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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 4 Um Panorama para Entender o Contexto Sócio-Económico e Educacional

4.1 Características históricas, físicas e socioeconômicas

Moçambique situa-se na zona subsahariana da África, no sudeste do continente africano. Toda a costa ao Este é banhada pelo Oceano Índico, por uma extensão de 2.470 km. A Superfície territorial é de cerca de 799 milhões de km². Administrativamente Moçambique está estruturado em 11 províncias: Niassa, Cabo Delgado e Nampula (ao norte); Tete, Manica e Sofala (no centro); Inhambane, Gaza, Maputo e Maputo cidade (ao Sul) e até 2011 contava- se com 128 distritos, Maputo cidade é capital (Patel, 2012) (Figura 1).

Figura 1. Divisão administrativa de Moçambique

(Fonte: http://pt.wikipedia.org)

Segundo o Instituto Nacional de Estatística (doravante, INE), em 2011 o país possuía uma população estimada em 23.7 milhões de habitantes, com um crescimento anual estimado em 2.8%. A taxa de natalidade era de 5.5 crianças por mulher e a esperança de vida foi

estimada em 52.8 anos, uma subida ligeira se comparado com os dados do senso de 2007, onde a esperança de vida se estimava em 47.9 anos (INE, 2007; 2013). Moçambique é um país jovem e a idade mediana da sua população é de 17.1 anos, no entanto, a taxa de prevalência do Vírus de Imuno deficiência Humana (HIV) erade 11,5% em 2011 embora tenha se observado um decréscimo, já que em 2007 a prevalência era de 16.0% (INE, 2013). Segundo o senso populacional e habitacional de 2007, 51.6% eram mulheres e 48,4% homens, o que representa um aumento de 27% em relação aos 16 mil, numerados no censo de 1997, sendo nove mil homens e 10 mil mulheres. Ainda segundo o censo de 2007, a população urbana totalizava 6.282.632, equivalente a 30% do total, 70% dos habitantes é rural e vive na base da agricultura, pecuária e pesca, em regiões ribeirinhas e costeiras. O clima é quente e úmido. Moçambique tornou-se independente de Portugal em 1975, por via da Luta Armada de Libertação colonial que durou 10 anos. A língua oficial é português, no entanto, coexiste uma diversidade de línguas nacionais, de origem Bantu, entre as quais Maconde ou Shimaconde, Macua ou Emakhuwa, Xitsonga e Xironga (INE, 2008). A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2009) descreve que, em termos demográficos e socioeconômicos, Moçambique apresenta condições para agricultura, agroindústria, empresas e indústrias hídricas, mineiras e de turismo, bem como recursos florestais e marinhos, para além de uma excelente localização ferro-portuária no espaço geoestratégico da África Austral (Ussene, 2011).

Em 1975, ano da proclamação da independência nacional, registrou-se uma explosão escolar no ensino geral e, muito particularmente, no domínio da alfabetização de adultos, através de campanhas nacionais de escolarização em todo o território nacional, ação que teve lugar em decorrência de uma estratégia desenvolvida pelo governo, com prioridade absoluta para a erradicação do analfabetismo, cuja taxa era de 93%. As ações realizadas desde 1975 contribuíram substancialmente para a redução da taxa de analfabetismo da população adulta (com 15 anos e mais) para 72% em 1980 (1º Recenseamento Geral da População, 1983), para 53.6% em 2002 e para 51,9%, em 2005, embora a situação ainda se constitui como um dos desafios quando se toma em consideração que entre 1997 e 2002, a taxa de analfabetismo tenha-se reduzido apenas de 60.5% para 53,6%. As taxas de analfabetismo mais altas verificam-se no grupo de mulheres com 68%, mais do que nos homens com 36,7% em 2002. As zonas rurais são as mais afetadas, com 65.7% em relação às zonas urbanas, com 30,3% (INE, 2002). O Ministério de Educação (MINED) evidenciou que atualmente os efetivos na Educação de Adultos (EAD) mantêm-se ainda relativamente mais baixos se comparados com o Ensino Primário (MINED, 2015).

Desde a libertação do domínio colonial português, a educação se constitui como um pilar das políticas governamentais que estabeleceram objetivos e metas ambiciosas visando a superação do grande atraso que caracteriza o setor. Como resultado desse esforço, em 1982, portanto, decorridos apenas sete anos da proclamação da Independência Nacional, o País já se aproximava da situação da universalização do acesso ao ensino básico, apenas não concretizado devido a guerra de desestabilização que vigorou até a assinatura dos Acordos Gerais de Paz, em 1992 (Ussene, 2011).

Com efeito, pouco depois da Independência Nacional, Moçambique foi vítima de uma guerra civil prolongada, tida como uma das mais brutais em África, comumente conhecida como a “Guerra dos 16 anos” (1976-1992) orquestrada pelo Regime do Apartheid da África do Sul no contexto da guerra fria, e protagonizada pela Resistência Nacional de Moçambique (RENAMO), tinha o objetivo principal de desestabilizar a economia do país, enfraquecendo, assim, o regime no poder (Patel, 2012; Ussene, 2011), situação que até hoje continua comprometendo o desenvolvimento do País dada a persistência de tensões político-militares.

Nos dezesseis anos de guerra o setor educacional sofreu fortes recaídas nos seus principais indicadores qualitativos e quantitativos, devido à destruição de parte significativa de infraestruturas escolares e desorganização generalizada do ensino formal, principalmente nas zonas rurais onde reside mais de 70% da população do país (Ussene, 2011). A assinatura dos Acordos Gerais de Paz entre o Governo e a RENAMO restabeleceu o processo de alfabetização, desta feita, com muita escassez de recursos humanos, materiais e financeiros e relegada a um plano secundário devido a políticas impostas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial, que priorizavam somente o ensino básico formal de crianças (Ussene, 2011).

Atualmente Moçambique é membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Países Africanos de língua oficial Portuguesa (PALOP), da Southern African Development Community (SADC), da Comunidade das Nações (Commonwealth), da Organização da Conferência Islâmica, da União Africana (UA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo a análise de alguns organismos da ONU, a destacar a FAO, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) (Patel, 2012).

Nos últimos 15 anos, a economia moçambicana tem vindo a crescer a um ritmo de 7% ao ano (Banco Mundial 2014). A inflação, entre 2009 e 2012, variou entre os 4.4 e 2.2%, com um pico em 2010 de 16.6% (Banco de Moçambique, 2012). No entanto, Moçambique figura ainda entre os países considerados de baixo rendimento, com o PIB per capita que ronda os

$592,00 em 2014, e com cerca de 60% da sua população a viver abaixo do nível de pobreza (World Bank, 2014). Em 2013, Moçambique obteve a classificação de 0, 393 pontos, posicionando-se em 178º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), entre os 187 países avaliados (MINED, 2015).