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4 FATOR PREVIDENCIÁRIO

4.1 HISTÓRICO DE IMPLANTAÇÃO

Com a promulgação da EC 20/98, e a não aprovação da idade mínima para as aposentadorias por tempo de contribuição do RGPS, e a inclusão do equilíbrio financeiro e atuarial no caput do art. 201 da CRFB/88, passa a existir a possibilidade da criação de medidas visando à sustentabilidade do sistema previdenciário brasileiro.

Para amenizar os acentuados impactos negativos em suas finanças o Ministério da Previdência Social passou a adotar métodos aplicados em médio e longo prazo, para possibilitar ao INSS a reestruturação de sua saúde financeira.

Vigente desde 29 de novembro de 1999, com a promulgação da Lei 9.876, o instituto do Fator Previdenciário vem provocando inúmeras discussões e polêmicas desde a sua criação.

Com a implantação do Fator Previdenciário, buscava-se restringir a procura dos segurados pelo benefício da aposentadoria, primordialmente pela aposentadoria por tempo de contribuição.

Martinez (2001) infere que, dada a implantação do Fator Previdenciário com a Lei n. 9.876, o artigo 29 da Lei 8.213/91, sofreu alterações em seu texto, introduzindo os incisos I, II e os §§ 7º, 8º, 9º e seus incisos, com a seguinte redação:

Art. 29. O salário de benefício consiste:

I – para os benefícios de que tratam as alíneas b e c do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo o período contributivo, multiplicada pelo fator previdenciário;

II – para os benefícios de que tratam as alíneas a, d,e e h do inciso I do art. 18, na média aritmética simples dos maiores salários de contribuição correspondentes a 80% (oitenta por cento) de todo período contributivo; [...] §7º O Fator Previdenciário será calculado considerando-se a idade, a expectativa de sobrevida e o tempo de contribuição do segurado ao se aposentar, segundo fórmula constante do Anexo desta Lei.

§8º Para efeito do disposto no § 7º, a expectativa de sobrevida do segurado na idade da aposentadoria será obtida a partir da tábua completa de mortalidade construída pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, considerando-se a média nacional única para ambos os sexos.

§9º Para efeito da aplicação do fator previdenciário, ao tempo de contribuição do segurado serão adicionados:

I – cinco anos, quando se tratar de mulher;

II – cinco anos, quando se tratar de professor que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino fundamental e médio;

III – dez anos, quando se tratar de professora que comprove exclusivamente tempo de efetivo exercício das funções de magistério na educação infantil e no ensino médio e fundamental (BRASIL, 1991).

Tal medida faz-se necessária devido à população brasileira apresentar processo de baixa natalidade e envelhecimento não registrados até então. Ao juntar- se a diminuição da geração de empregos formais a estes fatores, ocorreu desequilíbrio entre parcelas da população economicamente ativa (contribuintes previdenciários) e a parcela populacional sob proteção deste sistema (beneficiários) (SCHNEIDER, 2011).

Devido à desproporção entre beneficiários e contribuintes do sistema previdenciário, registrou-se desequilíbrio negativo, atingindo significativamente o princípio da solidariedade, refletindo na saúde financeira da arrecadação e no pagamento de benefícios (SCHNEIDER, 2011, p. 31).

E continua o autor:

Quando a Previdência foi criada, nos anos 30, a expectativa de vida do brasileiro era, em média, de 43 anos; e, até a década de 60, para cada aposentado havia oito pessoas trabalhando e contribuindo. Hoje a expectativa de vida do brasileiro está em torno de 68 anos e a relação contribuinte/beneficiário diminuiu para 1,2. (SCHNEIDER, 2011, p. 31):

Contudo, para respeitar os princípios e garantias constitucionais frente à implantação do Fator Previdenciário, adotou-se regra de transição. Tal medida, para Martinez (2001, ps. 566-567):

Quem tem direito adquirido estará fora do sistema. Na hipótese de a Lei n. 9.876/99 o favorecer, poderá optar pelo fator. Diz seu artigo 6º: “É garantido ao segurado que até o dia anterior à data de publicação desta Lei tenha cumprido os requisitos para a concessão de benefício o cálculo segundo as regras até então vigentes. Continuando a trabalhar, se com o fator o benefício resultar maior também poderá optar por ele. Legalmente o Fator Previdenciário entrou em vigor no dia 29/nov./1999, mas não o efeito total da fórmula. Ele será integral cinco anos depois, isto é, em dez/2004. Até lá, aplicar-se-á gradual e sucessivamente, introduzindo-se 1/60 (um sessenta avos) por mês. Isto é, o resultado da fórmula só terá eficácia total sessenta meses após a publicação da Lei n. 9.876/99. Exatamente em dez/2004.

Conforme explicam Castro e Lazzari (2003, p. 425), a regra instituída pela Lei 9.876/99 “[...] será aplicada gradualmente aos segurados filiados até o dia anterior à data de publicação”. Portanto, a regra de transição garante ao segurado que se filiou em data anterior à publicação da Lei, a escolha pela forma de cálculo mais vantajosa em relação a sua aposentadoria.

Para o segurado já inscrito na data de vigência da Lei 9.876/99 e, que preencha requisitos necessários para requerer o benefício, a regra de transição prevê que o salário de benefício seja calculado em duas etapas:

Na primeira fase, o salário de benefício será calculado considerando-se a média aritmética simples dos maiores salários de contribuição, correspondentes a, no mínimo, 80% de todo período contributivo decorrido desde a competência julho de 1994. Por exemplo, quem solicitou o benefício em dezembro de 1999, primeiro, terá apurados os 65 salários de contribuição do período, embora, no cálculo, só sejam considerados 52 salários de contribuição (80% de 65), justamente os mais altos. Na segunda etapa, será aplicado o Fator Previdenciário, que considera a idade, o tempo de contribuição, a alíquota de recolhimento (sempre de 31%, correspondente a 20% da empresa e 11% do segurado) e a expectativa de sobrevida do segurado no momento da aposentadoria. A adoção do fator será gradual, durante cinco anos. No primeiro mês, incidirá sobre 1/60 da média dos salários de contribuição. No segundo mês, 2/60, e assim sucessivamente. (CASTRO; LAZZARI, 2003, ps. 428-429).

Mesmo tendo assegurado o direito adquirido para quem preencheu os requisitos por tempo de contribuição até 28.11.1999, para o cálculo de aposentadoria sem a incidência do Fator Previdenciário, esse instituto teve a sua

validade constitucional questionada no STF por intermédio das ADI's 2.110 e 2.111, tendo medida cautelar denegada pela Suprema Corte.(AMADO, 2012, p. 444).

Transcreve-se a principal passagem do julgado citado por Amado (2012, p. 444):

[...] Quanto à alegação de inconstitucionalidade material do art. 2o da Lei n° 9.876/99, na parte em que deu nova redação ao art. 29, "caput", incisos e parágrafos, da Lei n° 8.213/91, a um primeiro exame, parecem corretas as objeções da Presidência da República e do Congresso Nacional. É que o art. 201, §§ Io e 7o, d a C.F., com a redação dada pela E.C. n° 20, de 15.12.1998, cuidaram apenas, no que aqui interessa, dos requisitos para a obtenção do benefício da aposentadoria. No que tange ao montante do beneficio, ou seja, quando aos proventos da aposentadoria, propriamente ditos, a Constituição Federal de 5.10.1988, em seu texto originário, dele cuidava no art. 202. O texto atual da Constituição, porém, com o advento da E.C. n° 20/98, já não trata dessa matéria, que, assim, fica remetida "aos termos da lei", a que se referem o caput e o § 7° do novo art. 201. Ora, se a Constituição, em seu texto em vigor, já não trata do cálculo do montante do benefício da aposentadoria, ou melhor, dos respectivos proventos, não pode ter sido violada pelo art. 2o da Lei n. 9.876, de 26.11.1999, que, dando nova redação ao art. 29 da Lei n. 8.213/91, cuidou exatamente disso. [...] Mas, nessa parte, resta indeferida a medida cautelar (g-n.) (Ação Direta de Inconstitucionalidade n.2.111,Distrito Federal, Supremo Tribunal Federal, Relator: Min. Sydney Sanches. Julgado em 16/03/2000).(BRASIL, 2000).

Entende-se que, a implantação progressiva do Fator Previdenciário foi uma correta escolha do legislador.

Mister ressaltar o respeito que o Fator Previdenciário empreendeu para com os institutos jurídicos do direito adquirido e da regra mais benéfica ao segurado.

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