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4 FATOR PREVIDENCIÁRIO

4.2 CARACTERÍSTICAS

O Fator Previdenciário tem algumas características e particularidades específicas, tanto quanto a composição de sua fórmula, quanto na aplicação da mesma.

A aplicação prática do Fator Previdenciário está representada mediante a seguinte fórmula:

f=Tc X ax [ (Id+TcXa) ] ES 100 No qual:

F = Fator previdenciário

Es = Expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria Tc = Tempo de contribuição até o momento da aposentadoria Id = Idade no momento da aposentadoria

a = Alíquota de contribuição correspondente a 0,31 (correspondentes a 20% daempresa e 11% do segurado).

Para Augusto Massayuki Tsutiya (2011, p. 286), “[...] O cálculo depende de três variáveis: idade, expectativa de sobrevida e tempo de contribuição.”

No entendimento de Nolasco (2012, [s.p.]), são três as variáveis: idade, tempo de contribuição e expectativa de sobrevida:

A idade do segurado é apurada quando da aposentação, transformada em dias, considerando-se o ano com 365 dias.

Tempo de contribuição é o período durante o qual verteu mensalidades para a Previdência Social, igualmente transformado em dias. O empregado, temporário, avulso e servidor sem regime próprio não precisam provar essa contribuição, beneficiando-se da presunção de desconto e do recolhimento da contribuição, apenas devendo comprovar o tempo de serviço.

A alíquota é sempre de 31% ou 0,31, correspondente a 20% da empresa e 11% do segurado.

Para o critério etário, será aplicado a idade do segurado no ato da aposentadoria.

De acordo com as variáveis que compõem a fórmula do Fator Previdenciário, a expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria é calculada através de tabela elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, a partir da tábua completa de mortalidade, considerando-se a média nacional única para ambos os sexos (Anexo 1). (HORVATH JÚNIOR, 2012, p. 220).

Em relação à variável tempo de contribuição, esta será sempre igual ou maior do que 35 anos de contribuição. (TSUTIYA, 2011, p. 286).

Segundo o parágrafo § 9o do art. 29, para efeito da aplicação do Fator Previdenciário, ao tempo de contribuição do segurado, adicionam-se: cinco anos para mulher; cinco anos para professor que comprove tempo de efetivo exercício em magistério na educação infantil e ensino fundamental e médio; dez anos para professora que comprove tempo de efetivo exercício em magistério na educação infantil e ensino fundamental e médio. (LAZZARI, 2010, p. 415).

Essa nova sistemática de cálculo também é composta em sua essência do princípio da isonomia, por tratar igualmente os desiguais, em específico na situação supracitada das mulheres e professores.

O Fator Previdenciário aplica-se apenas às aposentadorias por tempo de contribuição e por idade. Ao aposentarem-se por idade, homens aos 65 anos, e mu- lheres aos 60 anos, podem escolher a regra mais vantajosa, com ou sem a aplicação do Fator Previdenciário. E, não se aplica diretamente sobre as pensões, o que segundo Lazzari (2010, p. 416):

No caso de segurado que morrer em atividade, a pensão será igual à aposentadoria por invalidez à qual ele teria direito naquela ocasião, sem aplicação do fator. Por isso, o beneficio corresponderá à média dos maiores salários-de-contribuição a partir de julho de 1994, correspondentes a 80% do número de meses do período. No caso de morte do segurado já aposentado, a pensão equivalerá a 100% da aposentadoria paga. A pensão só será atingida, nesse caso, indiretamente, ou seja, caso ela decorra de uma aposentadoria que tenha sofrido a aplicação do fator. Mas o benefício propriamente dito não sofrerá redução.

Portanto, aplica-se o Fator Previdenciário diretamente somente em dois benefícios do RGPS, a aposentadoria por tempo de contribuição obrigatoriamente e a aposentadoria por idade facultativamente e indiretamente no caso das pensões na qual o benefício originário tenha sofrido a aplicação do Fator.

Em relação à aplicação da fórmula do Fator Previdenciário, para obtenção do índice a ser aplicada sobre o salário de benefício, esta é dividida em duas etapas, de acordo com Santos (2009, p. 97):

A fórmula do fator é constituída de duas partes. A primeira dela é formada pelo produto do tempo de contribuição pela alíquota de 0,31, cujo resultado parcial é dividido pela expectativa de sobrevida no momento da aposentadoria. Isso mede a aposentadoria exata, ou seja, aquela a que o segurado teria direito em função da contribuição acumulada, considerando sua expectativa de sobrevida.

Assim, Santos (2009, p. 97), nos traz um exemplo da aplicação da referida fórmula, em relação a sua primeira parte:

Um segurado homem, com 35 anos de contribuição, ao se aposentar aos 60 anos de idade, sendo a expectativa de sobrevida 21,1 anos, sua aposentadoria exata (Ae) é de 51,42% da média salarial referida, assim calculada:

Ae = (Tc x a)/ES

Substituindo as variáveis da equação, por seus valores correspondentes, tem-se:

Ae = (35 x 0,31)/21,1 = 0,5142 ou 51,42%

O segurado em causa teria formado 10,9 anos de contribuição (35 anos contribuição x alíquota de 0,31 ou 31% = 10,9), mas terá, em média, 21,1 anos de sobrevida. O cálculo em questão ainda parte do princípio de que o

salário de contribuição foi sempre o mesmo durante toda a vida laboral, quando se sabe que isso não ocorre, porque toda pessoa, ao iniciar a vida profissional, ganha uma remuneração menor.

Prosseguindo com o exemplo apresentado, Santos (2009, ps. 97-98), nos demonstra agora, a aplicação da fórmula, em relação a sua segunda parte:

A segunda parte da fórmula constitui-se num fator para cálculo do subsídio, que é acrescido ao valor da aposentadoria exata, e varia na razão direta do tempo de contribuição e da idade no momento da aposentadoria, assim: Fator de subsídio = [1 + (Id + Tc x a)/100]

Substituindo as variáveis da equação, por seus valores correspondentes: Fator de subsídio = [1 + (60 + 35 x 0,31)/100] = 1,7085

O Fator Previdenciário será igual à multiplicação da Aposentadoria exata x (vezes) o Fator de subsídio, assim:

Fator Previdenciário = Ae x Fs

Fator Previdenciário = 0,5142 x 1,7085 = 0,8785 ou 87,85% (SANTOS, 2009, ps. 97-98).

Portanto, todos os segurados que por ventura tenham sofrido a aplicação do Fator Previdenciário em seu benefício, acrescem um subsídio a sua aposentadoria, ou seja, quanto mais tempo de contribuição e mais idade tiver o segurado, maior será o seu subsídio. (SANTOS, 2009, p. 100).

Pois, mesmo aparentemente reduzindo o valor da aposentadoria no presente, ele inclui um subsídio, que será justificado ao final da expectativa de sobrevida.

Além disso, o RGPS é um sistema de seguro social público, e mantém-se da contribuição obrigatória dos segurados, das empresas e da sociedade. Neste sentido, instituiu-se o Fator Previdenciário para amenizar os impactos negativos desproporcional de contribuintes e beneficiários. Alterou-se a fórmula para o cálculo do salário de benefício, “passando a utilizar os salários de contribuição, registrados a partir de 01.07.1994 até a data do requerimento do benefício.” (SCHNEIDER, 2011, p. 35).

O Fator Previdenciário, na verdade é um coeficiente atuarial, que busca devolver ao segurado a sua poupança acumulada, distribuindo ao longo do tempo de sua aposentadoria, com as contribuições vertidas por ele próprio, durante a sua vida contributiva. O segurado sempre receberá o valor contribuído adicionado de um subsídio, a título de remuneração. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2010).

A multiplicação do tempo de contribuição pela alíquota de contribuição na fórmula do Fator Previdenciário representa o número de anos que o segurado fará

jus ao recebimento de sua aposentadoria em face das contribuições vertidas durante a sua vida contributiva.

Deve ser considerado que, sendo a alíquota de contribuição de 31%, são necessários pouco mais de três anos de contribuição para formar um ano de benefício. (SANTOS, 2009, p. 98).

A utilização da expectativa de sobrevida no cálculo da aposentadoria significa o número de anos que, em média, o segurado irá receber seu benefício. Por exemplo, se o segurado se aposentar aos 55 anos, sua expectativa de sobrevida é de 25,2 anos e, portanto, 25,2 anos é o tempo médio que se estima que ele irá receber a sua aposentadoria. Caso o segurado ultrapasse aquele período estimado, a previdência continuará a lhe pagar a aposentadoria, ainda que do ponto de vista estritamente econômico e financeiro, não tenha efetuado contribuições para esse período excedente, porém, será beneficiado com o sistema de repartição simples, aplicado ao RGPS.

Tome-se como exemplo uma situação em que o segurado tenha trabalhado 35 anos (Tc), dada uma alíquota (a) de 31%, como explicado anteriormente, ele terá poupado recursos para manter um período equivalente a 10,85 anos de inatividade: 35 x 0,31 (Tc x a). Logo, podem se configurar três hipóteses, basicamente, são elas:

a) se sua expectativa de sobrevida (es) quando se aposentar for de 10,85 anos a divisão de tempo de contribuição vezes alíquota por expectativa de sobrevida será igual a 1, isto é, verificou-se uma coincidência entre o tempo em que se acumulou recursos para a cobertura da aposentadoria e o período de tempo previsto para aquela aposentadoria.

b) se a expectativa de sobrevida for maior que 10,85 anos, o resultado será um número menor que 1, isto significa que o segurado não efetuou contribuições por tempo suficiente para cobrir o período em que ele espera ficar aposentado; neste caso, o montante das suas contribuições divido pelo número de meses que se espera fique recebendo a aposentadoria deverá resultar num salário de benefícios possivelmente menor que o último salário de benefício e seguramente menor que a sua média, mas no final, o total recebido será sempre igual ao total pago ou acumulado pelo trabalhador, melhor, será maior porque sobre o montante contribuído se estabelece um rendimento ou bônus.

c) se a expectativa de sobrevida (es) for menor que 10,85 anos, o resultado será um número maior do que 1, o que indica que o tempo de contribuição acumulado excede ao necessário para cobrir o período em que espera ficar aposentado; neste caso, o valor mensal do benefício poderá ser maior que o último salário de contribuição e com certeza maior que a média deles; da mesma forma o que lhe estará sendo devolvido será o equivalente às contribuições aportadas acrescidas de um bônus ou rendimento. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2000).

Além do supracitado, o Fator Previdenciário inclui um adicional para os segurados de acordo com a permanência em atividade, ou seja, o segurado que

ficar mais tempo contribuindo receberá um adicional que será tanto maior quanto maior o tempo que ele tenha ficado no sistema.

Esse adicional é multiplicado pela relação obtida entre tempo de contribuição e expectativa de sobrevida e, atua sempre com o objetivo de aumentar o resultado obtido. Pode ser interpretado como uma taxa de juros real que varia de acordo com a escolha pessoal de cada segurado, segundo a data por ele escolhida para a sua aposentadoria. Dependendo da trajetória salarial do segurado, esta taxa de juros real deverá oscilar, aproximadamente, entre 1,95% a.a. e 8,05% a.a. (MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, 2000).

A regra de cálculo do Fator Previdenciário introduz no sistema um cálculo atuarial que produz um resultado próximo do que se pode obter com um sistema decapitalização, sem,no entanto, abandonar o método de repartição simples, ou seja, a solidariedade entre gerações, que permanece como sendo o cerne do sistema.

Tome-se como exemplo a situação hipotética de dois segurados que buscam aposentadorias por tempo de contribuição, com o mesmo tempo de contribuição, alíquota e média de salário de contribuição e somente idades diferentes.

Tem-se que o denominado segurado A, possui 35 anos de contribuição, com alíquota de 31% ou 0,31, média dos salários de contribuição de R$ 2.000,00 (dois mil reais) e 51 anos de idade. Já o denominado segurado B, possui 35 anos de contribuição, com alíquota de 31% ou 0,31, média dos salários de contribuição de R$ 2.000,00 (dois mil reais) e 64 anos de idade.

Então vejamos: Segurado A f= 35 x 0,31/ 28,4 x (1+ (51 + 35 x 0,31)/100) f= 10,85 / 28,4 = 0,3820 x (1 + (51 + 10,85)/100) f= 10,85 / 28,4 = 0,3820 x (1 + (61,85)/100) f= 10,85 / 28,4 = 0,3820 x (1 + (0,6185)) f= 10,85 / 28,4 = 0,3820 x (1,6185) f= 10,85 / 28,4 = 0,3820 x 1,6185 = 0,6183 ou 61,83%

Deste exemplo extraem-se as seguintes informações, a aposentadoria do segurado A, será de R$ 1.236,60 (hum mil duzentos e trinta e seis reais e sessenta

centavos), pois da média do salário de contribuição de R$ 2.000,00 (dois mil reais), ele receberá 61,83%.

Outro dado relevante, é que o segurado A formou ao longo de sua vida contributiva 10,85 anos de contribuição efetiva, e se calcularmos de acordo com a média de R$ 2.000,00 (dois mil reais) vezes 420 meses (35 anos), chegamos ao número de R$ 840.000,00 (oitocentos e quarenta mil reais) de salário de contribuição ao longo do período. Esse salário de contribuição encontrado multiplicado pela alíquota paga pelo segurado (R$ 840.000,00 x 31%), temos uma contribuição efetiva de R$ 260.400,00 (duzentos e sessenta mil e quatrocentos reais), que divididos pela expectativa de sobrevida (R$ 260.400,00 dividido por 28,4 anos ou 340 meses), encontramos o valor de R$ 765,88 (setecentos e sessenta e cinco reais e oitenta e oito centavos), valor este que deveria ser a aposentadoria do segurado considerando a sua expectativa de sobrevida.

Multiplicando a expectativa de sobrevida de 28,4 anos ou 340 meses pelo benefício que será pago pela previdência social em função da atual forma de cálculo do RGPS para aposentadorias por tempo de contribuição, temos o seguinte cenário (R$ 1.236,60 x 340) = R$ 420.444,00 (quatrocentos e vinte mil quatrocentos e quarenta e quatro reais), ou seja, valor muito superior ao total arrecadado com as contribuições do referido segurado.

Cabe ainda ressaltar que a diferença entre o benefício a ser pago ao segurado A de R$ 1.236,60 e o que deveria ser pago de acordo com as contribuições efetuadas de R$ 765,88, representa segundo a fórmula do Fator Previdenciário, o rendimento das contribuições vertidas ao sistema previdenciário, mesmo o sistema não sendo de capitalização, mas sim de repartição simples.

Dando continuidade ao exemplo, passaremos aos cálculos do segurado B, como segue: Segurado B f= 35 x 0,31/ 18,6 x (1+ (64 + 35 x 0,31)/100) f= 10,85 / 18,6 = 0,5833 x (1 + (64 + 10,85)/100) f= 10,85 / 18,6 = 0,5833 x (1 + (74,85)/100) f= 10,85 / 18,6 = 0,5833 x (1 + (0,7485)) f= 10,85 / 18,6 = 0,5833 x (1,7485) f= 10,85 / 18,6 = 0,5833 x 1,7485 = 1,0199 ou 101,99%

Deste exemplo extraem-se as seguintes informações, a aposentadoria do segurado B, será de R$ 2.039,80 (dois mil e trinta e nove reais e oitenta centavos), pois da média do salário de contribuição de R$ 2.000,00 (dois mil reais) ele receberá 101,99%.

Vale destacar, que o segurado B formou ao longo de sua vida contributiva 10,85 anos de contribuição efetiva, e se for efetuado o cálculo de acordo com a média de R$ 2.000,00 (dois mil reais) vezes 420 meses (35 anos), chegamos ao número de R$ 840.000,00 (oitocentos e quarenta mil reais) de salário de contribuição ao longo do período. Esse salário de contribuição encontrado multiplicado pela alíquota paga pelo segurado (R$ 840.000,00 x 31%), tem-se uma contribuição efetiva de R$ 260.400,00 (duzentos e sessenta mil e quatrocentos reais), que divididos pela expectativa de sobrevida (R$ 260.400,00 dividido por 18,6 anos ou 223 meses), encontramos o valor de R$ 1.167,71 (hum mil cento e sessenta e sete reais e setenta e um centavos), valor este que deveria ser a aposentadoria do segurado considerando a sua expectativa de sobrevida.

Multiplicando a expectativa de sobrevida de 18,6 anos ou 223 meses pelo benefício que será pago pela previdência social em função da atual forma de cálculo do RGPS para aposentadorias por tempo de contribuição, temos o seguinte cenário (R$ 2.039,80 x 223) = R$ 454.875,40 (quatrocentos e cinquenta e quatro mil, oitocentos e setenta e cinco reais e quarenta centos), ou seja, como no exemplo do segurado A, valor muito superior ao total arrecadado com as contribuições vertidas.

Portanto, não há falar em redução de benefício com aplicação do Fator Previdenciário, mas sim aumento, uma vez que na linha do tempo o valor recebido é muito superior ao valor contribuído.

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