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4.5 Uso de tutoriais para treinamento de usuários

4.5.2 Características do treinamento de usuários por meio de computador

Coletando opiniões de vários outros autores, Dewald (1999) estabelece uma lista de sete características que devem fazer parte de um bom programa de treinamento de usuários. A partir dessas características, em seu artigo Transporting good library instruction practices into the Web

environment: an analysis of online tutorials, a autora examina vários tutoriais

funcionando na Web. Um resumo dessas características pode ser o seguinte:

1. estar relacionado a algum outro curso: os estudantes são mais receptivos ao programa de orientação se ele é dado conjuntamente com outras disciplinas, de modo que possa aproveitar imediatamente o que aprende no programa de orientação;

2. aprendizagem ativa: o programa é melhor aproveitado se o aluno participa ativamente por meio de exercícios individuais ou em grupo, respondendo questões feitas pelo instrutor; 3. aprendizagem colaborativa: quando o instrutor usa pequenos grupos de alunos para ajudar uns aos outros a usar os recursos da biblioteca, ou discutir questões que não têm uma única solução;

4. o programa usa várias mídias: sons, imagens e textos; 5. o programa estabelece de modo claro seus objetivos; 6. o programa ensina conceitos e não apenas mecanismos (de forma que o aluno possa se adaptar facilmente em outras bases de dados e outros mecanismos de busca, por exemplo);

7. o programa permite contato com algum bibliotecário para ajuda (via e-mail, ou por telefone).

No artigo Virtual Teaching: Library Instruction via the Web, (GERMAIN e BOBISH, 2002), os autores fazem uma revisão de literatura, recolhendo impressões de outros autores (alguns dos quais desenvolveram seus próprios tutoriais) e oferecem uma ampla síntese de recursos e características que um tutorial deve apresentar:

“O treinamento de usuários apoiado na Internet tem sido desenvolvido como resposta a um conjunto de necessidades diversas. Alunos, dentro e fora do campus estão sedentos para aproveitar as vantagens e a natureza assíncrona dos recursos on-line. (...) Bibliotecários, que enfrentam a diminuição de recursos e as restrições do tempo das aulas, viram na instrução on-line a solução para atingir mais estudantes do que seria possível com a instrução convencional. (...)

O desenvolvimento do material instrucional via Web tem sido abordado de diferentes formas, desde a simples adaptação de material já existente para o meio eletrônico, até

a criação de novos tutoriais interativos, que aproveitam plenamente o que a tecnologia da Web tem a oferecer. (...) O conteúdo desses novos recursos se expandiu para incluir, não apenas dados, mas também conceitos mais elaborados, como avaliação de fontes, estratégias de pesquisa, e uso ético da informação. (...)

Um dos objetivos comuns a quase todos os projetos de instrução on-line tem sido a manutenção de alguns padrões da instrução tradicional, como por exemplo: aprendizado ativo e colaborativo, ensino baseado em conceitos, oferta de informação em mais de uma mídia. A instrução na Web presta-se bem ao aprendizado interativo pelo uso de freqüentes testes on-line, com a possibilidade de um retorno imediato. (...) O uso de imagens e sons permitem maior expressividade na comunicação, atingindo a estilos mais variados de aprendizagem. (...)

Uma grande vantagem dos recursos on-line é a flexibilidade que oferecem tanto aos estudantes quanto aos instrutores. Tutoriais que permitem ao aluno estabelecer seu próprio ritmo de aprendizagem aumentam sua motivação e interesse. (...)

Como é fácil perceber, há correspondência entre o que se espera de um bom sistema de treinamento de usuários e as qualidades que o tutorial apresenta.

Entretanto, alguns autores assinalam aspectos problemáticos no sistema de ensino apoiado por computador. Reunindo opiniões de vários autores, Fourie (2001) lista alguns de seus pontos positivos e negativos desse sistema de ensino:

a) Pontos positivos:

1. o aluno interage intensamente com o sistema;

2. há retorno imediato quanto ao acerto ou erro na resposta do aluno a questões formuladas;

3. o sistema permite diversas opções de uso, em função do interesse do aluno e de seu nível de conhecimento;

4. o aluno pode trabalhar com o tutorial no horário que achar mais conveniente, e no local que preferir;

5. o sistema oferece oportunidade ao aluno para treinar sua habilidade na resolução de problemas;

6. o ritmo de aprendizagem pode ser adaptado pelo próprio aluno, em função de sua capacidade e de seus conhecimentos anteriores;

7. podem ser incluídas simulações de situações reais para treinar o aluno;

8. podem ser realizadas avaliações do aluno por meio de exercícios e questões;

9. o sistema pode utilizar gráficos, figuras e animações que facilitem a aprendizagem.

b) Pontos negativos:

1. o aluno necessita ganhar habilidade no uso de computadores;

2. o uso intensivo da tela do computador pode causar cansaço visual;

3. o sistema requer bastante tempo para ser implementado; 4. o custo de projeto de um sistema CAI é alto;

5. o sistema é adequado para um grande número de usuários, situação que melhora a relação custo/benefício; 6. o processo de aprendizagem é impessoal, comparado com o relacionamento existente em sala de aula.

Alguns pontos positivos continuam confirmando as opiniões emitidas nas publicações citadas anteriormente. Alguns pontos negativos apenas serão minimizados com o tempo e a acumulação de experiência, como por exemplo, o custo e o tempo de implementação. O último item apontado (processo de aprendizagem via tutorial é impessoal) não deve ser subestimado. De fato, as pessoas têm estilos diversos de aprendizagem, o que não constitui um grave problema em aulas dadas por professores experientes, mas pode ser um entrave num sistema apoiado por computadores. Hook (2002) analisa os vários estilos de aprendizagem, compara quatro níveis de aprendizagem a camadas superpostas:

“O campo da cognição é o estudo de como o conhecimento é adquirido e utilizado. Estilos de aprendizagem são diferentes caminhos pelos quais as pessoas focam, processam, internalizam e lembram as informações. (...)

A primeira e mais profunda camada de estilo de aprendizagem se apóia em modelos de personalidade (...) Conhecimento separado enfatiza a objetividade e o pensamento racional. Conhecimento conectado valoriza a subjetividade, envolvimento e intuição.

A segunda camada se baseia em como o aprendiz processa a informação: cognitivo (processa por partes), perceptivo (processa holisticamente), comportamental (processa fazendo) e afetivo (processa trazendo sentimentos e emoções ao processo de aprendizagem).

A terceira camada diz respeito a como o estudante interage com o ambiente de aprendizagem (curiosidade, competitividade, participação).

A última camada está focada na preferência sensorial do estudante na aprendizagem (se aprende melhor vendo ou ouvindo).”

Ao elaborar um tutorial, deve-se ter em mente a afirmação de Fjällbrant e Stevenson (1978, p. 19), entre objetivos cognitivos e objetivos afetivos. Além de ter o conteúdo organizado de forma a facilitar a compreensão, o tutorial deve transformar, na medida do possível, a tarefa da aprendizagem em algo prazeroso. O tutorial também pode perfeitamente cumprir os requisitos sintetizados em Fjällbrant e Stevenson (1978, p. 33):

motivação (o aluno pode estudar quando e onde quiser, ou no momento de

maior necessidade), atividade (em um tutorial, o aluno aprende fazendo, interagindo com o sistema), compreensão (este item será satisfeito se o tutorial for construído com suficiente habilidade pedagógica) e realimentação (que pode ser imediata em um tutorial). Ao mesmo tempo, tendo em vista as observações de Renford e Hendrickson (1980, p. 56) e a experiência transmitida por Macedo (1989), convém que um protótipo de tutorial, ou partes dele, sejam testados em uma biblioteca específica.

Na tarefa de tornar o tutorial mais adaptado ao aluno, tanto do ponto de vista de estilo de aprendizagem, como no sentido de regular o ritmo mais

adequado a cada aluno, muito progresso tem sido feito com a inserção da Inteligência Artificial na construção de tutoriais.

4.6 Tutoriais apoiados por computador utilizando inteligência artificial