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Caracteristicas dos esforços do professor para envolver os alunos

4.1 Quais são as relações entre os padrões das práticas de ensino (tarefas e mediação) e o

4.1.1 Características da mediação do professor relevantes para envolverem

4.1.1.1 Caracteristicas dos esforços do professor para envolver os alunos

Figura 5. Média de ocorrência por aula das características do esforço do professor para envolver produtivamente os alunos nos anos de 2006, 2008 e 2012

Como vimos anteriormente, o número de tarefas subsidiárias por aula diminuiu de 2006 para 2008 e manteve-se de 2008 para 2012. Assim, dando maior autonomia aos alunos (menos tarefas subsidiárias, ou seja trabalho dos alunos com menos orientações do professor) e mantendo as tarefas como desafios ao mesmo tempo que se dá autoridade aos alunos (figura 5): (a) favorece-se um maior envolvimento dos alunos na execução da tarefa (ver tabela 11); (b) diminuiu o não envolvimento dos alunos (tabela 11); (c) aumenta a produtividade dos alunos (tabela 11).

Desta análise verificou-se que, de um modo geral, a produtividade dos alunos está relacionada com o seu envolvimento na disciplina (tabela 11). Dar maior autonomia aos alunos depende desde logo da conceção da tarefa. Toda a mediação é condicionada pela tarefa e o modo como é colocada. Por exemplo, comparando-se os excertos da análise de uma NM de 2006 (figura 6) com a análise de uma NM de 2008 (figura 7) e com a análise de uma NM de 2012 (figura 8), verifica-se que o professor em 2006 tem de investir mais no envolvimento

dos alunos na tarefa que em 2008 para “compensar” a sua menor qualidade (ver análise da tarefa acima). Além disso, em 2006 o esforço do professor é para desencadear o envolvimento dos alunos e em 2008, assim como em 2012 o esforço do professor é para potenciar o envolvimento dos alunos e não para o desencadear. Esta diferença deve-se essencialmente ao modo como está concebida a tarefa.

Como já se verificou um dos esforços deste professor para envolver os alunos produtivamente é apresentar a tarefa como desafio e fundamentalmente mantê-la como desafio. Então é de todo pertinente o levantamento e a apresentação de diversas formas, que este professor usou nos três anos de intervenção, 2006, 2008 e 2012.

Na tabela 12 faz-se uma identificação sistemática relativamente às NM de 2006, 2008 e 2012 das ações do professor para manter a tarefa como desafio.

Tabela 12. Análise das formas do professor manter a tarefa como desafio em excertos significativos das NM de 2006, 2008 e 2012

Alguns excertos dos 17 identificados

Forma do professor manter a tarefa como

desafio

Excerto 2 da 1ª aula 2006 - 3ª Tarefa: Professor - "Agora, eu peço a alguém para ligar o rádio. Quem quer ir para fora com o circuito modulador? Pode ser aqui perto, Sara. Não mudem a frequência do rádio! Então, quem quer ir para fora? Maria e Ana levantaram-se para ir lá para fora.

[A] Excerto 1 da 1ª aula 2008 - 1ª Tarefa: Apenas vou ouvindo e incentivando a responderem

por si próprios sugerindo que consultem o manual e discutam com os colegas do lado. [A] Excerto 1 da 1ª aula 2006 - 1ª Tarefa: Professor - Quero que formulem uma hipótese e

depois de a discutirmos passamos à sua verificação com o rádio. – Têm 5 minutos para escrever a hipótese. aluno – Podemos consultar o livro?, professor- Podem.

[B] Excerto 2 da 1ª aula 2008 - 1ª Tarefa: Agora leia o que escreveu e pense um bocadinho… olhe

que não o ouço! Porque temos várias antenas em determinadas zonas? Porque temos várias ao longo do caminho?

[B] Excerto 2 da 2ª aula 20012 - (P) Vamos acabar a simulação e acabar de tirar os dados todos, ou

já tiraram os dados todos? (A) Não, ainda não tiramos.

(P) Vou então entregar a ficha experimental que fizeram nas aulas anteriores e que levei para casa. E vou também entregar os computadorespara terminarem a simulação.

[A]

Excerto 3 da 1ª aula 2008 - 1ª Tarefa: É? Vamos lá ver, que ideias há aqui sobre antenas? Vamos lá tirar as ideias importantes, porque como viram as respostas não são todas iguais. E aqui a ala da esquerda respondeu mais completo ou menos que a da direita?

[B] Excerto 2 da 2ª aula 2012 - 1ª Tarefa: (P) Agora vão analisar as variações e comparar de

novo os resultados dos diferentes grupos e a variação das duas grandezas em questão. Os alunos refletem de novo nos resultados e tiram as relações devidas entre eles.

Excerto 5 da 1ª aula 2008 - 2ª Tarefa: Professora: Vamos clarificar bem a diferença entre

absorção e a transmissão… quem e que quer ajudar aí o Rui Ramos? [B] Excerto 5 da 1ª aula 2012 (P) Vão agora analisar os resultados e em particular as

variações entre um dado grupo e entre os grupos. Que variáveis é que estão em estudo? O λ e a temperatura.

(P) Quem me quer dizer como varia o λ com a T?

(A) O francisco Conceição respondeu que variam inversamente uma com a outra, quando o λ aumenta a temperatura diminui.

[B]

Excerto 6 da 1ª aula 2008 - 3ª Tarefa: Pedi: “Então ajudem-me lá a construir a tabela,

Como tenho que pôr?” [E]

Excerto 8 da 2ª aula 2008 - 3ª Tarefa: Professora: Então como é que fazemos? [E] Excerto 9 da 2ª aula 2008 - 3ª Tarefa: Uma aluna pergunta se podem experimentar vários

ângulos de incidência de radiação.

Professora: Podem testar com outros ângulos disse aí alguém… podem testar ou não? Concordaram? Testaram com outros ângulos? O que é que detetaram? Aluno: Testamos… um decréscimo.

[C]

Excerto 10 da 2ª aula 2008 - 3ª Tarefa: Chamei à atenção para não se dispersarem e controlarem o tempo da aula, referindo: Têm de pensar no tempo que têm para fazer as quatro experiências…

[F] Excerto 11 da 2ª aula 2008 - 3ª Tarefa: Professora: Então?

O aluno responde que em algumas placas não verificou transmissão.

Professora: E porquê? Que é que aconteceu? Quero que me expliquem. Detetou ou não? Transmissão há ou não? Temos que medir porque? Qual é a lógica? Troquem os pólos disse eu. Eu mexi nos aparelhos de emissão e receção de ondas e os alunos disseram que em determinadas posições destes aparelhos, há menos reflexão e noutras posições era mais intensa, verificando assim qual seria a melhor posição para detetar melhor o sinal da onda.[…]

Professora: Eu depois quero que me expliquem isso…

[D] e [A]

Excerto 12 da 2ª aula 2008 - 3ª Tarefa: Professora: Não percebi o que vocês estão a dizer, clarifiquem-me lá… ponha Rita força! Agora façam lá, contem-me lá qual é a vossa história…

Os alunos indicam que vão aumentar a distância do emissor e do recetor e outro aluno afirma que dessa maneira está muito longe e não apanha nada. Professora: Está muito longe porquê?

[B]

Excerto 12 da 2ª aula 2012 (P) – Então diga lá! Vamos comparar os diferentes resultados com ajuda dos alunos. Entretanto vão olhar para estes resultados e comparar os diferentes resultados (entretanto a professora foi ajudando a fazer a comparação de um resultado com outro e pediu-lhes para verificarem o resto e a simulação de novo).

[B] Excerto 14 da 3ª aula 2008 - 6ª Tarefa: Professora: Não é justificar isto Sara? É ver em

que medida a sua experiência modelizou, criou um modelo ou serviu para justificar o problema…

[B]

Há diversas formas de o professor manter a tarefa como desafio sem deixar de intervir e ajudar os alunos. As formas identificadas neste professor são:

[A] Indica/manipula recursos para os alunos poderem trabalhar de forma autónoma; [B] Pede clarificação aos alunos sobre o desafio que estão a abordar;

[D] Pede explicações sobre resultados não expectáveis;

[E] Pede ajuda aos alunos quando pretende avançar ou orientar trabalho dos alunos; [F] Incentiva a que os alunos controlem o tempo.

As formas mais frequentes do professor deste estudo manter a tarefa como desafio são as [A] e [B]. A forma [A] é mais frequente no início da tarefa e não está relacionada apenas com a manipulação de equipamento experimental. Trata-se de uma forma de garantir que os alunos progressivamente apropriem o desafio e o possam manejar. Os excertos relativos a esta forma de manter a tarefa como desafio permitem-nos salientar que em certas condições o professor tem de manipular os recursos (neste caso equipamento) para que os alunos possam usar de forma mais proficiente. A forma [B] ocorre ao longo da execução de toda a atividade. É a forma mais frequente neste professor de manter a tarefa como desafio. Trata-se de induzir os alunos a terem uma abordagem mais consciente e sistemática. As formas [C] e [D] são claramente pontuais. As formas [E] e [F] são recursos retóricos para devolver iniciativa aos alunos e são menos frequentes.

Como se pode verificar pelos resultados expressos na tabela 12, o facto de este professor manter a tarefa como desafio a maior parte das vezes na sua atuação permite que o aluno se envolva e aprenda a envolver-se autonomamente na sua aprendizagem. Isto verificou-se de uma forma crescente ao longo dos anos de atuação deste professor no qual teve como intervenção fundamental o seu desenvolvimento profissional e a sua predisposição para evoluir na sua actividade enquanto agente de ensino.

Para se fazer uma análise qualitativa das diferenças na mediação do professor de 2006 para 2008 e para 2012 de forma a podermos identificar de que forma o professor pode manter a tarefa experimental como desafio, apresentam- se seguidamente excertos de aulas e tabelas que permitiram fazer essa análise.

Nas figuras 6, 7 e 8 apresentam-se excertos para ilustrar que nos diferentes anos deste estudo (2006, 2008 e 2012), a colocação da tarefa subsidiária para a realização da atividade experimental (tarefa tipo 3 – Figura 3) apresenta diferenças nos esforços do professor em dar autoridade aos alunos e em manter a tarefa como desafio em 2008 (figura 7), e em 2012 (figura 8), o que não acontece em 2006 (figura 6).

Figura 6. Excerto da 2ª NM em 2006 e a sua análise feita no NVivo 8® de modo a visualizar-se a colocação da tarefa pelo professor e o envolvimento destes na tarefa.

Como se pode ver pela figura acima o professor coloca a tarefa, envolve os alunos na tarefa, mas ainda não lhes dá a autoridade devida. E não mantém a tarefa como desafio.

No entanto, na figura 7 que corresponde a um extracto de uma NM de 2008 pode-se verificar que o professor coloca a tarefa desafio aos alunos, envolve-os na tarefa, dá-lhes autoridade, mantém essa tarefa como desafio e incentiva-os a envolverem-se na tarefa, o que revela um conjunto de esforços e uma articulação desses esforços de nível mais elevado que no ano de 2006. O que vai permitir um envolvimento dos alunos de forma mais produtiva.

Figura 7. Excerto da 1ª NM de 2008 e a sua análise feita no NVivo 8® de modo a visualizar-se a colocação da tarefa pelo professor, o envolvimento destes na tarefa e como mantêm a tarefa desafio.

Também em 2012 se verificou o professor propor tarefas desafio, mantendo o desafio e por vezes colcar tarefas subsidiarias para alimentar esse desafio, como é o caso da situação que se apresenta na figura 8. Em que o professor utiliza os resultados obtidos pelos alunos para estes os criticarem e alterarem em grupo turma, obrigando-os a reflectir sobre os resultados obtidos e a criticarem epistemicamente o que cada grupo faz.

Figura 8. Excerto da NM de 2012 e a sua análise feita no NVivo 8® modo a visualizar-se a colocação da tarefa pelo professor, o envolvimento destes na tarefa e como mantêm a tarefa desafio.

Estas alterações provocaram um maior envolvimento independente e autónomo por parte dos alunos. Assim, os alunos passaram a ter mais iniciativa e a ter maior produtividade escrita, maior produtividade oral e a ter maior frequência de manuseamento por aula (tabela 11) em 2008 e em 2012.

Sabendo que as acções do professor têm influência na promoção do envolvimento produtivo dos alunos é porque esses esforços tem um efeito positivo nessa promoção.

Para verificarmos o efeito dos esforços do professor de modo esquemático elaborou-se um gráfico de clusters que está explorado na tabela 14 (p.124).

4.1.1.2 Relação entre os esforços do professor para promover o envolvimento dos alunos