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Equilíbrio financeiro e atuarial

3 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS SOCIOPREVIDENCIÁRIOS

3.1 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA SEGURIDADE SOCIAL

3.1.2 Equilíbrio financeiro e atuarial

No início, o sistema previdenciário brasileiro tinha muitos segurados e poucos aposentados, o que tornava a previdência altamente superavitária. Porém, estes recursos não foram mantidos em um fundo para atender aos futuros aposentados, mas foram direcionados para outros fins.

É consenso que deve haver um equilíbrio entre as receitas e as despesas previdenciárias, porém este equilíbrio foi prejudicado com a utilização pretérita dos recursos da previdência para o custeio de outras diversas despesas da União, como

a construção de Brasília, da ponte Rio-Niterói e da usina de Itaipu. (AMADO, 2012, p. 195).

Cabe destacar que a exposição de motivos n. 12/MPAS (conjunta), de 10 de março de 1995, da emenda constitucional n. 20/98, já nos sinalizava a preocupação dos Ministros de Estado, em realizar a reforma previdenciária, pois no item 8 da referida exposição, temos:

É para permecer honrando seus compromissos, que a Previdência Social implementará estratégias objetivando a obtenção de resultados a curto, médio e longo prazos que propiciem:

[...]o aperfeiçomento da gestão previdenciária, através da informatização, da [...]modernização dos instrumentos e processos de trabalho e da capacitação de recursos humanos, combatendo as fraudes e a sonegação, reduzindo desperdícios e aumentando, de modo geral. A eficiência e a eficácia do sistema;

[...]o aperfeiçoamento da legislação previdenciária, tornando-a mais clara, mais objetiva e, consequentemente, menos vulnerável às contestações judiciais;

[...]o desenho de um novo modelo previdenciário, financeira e atuarialmente viável e justo do ponto de vista social.(BRASIL, 1995).

Extraiu-se do item supracitado o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial, atualmente vigente no texto constitucional.

Com a reforma da previdência social implementada pela Emenda Constitucional n. 20/98, o caput do artigo 201 da CRFB/88, passa a se referir a um princípio até então inexistente, qual seja, o princípio do equilíbrio financeiro e atuarial. (BRASIL, 1988).

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a: (BRASIL,1988).

Este princípio visa assegurar a incolumidade das contas previdenciárias para as presentes e futuras gerações. (AMADO, 2012, p. 195).

A má administração dos recursos da previdência social, ao longo dos anos, foi o motivo pelo qual se introduziu este princípio em nosso ordenamento jurídico.

Além da introdução do citado princípio a EC 20/98, também previa a instituição da idade mínima, de 60 anos para o homens e 55 anos para mulheres, em relação a aposentadoria por tempo de contribuição no RGPS.

Contudo, no que diz respeito à idade mínima, o governo não obteve êxito, pois necessitava de um quorum de três quintos do toal de 513 deputados, ou seja, 307 votos. Tendo conseguido 306 votos, haja vista o famoso voto do Deputado Federal Antônio Kandir, que afirmou ter-se enganado e apertado o botão errado, e consequentemente votando contra o projeto do governo, ao qual havia feito parte, como Ministro do Planejamento. (TSUTIYA, 2011, p. 285).

O Governo Federal não conformado com a derrota, sanciona em 26.11.1999, a Lei 9.876, que institui o Fator Previdenciário.

No entendimento de João Batista Lazzari (2010, p. 415):

Esse novo critério de cálculo objetiva estimular as pessoas a se aposentarem mais tarde. Na prática, instituiu por via transversa a idade mínima para aposentadoria, proposta rejeitada pela Câmara durante a votação da Reforma da Previdência Social.

A implementação do Fator Previdenciário se deu sob a égide do princípio constitucional do equilíbrio financeiro e atuarial, agora já existente em nosso ordenamento. Cabe destacar a existência de conceitos particulares para o equilíbrio financeiro e equilíbrio atuarial, entretanto conceitos estes interdependentes.

Sendo o seguro social baseado em princípios matemáticos e bioestatísticos, encontra-se o equilíbrio financeiro mediante a harmonia entre receitas e despesas da previdência em um dado momento. Para Caetano (2006, p. 30), "[...] pode-se afirmar que um plano de previdência apresenta equilíbrio financeiro de curto prazo quando o total arrecadado supera ou se iguala ao montante pago de benefícios."

No entender de Mano (2002, p. 19), o equilíbrio atuarial é:

Um conceito complexo, onde a ciência atuarial é aquela "que estuda, analisa, dimensiona e quantifica os riscos. Atuários quantificam as incertezas do futuro desenvolvendo modelos matemáticos capazes de avaliar a implicação financeira de eventos futuros incertos", envolvendo variáveis financeiras, demográficas, econômicas e probabilísticas, num horizonte de longo prazo.

Para Cechin (2007, p. 225), “O desequilíbrio atuarial, contrariamente ao financeiro, não é diretamente observável. Seu entendimento requer conceitos probabilísticos (esperança de vida ou probabilidade de morte em cada idade).”

O equilíbrio atuarial diz respeito ao equilíbrio entre ativos e passivos atuarialmente calculados. Em um regime capitalizado, existe equilíbrio atuarial quando os recursos acumulados em um dado momento equivalem ao valor das reservas matemáticas de todos os benefícios concedidos e a conceder. Em um sistema estruturado em repartição simples, como não há formação de reservas, o equilíbrio atuarial seria representado pelo cálculo das contribuições e definição das regras de benefícios com base em critérios atuariais consistentes, tendentes a gerar um equilíbrio de longo prazo considerando os riscos futuros e as demais variáveis atuariais.

Como nos ensina Nolasco (2012), frente ao cálculo das prestações pecuniárias:

A Emenda Constitucional n. 20/98 desconstitucionalizou a mecânica de cálculo das prestações pecuniárias, possibilitando a alteração das disposições da Lei de Benefícios, Lei n. 8.213/91, a fim de que fosse intensificada a correlação entre contribuição e benefício e, assim, possibilitando a manutenção de um equilíbrio financeiro e atuarial, preocupação manifestada no artigo 201 da Constituição Federal.

Assim, o equilíbrio financeiro e atuarial do RGPS depende, essencialmente, de duas condições externas: a composição demográfica da população e suas tendências em longo prazo e da relação entre o número de trabalhadores ativos e inativos; e o desempenho da economia, principal componente na determinação do percentual de formalização dos trabalhadores em atividade e, portanto, do volume de recursos arrecadados pelo sistema. (MINISTÉRIO DA REVIDÊNCIA SOCIAL, 2009).

A existência de equilíbrio financeiro e atuarial em um sistema previdenciário é sinônimo de solidez e segurança, tanto para os atuais como para os futuros segurados.

Com base no equíbrio financeiro e atuarial entra em vigor o Fator Previdenciário, para estabelecer um critério capaz de honrar com os atuais e futuros compromissos financeiros da previdência social em face de seus segurados.

No próximo tópico serão abordados os aspectos relacionados ao pacto intergeracional.

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