• Nenhum resultado encontrado

2.4 ESTUDO DE POPULAÇÕES E ÁRVORES PORTA-SEMENTES

2.4.2 Características químicas do solo dos locais de origem das populações

A observação de que solos, climas e vegetais diferentes apresentam produções diferentes, leva a afirmar que a produção vegetal é função dos fatores

solo, clima e vegetal. Entretanto, cada uma dessas variáveis é formada de muitos outros fatores, sendo impossível estudar todos eles ao mesmo tempo relacionados com a produção. Daí a necessidade de relacionar um fator com a produção, permanecendo os demais constantes. Desta maneira, pode-se relacionar a fertilidade do solo, como sendo a única variável influenciando na produção do vegetal (BRAGA, 1992).

A análise do solo, processada em laboratórios especializados, constitui importante instrumento de diagnose da fertilidade (CARVALHO, 2002). Portanto, entre outras particularidades silviculturais, é preciso conhecer, em maior profundidade, como as características do solo, principalmente de sua fertilidade, afetam a germinação das sementes (POGGIANI e SCHUMACHER, 2005).

Torna-se importante definir metodologias realmente confiáveis, iniciando pela profundidade de coleta de solo para análise. Para culturas anuais a profundidade de amostragem é a camada arável, ou seja, de 15 a 20 cm. Para culturas permanentes, como silvicultura e fruticultura, é aconselhável se tirar uma segunda amostra de até 50 ou 60 cm de profundidade. Se a cultura já estiver formada, far-se-ão amostragens na projeção da copa, a uma profundidade de 5 a 10 cm (MIRANDA, 1982). Esta afirmação corresponde ao recomendado pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004). Pode-se conjeturar que, num mesmo sítio florestal, sob condições silviculturais semelhantes, as raízes de absorção tendem a se distribuir de forma bastante homogênea nas camadas superficiais do solo, justificando a amostragem de solo nesta zona (GONÇALVES e MELLO, 2005).

Outra importante definição é quanto a análise laboratorial. Para estimar a fertilidade dos solos é necessária, a interpretação dos resultados da análise de solos conforme o Quadro 1.

Solos de floresta tendem a ser mais ácidos que os de pastagens; as culturas podem variar muito nas quantidades de Ca e Mg que absorvem e removem do solo (MALAVOLTA, 1980). Na área de ocorrência da Mata Atlântica, os solos são normalmente ácidos a fortemente ácidos, com baixos teores de Ca, Mg, P e elevados teores de Al trocável, refletindo condições de intensa lixiviação provocada principalmente, pelo clima muito úmido. Apesar desta deficiência química, apontada pelas análises de rotina, verifica-se que algumas espécies arbóreas, por possuírem características peculiares, têm uma maior capacidade de absorção de nutrientes (CARVALHO, 2002).

31

Quadro 1: Interpretação dos resultados de análise de solos, adotada pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, Comissão de Química e Fertilidade do Solo RS/SC. M.O. V m Ca Mg CTC K P Inter- pretação pH em água (%) cmolc/dm³ mg/dm³ Muito baixo ≤ 5,0 - < 45 < 1 - - - ≤ 30 ≤ 5 Baixo 5,1 – 5,4 ≤ 2,5 45 – 64 1 – 10 ≤ 2,0 ≤ 0,5 ≤ 5,0 31 – 60 5,1 – 10,0 Médio 5,5 – 6,0 2,6 – 5,0 65 – 80 10,1 – 20 2,1 – 4,0 0,6 – 1,0 5,1 – 15,0 61 – 90 10,1 – 20,0 Alto > 6,0 > 5 > 80 > 20 > 4,0 > 1,0 > 15,0 91 – 180 20,1 – 40,0 Muito alto - - - > 180 > 40,0

Fonte: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (2004)

Sem matéria orgânica não há solo, ou se for admitido como solo, ele será incompleto e deficiente. Atua nas propriedades físicas, químicas, físico-químicas e biológicas do solo, corrigindo e melhorando sua fertilidade (LUCHESE et al., 2001). Para vários autores citados por MELLO et al. (1983), os níveis críticos de matéria orgânica do solo podem ser considerados baixos quando estiverem abaixo de 1,6 %, médios entre 1,6 e 3,0 % e altos quando estiverem acima de 3,0 %. O teor de matéria orgânica no solo varia com as condições ambientais. Na mata atlântica, os teores de matéria orgânica são relativamente baixos, com exceção das áreas alto- montanas, onde o clima propiciou o seu acúmulo e persistência, observando-se solos com horizontes superficiais espessos, escuros e com teores elevadíssimos de carbono orgânico (CARVALHO, 2002).

A cobertura vegetal nos trópicos úmidos é dominantemente florestal, caracterizada por árvores de grande porte, constituída por diversos estratos de comunidades vegetais. Trata-se de uma vegetação clímax, cuja biomassa permanece constante deste de centenas ou milhares de anos, de forma que os nutrientes inorgânicos contidos nela, acumulados durante um tempo prolongado, continuam em circulação entre a vegetação e o solo através do processo de reciclagem. O ciclo de nutrientes é, pois, praticamente fechado, cuja contínua decomposição do material orgânico através do ano e a pequena perda por lixiviação

permitem o desenvolvimento de uma floresta luxuriante, sem sintomas de deficiências nutricionais, em solo de baixa fertilidade natural (SILVA, 1995).

O retorno de nutrientes via “litter” constitui a via mais importante do ciclo biogeoquímico, especialmente em solos altamente intemperizados, onde a biomassa vegetal é o principal reservatório de nutrientes. Devido à maior facilidade de obtenção de dados referentes a esses processos em relação aos demais do ciclo biogeoquímico, já existe informações sobre a biomassa produzida no “litter”, o teor de nutrientes, bem como seu acúmulo sobre o solo, formando a manta florestal, principalmente para populações naturais (REIS e BARROS, 1990).

As fontes de nutrição das plantas, são em princípio, de dois grupos: os elementos oriundos da decomposição do solo, e os elementos contidos na matéria orgânica acima e abaixo da superfície do solo. Já que todos os elementos, uma vez liberados da fração mineral do solo, são sujeitos à ação da água pela lixiviação, é importante que todos os elementos disponíveis no habitat sejam incorporados na vegetação a fim de diminuir a possibilidade de lixiviação. Isto significa que nas florestas tropicais e subtropicais com solos velhos, a nutrição das florestas depende em grau cada vez maior da circulação de nutrientes através das substâncias orgânicas. Nessas florestas há um equilíbrio entre a decomposição de matéria orgânica e a retirada de nutrientes, já que não há extração por exploração nem maiores perdas por erosão ou lixiviação. Nas florestas, portanto, o ciclo ocorre imperturbado, sendo uma circulação rápida de substâncias nutritivas, com um alargamento do ciclo, que possibilita também o crescimento de espécies com exigências maiores. A floresta possui características bem diferentes comparando-a com outras formações vegetais que se fazem sentir também na dinâmica do solo. (ANDRAE, 1978).