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SUMÁRIO

APARELHOS QUE TEM EM CASA

9.1.2 Características gerais

O QIAHSDI, além de elencar importantes informações pessoais, revela aspectos socioeconômicos, familiares e educacionais já elencados anteriormente no perfil de cada

sujeito. Os questionários que já foram elaborados objetivam revelar os indicadores de AH/SD normalmente encontrados em crianças, jovens e adultos. No caso da faixa etária em questão, os idosos, não poderia ser diferente, já que essas informações são peças fundamentais para que seja possível identificar indicadores de AH/SD que acompanham a trajetória de vida de uma pessoa desde a infância até a terceira idade, perpassando toda a vida do ser humano com AH/SD; portanto, esses indicadores servirão também para os idosos, sinalizando importantes comportamentos.

No bloco Características Gerais, constam não só informações direcionadas para a área cognitiva, mas também dados significativos a respeito da idade com que os sujeitos começaram a ler, de seus interesses, de suas motivações e de suas capacidades de liderança, organização e relações interpessoais.

O bloco que se refere às características gerais está composto de 18 questões: idade que começou a ler; tempo dedicado à leitura; assuntos e atividades de preferência; idade das pessoas que fazem parte do seu círculo de amizades; áreas de destaque; sentimentos diferenciados das demais pessoas; preferência por se organizar só; gosto por leituras mais complexas na infância; independência na maneira de pensar e de agir; senso de humor destacado; preocupação com as questões éticas, morais, sociais, políticas ou ambientais; perfeccionismo; capacidade de observação; preferência por jogos de estratégias; conceito de amizade; intolerância; e idades do círculo de amizades da infância.

O sujeito P, ao contrário do convencional em portadores de AH/SD (leitura precoce), começou a ler com mais de sete anos e tem o hábito de realizar leituras todos os dias, inclusive perdendo a noção do tempo, conforme mencionou, e utilizando como recurso a internet. Entre os assuntos que mais gosta de conversar, estão: em primeiro lugar, os temas atuais; em segundo lugar, os assuntos relacionados à convivência das pessoas, aos relacionamentos;em terceiro lugar, estudos; e, em quarto, tudo o que se passa no país e as transformações da sociedade. A idade de seus amigos varia bastante: 13, 55, 62 e 74 anos.

Já o sujeito E começou a ler com seis anos e, atualmente, lê o máximo de tempo que pode, valendo-se dos seguintes recursos: internet, livros e textos impressos para serem utilizados em aula.

Quando questionado em relação aos assuntos que mais gosta de conversar ou estudar ou sobre quais as atividades que mais gosta de realizar, respondeu que não gosta de falar muito e, entre os assuntos por que tem preferência para estudar, a literatura está em primeiro lugar; em segundo, a língua portuguesa. Quando questionado quanto as idades dos seus melhores amigos, menciona ter como amigos somente as duas filhas.

O Sujeito R1 começou a ler com quatro anos, atualmente lê em torno de 15 horas por semana, no mínimo, e utiliza o livro como recurso. Em relação aos assuntos de sua preferência para conversar ou estudar, mencionou: em primeiro lugar, as discussões filosóficas; em segundo, o futebol; em terceiro, a aviação; e, em quarto, assuntos relacionados a automóveis. Quando questionado em relação à idade dos quatro melhores amigos, respondeu que possuem em torno de 50 anos.

Com sete anos começou a ler o Sujeito C e, em relação ao hábito de leitura, lê todas as noites, utilizando como recursos os jornais (três publicações diferentes) e livros. Entre os assuntos de sua preferência, está, em primeiro lugar, a literatura, seguida da política e dos assuntos abordados nos jornais. Seus melhores amigos têm idades diferenciadas: 26, 45, 48 e 74 anos.

O início da leitura do Sujeito U foi com mais de sete anos e, atualmente, dedica todo o tempo que tem à leitura, por meio do computador e dos livros. Entre os assuntos sobre os quais mais gosta de conversar, em primeiro lugar, citou a política; em segundo, a economia; e, em terceiro, os assuntos relacionados à saúde. Quanto à idade dos seus melhores amigos, mencionou muitos amigos jovens da universidade.

O sujeito R2 começou a ler com sete anos e, atualmente, lê em torno de doze horas por semana, utilizando os seguintes recursos: textos impressos, livros e internet. Quanto aos assuntos de sua preferência, elencou: em primeiro lugar, a política; em segundo, os esportes; e, em terceiro, as questões religiosas. As idades dos melhores amigos são: 36, 51, 52 e 67 anos.

Com sete anos também iniciou a ler o sujeito S, que dedica, para a leitura, 14 horas por semana e utiliza como recurso revistas, jornais e o computador. Quanto aos assuntos de sua preferência, alega se interessar por tudo, destacando a língua portuguesa, a matemática e a política, nessa ordem de preferência. Em relação às idades dos seus melhores amigos, mencionou os seus familiares com idades variadas.

O sujeito O começou a ler com sete anos e afirmou dedica à leitura cerca de quatro horas por semana, utilizando como recursos a internet, os jornais e as revistas.

Em relação aos assuntos da sua preferência, em primeiro lugar, estão os relacionados às viagens; em segundo, os assuntos religiosos; em terceiro, as notícias; e, em quarto, os assuntos relacionados à história. As idades dos seus melhores amigos são entre 64 e 65 anos.

A média aproximada da idade em que a maioria dos sujeitos iniciou a leitura foi em torno dos sete anos, pois cinco sujeitos mencionaram a referida idade, um iniciou com 9 anos, um, com 6 anos e um, com quatro. A precocidade na leitura é um dos indicadores de AH/SD,

então, tomando por base as suas respostas, somente o Sujeito R1 atenderia a esse indicador. Já quanto à leitura voraz, que se constitui em um importante indicador: o sujeito O dedica pouco tempo durante a semana para a leitura, em torno de quatro horas, seguido pelo sujeito R2, que dedica 12 horas; pelo sujeito S, que dedica 14 horas; pelo sujeito R1, 15 horas; e, por fim, pelos sujeitos P, E, C e U, os quais apresentam dedicação maior a essa atividade. Dos oito sujeitos, seis utilizam, como recurso para ler, a internet, cinco utilizam os livros e dois utilizam os textos impressos para as aulas, jornais e revistas. O uso da tecnologia é bem presente nas falas dos sujeitos, demonstrando que a maioria tem acesso fácil a ela, assim como a outros recursos.

Quanto aos assuntos de preferência, em primeiro lugar está a política; citada por quatro sujeitos; em segundo lugar, estão as notícias, com a citação por parte de três sujeitos; e, em terceiro lugar, ficaram os assuntos relacionados à literatura e aos esportes. Nesse sentido, há uma relação com o indicador que se refere à capacidade desenvolvida de análise, avaliação e julgamento, que permite visualizar o interesse pela política e pelas notícias. O interesse pela política justifica uma das características marcantes das pessoas com AH/SD devido a se vincular aos aspectos morais e éticos, preocupações bastante evidenciadas nesses sujeitos, que, de acordo com Pérez (2008, p. 153), possuem bastante “sensibilidade aos problemas sociais e os sentimentos dos outros”.

Essa preocupação focada nas questões éticas e morais relaciona-se também ao comprometimento em ações de voluntariado, que são realizadas por seis dos oito sujeitos participantes do estudo, os quais dedicando um número considerável de horas diárias para atuar em projetos e grupos de auxílio a pessoas necessitadas. A esse respeito, Pérez (2008) também obteve resultados semelhantes, visualizados em seu estudo com pessoas adultas com AH/SD. Em suas palavras:

Os valores éticos e morais também regem as ações dos participantes e me chamou muito a atenção que um número significativo deles desenvolve atividades de voluntariado que, embora estejam crescendo, no Brasil, ainda não representam uma cultura afincada. Dedicar parte do tempo a ajudar graciosamente aos outros é um fazer significativo dos participantes (PÉREZ, 2008, p. 156).

Das seis atividades voluntárias que são exercidas, quatro são realizadas em instituições religiosas. O sujeito E realiza voluntariado em uma igreja localizada no centro da cidade, ensinando as pessoas que têm interesse em aprender corte e costura. O sujeito C atua como catequista em uma igreja de periferia há muitos anos e também na Pastoral do Idoso. O sujeito O atua em uma igreja evangélica, realizando atendimentos e conversando com pessoas que

têm problemas de diferentes tipos, como envolvimento com drogas, dificuldades de relacionamentos e depressão. Já o sujeito R2 atua como voluntário em um centro comunitário e, recentemente, recebeu um convite para fazer parte da Comissão Municipal de Saúde. O sujeito R1 exerce trabalho voluntário em várias instituições, como creches, cozinhas comunitárias e oficinas que são ofertadas em vários locais na cidade, por meio da estruturação de projetos para concorrer aos editais disponibilizados pelo governo, mencionando que é difícil ele perder algum e que toda verba recebida é para cobrir as despesas dessas instituições e eventos. O sujeito U atuou durante 30 anos na instituição Rosa Cruz ministrando cursos e palestras.

Em relação às respostas fechadas, considerando que pessoas com AH/SD priorizam as respostas “frequentemente” e “sempre”, quatro sujeitos (R2, R1, P e O) optaram por estas, e os demais (U, S, C e E) oscilaram nas alternativas “nunca”, “raramente” e “às vezes” em algumas questões. Os sujeitos U e C optaram por sete respostas diferentes e os sujeitos S e E revelaram cinco questões com respostas diferentes.