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Esforço do Professor e as Práticas Epistémicas

3.4 Análise dos dados

3.4.2 Esforço do Professor e as Práticas Epistémicas

A partir de cada NM identificaram-se variáveis relativas às evidências das práticas epistémicas dos alunos durante a execução da tarefa na aula (trabalho experimental e/ou o uso da SC) (tabela 9) e dos esforços do professor para induzir essas práticas epistémicas (tabela 8) usando-se o software de análise qualitativa (NVivo 8®). Através das evidências é feita a primeira tentativa de codificação. Cada codificação recebe uma designação sucinta, bem como a respetiva definição. A unidade de análise considerada foi a interacção já anteriormente definida.

Após a codificação ser revista, foram refinadas as suas definições e verificadas se os excertos seleccionados das NM eram bem descritos por cada codificação. Durante este processo, cada codificação bem como a sua definição não são definitivos, algumas codificações podem ser agrupadas numa só, ou podem ser desdobradas. Cada excerto pode ser

descrito por várias codificações. Depois deste processo concluído cada codificação obtém o estatuto de variável dicotómica. Ou seja, cada excerto é caracterizado pela presença ou ausência de cada uma das variáveis dicotómicas encontradas na análise open code. Esta análise foi revista por mais dois investigadores independentes. O grau de acordo foi de 84%. Nos casos remanescentes, foi feito um refinamento até a obtenção de acordo total. Após esta fase foi feita a categorização pelo investigador, que correspondeu a reanalisar as NM usando as variáveis dicotómicas. As variáveis dicotómicas determinadas pela análise open code estão apresentadas e definidas sucintamente nas tabelas 8 e 9.

Nas tabelas 8 e 9 são apresentadas as variáveis dicotómicas sobre esforço do professor para que haja práticas epistémicas por parte dos alunos e sobre as PE dos alunos através de uma breve definição de excertos retirados das NM analisadas. Assim na tabela 8 apresenta-se das variáveis dos esforços efectuados pelo professor para produzir PE nos alunos, a sua definição e exemplos das narrações para cada caso.

Tabela 8. Esforços do professor para promover PE – Emergência de categorias Pratica epistémica

dos alunos Definição de cada variável Exemplos

Apresentar Tarefa Desafio

O professor coloca tarefas sobre a forma de desafio.

[…] Professora – Então agora para testarmos estas nossas respostas, vamos propor uma actividade para verificar a existência desses

fenómenos, vou entregar a segunda folha para vocês registarem aí. Ora bem, então o que diz aqui na segunda folha? […]

1ª NM - 2008

Sintetizar O professor retoma práticas epistémicas dos alunos reforçando a compreensão através de uma síntese ou dando informação adicional.

[…] Resumi o que estava escrito no quadro abordando os pontos essenciais, ou seja porque se usam mais sinais digitais e quais as características fundamentais destes e dos analógicos. […]

4ª NM – 2006

Solicitar aspectos adicionais

O professor solicita aos alunos aspectos adicionais às suas respostas, de forma a clarificar a prática epistémica dos alunos.

[…] Professora – Porque é que o Sol é amarelo? Se calhar tenho esse problema para vos colocar. […]

1ª NM -2012

Introduzir

representação visual

O professor introduz uma representação visual (e.g.,

[…] Com as opiniões dos diversos alunos construí no quadro uma tabela do género:

equação, tabela, …) que os alunos podem trabalhar permitindo o seu uso, melhorando a compreensão dos alunos. Pla ca s  n g u lo d e in ci d ên ci a  n g u lo d e re fl ex ão D if ra cç ão A b so rç ão Tr an sm issã o metálica preta pano 1ª NM - 2008 Usar representação visual

O professor usa, ou mostra como se usa representação visual para melhorar a compreensão dos alunos.

[…] Professora – Ora bem, pronto… como vêem, havia dois processos, dois métodos diferentes, um turno fez de uma maneira, tiraram esta medida aqui, esta aqui e esta e… acharam este ângulo I e este ângulo L, pelo que? Pelo seno ou pelo co-seno, como tinham os valores dos dois lados, obtêm pela

máquina, certo? […] – indica a professora enquanto indica no esquema apresentado pelos alunos. […]

3ª NM - 2008

Introduzir artefacto O professor introduz um artefacto (e.g., representação gráfica, simulação

computacional,…) que os alunos podem trabalhar permitindo a sua manipulação, melhorando a compreensão dos alunos.

[…] Professora – Podem usar a simulação e verificarem o seu funcionamento para procederem ao procedimento experimental.

A professora ajudou os alunos a estabelecer alguma ligação com os diferentes cabos para que não houvesse problemas com os computadores e

consequentemente com o uso da simulação. […]

1ª NM - 2012

Usar artefacto O professor usa, ou mostra como se usa o mediador manipulável para melhorar a compreensão dos alunos.

[…] Noutros grupos a professora teve necessidade de usar a simulação, mexendo nos botões (+) e (–) de modo a que os alunos vissem como funcionavam esses botões e para que serviam permitindo que se visualiza-se a curva do gráfico. […]

2ª NM - 2012

Estender O professor solicita aspectos adicionais às respostas dos alunos para ampliar ou considerar novas perspectivas na abordagem da tarefa.

[…] Professora – Se vocês tiverem um rádio velhinho em casa podem abri-lo e ver lá os altifalantes – sugeri eu. […]

Valorizar epistemicamente

O professor aproveita ideias, esquemas, ou acções dos alunos reconhecendo-lhe o valor epistémico (por ex.: hipótese, conclusão, previsão, etc.).

[…] Professora – “A Catarina explicou o que acontece apenas dentro da fibra ótica. É isso? É? A Mafalda apresentou-nos uma visão global, não é?” [...]

3ª NM - 2006

Explicitar epistemicamente

O professor explicita o estatuto epistémico do trabalho feito ou em curso (ex.: observação, argumentação, comunicação, etc.).

[…] Professora - Falta aí uma coisinha mínima que deveriam ter observado na simulação. – a professora não acrescentou o que faltava para ver se os alunos conseguiam chegar à resposta sozinhos.

Professora – O resto, ainda não

responderam?

Quase todos os alunos responderam em voz alta que sim.

A professora referiu que o grupo do João Pinto foi o que teve a resposta completa, mencionado a visualização do deslocamento da curva de radiação máxima da direita para a esquerda, dirigindo-se para o U.V. […]

3ª NM - 2012

Curto-circuito da tarefa

O professor coloca uma tarefa com potencial para

desenvolver uma PE, no entanto os alunos não têm oportunidade para executar ou os alunos são convidados a realizar os aspectos mecânicos da tarefa.

[…] Professora – O que eu quero agora é a diferença entre o sinal analógico e o sinal digital - afirmei eu.

Professora – Ouviram, o sinal analógico é

(…) e o sinal digital é uma forma descontinuada (…). […]

3ª NM - 2006

Ignorar

epistemicamente

O professor não aproveita ideias, questões ou iniciativas dos alunos para promover práticas epistémicas.

[…] Professora – pano não chegou a aquecer, mas deveria ter aquecido não é verdade? Não houve tempo suficiente para isso acontecer, certo? […]

2ª NM - 2008

Na tabela 9 apresentam-se as variáveis relativas às práticas epistémicas dos alunos identificados nas NM, a sua definição e exemplos das narrações para cada caso.

Tabela 9. Práticas Epistémicas (PE) – Emergência de categorias Pratica

epistémica dos alunos

Definição de cada variável Exemplos

Observar Os alunos de per se ou orientado pelo professor, observam e descrevem imagens, esquemas, montagens experimentais, etc.

[…] Na absorção com o pano, há um aluno que refere que o pano absorve tudo. Outro sugere que colocasse mais doze voltes, há uma aluna que diz “o pano está quente” e chama a atenção para não mexerem. […]

2ª NM - 2008

Interpretar Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, interpretam imagens, esquemas, diagramas, objetos, resultados experimentais, etc, usando o conhecimento científico.

[…] O aluno explica o esquema que desenho na ficha, dizendo medindo os lados do triângulo formado pelo emissor, receptor e obstáculo podem saber o ângulo de incidência e o de reflexão. […]

2ª NM -2008

Apresentar ideia mobilizadora

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, mobilizam

conhecimento prévio para adiantar um possível caminho para resolver o problema

[…] Aluna - Na 1 é com o comprimento de onda calcular a temperatura ao qual ocorre e na 2 é com a temperatura calcular o comprimento de onda. […]

1ª NM - 2012

Identificar condições empíricas

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, reconhecem ou referem as condições da situação física em que o fenómeno(s) ocorre.

[…] Aluno – Também concluímos o mesmo mas comparámos uma estação em AM e FM, em AM era pior em FM, mas noutra estação só se apanhou AM e noutras apanhava-se FM e AM mas em AM eram só ruídos. […] 1ª NM -

2006

Manusear factualmente

Os alunos manipulam equipamento seguindo instruções do professor, ou tentativamente sem serem guiados pelo conhecimento.

[…] Os alunos estavam a fazer várias tentativas de colocação do material. […]

1ª NM - 2008

Questionar factualmente

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, questionam para clarificar termos, observações ou aspetos relacionados com as condições empíricas do fenómeno.

[…] Aluna - Professora o que é o modelador? […]

2ª NM - 2006

Organizar informação

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, procuram

informação, registam, classificam ou organizam a recolha dos dados

[…] Continuei de carteira em carteira a perguntar se já registaram alguma coisa. Verifiquei que alguns alunos associaram um esquema do livro acerca da

comunicação em fibra óptica com o esquema feito anteriormente na questão 5 do protocolo, tentando dar resposta à questão 7. […]

2ª NM - 2006

Estabelecer relações

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, estabelecem relações entre dados, variáveis e/ou

conceitos em diferentes situações.

[…] Aluna – O produto de λ vezes T dá uma constante para todas as hipóteses e para todos os grupos. […]

3ª NM - 2012

Questionar conceptualmente

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, formulam questões e problemas baseados em

[…] Aluna – Porque é que um sinal digital é usado para enviar dados secretos na Internet e o analógico? […]

conhecimento para obterem novas compreensões do fenómeno, conceitos, modelos.

4ª NM - 2006

Conceptualizar Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, fazem a

representação simbólica do

fenómeno. […]

Esquema efectuado pelo aluno

[…] 2ª NM – 2006 Manusear

conceptualmente

Os alunos de per se manuseiam equipamento guiados pelo seu conhecimento.

[…] Aluno – Pomos o cursor na terra e visualizamos isto e isto - mostrou o João a sua actuação na simulação. […]

1ª NM - 2012

Comunicar não autonomamente

Os alunos apresentam as suas ideias, ou resultados, fortemente relacionados com as sugestões ou solicitações do professor.

[…] Aluno – Porque é que a pessoa é um corpo negro? […]

1ª NM - 2012

Avaliar criticamente

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, analisam e argumentam, fazendo avaliação critica de hipóteses, recursos, resultados, uso de linguagem, etc.

[…] Aluna – Acho a do grupo 1, porque explica melhor os processos de como a informação é transmitida.

Professora – E porquê é que a do grupo 2 não explica?

Aluna – Eu fiquei a perceber melhor. Professora – E porque é que ficou a perceber melhor a do grupo 1? Conte lá. Aluna – Explica mesmo o processo todo. Só explica dentro da fibra óptica, não fala de modulação e desmodulação. […]

3ª NM - 2006

Validar Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, validam a

construção de conhecimento através: teste experimental; teste conceptual; discussão entre pares e o professor.

[…] Aluno – Basta colocar o receptor do outro lado e se houver transmissão marca, senão não faz nada.

Professora – … e o outro recebe em linha recta! […] NM - 2008 Fazer previsões Os alunos fazem uma declaração

sobre possíveis resultados

experimentais ou teóricos tendo em conta a explicação de parâmetros e condições em que o raciocínio assenta. […] […] 3ª NM - 2012 Formular hipótese

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, fazem uma declaração baseada em

conhecimento prévio para guiar o trabalho epistémico.

1ª NM - 2008

Comunicar autonomamente

Os alunos de per se, ou orientados pelo professor, apresentam as suas ideias, resultados, ou conclusões sobre o seu trabalho epistémico.

[…] A aluna foi ao quadro registar o esquema de actuação relativamente aos ângulos entre o emissor e o receptor […]

Usar artefacto Os alunos usam, ou mostram como usar, o artefacto para melhorar a sua compreensão.

[…] A professora verifica que os alunos estavam a trabalhar com a simulação… […]

1ª NM - 2012

Introduzir representação

Os alunos introduzem uma representação com que eles podem trabalhar (e.g. equação, imagem, tabela, …) através da sua manipulação, melhorando a sua

compreensão. […]

Esquema efectuado pela aluna no quadro[…] 2ª NM - 2008

Usar

representação

Os alunos usam, ou mostram como usar, a represenatção para melhorar a sua compreensão.

[…]Fui discutindo com os alunos o que está no livro em relação à conversão de sinais.

Aluna 1 – No manual temos o gráfico do sinal analógico e o gráfico do sinal digital e parecem ser muito diferentes para se converterem um no outro. Aluna 2 – Mas aqui mais à frente diz que é possível converter um sinal analógico num digital e vice-versa. […]

4ª NM – 2006