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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

CAPÍTULO 4 Um Panorama para Entender o Contexto Sócio-Económico e Educacional

4.2 Contexto sócio educacional

4.2.2 O sistema educativo no período Pós-independência

4.2.2.1 Evolução do quadro legal do Sistema Educativo Moçambicano

Fez-se alusão ao fato de que além da educação parcial oferecida às massas desfavorecidas por parte dos missionários, o sistema educativo colonial no momento da independência tinha deixado 95% de adultos analfabetos. As zonas rurais, em particular as províncias do norte do País eram as mais atingidas neste sentido.

Na tentativa de fazer frente as dificuldades supracitadas, se impunha uma reforma educacional, a qual se concretizou com a promulgação da Lei do Sistema Nacional de Educação (doravante SNE), em 2 de março de 1983 (MINED, 1985). No contexto desta lei a educação e a alfabetização dos adultos foram considerados os elementos-chave da política, expressos na Lei do SNE, que na concepção do novo governo o objetivo central era a formação da mulher e do homem moçambicano com consciência patriótica, profissionalmente qualificado, tecnicamente preparado para além de ser livre dos condicionamentos culturais (Ngoenha, 2000). Para alcançar estes objetivos duas estratégias foram lançadas a nível nacional: a educação para todos, a alfabetização e a educação dos adultos, em particular da

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A segunda República nasceu com infraestruturas mais fracas em relação à primeira, seja porque a guerra dita civil foi mais destruidora em relação à guerra da libertação, seja porque a escola moçambicana era desafiada a dar respostas axiológicas diferentes daquelas do liberalismo generalizado. Aquilo que a nível educativo é hoje ainda grave é que os valores que tal educação deve transmitir não são pensados em Moçambique, nem por moçambicanos e muito menos em função dos valores moçambicanos, mas em base aos interesses dos financiadores internacionais (Ngoenha, 2000, p. 81.).

mulher, objetivos estes que foram (re)assumidos na reunião de Dakar, em 2000 (Ngoenha, 2000; Patel, 2012).

Nesta direção, diversas iniciativas educativas foram promovidas com o intuito de transferir para todo o território experiências realizadas nas “zonas libertadas” durante a luta para a conquista de libertação do governo colonial. Para responder aos objetivos educativos propostos, além da alfabetização, uma atenção particular foi dedicada à formação de professores, através de cursos de Magistério Primário (Ngoenha, 2000) os quais até hoje persistem sob formas de outros modelos.

Ainda no contexto desta reforma escolar operada pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), a educação e a alfabetização dos adultos foram considerados como os pilares da política do SNE em vista da assim chamada “revolução” econômica e social considerada como urgente para a maior participação do processo de desenvolvimento nacional (MINED, 1985; Ngoenha, 2000).Todavia, não obstante algumas reservas culturais11 e algumas dificuldades ligadas à ineficácia dos meios e recursos, o ensino na língua portuguesa, o acesso às escolas e centros de EAD que se enfrentavam neste processo de democratização do ensino, alguns resultados premiaram o esforço do governo: muitos moçambicanos puderam ter acesso à educação e à instrução, à aprendizagem de novas técnicas, de conhecimentos práticos em grau de melhorar a qualidade de vida e de atenuar a carga do trabalho familiar.

A Lei do SNE se coloca como um marco legal incontornável, no entanto, para entender o atual contexto educacional torna-se necessário fazer alusão aos esforços desenvolvidos pelo governo moçambicano noâmbito nacional e internacional (Patel, 2012). No que tange aos esforços da busca de estratégias para uma educação de qualidade ao longo da vida com vistas à redução da pobreza absoluta, vale lembrar o seu enquadramento legal e algumas metas legais nacionais e internacionais. Com efeito, atualmente os programas educacionais em Moçambique são desenvolvidos de acordo com o Plano de Ação para a Redução da Pobreza Absoluta (PARPA) e nas metas de Dakar (2000) tentando responder aos compromissos sobre a educação para todos até o ano 2015 (PEEI, 1998; PEEC, 2006- 2010/11; PEE, 2012/16) (MINED, 2015).

Enquanto uma nação soberana, Moçambique assegura o direito à educação pelo artigo 88 e 113, da Constituição de 2004, onde se lêem os princípios descritos a seguir.

11 Os estudos confrontados evidenciam que, não obstante tenha crescido a consciência da igualdade dos direitos humanos entre o homem e a mulher, infelizmente ainda são presentes casos em que, na falta de meios financeiros para promover a educação de ambos filhos, a visão tradicional da mulher limita as oportunidades favorecendo muitas vezes os filhos (Ximena, 2000).

1. Na República de Moçambique a educação constitui direito e dever de cada cidadão.

2. A República de Moçambique promove uma estratégia de educação visando a unidade nacional, a erradicação do analfabetismo, o domínio da ciência e da técnica, bem como a formação moral e cívica dos cidadãos.

3. O Estado promove a extensão da educação à formação profissional e contínua e a igualdade de acesso de todos os cidadãos ao gozo desse direito.

No contexto internacional, Moçambique é signatário de instrumentos jurídicos que advogam a educação geral e educação básica para todos, entre as quais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, a Declaração dos Direitos das Crianças, e outros mais específicos como os compromissos globais sobre a “Educação para Todos” (Jomtien, 1990, Dakar, 2000), a V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos (Hamburgo, 1997) (Patel, 2012).

As declarações referenciadas anteriormente comprometem o governo, por meio do Ministério da Educação, a desenvolver todos os esforços com o intuito de aumentar oportunidades e acesso à educação concorrendo para um empoderamento real dos diferentes grupos alvo sob sua responsabilidade. Esse comprometimento tem-se explicitado nos últimos anos na elaboração e na execução dos Planos Estratégicos de Educação. Os Planos estratégicos exprimem também a pressão para o alcance dos objetivos da educação, acordados na reunião de Dakar (2000) (Patel, 2012; MINED, 2015). Moçambique na qualidade de signatário da Declaração de Dakar comprometeu-se a trabalhar para estender a “Educação Para Todos” através dos seguintes objetivos: (a) expandir e melhorar o cuidado e a educação da criança pequena (educação pré-escolar); (b) universalização da educação primária; (c) alcance das competências essenciais por parte dos jovens e adultos; (d) incremento da alfabetização de adultos; (e) paridade de gênero e igualdade na educação; e (f) qualidade de Educação (MINED, 2015, p.2). A avaliação da implementação dos objetivos traçados na declaração de Dakar foi realizada em maio de 2016, e o Governo, por meio do relatório de Balanço do Programa Quinquenal do Governo 2010-2014, e do relatório do Sector da Educação reconheceu que o esforço empreendido para a concretização destes objetivos não foi suficiente para alcançar todos os objetivos desejados e plasmados na Declaração de Dakar (MINED, 2015) (MINED, 2015).

Os objetivos da reunião de Dakar engendraram os Planos estratégicos elaborados até o momento. O primeiro, (PEEI, 1998), embora não tenha alcançado os objetivos de Dakar, identificou os desafios da educação em Moçambique, decorrentes do compromisso de Dakar,

nomeadamente, a expansão do acesso, a melhoria da qualidade de ensino e o desenvolvimento institucional. Por sua vez, o Plano Estratégico da Educação e Cultura 2006-2011, se propunha a alcançar os objetivos de Dakar, com foco na eliminação das disparidades do gênero no Ensino Primário e Secundário, a garantia da conclusão por todos do Ensino Primário de sete classes e a redução da atual taxa de analfabetismo à metade, até 2015, o que não foi efetivado (MINED, 2015). Por fim, com o Plano Estratégico 2012-2016 o governo (re)assumia em perseguir os objetivos de Dakar, mais especificamente com o Ensino Pré-escolar, tendo-o considerado como um “fator base para melhorar a qualidade da aprendizagem” (PEE 2012- 2016, p.35), sugerindo maior atenção para este subsistema de ensino, e para tal, o Governo, aprovou em 2012, a estratégia Nacional de Desenvolvimento Integrado da Criança em idade Pré-escolar (DICIPE), na qual definiu as áreas de nutrição, saúde materno-infantil, HIV, Educação Pré-escolar, proteção e Ação Social como áreas de intervenção nacional a favor da criança (MINED, 2011; 2015).

Reconhecida a distância que separa os objetivos veiculados nestes planos e a realidade que caracteriza hoje o sistema educacional moçambicano, o estado continua assegurando o direito à educação através de redes institucionais, reformas educativas, parceria com a sociedade civil e o setor privado, e conforme foi já evidenciado, um marco significativo deste esforço consistiu na organização do sistema educativo moçambicano através da Lei do Sistema Nacional de Educação (SNE) e nos demais documentos que abordam a educação (MINED, 2015).