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Desenvolvimento local, cidadania e arranjos produtivos locais: um estudo no estado do Rio de Janeiro

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Academic year: 2017

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORM AÇÃO ACADÊM ICA E PESQUISA

CURSO DE M ESTRADO EM ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA

DESENVOLVIM ENTO LOCAL, CIDADANIA E ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS:

UM ESTUDO NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EM PRESAS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

M ESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

CARLOS FREDERICO BOM KRAEM ER

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA BRASILEIRA DE ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS CENTRO DE FORM AÇÃO ACADÊM ICA E PESQUISA

CURSO DE M ESTRADO EM ADM INISTRAÇÃO PÚBLICA

DES ENVOLVIMENTO LOCAL, CIDADANIA E ARRANJOS

PRODUTIVOS LOCAIS

Um estudo no Estado do Rio de Janeiro

DISSERT AÇÃO DE MEST RADO APRESENTADA POR

CARLOS FRED ERICO BOM KRAEMER

APROVADA EM / /

PELA COMISSÃO EXAMINADORA

FERNANDO GUILHERME TENÓRIO DOUTOR EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO

_________________________________________________________________ JOSÉ ANTÔ NIO PUPPIN DE OLIVEIRA

PH.D. EM PLANEJAMENTO

JORGE ONEIDE SAUSEN

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AGRAD ECIMENTOS

A toda a minha família, principalmente aos meus pais, que sempre me deram a oportunidade de estudar e acreditarem em meu potencial.

Ao prof. Fernando Guilherme Tenório pela oportunidade do tema de dissertação e orientação, pois foi com ele que tive a oportunidade de ser apresentado a essa área de conhecimento.

Aos funcionários da secretaria da EBAPE, do Centro de Formação Acadêmica e Pesquisa e da Biblioteca M ario Henrique Simonsen, pelo brilhantismo do seu trabalho, permitindo que nós, alunos, desfrutássemos das excelenets condições de estudo.

A todos da minha turma do mestrado, pelos momentos que compartilhamos juntos. Por terem sido, mais do que colegas, verdadeiros amigos, em especial ao amigo Valdeir (in

menoriam), que foi um grande parceiro nestes dois anos.

Ao amigo Ângelo, que no mesmo período participava de uma jornada acadêmica similar com a minha.

(4)

Resumo

(5)

Abstract

(6)

S UMÁRIO

Lista de siglas ... 06

Lista de figuras ... 08

Lista de tabelas ... 09

INTRODUÇÃO ... 10

i) Organização do estudo ...12

ii) Objetivos ...13

iii) Relevância ...13

CAPÍTULO 1 - ARRANJO PRODUTIVO LOCAL ... 15

1.1 Teorias de desenvolvimento regional ...17

1.2 Novas estratégias para o desenvolvimento regional ou local ...23

1.2.1 Distrito industrial ...23

1.2.2 Ambientes Inovadores ...26

1.2.3 Cluster...27

1.3 Políticas para promoção de um Arranjo Produtivo Local...30

CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA ... 36

2.1 Tipo de pesquisa ... 36

2.2 Universo e amostra ... 37

2.3 Coleta de dados ... 38

2.4 Tratamento dos dados ... 40

2.5 Limitações do método ... 43

CAPÍTULO 3 - OS MUNICÍPIOS ES TUDADOS E O PÓLO DE MODA ÍNTIMA DE NOVA FRIBURGO E REGIÃO...44

3.1 Os municípios estudados ...44

3.1.1 Nova Friburgo ...46

3.1.2 Bom Jardim ...47

3.1.3 Cantagalo ...48

(7)

3.1.5 Duas Barras ...50

3.2 O Pólo de M oda Íntima de Nova Friburgo e Região ...51

3.2.1 Caracterização ...51

3.2.2 As articulações para o desenvolvimento do APL...53

3.2.3 Os poderes públicos ...58

CAPÍTULO 4 - ANÁLIS E DAS ENTREVIS TAS ... 60

4.1 Nova Friburgo ...60

4.1.1 Características do APL e as articulações das instituições ...60

4.1.2 Entraves no desenvolvimento do APL ...70

4.1.3 As atuações da sociedade civil e do poder público local ...72

4.2 Os demais municípios ...81

4.2.1 Características do APL ...81

4.2.2 Entraves no desenvolvimento do APL ...84

4.2.3 As atuações dos poderes públicos locais e o município de Cordeiro ...88

CAPÍTULO 5 – CONS IDERAÇÕES FINAIS ...90

APÊNDIC E CAPÍTULO I – CID ADANIA CAPÍTULO II – DES ENVO LVIMENTO LOCAL CAPÍTULO III – D ES ENVOLVIMENTO LOCAL COM CIDADANIA BIBLIOGRAFIA... 97

ANEXOS ...100

Anexo 1: Roteiros para entrevistas na pesquisa de campo ...100

Anexo 2: Informações sobre o município de Nova Friburgo ...103

Anexo 3: Informações sobre o município de Bom Jardim ...109

Anexo 4: Informações sobre o município de Cantagalo ...115

Anexo 5: Informações sobre o município de Cordeiro ...121

Anexo 6: Informações sobre o município de Duas Barras ...127

(8)

Lista de siglas

AD: Análise de Discurso;

APEX: Agência de Promoção à Exportação; APL: Arranjo Produtivo Local;

BID: Banco Interamericano de Desenvolvimento;

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; CAM EX : Câmara de Comércio Exterior da Presidência da República; CDM : Conselho de Desenvolvimento da M oda;

CIRJ : Centro Industrial do Rio de Janeiro;

CNPq :Conselho Nacional de Desenvolvimento e Pesquisa;

CPDOC: Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil; Eaesp: Escola de Administração de Empresas de São Paulo;

Ebape: Escola Brasileira de Administração Pública e Empresas; ETT: Escritório de Transferência de Tecnologia;

FGV: Fundação Getulio Vargas;

Finep: Financiadora de Estudos e Projetos; FM I: Fundo M onetário Internacional; FPM : Fundo de Participação M unicipal;

GREM I: Groupe de Recherche Européen sur lês M ileux Inovateurs; IBRE: Instituto Brasileiro de Economia;

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; IEBTec : Incubadora de Empresas de Base Tecnológica; IEL: Instituto Euvaldo Lodi;

IPRJ: Instituto Politécnico da UERJ; M CT: M inistério da Ciência e Tecnologia; MPE: M icro e Pequenas Empresas;

NAD: Núcleo de Apoio ao Design;

ND²Tec: Núcleo de Desenvolvimento e Difusão Tecnológica;

OCDE: Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico; ONG: Organização Não Governamental;

PDGS: Programa de Desenvolvimento Local e Gestão Social; PEGS: Programa de Estudos em Gestão Social;

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Promos: Divisão Especial da Câmara de M ilão para o Desenvolvimento das Atividades Internacionais;

PSI: Projeto Setorial Integrado de Desenvolvimento de M oda de Nova Friburgo; RedeSist: Rede de pesquisa em Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais; Sebrae: Serviço Brasileiro de Apoio às M icro e Pequenas Empresas;

Senai: Serviço de Aprendizagem Industrial; SESI - Serviço Social da Indústria;

SINDVEST: Sindicato da Indústria do Vestuário SPL: Sistema Produtivo Local;

TIC: Tecnologia da Informação e Comunicação; UERJ: Universidade Estadual do Rio de Janeiro; UFBA: Universidade Federal da Bahia;

UFLA: Universidade Federal de Lavras;

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Lista de figuras

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Lista de tabelas

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INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas as teorias de desenvolvimento regional sofreram grandes mudanças, despertando um interesse crescente nos diferentes conceitos de aglomerações produtivas, o que refletiu um conjunto de mudanças no ambiente competitivo das empresas, manifestando-se mais claramente nas décadas de 1970 e 80. Assim, desde o fim da década de 1980, observa-se um movimento de subcontratações, alianças e fusões por parte das empresas, uma abertura comercial e aumento do volume do capital financeiro em circulação mundial dos países.

Desse modo, a globalização e os preceitos neoliberais, como a austeridade fiscal, a privatização e a liberalização do mercado de capitais e do comércio, implicaram em uma maior vulnerabilidade externa, não contribuindo para o desenvolvimento dos países. O que se levou a um menor grau de liberdade de governos nacionais em suas políticas econômicas. Com isso, observa-se a necessidade de novas estratégias e políticas tanto públicas quanto privadas. Sendo assim, as regiões no interior dos países vêm ganhando um papel importante na tomada de decisões relacionadas à utilização dos seus meios e de seus recursos envolvidos no processo econômico e social, o que vem demonstrando que a organização territorial passou a ser um fator importante para o desenvolvimento social e econômico de um país.

Logo, o tema desenvolvimento local tem sido assunto sempre presente nos meios acadêmicos, para os pesquisadores, gestores públicos, políticos e instituições que estejam preocupadas e envolvidas na transformação sócio-econômica da estrutura local vigente, no que diz respeito com crescimento econômico, a geração de renda e melhoria da participação social, promovendo o direito da cidadania. O intuito é o de poder orientar as alternativas de desenvolvimento, tanto no que se refere aos recursos, quanto às potencialidades locais, considerando os princípios de sustentabilidade e solidariedade.

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orientados pelos princípios da inclusão, do pluralismo, da igualdade participativa, da autonomia e do bem comum, o que neste trabalho denominou de cidadania deliberativa.

Os estudos neste contexto, sobre novas formas de desenvolvimento regional vêm contribuindo para formulação de políticas públicas e privadas, e também, para promoção de aglomerações produtivas em favor do crescimento e do desenvolvimento de regiões, conseqüentemente de países. Com isso, é no nível local que os Arranjos Produtivos Locais (APL’s) surgem como uma das alternativas encontradas para atender a essas novas mudanças, sendo importante na possibilidade de um desenvolvimento sustentável.

Arranjos Produtivos Locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais, que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente, envolvem a participação e a interação de empresas e suas variadas formas de representação e associação. Incluem, também, diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos, pesquisa, desenvolvimento, política, promoção e financiamento (Lastres e Cassiolato, 2003).

Para um APL, os elementos de confiança são as principais fontes de competitividade, de solidariedade e de cooperação entre empresas, um resultado de relações muito estreita de natureza econômica, social e comunitária. Essa cooperação também precisa existir junto aos demais agentes, para isso é necessário que haja uma identidade social e cultural entre eles.

Sendo assim, neste trabalho levantou-se a questão, no que se refere a desenvolvimento local baseado em uma cidadania deliberativa: como a participação e a interação dos poderes públicos locais, instituições públicas e privadas e a sociedade civil podem promover um desenvolvimento sustentável, tendo como referência um Arranjo Produtivo Local?

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i) Organização do estudo

Antes de apresentar a organização da dissertação, cabe ressaltar, que este trabalho faz parte de um projeto maior que envolve também estudos em seis municípios do Agreste M eridional do Estado de Pernambuco; seis municípios da micro-região de Lavras, região sul de M inas Gerais; bem como seis municípios do Estado do Rio de Janeiro nos limites da Bacia Hidrográfica do Rio Itabapoana. Essas pesquisas estão amparadas pelo Programa de Estudo em Gestão Social (PEGS) da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape) da Fundação Getulio Vargas (FGV), coordenado pelo professor Fernando Guilherme Tenório.

O PEGS tem um estreito vinculo com outros programas de pós-graduação no exterior e no Brasil como: Programa Gestão Pública e Cidadania da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (Eaesp) da FGV; M estrado Profissionalizante em Bens Culturais e Projetos Sociais do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da FGV; Programa de Desenvolvimento Local e Gestão Social (PDGS) da Universidade Federal da Bahia (UFBA); Curso de M estrado em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Unijuí); Programa de Pós-graduação em Administração (mestrado e doutorado), principalmente, na linha de pesquisa em Gestão Social e Desenvolvimento, da Universidade Federal de Lavras (UFLA); e Escola de Governo da Universidade do Chile.

No capítulo 1 da dissertação, desenvolvem-se algumas das principais abordagens teóricas sobre aglomerações territoriais de empresas de menor porte que emergiram a partir da década de 1980, tendo como referência os APL’s; o capítulo 2 apresenta a metodologia do trabalho; já no capítulo 3, descreve-se as principais características dos municípios estudados e do Pólo de M oda Íntima de Nova Friburgo e Região; no capítulo 4 é realizada a análise das entrevistas da pesquisa de campo; e por fim, o capítulo 5 apresenta as considerações finais, visando apontar e discutir os resultados obtidos.

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conjunto com membros do PEGS fez-se uma discussão sobre cidadania, desenvolvimento local e desenvolvimento local com cidadania. Essa discussão foi desenvolvida por mais de seis meses e aconteceu antes da pesquisa de campo.

ii) Objetivos

Objetivo final

Verificar como a participação e interação do poderes públicos locais, instituições públicas e privadas e a sociedade civil podem promover um desenvolvimento sustentável, tendo como referência o Arranjo Produtivo Local de Nova Friburgo e Região.

Objetivos intermediários

- Identificar e demarcar as potencialidades institucionais presentes no APL;

- Identificar os principais programas e projetos direcionados para o desenvolvimento do APL e da região pesquisada;

- Analisar a relação entre os poderes públicos locais, instituições públicas e privadas e a sociedade civil nos municípios estudados;

- Analisar a relação dos municípios com a cidade pólo de Nova Friburgo.

iii) Relevância

O estudo sobre APL é um tema muito discutido atualmente e vem configurando não só para países desenvolvidos, mas também para países em desenvolvimento, como uma possibilidade cada vez mais importante para o desenvolvimento sustentável local. Deste modo, muitos programas de políticas públicas para a promoção de um desenvolvimento regional no Brasil incluem como referência o conceito de APL.

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CAPÍTULO 1 - ARRANJO PRODUTIVO LOCAL

No final do capítulo III do Apêndice foram apresentadas algumas iniciativas com o intuito de promover o desenvolvimento de uma região. Neste capítulo, será discutido e aprofundado o conceito de Arranjo Produtivo Local (APL) e para discorrer sobre o assunto, algumas questões abordadas no capítulo II do apêndice serão retomadas, a fim de enriquecer o tema APL.

Nas últimas décadas as teorias de desenvolvimento regional sofreram grandes mudanças, despertando um interesse crescente nos diferentes conceitos de aglomerações produtivas, o que refletiu um conjunto de modificações no ambiente competitivo das empresas, manifestando-se mais claramente nas décadas de 1970 e 80. M uitos desses estudos estiveram fundamentados pelo declínio de muitas regiões tradicionalmente industriais, envolvendo a crise do modelo fordista de produção e pelo surgimento de regiões portadoras de novos padrões industriais. Essas transformações estão ligadas às mudanças nas formas e nos modos de produção e de organização industriais, tais como os aspectos de flexibilização e da descentralização dentro e fora das organizações, o que levam a impactos em termos de reestruturação funcional do espaço, ou ainda, transformações exercendo influências sobre a produtividade das empresas, as quais têm levado cada vez mais em consideração fatores locacionais em suas estratégias de competitividade (Amaral Filho, 2001 e Lemos, 2003).

Assim, desde o fim da década de 1980, observa-se um movimento de subcontratações, alianças e fusões por parte das empresas, uma abertura comercial e aumento do volume do capital em circulação mundial dos países. No entanto, ao mesmo tempo, as regiões no interior dos países vêm ganhando um papel importante na tomada de decisões relacionadas à utilização dos seus meios e de seus recursos envolvidos no processo econômico, o que vem demonstrando que a organização territorial passou a ter um papel ativo diante da organização industrial e um fator importante para o desenvolvimento de um país (Amaral Filho, 2001).

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local, principalmente nos países desenvolvidos e com mais limitação nos países em desenvolvimento. Apesar de uma grande discussão em torno de seu conceito, observam-se alguns pontos de convergência, sendo assim, segundo, Helena M .M . Lastres e José Eduardo Cassiolato e seus colaboradores da Rede de Pesquisa em Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist)1 os APL’s e os SPL’s podem ser definidos como:

“Arranjos produtivos locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser produtoras de bens e serviços finais até fornecedores de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento” (Lastres e Cassiolato, 2003: 11).

”Sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que

interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local” (ibidi).

Esse conceito de APL tenta ser o mais amplo possível, a fim de captar os arranjos mais rudimentares àqueles mais complexos e articulados, pois há uma tentativa de não restringir o foco a nenhum conceito que pudesse impossibilitar a análise e promoção de aglomerações produtivas. Busca abranger a definição do objeto de análise, com a inclusão de diversas realidades com o foco, no caso brasileiro, ao invés da exclusão (Lemos, 2003).

A relação das empresas com as autoridades e instituições locais ocorre em seu estado de organização social e institucional, importante para a realização da produção social e estabilidade da aglomeração de empresas. Este estado necessita a presença de três

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elementos, que articulados promovem os APL’s. São eles: capital social2, organização produtiva e articulação político institucional (Amaral Filho et all, 2002).

Para os APL’s, há uma grande variedade de conceitos ou modelos de organização de aglomerações de empresas. Nesse sentido, há autores, como Amaral Filho et all (2002) que apontam exemplos de aglomerações de empresas que incorporam a dimensão territorial, como forma de arranjos, nos quais destacam-se os distritos industriais, os ambientes inovadores e os clusters. Porém, outros autores, como Lastres e Cassiolato (2003), colocam esses mesmos exemplos, entre outros, como uma abordagem análoga do conceito de APL. Sendo assim, essas três categorias serão abordadas neste capítulo, pois em políticas para a promoção do desenvolvimento de arranjos no Brasil, esses exemplos são utilizados como referência em sua maior parte. No caso Pólo de M oda Íntima de Nova Friburgo e Região (PM I), que foi o objeto de estudo desse trabalho, são utilizados os conceitos dos distritos industriais e clusters como referências.

No entanto, antes será apresentada, no item a seguir, uma abordagem teórica de forma concisa e sistematizada, que antecede esta produção recente sobre desenvolvimento regional, pois estes novos estudos referenciam muitas vezes essas correntes teóricas que os antecederam, compartilhando importantes características ou até mesmo criticando-as. Por fim, o último item do capítulo se preocupará com a promoção de políticas para APL´s.

1.1 Teorias de desenvolvimento regional

Questões da concentração e da aglomeração de empresas ocupam lugar importante no que ficou conhecido como “teorias clássicas da localização” industrial. Essas teorias são oriundas, principalmente, de autores alemães tais como: Von Thünen (1826), Alfred Weber (1909), Walter Cristaller, Lösch (1933) e Walter Isard (1956) (este norte-americano). Uma das questões principais, que estes autores buscaram enfatizar, de uma forma geral, foi em relação à visão das empresas, levando em conta o papel dos seus custos. No que diz respeito aos custos de transporte e o custo da mão-de-obra, estas empresas definiriam a

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localização ideal numa determinada região. Porém estas teorias encontram limites ao tentar explicar o processo de localização e de endogeneização regional, pois não conseguem dar conta da complexidade dos processos concretos e dinâmicos da concentração das atividades econômicas sobre um determinado espaço (Amaral Filho 2001).

Logo, a partir da década de 1950 começam a ser desenvolvidas teorias de desenvolvimento regional, que passam a enfatizar fatores dinâmicos suplementares a localização regional resultante de externalidades decorrentes da aglomeração industrial. Teorias com essas características passariam a rivalizar com as teorias clássicas da localização, pois estas negligenciavam os efeitos das externalidades. Destacam-se três conceitos: o relevante papel desempenhado pela aglomeração nos “pólos de desenvolvimento” de François Perroux, na “causação circular e acumulativa” de Gunnar M yrdal e nos “efeitos para trás e para frente” de Albert Hirchman (Cavalcante, 2002).

Cabe ressaltar, que Alfred M arshall teria sido o primeiro autor a expor idéias sobre a questão da aglomeração de atividades como um fator de localização de novas atividades e com isso, crescimento. Essas suas idéias podem ser vistas em sua obra Princípios de Economia de 1890, em que alguns dos pontos tratados são as externalidades causadas pela localização das indústrias, as quais seriam: a possibilidade oferecida por um grande mercado local de viabilizar a existência de fornecedores de insumos com eficiência de escala; as vantagens decorrentes de uma oferta abundante de mão-de-obra especializada; a troca de informações que ocorre quando empresas do mesmo setor aglomeram-se (Cavalcante, 2002). Deste modo, os conceitos de M arshall serão retomados por diversos autores que terão como referência os chamados distritos marshallianos para o desenvolvimento do novo conceito dos distritos industriais.

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uma série de outros efeitos negativos que seriam cumulativos. O mesmo aconteceria com forças positivas em qualquer processo social (Gonçalves et all, 2000).

Myrdal faz essas observações, pois em suas abordagens o mercado atua de forma imperfeita e em desigualdade. Sendo assim, Myrdal é a favor de uma atuação do Estado para conter as forças de mercado, que de alguma forma tenderiam a acentuar os níveis de desigualdade regional, indo de encontro com as teorias neoclássicas. O autor também tratará em seus trabalhos sobre fatores de natureza não-econômica como sendo determinantes no desenvolvimento, tais como a qualificação da mão-de-obra, a comunicação, a consciência de crescimento e vizinhança e o espírito empreendedor, lidando desta forma, com fatores que mais tarde ganhariam importância na produção teórica em economia regional (Cavalcante, 2002).

Albert Hirschman, em seus argumentos, apresenta uma série de pensamentos identificados com as questões relativas à aglomeração. Ele também defenderá uma linha intervencionista, ao argumentar que países em desenvolvimento são forçados a um processo menos espontâneo e mais refletidos na questão de desenvolvimento do que países já desenvolvidos, atribuindo, assim, uma grande relevância nas funções de planejamento. Segundo Hirschman, nos países desenvolvidos, a concorrência constitui-se num poderoso veículo para manter as firmas eficientes e progressistas. Porém nos países subdesenvolvidos, as dimensões do mercado por vezes não comportam mais que uma firma, fazendo abundar monopólios regionais, inviabilizando o exercício do papel que teria a concorrência. Nesse sentido, é importante que o Estado fomente o crescimento econômico, buscando reduzir as desigualdades entre as regiões centrais e periféricas, com o objetivo de integrar estas últimas.

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Em relação aos conceitos de pólos de desenvolvimento e crescimento de Perroux, estes foram bastante difundidos e tiveram grande importância no planejamento de políticas públicas de desenvolvimento em países desenvolvidos e em desenvolvimento, inclusive o Brasil, no final dos anos 50 e na década de 1960, sendo assim inseriu-se um subitem para fazer uma abordagem mais extensa sobre o tema.

O espaço econômico polarizado de François Perroux

A concepção de pólo de desenvolvimento surgiu por meio de trabalhos acadêmicos, o qual o autor argumentou que as análises sobre desenvolvimento econômico deveriam ser concentradas nos processos pelos quais as várias atividades econômicas apareciam e cresciam em importância, sendo que em alguns casos, declinavam e desapareciam. Perroux entendia que a inovação empresarial era a responsável primária pelo processo de desenvolvimento, o qual envolveria uma sucessão de setores dinâmicos e pólos de tempos em tempos. O termo pólo de desenvolvimento foi elaborado essencialmente em termos da localização geográfica da população e das atividades econômicas dessa região (Boudeville, Hirschman, Myrdal apud Hansen, 1987).

Nos países o crescimento e desenvolvimento não se repartem uniformemente, manifestando-se com intensidades diferentes em pontos ou pólos a partir dos quais propagam-se em vias diversas e com efeitos finais variáveis, que podem difundir em efeitos de expansão (Perroux, 1967). Sendo assim, o termo “pólo de desenvolvimento” pode ser colocado como:

“Uma unidade econômica motriz ou um conjunto formado por várias dessas unidades. Uma unidade simples ou complexa, uma empresa, uma indústria, um complexo de indústrias dizem-se motrizes quando exercem efeitos de expansão sobre outras unidades que com ela estão em relação [e] quando a resultante de todos os esforços que gera é positiva, no sentido de transformar as estruturas por forma a elevar a taxa de crescimento do produto real global e líquido do conjunto considerado” (Perroux, 1967:192).

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ou de outras atividades da região, aumentando cumulativamente a oferta e procura de outros serviços e alargando o campo de possibilidades para a região, a qual o pólo está localizado.

Tanto o conceito de pólo de desenvolvimento quanto o de crescimento partilham das mesmas idéias e origens. Porém apresentam diferenças no que diz respeito aos seus resultados. Os pólos de desenvolvimento modificam as estruturas que englobam toda a população da região polarizada. Já os pólos de crescimento, mesmo conduzindo ao crescimento do produto e da renda per capita da região, não provocam transformações significativas nas estruturas regionais (Lima, 2003).

Nos locais de desenvolvimento apresentam-se movimentos de concentração e movimentos de expansão, uma polarização e uma difusão. Desses movimentos surgem as possibilidades para acumulação de progressos econômicos e para sua difusão. Como o desenvolvimento e o crescimento não são espontaneamente equilibrados nem repartidos, a implantação de um pólo de desenvolvimento pode provocar uma série de desequilíbrios econômicos e sociais. Com isso, é importante tentar compreender os motivos de desarmonia e as condições e meios para uma harmonia consciente (Perroux, 1977).

Uma vez implantado, o pólo distribui salários e rendimentos monetários adicionais sem aumentar necessariamente a produção local de bens de consumo; transfere mão-de-obra e separa-a das unidades de origem, sem necessariamente lhe conferir um novo enquadramento social; concentra cumulativamente, em determinado local e dentro de determinado ramo, o investimento, o tráfico, a inovação técnica e econômica, sem necessariamente alargar a vantagem a outros locais, onde o crescimento e o desenvolvimento podem ser pelo contrário, retardados (Perroux, 1967).

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conjunto de territórios e de populações, sendo que organizações institucionais precisarão estar presentes e na frente na condução deste pólo e com interesses gerais em comum.

O autor argumenta a importância das instituições tanto públicas3 quanto privadas na condução do pólo, pois o mercado é imperfeito, sendo necessário que ocorra atuação nele para corrigir suas imperfeições, que ele chamará de arbitragem, o qual é um poder que se pronuncia em nome do interesse geral, da utilidade coletiva, do bem comum. As instituições pouco a pouco transformam conflitos em diálogo social, modificando o pensamento das pessoas, para no mínimo em um consentimento e no máximo em uma adesão participativa, possibilitando crescimentos cumulativos e duradouros (Perroux, 1977).

Os estudos desenvolvidos por Perroux sobre os pólos de desenvolvimento serviram de subsídio para formulações de políticas de desenvolvimento regional em países desenvolvidos e em desenvolvimento, como o Brasil entre as décadas de 1960 e 19704. Um pólo de desenvolvimento quase sempre ficou relacionado a um grande projeto de investimento geograficamente localizado, mantendo grande relação com áreas de influência política, social econômica e institucional (Haddad, 2004).

Entretanto, já naquele período as questões sobre desenvolvimento regional apresentaram muitas controvérsias conceituais e políticas, e as idéias de Perroux sofreram fortes críticas. De uma forma geral, essas críticas baseavam-se na incapacidade das indústrias motrizes em difundir inovações tecnológicas para as outras indústrias, logo uma grande parte das políticas implementadas oriundas do autor não teria dado certo. (Cavalcante, 2002). Contudo, uma outra questão levantada para o declínio dos pólos de desenvolvimento seria aquela, em que esta teoria foi desenvolvida em um ambiente onde a lógica de produção tinha uma base essencialmente fordista. Com isso, a partir da década de 1970, transformações começaram a ser percebidas, as quais implicariam em uma impossibilidade de aplicação direta dos conceitos sobre os pólos de desenvolvimento (Storper apud Cavalcanti, 2002).

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O autor irá caract erizar algumas funções dos pod eres públicos centrais e locais t ais como: estimula a investigação, ajuda a p ropag ar as grandes inovações, participa n a conquista dos mercados e, contribui para a instauração de eixos de desenvolvimento e zonas de desenvolvimento (Perroux, 1967).

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1.2. Novas estratégias para o desenvolvimento regional ou local

As diferenças entre as três estratégias para o desenvolvimento regional ou local que serão apresentadas são tênues, pois foram desenvolvidas mais ou menos no mesmo período e com pressupostos bastante semelhantes, mas de qualquer forma é possível apresentar algumas particularidades.

1.2.1 Distrito Industrial

Existem outras correntes teóricas que discutem os distritos industriais, mas a que tem influência de Alfred M arshall é a de maior destaque e mais facilmente identificável, e já apontado anteriormente são chamados de distritos marshallianos (Cavalcante, 2002). O conceito cunhado de distrito industrial por M arshall deriva de um padrão de organização comum à Inglaterra dos fins do século XIX, que compreende em pequenas firmas concentradas na manufatura de produtos específicos de setores, como têxtil, estas firmas se localizavam geograficamente em aglomerações e geralmente na periferia dos centros produtores (Lemos, 2003).

M arshall destacou nos distritos industriais britânicos a existência de economias externas, que seriam ganhos oriundos do desempenho de um conjunto de empresas, ressaltando a eficiência e competitividade das pequenas firmas de uma mesma indústria inserida numa mesma região. Ou seja, as economias externas indicam os efeitos das atividades de outras firmas na produção e as vantagens que o ambiente (físico, social, cultural, político e econômico) pode trazer para uma empresa (Lemos, 2003).

A reutilização do conceito de distritos industriais se deu primeiramente a estudos que abordavam o desenvolvimento de uma região da Itália, conhecida por Terceira Itália5 nas décadas de 1970 e 1980, que serviu como exemplo e modelo para o desenvolvimento dos estudos desses novos distritos industriais. O exemplo da Terceira Itália levou ao interesse de pesquisas com abordagem semelhantes em outros países, sendo discutido na academia

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experiências tanto de aglomerações com atividades tradicionais quanto experiências de maior complexidade tecnológica, de regiões da Europa, como Baden-Wüttemberg na Alemanha, Jutland na Dinamarca, Vale do Silício nos EUA, entre outros (Amaral Filho, 2001; Cavalcante, 2002 e Lemos, 2003).

A discussão em torno da definição de distrito industrial não leva a um consenso. No entanto, podem-se apontar seus pontos de convergência, nesse sentido afirma-se como um sistema produtivo local (SPL), que tem como característica um grande número de firmas em vários estágios e várias vias na produção de um mesmo produto. Estas firmas presentes nos distritos normalmente são representadas por pequenas ou médias empresas (Pyke, Becattini e Sengenberger apud Amaral Filho, 2001).

O conceito de distrito industrial passou, também a ser entendido como um conjunto econômico e social, sendo que as diferentes esferas social, política e econômica têm uma estreita relação entre si para o seu funcionamento. Normalmente apresentada por uma estrutura horizontal com grande capacidade de adaptabilidade e inovação, com base em uma força de trabalho e em redes de produção flexíveis, nos quais se processam aprendizagem coletiva e o desenvolvimento de novos conhecimentos mediante a combinação entre concorrência e cooperação entre as empresas. Esta interdependência entre firmas gera uma coletividade de pequenas empresas, possibilitando economias de escala só permitidas por grandes corporações6. Sendo assim, o êxito dos distritos industriais está mais relacionado com o social e no político-institucional do que propriamente na economia real (Amaral Filho, 2001).

Desta forma, dentro do conceito de distrito industrial pode-se apontar como os principais atributos:

- Proximidade geográfica; - Especialização setorial;

- Predominância de pequenas e médias empresas; - Estreita colaboração entre firmas;

6

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- Competição entre firmas baseada na inovação; - Identidade sócio-cultural com confiança;

- Organizações de apoio para prestação de serviços comuns, atividades financeiras, entre outros;

- Promoção de governos regionais e municipais (Schmitz apud Lemos, 2003).

Como já foi observado, há uma forte relação de competição e cooperação entre as empresas nos distritos industriais. A competição acorre pelo fato de existir um grande número de produtores e a cota de mercado individual de qualquer empresa é pequena (Lemos, 2003). Em relação à cooperação, ela acontece por diversas maneiras, podendo sistematizar as formas de cooperação mais freqüentes, que são baseadas em:

- Relações de amizade, que permitem empréstimo de insumos não disponíveis no mercado (matérias-prima, materiais, ferramentas, equipamentos); ou mesmo cooperação para complementar produção para atendimento de encomenda, podendo ser baseada em acordos formais ou informais.

- Relações entre produtores dos bens finais e subcontratados de etapas da produção, que resultam em grande parte das inovações do distrito.

- Relações entre várias empresas, com intuito de estabelecer economias de escala requerendo um agente de coordenação para: formação de consórcios para compra de insumos por um melhor preço; consórcios de créditos, para garantias coletivas a empréstimos bancários; feiras de negócios com diminuição de custos; compartilhamento de espaços comuns; e formas de negociações, com sindicatos, governos, etc., representadas particularmente por associações de empresas.

- Pequenas empresas que se associam para perseguir objetivos comuns relacionados com necessidades urgentes de uso de novas tecnologias ou para alcançar novos mercados (Brusco apud Lemos, 2003).

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pode-se perceber os distritos industriais não como algo fechado e pode-sem possibilidade de mudanças, assim como não sendo prudente projetar uma imagem romântica ou homogênea do mesmo (Humphrey apud Amaral Filho et all, 2002). Nesse sentido, como o exemplo dos distritos industriais italianos relata raízes históricas, tradições e construção de capital social, a reprodução em outros ambientes precisa ser observada com ponderação.

1.2.2 Os Ambientes Inovadores

O conceito de ambientes inovadores tem seus estudos e desenvolvimento bastante vinculado ao Groupe de Recherche Européen sur lês Mileux Innovateurs (GREMI)7 do

qual faz parte uma rede de pesquisadores europeus e pode ser visto como uma visão complementar aos distritos industriais, pois os trabalhos sobre os ambientes inovadores preocupam-se em proporcionar possibilidades na contribuição para a sobrevivência dos distritos industriais e fornecer, também, elementos para que outras regiões e locais pudessem despertar seus próprios projetos de desenvolvimento de forma planejada, inovadora e sólida (Cavalcanti, 2002).

De uma forma geral, estes autores fazem uma abordagem sobre a formação de externalidades de natureza tecnológica que decorriam dos vínculos de cooperação e interdependência estabelecidos entre as empresas por meio da formação de redes de inovação. Nesse sentido, há uma diferença com os distritos industriais que privilegiam a questão social para o desenvolvimento do processo, enquanto as inovações nos ambientes inovadores têm certa autonomia e um papel de enorme importância (Amaral Filho et all, 2002). O ambiente também tem uma grande relevância no processo de desenvolvimento tecnológico, permitindo uma análise territorializada da inovação.

Assim, essa corrente de defensores dos ambientes inovadores destaca o viés tecnológico, por considerá-lo questão essencial no processo de transformação das últimas décadas e uma forma de evitar que certas localidades sofram resultados negativos em função da desintegração do modelo verticalizado fordista de produção, pois este pode causar desintegração também espacial, levando a mudança de firmas para outras regiões com vantagens locacionais (Amaral Filho, 1999). A abordagem sobre ambientes inovadores tem

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o objetivo de transparecer a importância de construir e fortalecer as capacitações internas para os ambientes.

Portanto, os ambientes inovadores podem ser definidos como operadores coletivos, os quais reduzem os graus estáticos e dinâmicos de incerteza, enfrentados pelos agentes econômicos por causa da organização de interdependência funcional entre os atores locais, realizando informalmente as atividades de pesquisa, transmissão, seleção, decodificação, transformação e controle da informação. Com isso, os ambientes inovadores não constituem um conjunto paralisado e sim um processo de ajustamento, de transformações e de evoluções permanentes, em que a mobilidade de empregados e a interação entre fornecedores desempenham forte papel na difusão da inovação (M aillat apud Cavalcante, 2002).

Desta forma, a localidade concebe os comportamentos inovativos por meio do seguimento de aprendizado coletivo e sinergia que aumentam o desenvolvimento tecnológico e reduzem elementos de incerteza intrísecos no processo de inovação. Portanto, o local facilita as estratégias das empresas em resposta aos resultados obtidos e oferece uma melhora na troca de informação tecnológica (Lemos, 2003).

1.2.3 Cluster

A idéia de cluster tem a intenção de funcionar como uma espécie de síntese dos distritos industriais e os ambientes inovadores, porém ele é mais abrangente, não só por incorporar várias características dessas outras formas de desenvolvimento regional, mas, também por não ficar restrito às pequenas e médias empresas (Amaral Filho, 1999). Para o estudo de um cluster, ou para uma ação de intervenção no seu desenvolvimento faz-se necessário uma atenção em relação ao território, pois um cluster em várias questões relaciona-se com aspectos locais e regionais da cultura empresarial e das instituições de intervenção local e empresarial (Beira, 2002). Um conceito de cluster, que ajudará no tratamento do tema pode ser descrito como:

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em um local particular em que competem, mas também cooperam entre si 8” (Porter apud Beira 2002: 3).

M ichael Porter é um dos autores de maior influência na composição estrutural do conceito de cluster e de certo modo ele procura recuperar alguns conceitos tradicionais, como pólo de desenvolvimento de Perroux e efeitos concatenados de Hirschman, relacionados principalmente na idéia da indústria motriz, conjugada com uma cadeia de produção e adicionado o máximo de valor possível. No entanto, nessa recuperação de conceitos incorporam-se questões que antes não faziam parte. São elas:

- “Articulação sistêmica da indústria com ela mesma, com o ambiente externo macroeconômico e infraestrutural, e com instituições públicas e privadas, a fim de maximizar a absorção de externalidades;

- Plasticidade na ação conseguida via uma forte associação entre a indústria, os atores e os agentes locais, que permita processos rápidos de adaptações em face das transformações de mercado;

- Forte vocação externa, sempre buscando o objetivo da competitividade exterior” (Amaral Filho, 1999: 276).

Desta forma, a importância de um cluster está em viabilizar ações que permitam enfrentar e criar alternativas para as empresas face aos problemas e desafios contemporâneos como mercados poucos regulamentados e altamente competitivos, políticas monetárias e fiscais restritivas, e também, mudanças estruturais nas organizações das empresas. Com isso, as alternativas implementadas dentro de um setor podem levar ao aumento da produtividade, pois possibilita, através da integração das empresas, o alcance de matéria-prima, mão-de-obra, maquinário, informação, produtos e serviços mais qualitativos e até inovados e com um menor custo. Ao desenvolver ações em conjunto, por causa da integração, os resultados obtidos têm o potencial de superar o que individualmente tornar-se-ia inviável financeiramente, tecnicamente ou humanamente, devido a pulverização não só dos recursos financeiros, mas dos riscos e da necessidade de multiplicidade de esforços por parte das indústrias do setor (Tristão 2000).

8

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Essas ações conjuntas deliberadas entre os produtores, os agentes locais e as instituições públicas e privadas podem levar no que Hubert Schmitz9 chamou de eficiência coletiva, pois ele verifica que a interdependência da cadeia produtiva de um cluster, leva a necessidade de articulações, que possibilitem seu melhor relacionamento e a integração em ações que visem pontos comuns do setor. Nesse sentido, o autor definirá eficiência coletiva como:

“(...) obter a vantagem competitiva que nasce dos processos locais, tais como: sistema de produção que reduzem a rigidez da fabricação e acentuar a capacidade para responder às mudanças de demanda; a natureza de relações entre firmas dentro do cluster, ambas do tipo vertical e horizontal, a qual através da especialização extensiva distribui os custos e os riscos entre o cluster e incentiva a uma resposta coletiva para os problemas compartilhados; no caráter sócio-cultural específico da sociedade na qual as firmas estão localizadas e que facilitam a confiança e força nas relações entre firmas; e em capacidade tecnológica endógena que facilita o processo de inovação contínua” (Schmitz apud Tristão, 2000:32).

O desenvolvimento de um cluster demanda da formulação de uma estratégia, pois sua efetivação acontece em razão da participação de várias empresas de um setor em objetivos comuns. Assim, a atuação e os interesses de uma determinada empresa deixam de ocorrer isoladamente, porque esta faz parte de um sistema maior, envolvendo outros atores. Para isso, há a necessidade de articulação de planos para que todos efetivamente possam contribuir com sua parcela de trabalho no sentido de comungar os mesmos interesses. Sendo que, esses atores precisam reconhecer sua dependência de um em relação ao outro a fim de implementar ações conjuntas (Tristão, 2002).

Neste contexto, para alcançar êxito, as atividades em conjunto precisam de meios eficientes, logo o papel de uma estratégia passa a ser fundamental. Entretanto, é necessário perceber que o desenvolvimento de um cluster é um projeto de longo prazo. Fato que faz com que políticas governamentais intervenham diretamente na criação ou desenvolvimento de um cluster na expectativa de resultados em curto prazo, ocasionando assim, em fracassos. Tudo o que mobilize os atores de um cluster para objetivos comuns reforça a sua coesão, mas a questão importante é o caráter endógeno de tais objetivos e motivações. Deste modo, o poder central precisa participar no sentido de incentivar e reforçar meios

9

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para ações dessa estratégia de desenvolvimento regional, funcionando como um catalizador dos atores participantes (Beira, 2002).

1.3 Políticas para promoção de um Arranjo Produtivo Local

As abordagens apresentadas têm suas particularidades com características específicas, no entanto, o importante para esse trabalho é as similaridades nos estudos e conceitos de aglomerações locais discutidas em relação à estrutura, à operação e aos atores envolvidos. Valendo lembrar, que esses exemplos apresentados podem ser vistos tanto como abordagem análoga quanto como exemplos de um APL.

Neste contexto, é preciso perceber não só a importância crescente de aglomerações produtivas locais e regionais como elemento primordial na busca de competitividade e dinamismo tecnológicos de firmas em diferentes setores, mas também no aprendizado10 interativo que surge como um papel chave nestes novos conceitos de desenvolvimento regional, onde a localidade se apresenta como facilitador das trocas de conhecimentos tácitos. Com isso, o espaço geográfico torna-se um espaço cognitivo, o qual valores compartilhados, confiança e outras formas de ativos intangíveis constituem em elementos fundamentais que podem contribuir para o desenvolvimento de processos de aprendizado interativo (Lemos, 2003).

Essa questão do aprendizado é entendida como a base para a oportunidade de aplicar a solução de um determinado problema ou a inovação de um processo produtivo, por exemplo. Contudo, apesar das empresas serem os centros dos processos de aprendizado e inovação, estas são influenciadas pelos contextos institucionais que se inserem. Portanto, a dimensão institucional, enquanto conjunto de normas e rotinas sob as quais sistemas produtivos locais são organizados constitui-se em elemento crucial para compreensão do processo da capacitação produtiva e inovativa (Lastres e Cassiolato, 2003a).

10

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Outro ponto de convergência da maior parte desses estudos são as ações descentralizadas das empresas e das instituições públicas, o que leva a um processo de interação entre elas, numa relação de concorrência e cooperação entre as empresas, com um enraizamento na localidade que está instalada a aglomeração produtiva, configurando uma coletividade ativa de agentes públicos e privados numa atuação com os mesmos propósitos, que são o de manter a dinâmica e a sustentabilidade do sistema produtivo local (SPL). Essa interação só é possível na presença de três elementos, segundo Amaral Filho (2001): construção de confiança; criação de bases concretas capazes de permitir a montagem de redes de comunicação; proximidade organizacional (esse como resultado da comunicação dos outros dois elementos).

A tabela abaixo apresenta alguns pontos comuns das características básicas de aglomerações locais focada nesses novos estudos sobre desenvolvimento regional.

Tabela 1: Aspectos comuns das abordagens de aglomerações territoriais Aspectos Principais Características

Localização - Proximidade ou concentração geográfica dos atores; Atores - Grupos de pequenas empresas;

- Pequenas empresas nucleadas por grande empresa;

- Associações, conselhos, consórcios, instituições de suporte, serviços, ensino, P&D, fomento, financiamento, etc.

Características - Intensa divisão de trabalho entre as firmas; - Flexibilização de produção e de organização; - Especialização e mão-de-obra qualificada; - Competição entre firmas baseadas em inovação; - Colaboração entre as firmas e demais agentes; - Fluxo intenso de informações;

- Identidade cultural entre agentes; - Relações de confiança entre os agentes; - Complementaridade e sinergias

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Esses estudos sobre essas novas formas de desenvolvimento regional vêm contribuindo para formulação de políticas públicas e privadas, para promoção de aglomerações produtivas em favor do desenvolvimento social e econômico de regiões e conseqüentemente de países. Entretanto, é relevante fazer algumas considerações para entender como essas políticas se inserem no contexto atual.

Deste modo, observa-se uma tendência de se reduzir o papel de governos nacionais ou regionais como promotores de políticas de desenvolvimento, tais como políticas científica, tecnológica e de inovação, reduzindo cada vez mais recursos aplicados nestas. Argumenta-se que com o processo acelerado de globalização e das facilidades resultantes das tecnologias da informação e comunicação (TIC) não seja mais necessário o investimento de governos nacionais na promoção de atividades de geração de conhecimento e inovação, pois o processo de globalização também incluiria a geração, difusão e acesso a informações e conhecimento por todo mundo, uniformemente. Porém, ao contrário de se caminhar rumo ao apregoado mundo sem fronteiras, global e homogêneo, com a aceleração da globalização, na verdade, assiste-se ao aprofundamento das diferenças entre países e regiões do mundo, em detrimento daqueles que se situam na periferia do sistema do poder global (Lastres e Cassiolato, 2003a).

Assim, a idéia de que o fluxo de informações circula livremente entre os países, não sendo necessária adoção de políticas para capacitação, geração e absorção de conhecimento e inovações já é reconhecida como inadequada até mesmo no discurso de organismos internacionais, que observam a necessidade de incluírem em suas agendas: a ênfase no conhecimento e na inovação como um processo interativo; novos requerimentos institucionais; necessidade de se combinar diferentes tipos de políticas que incorporem o capital social no processo; busca por maior igualdade social, educação, saúde, respeito ao meio ambiente e a culturas específicas (Johnson e Lundvall apud Lemos, 2003).

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organismos institucionais (Fundo M onetário Internacional, Banco M undial, Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico, entre outros) para implementação de políticas baseadas em ajuste fiscal, arrocho monetário e abertura econômica, entre outras não contribuíram para o desenvolvimento dos países (Johnson e Lundvall apud Lemos, 2003).

Desse modo, com a globalização e a dimensão financeira implicando em uma maior vulnerabilidade externa e conseqüentemente um menor grau de liberdade de governos nacionais em suas políticas econômicas, observa-se a necessidade de novas estratégias e políticas. Logo, alternativas de desenvolvimento, em níveis mundial, nacional e local vêm sendo formuladas, exigindo novos modelos e instrumentos institucionais, normativos e reguladores que sejam capazes de enfrentar as questões aí colocadas (Lastres e Cassiolato, 2003b).

Com isso, é no nível local que os APL’s surgem como uma das alternativas encontradas para atender a essas novas mudanças, sendo importante que a sua implantação não esteja desvinculada de um todo nacional, pois

“recomenda-se a definição e a implementação de um novo projeto de desenvolvimento que reforce mutuamente a articulação entre política macroeconômica e social, industrial e de ciência, tecnologia e inovação, visando uma inserção mais competitiva e autônoma, que assegure entre a construção de bases produtivas modernas e dinâmicas e o atendimento dos objetivos de inclusão, equidade e coesão social”. (Lastres e Cassiolato 2003a:9)

Nesse sentido, o Estado tem um papel importante nessa nova forma de prover o desenvolvimento de uma região, pois em torno da teoria sobre APL observa-se o poder central com parcerias estabelecidas com a sociedade civil, estabelecendo um dos elementos primordiais, que consiste nas ações coletivas, tendo como pilar para um desenvolvimento eficiente a sua institucionalização (Amaral Filho, 2001).

(36)

os argumentos favoráveis para a descentralização da ação pública têm como alicerce, segundo Amaral Filho (2001), alguns pontos importantes:

- O da proximidade e da informação: os governos locais estão mais próximos dos produtores e dos consumidores finais de bens e de serviços públicos (e privado), e por isso são mais bem informados que os governos centrais a respeito das preferências da população;

- O da experimentação variada e simultânea, ou seja: a diferenciação nas expectativas locais pode ajudar a destacar métodos superiores de oferta do serviço público;

- O elemento relacionado a tamanho, quer dizer: quanto menor o aparelho estatal melhor é o resultado em termos de alocação e eficiência, isto no sentido da burocratização do Estado.

Desta forma, a questão do desenvolvimento regional nesta concepção recente tem como proposta uma construção “de baixo para cima”, isto é, as potencialidades locais que irão construir e conduzir o planejamento para a execução do modelo, ao invés de ocorrer “de cima para baixo”, onde Estado nacional conduz o planejamento e intervenção. Este modelo não segue somente o princípio neoliberal, onde o mercado e os preços são os únicos mecanismos de importância para a atuação dos agentes, mas também, não é a favor de um Estado centralizado dirigista levando a uma burocratização do poder e desperdício público (Amaral Filho, 2001). Isso não quer dizer, mais uma vez, que as ações de apoio público a infra-estrutura científica e tecnológica devam ser excluídas, pelo contrário há a necessidade do incremento das instituições de ensino e pesquisa dentro de um planejamento de longo prazo.

Com isso, em uma estratégia de desenvolvimento existe a necessidade de se promover o capital produtivo, mas fundamentalmente o capital intelectual e o capital social, que são elementos intangíveis, mas que fazem parte das bases para um desenvolvimento de longo prazo de uma local, região ou país (Lemos, 2003).

(37)

aos demais agentes para isso é necessário que haja uma identidade social e cultural entre eles. Outra questão, segundo Haddad (2004) é a distinção entre três campos para a delimitação dos planos de desenvolvimento de um arranjo. São eles:

- “O campo das decisões privadas, que se referem às decisões individuais das empresas, podendo envolver a localização das atividades, a escolha de tecnologia, as relações capital-trabalho, a adoção das técnicas de gestão, entre outros;

- O campo das decisões governamentais, que se referem à oferta, pelos três níveis de governo, de decisões de serviços públicos tradicionais como justiça, segurança, infra-estrutura, saúde e educação, ciência e tecnologia;

- O campo das decisões comunitárias, que se referem a problemas comuns às empresas que integram os APL’s, sem que cada um tenha condições de resolvê-los. É neste campo que se concentra um grande número de externalidades positivas” (Haddad, 2004: 32).

(38)

CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA

O objetivo deste capítulo é apresentar a metodologia que foi utilizada no estudo. Inicia-se definindo o tipo de pesquisa, quanto aos fins e quanto aos meios, assim como o universo e a amostra investigados. Adicionalmente, serão detalhados a coleta e o tratamento dos dados, e por fim, as limitações ao método de pesquisa utilizado.

2.1 Tipo de Pesquisa

O estudo apresentado neste trabalho é uma pesquisa qualitativa, que tem como base o estudo e análise do mundo empírico em seu ambiente natural. Ambiente este utilizado como fonte direta de dados e tendo o pesquisador como instrumento essencial. Outro ponto importante é a descrição em uma pesquisa qualitativa, pois desempenha um processo fundamental na obtenção de dados quanto na disseminação dos resultados, visando à compreensão ampla do fenômeno que está sendo estudado, considerando que todos os dados da realidade são relevantes para o estudo (Godoy, 1995a).

Com isso, para a classificação desta pesquisa qualitativa, considerou-se a taxonomia proposta por Sylvia Constant Vergara (2003), quanto aos fins e quanto aos meios da pesquisa.

Quanto aos fins, a pesquisa pode ser caracterizada como descritiva e explicativa. Descritiva, pois o intuito do trabalho foi o de expor as características dos municípios estudados junto com o planejamento e gestão do Pólo de M oda Íntima de Nova Friburgo e Região (PM I), isto é, o que se pretendeu foi a compreensão do fenômeno como um todo na sua complexidade (Godoy, 1995a). O processo descritivo serviu de base para explicar quais fatores determinantes para o desenvolvimento local da região estudada no contexto de um Arranjo Produtivo Local (APL) e como as instituições públicas e privadas locais juntas com a sociedade civil se inserem neste processo.

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cidadania, desenvolvimento local, participação e APL’s. Documental, porque foram investigados todos os tipos de materiais disponibilizados pelas pessoas entrevistadas e as instituições pertinentes, assim como as prefeituras dos municípios que foram estudadas.

O estudo de caso se caracteriza como um tipo de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente, ou seja, pretende-se examinar intensamente um ambiente, que neste caso foi o Pólo de M oda Íntima de Nova Friburgo e Região (Godoy, 1995b).

Segundo Robert K. Yin (2001), um estudo de caso é uma investigação empírica em que se estuda um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real. É indicado quando o propósito fundamental da pesquisa é analisar intensamente uma dada unidade social. Como os fatores de um APL no contexto do desenvolvimento local da região podem ser considerados um desses fenômenos, e a região escolhida pesquisada, caracterizou-se como uma unidade social foi justificável a escolha do estudo de caso como metodologia. Sendo assim, pôde-se partir para pesquisa de campo, que envolveu a obtenção e a organização das informações consideradas relevantes para o estudo nos municípios de Nova Friburgo, Cordeiro, Bom Jardim, Cantagalo e Duas Barras.

2.2Universo e amostra

O universo desta pesquisa é constituído pelos poderes públicos dos municípios de Nova Friburgo, Cordeiro, Bom Jardim, Cantagalo e Duas Barras, municípios estes que integram a região Centro-Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. Assim como o Serviço Brasileiro de Apoio à M icro e Pequena Empresa (Sebrae), o Serviço de Aprendizagem Industrial (Senai), o Sindicato da Indústria do Vestuário (SINDVEST) e a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Estas instituições foram relacionadas pela relevância na administração do APL. Ainda fazendo parte do universo do estudo, pode-se incluir a organização não governamental M ulheres de Fibra, representando o Terceiro Setor e três confecções do setor de moda íntima importantes no contexto do estudo.

(40)

Os outros quatro municípios foram escolhidos por fazerem parte, junto com Nova Friburgo, do Conselho de Desenvolvimento da M oda (CDM )11 . Outro ponto relevante foi a acessibilidade (Vergara, 2003) e familiaridade do pesquisador na região, pois a família do pesquisador tem origem em Nova Friburgo.

A amostra dos participantes das entrevistas foi baseada num método não probabilístico e de tipicidade em que consiste na escolha de entrevistados, que sejam representativos da população-alvo (VERGARA, 2003), no caso os poderes públicos e as entidades já mencionadas anteriormente. A amostra foi constituída de 32 cidadãos, sendo 21 representantes dos poderes públicos locais (secretários municipais, técnicos e vereadores), dois do Sebrae, dois do Senai, dois do SINDVEST, um da UERJ, um de uma organização não governamental e três empresários.

Tabela 2: Amostra das entrevistas

Municípios Entrevistados Nova

Friburgo

Bom Jardim

Cantagalo Cordeiro Duas Barras

Total

Poder Público 9 2 3 5 2 21

Sebrae - 1 1 - - 2

Senai 2 - - - - 2

SINDVEST 2 - - - - 2

UERJ 1 - - - - 1

ONG 1 - - - - 1

Empresários - 1 - 2 - 3

Total 15 4 4 7 2 32

Fonte: Dados da pesquisa.

2.3Coleta de dados

O objetivo da coleta de dados foi o de levantar informações à resposta do problema proposto pelo trabalho. Deste modo, inicialmente foram utilizadas fontes secundárias a

11

(41)

partir de pesquisa bibliográfica tais como livros, periódicos, revistas, jornais, internet, legislação, além de dissertações e teses, com a intenção de aprofundar o conhecimento referente ao assunto pesquisado. Utilizou-se também de pesquisa documental, tais como, demonstrações financeiras, projetos de execução, relatórios de gestão e estatutos, que foram disponibilizados pelas prefeituras e instituições que fizeram parte do estudo.

Complementando, realizaram-se entrevistas semi-estruturadas na pesquisa de campo, que tiveram a intenção de levantar subsídios para alcançar os objetivos da pesquisa. Foram utilizados dois roteiros12 como auxílio nas entrevistas. O roteiro 1 (um) tinha como enfoque o poder público e instituições ligadas a ele, sendo levantadas questões sobre programas ou projetos que poderiam contribuir para um desenvolvimento local com cidadania e questões sobre a percepção do poder público em relação a importância do setor de moda íntima para a região e sua atuação. A pesquisa bibliográfica inicial deu a base para a formulação desse roteiro. É importante salientar, que o roteiro 1 (um) surgiu em conjunto com os estudos realizados no Agreste M eridional do Estado de Pernambuco.13

O roteiro 2 (dois), também teve sua formulação a partir da pesquisa bibliográfica, entretanto, seu objetivo foi o de alcançar questões ligadas diretamente ao APL de Nova Friburgo e região. Com isso, o roteiro 2 (dois) foi usado nas instituições que participam diretamente das ações de promoção do PM I e de alguns representantes do poder público quando se mostravam relevantes e que estivessem inseridos no contexto das articulações das ações dos projetos pertinentes ao setor. Nessa abordagem também considerou a importância do arranjo como projeto de desenvolvimento da região, tendo a governança das instituições como referência e como a sociedade participa desse desenvolvimento.

Antes de iniciar a pesquisa de campo foi necessário um maior aprofundamento sobre o PM I. A pesquisa iniciou-se em julho e estendeu-se até dezembro. Nesse período ocorreram várias visitas aos municípios. O planejamento da pesquisa de campo foi desenvolvendo-se durante as visitas, não tendo uma diretriz fechada. Iniciou-se por Nova Friburgo, por ser o município pólo, aonde se encontravam as instituições ligadas ao desenvolvimento do APL e também por esse motivo, o maior número de entrevistas ocorreu nesse município. Com o desenvolvimento da pesquisa mostrou-se necessário ficar mais centrado nas questões em

12

Os roteiros encontram-se no Anexo 1.

13

(42)

torno do PM I, nesse caso as entrevistas nos outros municípios foram em menor número, pois os outros quatro municípios são bem menores14 quando comparado com Nova Friburgo.

Uma dificuldade observada na pesquisa foi a realização das entrevistas no que diz respeito de sua abrangência, pois foram em cinco municípios, sendo realizadas somente pelo pesquisador. Cabe também, ressaltar a dificuldade de agendar entrevistas com alguns prefeitos, pois ocorreu em ano eleitoral. Desta forma, optou-se conversar somente com as secretarias municipais relevantes. Os agendamentos ocorreram por meio de conversas com as chefias de gabinetes e ou as secretarias municipais por telefone, dando uma explicação prévia do trabalho a ser realizado, o mesmo aconteceu com algumas instituições. No entanto, algumas entrevistas ocorreram no desenvolvimento da própria pesquisa de campo.

As entrevistas quando autorizadas eram gravadas, o que resultou em torno de treze horas de gravação, que foram sendo transcritas continuamente, não podendo sintetizar a fala ou ser corrigida, a transcrição registrou literalmente a fala. Conforme as transcrições ocorriam, eram feitas as análises prévias. As entrevistas não gravadas tiveram suas anotações para serem analisadas, quando fossem relevantes para o trabalho.

2.4Tratamento dos dados

Conforme os dados eram coletados, já descritos no item anterior, estes passavam pelo tratamento. Nesta fase espera-se perceber como o PM I está inserido e contribuindo para o desenvolvimento local da região. Sendo importante verificar a atuação das instituições e atores locais na dinâmica desse processo de desenvolvimento na região.

O método escolhido para analisar as entrevistas foi o da Análise de Discurso (AD), que segundo Cabral (1999), estuda as estruturas lingüísticas dos atos das falas e de suas atividades, as seqüências de conversações e os registros orais e literais com o objetivo de estabelecer uma ligação e compreensão com as normas, as preferências e as expectativas culturais, sociais e políticas em um dado momento, num determinado local.

14

(43)

A AD rejeita a forma da linguagem ser vista apenas como um meio neutro de refletir, ou descrever o mundo. O discurso tem uma grande importância na construção da vida social. É um método que necessita uma leitura atenta, próxima, livre de preconceitos, não separando o texto do contexto, examinando o conteúdo, a organização e funções do discurso. A AD é uma interpretação, sustentada em uma argumentação bem trabalhada (Gill, 2003).

Existem várias formas de AD, mas que para a autora Rosalind Gill essas variedades apresentam características básicas (Gill, 2003:245):

- “A postura crítica com respeito ao conhecimento dado aceito sem discussão e um ceticismo com respeito à visão de que nossas observações do mundo nos revelam, sem problemas, sua natureza autêntica;

- O reconhecimento de que as maneiras como nós normalmente compreendemos o mundo são histórica e culturalmente específicas e relativas;

- A convicção de que o conhecimento é socialmente construído, isto é, que nossas maneiras atuais de compreender o mundo são determinadas não pela natureza do mundo em si mesmo, mas pelos processos sociais;

- O compromisso de explorar as maneiras com os conhecimentos – a construção social de pessoas, fenômenos ou problemas – estão ligados a ações/práticas”.

Para a análise deste trabalho foram realizadas as seguintes etapas: 1. Formulação dos roteiros para a pesquisa; 2. Realização das entrevistas; 3. Transcrição das entrevistas; 4. Realização de uma leitura detalhada e atenta do texto, relacionando-o e questionando-o com as questões pertinentes ao estudo; 5. Criação de uma matriz com variáveis contendo aspectos positivos e negativos que auxiliassem a análise no texto da transcrição. Essa matriz possui características que podem ajudar ou não no desenvolvimento de um APL segundo o referencial teórico estudado; 6. Análise, examinando regularidade e variabilidade dos dados; 7. descrição.

(44)

Tabela 3: Aspectos positivos e negativos no desenvolvimento de um Arranjo Produtivo Local

Arranjos Produti vos Locais

Aspectos positivos Aspectos negati vos

- Delegação de responsabilidades; - Democracia participativa;

(deliberativa);

- Desenvolvimento de baixo para cima;

- Informação livre com fluxo intenso; - Infra-estrutura econômica;

- Infra-estrutura social (saúde, educação, cultural e assistencial); - Interdependência entre as empresas

e instituições;

- Organizações de apoio;

- Participação da sociedade civil; - Poder descentralizado;

- Recursos humanos (qualificação); - Relação de confiança entre os

agentes;

- Sinergia e interação entre as empresas e demais agentes; - Trabalhos cooperativos,

participativos e democráticos; - Valorização das questões culturais; - Valorização dos interesses

coletivos;

- Burocratização;

- Concentração de serviços nas cidades pólos;

- Concorrência predatória entre as empresa;

- Delegação de poder;

- Desenvolvimento de cima para baixo;

- Desvalorização da cultura local; - Desvalorização dos interesses

coletivos;

- Disputa de poder; - Estrutura rígida;

- Falta de infra-estrutura econômica e social;

- Falta de sinergia e interação entre as empresas e demais agentes;

- Assimetria de informação; - Poder centralizado;

- Recursos humanos (desqualificado); - Relação de desconfiança entre os

agentes;

(45)

2.5Limitações do Método

Toda metodologia possui dificuldade e limitações que surgem no decorrer da pesquisa. Em relação a este trabalho, pode-se apresentar algumas questões referentes à coleta de dados, pois em um estudo de caso, os resultados obtidos acenam para uma limitação de generalização das observações. Outra limitação pode ser observada na questão dos entrevistados, porque estes podem responder de maneira evasiva ou sem grande comprometimento por não verem sentido ou importância ao estudo. Os representantes das instituições ou do poder público podem ainda responder de forma tendenciosa, no sentido de favorecer a imagem das instituições ou as políticas exercidas pelo poder local. Ou ainda, a possibilidade de os sujeitos entrevistados não serem representativos da população.

A habilidade do entrevistador pode ser uma limitação, pois este pode não conseguir realizar as entrevistas de forma satisfatória, não a fazendo de forma clara em suas questões, podendo vir a influenciar na resposta do sujeito a ser entrevistado.

Imagem

Tabela 1: Aspectos comuns das abordagens de aglomerações territoriais  Aspectos Principais  Características
Tabela 2: Amostra das entrevistas
Tabela 3: Aspectos positivos e negativos no desenvolvimento de um Arranjo Produtivo  Local
FIGURA 01: Região Centro-Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro.
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