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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

CAPITULO 5 Justificativa e Objetivos

6.6 Procedimentos para a Análise dos Dados

O tratamento dos dados em coerência com a abordagem qualitativa que permeia o estudo fundamentou-se na Análise Temática de Conteúdo iniciada por Bardin (1979) relida por Minayo (2006), e outros autores como que não divergem da sua linha de análise, a título de exemplo, Turato (2003).

Bardin (1979), na sua obra clássica sobre a Análise de Conteúdo, onde apresenta reflexões históricas, conceitos e modalidades, define a Análise de Conteúdo como sendo: “[...] um conjunto de técnicas de análise de comunicações visando obter, procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens” (p.107).

Na sua releitura, Minayo (2006), argumenta que no plano operativo, o processo de interpretação parte de uma leitura de primeiro plano até alcançar um nível mais aprofundando, sempre na tentativa de superar os significados manifestos e abraçar os significados mais latentes. Para o efeito, a análise de conteúdo relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas (significado) dos enunciados. Desta feita, as análises efetuadas neste estudo, foram organizadas com base etapas assinaladas por Bardin (1979), como básicas no trabalho com Análise de Conteúdo, descritas a seguir.

1. Pré-análise.Também apelidada de fase de pré-exploração do material ou de leituras flutuantes do corpus, esta etapa incidiu na organização das narrativas reunidas para a constituição do corpus para orientação das análises nas fases seguintes. A leitura flutuante se caracterizou por um contato direto e intenso com o material coletado onde além da escolha das narrativas a serem submetidas à análise, foram elaboradas hipóteses para a elaboração dos núcleos temáticos para a interpretação final. A constituição do corpus obedeceu a alguns critérios de validade qualitativa (Minayo, 2006; Oliveira, 2008), são eles: exaustividade (esgotamento da totalidade do texto), representatividade (que contenha a representação do universo pretendido); homogeneidade (clara separação entre os temas a serem trabalhados); exclusividade (um mesmo elemento só pode estar em apenas uma categoria) pertinência (adaptação ou adequação aos objetivos do estudo, as categorias devem dizer respeito aos objetivos da pesquisa e às questões que norteiam o estudo, às características da mensagem).

2. Análise descritiva (ou exploração do material). Nesta etapa, as narrativas coletadas e que constituíram o corpus de pesquisa foram bem mais aprofundadas, no sentido de que foram orientadas pelos objetivos, questões, hipóteses (neste estudo, expectativas de

resultados) e pelo referencial teórico, e destas análises surgiram quadros de referência, que visavam buscar sínteses coincidentes e divergentes das ideias patentes nas narrativas. Vale dizer que, nesta fase foi efetuada a exploração das narrativas organizadas na pré-análise o que possibilitou elencar as ideias levadas pela leitura flutuante, organizar as unidades de contexto, de onde são recortadas as unidades de registro (núcleos de sentido, palavras-chave, frases, temas, por exemplo) e buscar sínteses em similaridades e/ou divergências, visando uma categorização em temas de análise (Minayo, 2006).

3. Interpretação inferencial. Trata-se da fase de análise propriamente dita. A reflexão, a intuição, e o embasamento em materiais empíricos estabelecem relações com a realidade aprofundando as conexões das ideias, chegando, se possível à proposta básica de transformações nos limites das estruturas específicas e gerais. Segundo Minayo (2006), nesta fase, essas leituras permitem ao pesquisador transcender a mensagem explícita e embora de uma forma menos estruturada consegue visualizar pistas e indícios não óbvios, em outros termos significa que, o pesquisador busca superar a esfera do conteúdo manifesto nos documentos, tentando aprofundar análise através da tentativa de desvendar o conteúdo latente, simbólico, desvendando ideologias e tendências das características dos fenômenos sociais que se analisam (Minayo, 2006).

No caso do presente estudo, nesta etapa foram promovidas associações entre a base teórica (a perspectiva desenvolvimentista) que embasa o estudo e os objetivos previamente estabelecidos e as ideias, núcleos de sentido, identificados e exemplificados nas narrativas dos participantes o que sugeriu a definição dos sentidos em núcleos temáticos. O agrupamento dos sentidos seguiu o “modelo aberto” (Laville & Dionne, 1999, p. 216) ou “categorização não apriorística” (Campos, 2004, p.613), que consiste na organização das categorias não de forma fixa, mas no decurso das análises, ao contrário do “modelo fechado” (Laville & Dionne, 1999, p. 216), no qual o pesquisador decide a priori as categorias apoiadas em um ponto de vista teórico que submete frequentemente a prova da realidade. Em síntese, esta fase, ao se caracterizar por ser um movimento intenso e constante que consiste em “ir e vir” ao material analisado e o referencial teórico que norteia o estudo, sem perder de vista os objetivos previamente estabelecidos, deixa espaço que o pesquisador siga o seu próprio caminho baseado nos seus conhecimentos teóricos, práticos, norteado pela sua competência, sensibilidade, intuição, experiência e ainda limites (Campos, 2004).

Esta etapa apoiou-se também nas contribuições de Bauer (2002), o qual define a Análise de Conteúdo como uma “técnica para produzir inferências de um texto focal para seu contexto social de maneira objetivada” (p.191). Ao falar da inferência, Bauer (2002), focaliza

o plano simbólico que caracteriza o conteúdo de um material tomado como análise e adverte que o símbolo, para além de representar o mundo “remete a uma fonte e faz apelo a um público” (Bauer, 2002, p.191). Neste sentido, ao se fazer inferência deve-se considerar a dimensão sintática (a forma como determinado elemento é dito) e a dimensão semântica (o conteúdo do “texto” ou o que é dito, inclui temas e avaliações) (Bauer, 2002).

Cumpre evidenciar ainda que com o intuito de tornar as análises mais profícuas nem todas as narrativas coletadas foram integradas no corpus de análise deste estudo. Sobre este aspecto, Bardin (2009) defende a necessidade e importância da restrição da amostragem argumentando nos seguintes termos:

Nem todo o material de análise é susceptível de dar lugar a uma amostragem, e, nesse caso, mais vale abstermo-nos e reduzir o próprio universo (e, portanto, o alcance da análise) se este for demasiado importante. A amostragem diz-se rigorosa se a amostra for parte representativa do universo inicial (p.123)

Na esteira dos pressupostos arrolados anteriormente, as narrativas analisadas foram transcritas e apresentadas nos anexos deste trabalho e para salvaguardar a identidade e singularidade dos participantes, nenhuma narrativa foi transcrita reportando o nome do autor (participante).

Em base a estas premissas foram efetuadas as análises e discussões que seguem no próximo capítulo.