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4. DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS: PARTE I

4.3 O CONTEXTO REGIONAL

4.3.2 O contexto regional da indústria de alimentos

Em grande parte, a indústria alimentar paranaense reflete o amadurecimento da estrutura gestada em meados dos anos 70 e início dos 80 (IPARDES, 1999a). Entre as principais características do período, destaca-se a modernização e os movimentos de industrialização vividos pelo setor como resultado das políticas de incentivo industrial brasileiro.

Considerando os objetivos políticos brasileiros, VASCONCELOS e CASTRO (1999) observam que a agroindústria ganhou impulso com os incentivos e investimentos para o desenvolvimento da exportação e do mercado interno, bem como

para a redefinição e reordenamento de complexo produtivo e de mercados. Assim, carnes processadas, rações balanceadas, extração e refino de óleos vegetais passaram a dividir espaço com segmentos tradicionais da economia estadual como o beneficiamento de cereais e torrefação de café.

Nos últimos anos, embora a estrutura industrial do setor não se tenha alterado significativamente, a trajetória seguida pela indústria de alimentos vinculou-se à reinserção da economia brasileira no comércio mundial e ao novo horizonte do crescimento interno instaurado pela estabilização monetária em meados dos anos 90.

Além disto, embora as projeções da taxa de crescimento populacional no Estado se apresentem declinantes no longo prazo, apresentam certa estabilidade nos últimos anos, e de forma geral acompanham as tendências nacionais (IPARDES, 1999b).

Segundo relatório do IPARDES (1999a), nesse contexto a indústria alimentar paranaense vem buscando novos espaços no mercado via expansão e diversificação em amidos, óleos vegetais, carnes e laticínios e, ao mesmo tempo, incorporando avanço gradual em massas, biscoitos, doces e sorvetes.

Os anos 90 consolidaram o Paraná como um grande produtor de carnes, atestado pelo significativo avanço de 87,1% no abate de aves e 66,87% no abate de suínos, entre 1990 e 1997 (IPARDES, 1999a). Especificamente, destaca-se o crescimento do segmento avícola vinculado às exportações que, em espaço de tempo relativamente curto, conquistou mercados importantes, com a expressiva elevação das exportações de carne de frango (de US$ 75 milhões em 1990 para US$ 217,5 milhões em 1998), destinadas principalmente à Europa, Ásia e Oriente Médio. Neste setor, nos anos recentes ampliou-se o acirramento da concorrência e a eliminação da pequena produção, com a proliferação de grandes unidades frigoríficas em várias regiões do Estado.

O Paraná destaca-se também entre os principais Estados produtores de leite.

Dados do IPARDES (1999a) apontam para um taxa de 63,14% de crescimento da produção de leite e de cerca de 28% da produtividade do rebanho entre 1989 e 1997.

Entretanto, apesar do significativo crescimento, nos últimos anos, observa-se que a concorrência de similares importados da Argentina, Holanda e Estados Unidos, e o acirramento da concorrência interna tem progressivamente comprimido as margens de lucro do segmento. Neste sentido, os recentes investimentos conduzidos pelas cooperativas reforçam um padrão de competitividade baseado em elevada escala de produção e baixo custo unitário. A busca pela otimização da produção tem fomentado a formação de parcerias e uniões entre cooperativas do Estado como, por exemplo, as realizadas pela Clac e Witmarsum, constituindo a Centralpar, e a integração entre Cativa, Colmar, Colari, Coplac e Centralnorte formando a Confepar. Outra característica presente no segmento tanto de laticínios quanto de carnes é a forte dependência às freqüentes oscilações nos preços, típico da commoditização dos produtos (IPARDES, 2002b).

O complexo industrial da soja constitui-se ainda hoje em uma das cadeias agroindustriais mais representativas do Estado. Dotado do maior volume produzido desse grão no país, o complexo paranaense responde por quase metade do volume global da pauta estadual de exportações e compõe-se principalmente da produção do farelo de soja e do óleo bruto e refinado. Segundo o IPARDES (1999a), o Paraná possui a maior capacidade de esmagamento de soja do país, com cerca de 30%; e, juntamente com São Paulo e Rio Grande do Sul, 66% da capacidade de refino.

Análises e tendências evidenciam que o panorama para esse segmento é delicado tendo em vista: i) o acúmulo de capacidade ociosa no conjunto das unidades de processamento; ii) o desvio da fronteira agrícola da soja do Sul para o Centro-Oeste, induzindo aí a implantação de esmagadoras; e iii) o advento de corredores alternativos de transporte e distribuição sob as modalidades hidroviária e ferroviária ao Norte e Nordeste, que tem propiciado custos significativamente inferiores às tradicionais vias de escoamento no Sul-Sudeste.

Diversamente, segmentos mais sofisticados do complexo agroindustrial como massas alimentícias, biscoitos, doces e conservas desenvolveram-se sob

processo de expansão gradativo, mais consistente ao final dos anos 90, quando se observa a introdução de novos produtos nas áreas de dietéticos, massas alimentícias e sorvetes (IPARDES, 1999a). Da reestruturação do ramo alimentar e o crescimento de mercados regionais, depreende-se o desenvolvimento e a concentração em segmentos de produtos mais sofisticados (massas, biscoitos, laticínios e chocolates), por conta da atuação de grandes grupos, cujas estratégias focalizam a ampliação do mercado interno via segmentação do mercado. Neste sentido, o Paraná foi favorecido pela pulverização regional de investimentos em unidades de médio porte, tais como a instalação de uma fábrica de biscoitos do grupo J.R. Marino, em Londrina, além da transferência da Lacta, de São Paulo para o Paraná.

Mesmo que a análise do contexto regional paranaense seja mais precária face o menor número de referências de pesquisa, algumas observações no que diz respeito aos principais valores e significados compartilhados neste contexto são possíveis.

Ao considerar a lógica de ação presente no contexto regional, percebe-se que a visibilidade ambiental das empresas enfatiza condições paranaenses, muito embora possam conter elementos da análise nacional e internacional (GUARIDO FILHO, 2000). Segundo COCHIA (2002), empresas que atuam nesse contexto tendem a se organizar segundo tendências regionais (paranaenses) de consumo e, neste sentido, se manter informadas sobre mudanças no padrão de consumo de alimento que ocorrem na região.

Pesquisa do IPARDES (1999a) aponta que em termos competitivos a qualificação dos recursos humanos das indústrias de alimentos no Paraná tende a ser inadequada ou ao menos desatualizada em seus níveis mais altos de administração.

Esta constatação é também verificada para os funcionários locados nas áreas produtivas, sendo que os baixos níveis de formação são agravados pelo baixo índice de investimentos em treinamento. Tal constatação sugere que a educação e o fator humano tendem a ser pouco valorizados neste contexto e, conseqüentemente menor também os investimentos em treinamento e capacitação.

O reduzido acúmulo de capacitação organizacional contribuiu para a restrição da dinâmica da inovação e iniciativa nas empresas. Neste sentido reduz-se a cultura de valorização à pesquisa e desenvolvimento. O menor índice de inovação e investimentos em pesquisa e desenvolvimento reflete também o menor nível de capacitação tecnológica nas indústrias regionais (UCHÔA JUNIOR, SENDIN e GROSSMANN, 2002). Distingue-se que as respostas ambientais aos aspectos de modernidade dos setor tendem a ser adaptativas e graduais, e em grande parte atribuídas às políticas e incentivos governamentais nacionais e estaduais. No caso, ainda que o panorama seja favorável ao uso de tecnologias, reclama-se que a não adoção destas se dá em virtude de políticas governamentais inadequadas (SHIKIDA, ALVES e PIFFER, 2000). Em outras palavras, percebe-se alto grau de dependência das empresas ao apoio institucional no contexto paranaense.

Nota-se também substancial valorização da redução de custos, padronização de produtos e a produção em grande escala para o aumento da produtividade. Além disto, a integração vertical, tal como no contexto nacional, tem-se tornado prática valorizada uma vez que, além de reduzir os custos de transação, garante o fornecimento e a qualidade da matéria-prima, e também proporciona maior controle sobre a produção (COSTA e ARAÚJO, 2001).

Entre os aspectos relevantes e debatidos relativos a redução de custos na agroindústria destacam-se os gastos com transporte, tais como pedágios, intermodalidade e infra-estrutura. A racionalização da infra-estrutura de transporte no Paraná tem sinalizado o uso mais intensivo do modal ferroviário. Para MARTINS e CAIXETA FILHO (1998) a utilização de transporte intermodal está consubstanciada na perspectiva de redução de custos em busca da competitividade nos mercados internacionais.

Além disto, o contexto regional deixa transparecer a menor preocupação aos aspectos que envolvem a responsabilidade ecológica e social, bem como significativo viés pró-mercado interno.

Considerando ainda a breve descrição dos fatores característicos do contexto ambiental regional, é relevante notar que o debate se dá em uma temática similar a dos contextos anteriores; entretanto, como já foi constatado por GAURIDO FILHO (2000), com o viés da amplitude regional do discurso. Assim, ressalta-se que uma empresa que se oriente regionalmente tende a avaliar os aspectos ambientais reduzindo-os a uma perspectiva que envolva os elementos dos quais dependa sua sobrevivência local. Nas palavras de GAURIDO FILHO (2000, p. 113) “entende-se que os valores decorrentes da análise regional do contexto seguem os apreendidos dos níveis internacional e nacional, no entanto acrescidos de uma distinção de grau de importância e locus de atuação”. Em outras palavra, é a própria focalização de atuação para o contexto regional que reduz a importância dada à internacionalização.

A próxima seção ressalta as principais diferenças entre os fatores que caracterizam os níveis analíticos do ambiente, regional, nacional e internacional.