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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.2 ECOFISIOLOGIA DA GERMINAÇÃO DAS SEMENTES EM

4.2.2 Influência da luz e da temperatura na germinação e no vigor das

Observa-se na Tabela 18, que as sementes de P. sellowii não podem ser classificadas como fotoblásticas e sim neutras, pois não houve diferenças significativas entre as sementes germinadas no escuro ou sob luz, em qualquer dos regimes. Este resultado é ratificado em todas as temperaturas testadas. Percebe-se que à 20ºC, embora tenha havido uma superioridade numérica (63%) para as sementes germinadas à plena luz branca, o que poderia indicar uma tendência, não se detectou diferenças estatisticamente. Nos demais comprimentos de onda à 20ºC de temperatura, foram inferiores (40 a 45%), porém, nas demais temperaturas isto não ocorreu e confirmou-se a neutralidade de germinação em relação à luz, variando de 59 a 63% à 25ºC e de 44 a 58ºC à 20-30ºC. Nos 35ºC a germinação foi muito baixa, por efeito desta, mesmo assim mostrou a mesma tendência em relação a luz.

Quanto ao vigor das sementes, pode-se dizer que o regime de luz não afetou nenhuma das variáveis. O índice de velocidade de germinação e a velocidade média de germinação não apresentaram diferenças significativas quanto ao regime de luz, em nenhuma das temperaturas testadas. Apenas no tempo médio de germinação observou-se pequena discrepância entre as médias, com menores tempos de 21 e 28 dias no escuro, respectivamente em 25 e 20-30ºC, mas isoladamente não chegam a caracterizar um comportamento diferenciado para este ou aquele regime de luz.

Como se sabe, a luz promove o controle respiratório, a síntese de enzimas e de hormônios, exerce efeito sobre a permeabilidade dos tegumentos e o metabolismo dos lipídios (TOLEDO e MARCOS FILHO, 1977). Mas Borges e Rena (1993), alertam que a sensibilidade das sementes à luz é bastante variável, de acordo com a espécie, havendo sementes cuja germinação é influenciada, positiva ou negativamente pela luz e sementes indiferentes a ela, caso em que provavelmente se enquadra P. sellowii.

As regras para análise de sementes estabelecem, baseadas na sensibilidade das sementes à luz, os procedimentos em relação aos cuidados no controle da luz para os testes de germinação (BRASIL, 1992). Além disso, segundo Malavasi (1988), vários são os fatores que influenciam a sensibilidade à luz na germinação das sementes, como a idade da semente, o período de embebição e de estratificação, a temperatura e os produtos químicos. Vários estudos sobre a indiferença das sementes à luz na germinação, são enfatizados por Mayer e Poljakopf-Mayber (1979), afirmando que estes efeitos são amplamente reconhecidos e considerados para execução dos testes de germinação em laboratório.

Especificamente para P. sellowii, Hirano et al. (2003), verificaram a influência da luz na germinação de P. sellowii, em condições muito semelhantes ao deste estudo. Concluíram que o comprimento de onda da luz não interferiu no IVG, mas na presença e ausência de luz, obteve maiores germinações do que em vermelho e vermelho longo. Recomendaram portanto, testes de germinação para a espécie sem a necessidade da presença de luz. Leonhardt et al. (2003), verificaram a relação entre a coloração dos frutos e a qualidade fisiológica das sementes de P. sellowii com vistas à seleção de frutos e a melhor época de coleta. Neste estudo, desenvolveram testes de germinação, mas não variou a exposição das sementes à luz, procedendo seus ensaios somente à plena luz e obteve grande variação de germinação, que foi atribuída ao estágio de maturação dos frutos.

Alguns estudos com outras espécies florestais nativas podem ser citados. SILVA et al. (2001b), estudando regimes de luz para Mimosa caesalpiniaefolia (sansão-do-campo), obtiveram resultados que indicam que as sementes são capazes de germinar tanto sob o dossel, onde predomina luz vermelha-extrema, como em clareira, onde predomina luz vermelha. Na germinação de sementes de Guazuma ulmifolia (mutambo), não houve efeito da luz para a porcentagem e para a velocidade de germinação, revelando o comportamento oportunista da espécie e a

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pouca exigência das sementes, indicando que elas estariam aptas para germinar em condições de clareira e sob dossel (FIGLIOLIA et al., 2001). Estes resultados coincidentes ao deste estudo, podem auxiliar na explicação do comportamento de P. sellowi.

A temperatura foi limitante ao desempenho germinativo das sementes de P. sellowii. Não há diferenças de porcentagem de germinação com os germinadores regulados a 20ºC (40 a 63%), 25ºC (59 a 63%) ou 20-30ºC (47 a 50%) em qualquer dos regimes de luz analisados, mas à 35ºC a germinação cai para valores irrisórios (0 a 1%). O observado demonstra que as sementes de P. sellowii possuem uma temperatura crítica de germinação, não devendo ultrapassar os 30ºC.

Analisando-se as variáveis de vigor, o IVG apresenta um comportamento em que 20 e 25ºC apresentam índices superiores (0,52 a 0,78 e 0,69 a 0,73 respectivamente) às germinadas em 20-30ºC (0,38 a 0,54), as primeiras iguais entre si e a segunda inferior mas ainda superiores as da temperatura de 35ºC (0 a 0,09), tudo isto independentemente dos regimes de luz. Em conseqüência, o tempo médio de germinação é menor, aos 20 e 25ºC, cerca de 22 dias, enquanto em 20-30ºC sobe para em torno dos 29 dias. A velocidade média de germinação apresenta aproximadamente o mesmo comportamento. Verifica-se então que o vigor das sementes de P. sellowii é afetado pela temperatura. A germinação é acelerada nas temperaturas de 20 e 25ºC, cai um pouco quando submetida a 20-30ºC alternada e tem seu vigor restringido drasticamente aos 35ºC. Resultados iguais foram conseguidos por Ramos e Bianchetti (1984) para a espécie afim Prunus brasiliensis, indicando, após três anos de repetições do estudo, temperaturas entre 20 e 26ºC para os testes de germinação.

A temperatura de 35ºC, praticamente inibiu a germinação e o vigor das sementes de P. sellowii, o que segundo Carvalho e Nakagawa (1983), sugere que esta temperatura esteja próxima do limite superior para a espécie. Borges e Rena (1993), comentam que nestas temperaturas, algumas espécies modificam sua composição e estrutura da camada de lipídeos das membranas, as quais passam da fase cristalina, típica de elevada organização para a fase fluida ou desordenada, com aumento do efluxo de aminoácidos da semente, durante a germinação, ocorrendo decréscimo na faixa de 30 a 35ºC. Marcos Filho (1987), atribui o resultado ao impedimento do desenvolvimento do embrião, podendo ser explicado por possíveis alterações enzimáticas, pela condição fisiológica da semente ou pela

insolubilidade do oxigênio nessas condições, aumentando sua exigência e acelerando a velocidade respiratória das sementes.

Considerando-se a interação entre luz e temperatura para os testes de germinação das sementes de Prunus sellowii, parece plausível recomendar a utilização indiferente de ausência ou presença de luz em qualquer regime à temperaturas constantes de 20ºC ou 25ºC.