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Um dos autores pioneiros na área de ITS é John Self que, já em 1987, estabelecia os conceitos de modelo de domínio (conteúdo), modelo de estudante (como o estudante aprende) e modelo de tutor (estratégia de ensino). Embora o GPS-BCE seja um programa bastante simples, pode-se observar em seus sucessivos aprimoramentos, ajudados pelos testes realizados com os alunos, como esses três aspectos do tutorial foram evoluindo.

O conteúdo foi bem delimitado desde a primeira versão, pois se trata de ensinar aos alunos o correto posicionamento de um livro na estante da BCE, ou seja, quais os significados dos códigos que aparecem nas etiquetas dos livros e quais as regras que regem a organização dos livros em função desses códigos.

A escolha desse conteúdo foi muito oportuna, pois se trata de uma habilidade que os alunos devem adquirir. Vanlehn (1988), entre outros autores, estabelece a distinção entre os conhecimentos declarativo e procedural, e entre conhecimento procedural plano e procedural hierárquico. O conteúdo do tutorial é deste último tipo, possibilitando a distribuição do conjunto de conceitos em uma estrutura em forma de árvore. A distribuição do conteúdo na forma arborescente foi bastante modificada desde a versão inicial até a final. Os gráficos de número de acessos, acertos, erros e tempo gasto em cada teste mostraram-se uma ferramenta muito prática para visualizar os pontos do conteúdo que podiam ter uma melhor distribuição.

Do ponto de vista do perfil do estudante, os testes de avaliação foram muito úteis para identificar dificuldades que eles encontram com a linguagem. Alguns textos explicativos foram totalmente reescritos em uma linguagem mais simples, porque havia palavras cujo conteúdo alguns alunos não entendiam. Por exemplo, o termo “precede” causou alguma confusão e foi depois substituído pela expressão “vem antes de”.

Outra observação, que pode ser considerada do ponto de vista de modelo do estudante ou de modelo do tutor, é que a capacidade de abstração dos alunos havia sido superestimada nas versões iniciais do GPS-

BCE. Como foi visto na revisão de literatura, Burns, Parlett e Redfield (1991) apontam quatro fatores importantes no modelo de tutor, o primeiro dos quais é o nível de abstração com que a informação é fornecida ao aluno. Nos testes com as primeiras versões do tutorial foi identificada a necessidade de maior quantidade de exemplos e de explicações, especialmente nos testes dos níveis inferiores da árvore de testes. Há alunos que captam um conceito apenas com uma explicação abstrata, a maioria precisa também de exemplos, e alguns precisam ainda de que o exemplo venha acompanhado de uma explicação.

A estratégia de ensino adotada também teve de sofrer adaptações. Como afirma Schulmeister (1997), a modelagem do tutor prevê que ele se comporte como um professor quando decide intervir pedagogicamente, estabelecendo o que, quando, como (what, when, how) uma informação deve ser passada ao aluno. A presença de nós com muitos filhos e o mecanismo de repetição do nó-pai depois de resolvidos os filhos causava ansiedade nos alunos. A retirada do nó zero e a limitação do número de filhos melhorou o desempenho dos estudantes. Pode-se pensar, para futuras versões, em uma mudança de estratégia de funcionamento na forma de percorrer a árvore, que poderia ficar da seguinte forma: o último nó de cada conjunto de um determinado nível teria um teste muito parecido com o de seu nó-pai, e quando o aluno o acertasse, passaria automaticamente para o nó seguinte ao atual nó-pai. Dessa forma, nenhum teste do nível superior respondido corretamente seria repetido. As avaliações com os alunos ajudaram a perceber também que o número de níveis da árvore deve ser mínimo em um tutorial desta natureza, em que o conteúdo é relativamente pequeno, e onde não há obrigatoriedade de o aluno cursar o tutorial. Se o conteúdo fosse, por exemplo, o de uma disciplina obrigatória do seu currículo, certamente a árvore deveria conter mais níveis de nós, pois haveria a necessidade de o tutorial esgotar o assunto e apresentar todos os itens de forma detalhada, para os alunos que quisessem aprofundar em algum tópico.

É importante observar que o público ao qual o tutorial se dirige é razoavelmente heterogêneo, em termos de capacidade de aprendizagem. Mesmo com a ressalva de que a última avaliação foi feita em apenas três grupos de alunos supostamente homogêneos, fazendo-se o levantamento do número de alunos em função do número de erros cometidos ao longo da avaliação, obtém-se uma boa distribuição, como se pode ver no gráfico 26.

Número de alunos por quantidade de erros 0 2 4 6 8 10 12 14 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Gráfico 26 – Número de alunos em função da quantidade de erros

Este é um bom motivo para crer que um tutorial dotado de inteligência como o GPS-BCE deve ser útil, pois permite certa adaptação a um público heterogêneo.

Do ponto de vista da interface, houve evolução entre a primeira e a última versão do GPS-BCE. Vários autores comentam a necessidade de que a aprendizagem passe por um processo afetivo. Hook (2002) aponta este fator como uma das camadas em que ele divide o processo de aprendizagem. Também Fjällbrant & Stevenson (1978) indicavam como de fundamental importância os objetivos afetivos, no sentido de que a tarefa designada ao aluno deve ser tornada agradável. Nesse sentido, a primeira versão recebeu críticas dos alunos que diziam que o tutorial era “feio”, ou que podia ser mais agradável e outros comentários parecidos. A versão final, pelo contrário, recebeu elogios por parte dos alunos, nesse quesito. De fato, a inserção da imagem dos três livros com etiquetas, da imagem do semáforo que indica o acerto ou erro das respostas, e do desenho da árvore com a posição do aluno nos testes ajudou a tornar o tutorial mais atraente. Associou-se ao tutorial um aspecto lúdico, que com sobriedade e sem exageros, ajuda a manter a atenção do aluno. Este fato é corroborado pelos testes que foram anulados porque os alunos ficaram brincando com ele, em vez de procurar aprender, como foi comentado nas avaliações. A mudança

de ferramentas computacionais da segunda para a terceira versão ofereceu mais flexibilidade também nos textos. No lugar de cor preta para as letras, optou-se pela cinza, que provoca menos contraste, tornando a aparência visual mais suave e elegante. Além disso, foi possível eliminar a barra de rolagem para o texto, que é uma característica que provoca desagrado em muitos usuários.