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4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS: PARTE I

4.3 O CONTEXTO REGIONAL

4.3.1 Características gerais do contexto paranaense

Historicamente o Estado do Paraná caracterizou-se pelo fato de possuir economia voltada predominantemente à agricultura.

Até os anos 60, a dinâmica econômica paranaense caracterizou-se essencialmente pelo extrativismo, pecuária e incipiente agricultura. Este panorama, passou por profundas transformações nos anos 70, sobretudo a partir dos investimentos para a modernização do complexo agroindustrial e de um embrião da indústria metal-mecânica na região metropolitana de Curitiba.

No desenvolvimento industrial paranaense, embora diversos gêneros tradicionais ainda se conservem como os mais importantes da indústria, ganharam substancial importância complexos industriais que implicam a maior elaboração de matéria-prima tais como: produtos alimentares (café solúvel, frigoríficos e óleos refinados); madeira (aglomerados e chapas); e minerais não metálicos (cimento e fibrocimento) (VASCONCELOS e CASTRO, 1999). Além disto, enquanto nas cidades do interior passaram a se concentrar os gêneros da agroindústria mais dependentes da proximidade dos centros produtivos de matérias-primas, na região metropolitana de Curitiba, em especial na Cidade Industrial de Curitiba – CIC –, se desenvolveram mais amplamente indústrias ligadas ao transporte, comunicação, eletroeletrônica e outros setores mais distantes da agricultura.

VASCONCELOS e CASTRO (1999) explicam que, apesar dos fatores de ordem local, uma das razões fundamentais para a expansão da industria paranaense nos anos 70 fundamentou-se na existência de condições favoráveis para a indústria em plano nacional, bem como pela retomada dos investimentos no início da década que

mesmo após o esgotamento do milagre permaneceram elevados.

Nos anos 80, o Estado sofreu como todo o país com a inflação elevada, a instabilidade e a recessão econômica que marcaram boa parte do período. Por outro lado, algumas transformações na base produtiva e adensamento industrial são observadas. Em alguns momentos o Estado apresentou desempenho econômico e industrial médio superior ao brasileiro. Neste sentido, a agropecuária consolidou sua organização espacial e ampliação da produção. A indústria evoluiu em uma dinâmica ligada aos segmentos mais modernos e de implantação recente na economia brasileira, e a agroindústria também consolida-se a partir dos investimentos para a exportação e mercado interno.

Nos anos 90, o Estado do Paraná despertou interesse em âmbito nacional, por ter sido palco privilegiado das transformações do período, sobretudo face à construção de um perfil produtivo com presença maior de setores de bens de consumo durável e de capital. No período, o governo do Estado lançou-se numa corrida industrializante, procurando entrar nas coordenadas da relocalização mundial da indústria automobilística e além disso, captar a maior parte das decisões de investimentos empresariais que envolvessem escolhas regionais.

Ao longo dos últimos anos, a economia e a indústria paranaenses, impulsionadas pela retomada e transformações da economia brasileira, vêm demonstrando uma ampliação quantitativa e qualitativa nas suas bases de operação.

Nessa nova etapa de expansão da base industrial, gestada originalmente nos anos 70, a indústria automobilística tem liderado um ciclo de investimentos que incluiu ramos diversos como siderurgia, madeira e agroindústria, trazendo consigo ganhos tecnológicos e de produtividade em diversos segmentos produtivos (IPARDES 2002b).

Entre as principais características deste contexto na década de 90 percebe-se, nos primeiros anos, a lenta reversão do viés pró-mercado interno herdado dos anos de proteção e mudanças pontuais das vocações exportadoras da indústria paranaense na década passada. Os esforços de vendas ao mercado externo (exportação)

concentraram-se em ramos já tradicionais como das agroindústrias e de alimentos (incluindo novas inserções dos ramos de açúcar, adoçantes, sucos e conservas), bem como apresentam significativo aumento nas indústrias tecnológicas, principalmente do ramo automobilístico. Já no período 1995-2000, destaca-se a recuperação do crescimento da base industrial, confirmada pela consolidação e avanço da presença dos segmentos tecnológicos, pelo avanço mais restrito das indústrias fornecedoras de matérias-primas (siderurgia, óleos vegetais, papel), e também das indústrias tradicionais como alimentos, confecções e móveis (IPARDES, 2002a). Além disso, ao avaliar a competitividade da indústria paranaense no período, estudos têm registrado significativo crescimento da produtividade média num conjunto relevante dos ramos industriais. No caso, o aumento deste índice foi de 171% na média geral entre 1995 e 2000 (IPARDES, 2002a). Apesar de que apresenta crescimento médio anual pouco superior ao da indústria brasileira (2,75% contra 2,43%), a capacidade instalada da indústria paranaense aumentou mais intensamente que a de outras regiões. Segundo a pesquisa industrial anual do IBGE, referida em estudo do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES – (IPARDES, 2002b) a ampliação da participação paranaense no valor da transformação industrial nacional foi de 4,3%

em 1985 para 5,3% em 1996 e 5,7% em 2000. Segundo este mesmo estudo, tal ampliação da qualidade e produtividade na indústria paranaense devem-se aos seguintes fatores: i) racionalização da estrutura produtiva via redução de empregos com decorrentes ganhos de eficiência; ii) modernização nas plantas industriais; e iii) maior inserção de empresas importantes do Estado na dinâmica de grandes grupos internacionais, sobretudo nos segmentos de alimentos (laticínios e carnes) e mecânica (freezers), via reestruturações patrimoniais em âmbito nacional (IPARDES, 2002b).

É importante notar que indústria estadual também ampliou e diversificou a capacidade instalada devido à absorção de impactos positivos da retomada de investimentos estrangeiros no país. Esta diversificação é mais evidente nas cadeias agroindustriais extrativas, automobilístico, siderúrgica e madeireira. Efeitos iniciais

dessa reestruturação já são visualizados na diminuição da dependência excessiva do complexo soja e na maior presença do material de transporte nas exportações do Estado: de 42,4% e 4% em 1999 passaram a representar 33,8% e 22,7% do total da pauta em 2001 respectivamente.

No que diz respeito ao crescimento médio das exportações e da propensão a exportar, mensurados pelo IPARDES (2002a), ressalta-se que estes coeficientes ainda permanecem baixos e revelam o viés pró-mercado interno como principal característica do ciclo recente de investimentos na indústria. Em outras palavras o envolvimento internacional das empresas paranaenses ainda é pouco valorizado.

Finalmente, em uma tentativa de síntese, observa-se que o desenvolvimento industrial paranaense nos últimos anos foi marcado pela: i) desaceleração e restauração do processo de reestruturação durante a primeira e segunda metades dos anos noventa;

ii) convergência progressiva da estrutura industrial em setores de maior conteúdo tecnológico; iii) tendência à especialização nos grupos industriais automobilísticos, de produção contínua e de bens homogêneos como da siderurgia e papél; e iv) diversificação na indústria de alimentos, móveis e confecções (IPARDES, 2002b).

A seguir focaliza-se o contexto regional específico da indústria de alimentos.