cooperação entre elas e que a concorrência deve ser feita com outras regiões. No entanto, uma questão a ser considerada no que diz respeito dessa tentativa de mudar o hábito concorrêncial é a possibilidade de uma piora no setor, o qual poderia levar a uma mudança de discurso, com isso, a sinergia e a relação de confiança poderiam ficar minadas.

“M elhorou um pouco, mas eu acho que conforme mude a situação do mercado, a concorrência volta com toda força. Todo mundo tende passar para o empresário que não é aqui que tem que se competir, é com outras regiões, é com outros Estados, não competir acaba ficando difícil, a empresa vai estar sempre olhando o outro lado quando a coisa está difícil” (Empresário).

Desta forma, é apontada uma crítica no sentido, que as instituições governantes do PM I precisam conhecer melhor a realidade local, onde as empresas estão instaladas, pois lançam programas para viabilizar as exportações, enquanto a demanda é por uma mão-de- obra mais qualificada. Grande parte das empresas se encontra na informalidade e sem perspectiva mudança, na medida em que são empresas familiares com poucas pessoas trabalhando e normalmente instaladas em suas próprias residências.

“Eu acho assim, eu acho que ainda falta um pouco eles conhecerem a realidade de cada confecção, principalmente das confecções menores. Eu comento às vezes com eles, teriam que fazer um corpo a corpo visitar mesmo para eles terem em mão o que é a confecção de Friburgo, é muito fácil falar mais eu tenho certeza que eles não conhecem a realidade local não digo todos, porque esse trabalho de uns dois anos para cá melhorou muito, mas eu acho que ainda tem muito a desejar para eles tomar determinadas atitudes ali. Eles precisariam conhecer a verdadeira situação de uma pequena empresa, num fundo de quintal para vê se até ela está legalizada, é para conhecer essas dificuldades até para tomar as atitudes depois” (Empresária). Neste contexto, é apresentado o mesmo problema do município de Nova Friburgo, a falta de capacitação das empresas pelo motivo da baixa qualificação, tanto dos empresários quanto dos empregados e da população de uma forma geral. Os cursos do Senai são identificados como caros e de difícil acesso, pois funcionam em Nova Friburgo.

“Acho que a maior necessidade da região aqui toda é a questão da mão-de-obra, a gente não tem mão-de-obra qualificada a gente sabe que tem o Senai, que faz esse trabalho, mas para as pessoas saírem daqui e ir até Friburgo fazer esse treinamento, vai sair um custo muito alto para eles, até essas pessoas normalmente estão desempregadas, então a necessidade era que aqui tivesse alguma coisa apresentada para o treinamento de mão-de-obra, (...) e hoje se tivesse os profissionais qualificados que moram na região estariam empregados, existe uma demanda muito grande” (Representante do Sebrae).

Sendo assim, para reverter essa situação é necessária uma integração dessas instituições com os poderes públicos locais, para que na forma de parcerias consigam implementar projetos de educação de qualidade e capacitação no que diz respeito aos recursos humanos

na região. É preciso trabalhar com questões básicas de infra-estrutura social ao invés de oferecer preferências as ações que atinjam uma pequena parcela da população, como uma faixa restrita de empresários que se destacam em suas localidades.

“(...) alguns empresários da época, e eles comentaram que o grande problema deles era a mão-de-obra qualificada, nós tentamos até montar o curso, mas tivemos problemas que até alegação deles que é caríssimo a capacitação desse pessoal, então o município deve investir para ser satisfatório o retorno porque ninguém tem isso no momento. A mão-de-obra capacitada é uma necessidade, está um crescimento grande, antigamente ficava restrito à Friburgo” (Representante do Poder Público).

“Nós ainda precisamos traçar uma política de municípios mais clara, de uma ajuda mais efetiva, quando eu digo a você que a gente precisa de escola técnica municipais para se criar profissões no setor, dar capacitação, porque se nós não capacitarmos essas pessoas, dificilmente vão poder ligar o sistema de emprego e as próprias empresas (...)”(Representante do CDM de Cordeiro).

Algumas empresas oferecem aos seus funcionários cursos do Senai, mas existe a dificuldade de locomoção até Nova Friburgo, como já foi verificado, e para as pessoas que estão desempregadas fica inviável não só pela distância, mas por causa de não ter recursos financeiros para fazer os cursos. Outra questão é a informalidade de empresas, principalmente em Nova Friburgo que têm um número muito maior, pois essas empresas competem por preço. Por funcionarem na cidade pólo se beneficiam, levando algumas empresas mais estruturadas a mudarem seu produto por um produto com design diferenciado e com alta qualidade para buscar outros clientes.

“Acho que é a informalidade, acho que as empresas informais que dentro do pólo, que de uma maneira geral aqui nem tanto, em Friburgo está a maioria, que acaba dificultando a empresa que está pagando imposto, que tem os seus compromissos no governo e na sociedade, estas saindo um custo mais elevado do que a informalidade” (empresário).

“Do meu produto propriamente dito não, não porque eu até enfrentei alguns problemas no ano de 2003, porque eu mudei drasticamente o meu produto, para não está estabelecendo uma concorrência com o produto de Friburgo, que eu percebi que não teria como eu concorrer com eles, no principal aspecto preço, então eu tive que fazer uma mudança drástica e tornar um produto com um alto padrão de acabamento, qualidade, agregar valor ao produto e não concorrer com preço, minha estratégia hoje é nunca concorrer com preço, então eu vou com acabamento, qualidade, tendência, design” (Empresário).

Em relação aos projetos de desenvolvimento do PM I terem como referência os distritos industriais italianos, estes são vistos como um programa ambicioso e ainda muito distante da realidade local. Os distritos industriais têm como uma de suas características uma divisão das etapas da produção entre as empresas. E no APL como um todo não ocorre dessa forma, as empresas participam de todas as etapas da produção.

“Eu acho que a gente está um pouquinho longe disso, eu que estive lá, a gente visitou o Centro de Serviço que nos explicou como funcionava esse distrito, o que foi que deu a entender ali seriam que cada confecção fazia uma parte do processo para formatar o produto (...). M as eu acho difícil Friburgo, mas não é impossível, mas eu acho difícil isso acontecer, isso porque cada um tem uma realidade, cada um já tem a sua realidade, você, por exemplo, pegar uma parte da minha confecção e tentar terceirizar eu até acho que abra alguma coisa, eu já tenho uma parte terceirizada, mas eu comprei as minhas costureiras lá fora, dou todo apoio no trabalho delas lá em casa, levo, apanho, dou máquina, aí consigo fazer com que a coisa funcione, já tentei pegar alguma confecção e tentar fazer algum produto não consegue (...)” (Empresário).